quinta-feira, 18 de outubro de 2012

Diários de uma viagem - Corinto - Epidauro - Náuplia.

Passamos o dia no Peloponeso. Que cenário histórico. Menelau, Helena e a guerra de Tróia. Proximidade e rivalidade com Atenas. A guerra do Peloponeso. Corinto, Esparta e o Olimpo. O Peloponeso é uma extensa península, toda montanhosa, ligado à parte continental pelo estreito de Corinto. A existência do canal de Corinto, transforma a península numa enorme ilha. Vinhas e oliveiras são a riqueza da região. A oliveira precisa de pouca água e gosta de terras rochosas.
O canal de Corinto tem toda uma história. A primeira ordem para a sua construção partiu de Nero que, para lá enviou 6.000 escravos, para a sua construção. Com a morte do imperador o projeto foi abandonado. Ele foi retomado em 1881 e ficou pronto em 1893. Ele possui 6,3 km. de extensão e apenas 21 metros de largura. Hoje ele não consegue receber grandes navios e o seu uso se limita a pequenos barcos, especialmente barcos turísticos. O canal evita uma volta em torno do Peloponeso, numa distância de 400 quilômetros. Liga os mares Egeu (para o lado da Turquia) e o Jônico (a ligação com o Adriático).

Vista do canal de Corinto. Ele possui 6,3 quilômetros de extensão e tem apenas 21 metros de largura. Hoje o seu uso é restrito a barcos turísticos e outras pequenas embarcações.

Corinto foi a primeira parada do dia. No caminho o guia nos falava mais sobre a Grécia. Incialmente falou de Atenas, que nem sempre foi a capital da Grécia dos tempos modernos. Ela era muito pequena. Hoje é uma cidade que oficialmente possui 4 milhões de habitantes e deve ter mais outro milhão de pessoas clandestinas. É sabido que a Grécia é formada por inúmeras ilhas. Mais de 6 mil, das quais 227 são habitadas. Com os conflitos generalizados no Oriente Médio, muitos fugitivos destes conflitos, são deixados nestas ilhas, donde procuram se locomover e encontram em Atenas o seu primeiro destino. Não há como fiscalizar tudo. Olhem que problema! Já não basta a crise da economia.
Sobre a economia grega, em resumo, ele nos disse que não existem perspectivas de saída. A Grécia possui problemas estruturais (que já abordamos) e que existem sérios riscos de o país não conseguir pagar as pensões e aposentadorias e os funcionários públicos. O cenário de crise abala todos os setores da economia, inclusive o turismo. A maior culpa estaria ligada ao euro, que teria criado duas Europas: a do norte, rica e a meridional, pobre. O norte teria desindustrializado os países do sul. O euro teria então sido um instrumento de dominação e de criação de desigualdades. É bom lembrar que a Grécia não é um país pobre e que a sua renda per capita é superior a 30.000 dólares. Hoje, inclusive é mais um dia de greve geral.
Sobre o Peloponeso, nos contou de sua história e sobre a sua economia atual. A produção de azeitonas obedece ao sistema de cooperativas e a questão da qualidade por controle de origem, nos disse, ser uma fraude generaliza. Além da uva e dos olivais a economia também conta com a criação de ovelhas e a pesca.
De Corinto rumamos para Epidauro.
O teatro de Epidauro. É famoso pela sua acústica e pelo seu bom estado de conservação.

Epidauro é um local fascinante. Dizem ser a terra natal de Asclépio ou Esculápio, o pai da medicina. Uma das atrações da cidade é exatamente o templo dedicado a Esculápio e à medicina. Esta medicina está ligada a cura pela interpretação dos sonhos (Olha aí a psicanálise). Esta história da medicina está muito ligada a questão da mente, a oráculos, a interpretação do futuro. Está também muito ligada a outra região, também famosa por esta questão que é a Tessália. Olhando os mapas se percebe que, embora a Tessália esteja numa região oposta, a distância não é tão grande, uma vez que a parte continental ali não é tão larga.  Mais próximo da Tessália está também Delfos, cidade, como já vimos, ligada às previsões de futuro.
Com tudo isso - o quero afirmar mesmo - é que a medicina grega e, com isso, todos os primórdios da medicina estão muito ligados às doenças da mente, às doenças do espírito.
A maior maravilha de Epidauro hoje, no entanto, é o seu teatro. Aliás o teatro grego também está ligado à cura, à medicina. Por para fora os sentimentos. O teatro comportava quinze mil lugares e se tornou famoso pela sua acústica, uma perfeição. Ele data de 350 a. C. e a sua conservação se deve ao relativo abandono desta região após o seu apogeu. Só foi redescoberto no ano de 1881. Junto ao teatro existe também um belo museu. Este teatro também serviu de inspiração à construção do teatro Positivo, aqui em Curitiba. Só que para algo em torno de 2.500 lugares.
Outra vista do teatro de Epidauro.

De Epidauro seguimos para Náuplia. Outra cidade com profundo significado histórico. Originariamente é uma cidade fortaleza, ligada às guerras medievais. Era uma aliada da república de Veneza, nas guerras contra os turcos otomanos. A sua fortaleza é atingida por uma subida de mais de 1.000 degraus. Evidentemente que não subimos. O calor também estava insuportável.

O carneiro saboreado em Náuplia.

Náuplia foi a capital da Grécia entre os anos de 1829 e 1834, logo após a conquista da independência grega após 400 anos de dominação dos turcos otomanos. A partir de 1834 a capital passou a ser Atenas. Hoje, Náuplia é o local de veraneio preferido dos atenienses.
A nossa viagem ainda continuou pelo Peloponeso até a cidade de Olímpia. Ali comprei a famosa caneca de Pitágoras, um dos mais curiosos souvenirs que se pode trazer da Grécia. Ela é praticamente uma caneca dentro de outra caneca e servia de medida para o vinho. Quando o vinho ultrapassa a quantia marcada ela derrama tudo. Era usada para dosar a quantidade de vinho a ser servida aos escravos, para animá-los para o trabalho, numa espécie de energético. A dose é pequena. Procurando sobre o seu funcionamento, só encontrei propaganda da venda de canecos e nada sobre os princípios da física pelos quais Pitágoras criou a caneca. O souvenir é lindo e desperta a curiosidade de todos.
Dormimos em Olímpia, mas antes foi servido um régio jantar, incluso no pacote. No café da manhã foi servido inclusive suco de cereja. Uma maravilha, mas as maravilhas do dia ainda estariam por acontecer.

Vista da entrada do sítio arqueológico de Olímpia.