segunda-feira, 1 de setembro de 2014

O Professor do Desejo. Philip Roth.

Entrei em contato com a obra de Phipip Roth através do seu magnífico livro A Marca Humana. Este contato se deu em alto estilo, por um seleto grupo de leitura. Sob a coordenação do professor André Tezza, os professores do curso de Publicidade e Propaganda se reuniam, liam e debatiam alguns livros e sob a condução do professor Leonardo Ferrari, reflexões muito pertinentes eram feitas. Foi uma experiência maravilhosa. O encantamento com o autor foi coisa muito fácil. Para se ter uma pequena ideia do livro transcrevo este parágrafo, da orelha do livro:
Por meio deste livro entrei em contato com a obra de Philip Roth.
"A Marca Humana conta a história de um homem que levou às últimas consequências o princípio americano de liberdade individual e usou-o para cortar os laços com o passado e se reinventar completamente. Ao narrar a tragédia de um espírito livre em confronto com a estreiteza das ideias contemporâneas, Philip Roth compõe um panorama dos choques ideológicos e morais que abalaram a sociedade americana no final do século XX". Devo ainda dizer que este homem era um professor universitário e que o professor Leonardo Ferrari, o nosso intérprete da obra, é psicanalista.

Agora aproveitei uma promoção da Companhia das Letras, que edita o autor aqui no Brasil, e comprei vários de seus títulos. O primeiro que eu li foi O professor do desejo. Na divulgação do livro, ele é apresentado como literatura erótica. Tenho minhas restrições, não com relação ao erotismo mas pelo fato de que este livro explora temas que são muito mais relevantes, embora o tema continue sendo o erotismo. O autor faz literatura com a própria literatura e é isto que dá um sabor todo especial. Deixo a apresentação da orelha do livro:
O maravilhoso livro de Philip Roth. O curso de literatura erótica que eu gostaria de fazer.

"Quando estava na faculdade, David Kepesh se considerava 'um libertino entre os doutos, um douto entre os libertinos'. Mal podia ele imaginar o quanto este lema seria profético - ou fatídico. Pois à medida que Philip Roth segue Kepesh da domesticidade da infância à selvageria da possibilidade erótica, de um menage à trois em Londres às agonias da solidão em Nova York, ele cria um romance de extrema inteligência, pungência e humor sobre os dilemas do prazer: onde o procuramos, porque fugimos dele e como lutamos para obter uma trégua entre dignidade e desejo".

Vale ressaltar que Kepesh, a exemplo do personagem de A marca humana, também é professor e de origem judaica, o que dá aos romances a particularidade de uma cultura muito forte, que deixa  profundas marcas na formação. Mas não creio que o erotismo na obra seja tão forte assim, mesmo porque Kepesh não teve tantas mulheres, ou não conta sobre as outras, pois apenas três são as grandes personagens: Brigitta, Helen e Claire e, nem mesmo praticou todas as posições do Kama Sutra. A genialidade do romance está no aproveitamento de personagens da literatura e do curso de literatura que ele preparou sobre o desejo. Afinal de contas, existem teorias que afirmam que o ser humano é movido pelo desejo.

Eu adoraria me inscrever, como aluno, no curso de literatura 341, que o professor Kepsh organizou. Vejam um espécie de Ementa da disciplina: "Decidi organizar  as leituras do primeiro semestre em torno do desejo erótico, começando com aqueles romances perturbadores que tratam da sexualidade lasciva e perversa [...] e terminando com três obras-primas que tratam de paixões ilícitas e ingovernáveis, porém abordadas de forma diversa: Madame Bovary, Anna Kariênina e Morte em Veneza".

A seguinte passagem pode ser vista como uma explicitação da ementa: "Adoro ensinar literatura. Raramente sinto-me tão feliz como quando estou aqui com minhas anotações, meus textos assinalados e pessoas como vocês [...] Queridos amigos, aproveitem bem este momento! [...] Também não é provável que vocês encontrem com facilidade outras oportunidades de falar sem constrangimento sobre o que foi mais importante para homens tão conscientes dos conflitos da vida quanto Tolstói, Mann e Flaubert. Duvido que saibam o quanto me emociona ouvi-los falar com ponderação e total seriedade sobre solidão, doença, saudade, perda, sofrimento, ilusão, esperança, paixão, amor, terror, corrupção, calamidade e morte".
Philip Roth, um dos maiores escritores contemporâneos.

Só não proponho a realização livre deste curso 341 porque estou adorando a minha nova profissão de administrador de tempo livre. Deixo ainda uma outra dica, agora para os iniciantes da carreira de escritor. Não é necessário, para fazer literatura de qualidade, ir além destes temas que estão aí acima indicados. É apenas sobre o humano em suas diferentes situações. Não foi assim que aconteceu, desde o começo, com o Ulisses da Odisseia?

Mas antes de encerrar, devo ainda contar duas situações narradas no livro. Tem um encontro com Tchecov e outro ainda mais interessante com Kafka, que são simplesmente imperdíveis. Numa dessas situações Kepesh entrevista uma velha prostitua que aos 80 anos de idade releva segredos do atormentado Kafka, quando a procurava em seus tempos de juventude e com os desejos reprimidos mas que insistiam em se expressar. O meu próximo passo, não é o curso de literatura mas uma biografia de Kafka. Já a tenho em mãos. Ela é impressionante. Logo, logo, em outro post. Vai aí o livro: BEGLEY, Lois. Franz Kafka - O mundo prodigioso que tenho na cabeça - um ensaio biográfico.


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