quarta-feira, 6 de janeiro de 2016

Preparando roteiro para as terras missioneiras.

Quando estávamos em Diamantina, o Valdemar e eu, conhecendo esta terra maravilhosa de Chica da Silva e JK, as suas atrações naturais e culturais, decidimos conhecer mais e já fizemos a nossa próxima escolha. Seria a região dos sete povos das missões, com possível visita também para as da Argentina e do Paraguai. As Missões foram uma rica experiência de colonização e de cristianização dos povos indígenas da nação Tupi-Guarani.
Ruínas de São Miguel, com destaque para a cruz de Lorena.

Como projeto de cristianização e de colonização teve as suas contradições e, creio mesmo, que a finalidade era de dominação. Mas perto do que os portugueses bandeirantes fizeram com estas populações, reduzindo-as à escravidão, até parece que as missões se transformaram num projeto humanitário, sob a proteção dos padres jesuítas espanhóis. Existe aí toda uma rica história a ser estudada. Foram mais de 150 anos de história que tiveram um final trágico, com direito até a santo não proclamado, o São Sepé Tiaraju. A propriedade individual da terra deveria predominar sobre a sua organização coletiva.

Os trabalhos de agrupamento dos indígenas começaram com o avanço dos bandeirantes na caça aos indígenas, logo no início do século XVII e terminaram em função das desavenças entre os padres jesuítas e as coroas de Portugal e Espanha. As dos sete povos do Rio Grande do Sul sofreram a troca efetuada pelo Tratado de Madri, entre os sete povos e a colônia de Sacramento. Alguns padres se inconformaram com o destino das missões, nas chamadas guerras guaraníticas, passando a organizar e combater ao lado dos índios guaranis. Isso pode ser visto no notável filme A Missão.

Uma missão tinha organização administrativa própria e economia voltada para a autossuficiência, em regime comunitário. A igreja era o centro da missão, onde também se localizava o colégio, as habitações, as oficinas, o mercado, o cemitério e até casa para o cuidado de viúvas e órfãos. Lavoura e gado eram a principal atividade econômica. A música e a arte religiosa também faziam parte de suas atividades cotidianas. Com o fim das missões os índios foram violentamente perseguidos, sob a voraz ditadura do latifúndio. Estes índios, agora itinerantes, formaram um dos gaúchos mais tradicionais e típicos, o gaúcho missioneiro.
Esta imagem ajuda bem na localização da região.

Como é fundamental planejar uma viagem para que ela seja bem sucedida, estou fazendo os devidos preparativos. Já li e vi muito a respeito. Achava que seria bem mais complicado. A grande vantagem é que as missões da Argentina e do Paraguai estão bem próximas. No total houve trinta missões. Sete em território gaúcho, oito no Paraguai e quinze na Argentina. Seis de suas ruínas integram hoje o Patrimônio Cultural da Humanidade, assim declaradas pela UNESCO. A de São Miguel, no Rio Grande do Sul. as de Jesus Tavarangué e Trinidad, no Paraguai e as de Nossa Senhora de Loreto, Santa Ana e San Ignacio Miní, na Argentina.

Tomando a cidade de Curitiba como referência, tanto faz você começar pelo Paraguai e Argentina como pelo Rio Grande do Sul. Começando pela Argentina, vai-se até Foz do Iguaçu e de lá até Posadas, a capital da Província de Missiones. Dali você pode fazer as visitas, tanto as do Paraguai quanto as da Argentina. Normalmente, turistas apressados fazem estas visitas em um dia para cada país. São ruínas, museus, artesanatos e show de luzes para serem visitados. De Posadas para os sete povos das missões tem que fazer a travessia por balsa, ou no porto de Mauá, ou em Porto Xavier. A distância é algo em torno de 300 quilômetros.

No Rio Grande do Sul a visita é a das ruínas de São Miguel. O que existe para ser visitado, mais uma vez são as ruínas, o museu e o artesanato. Ali também existe o tradicional show de luzes e a retratação do que foram as missões. A cidade maior que pode servir de referência é Santo Ângelo. A sua catedral é uma reconstituição da arquitetura missioneira. No meu entendimento uma visita a São Borja também é imprescindível, não tanto pela presença do passado missioneiro, mas por ser a cidade onde estão sepultados dois presidentes, Getúlio Vargas e João Goulart. São Luiz Gonzaga é a terra dos músicos. Lá, ou em seus distritos nasceram Jayme Caetano Braun, Noel Guarany e Pedro Ortaça. Já imaginaram encontrar o Dom Ortaça para um dedo de prosa e para que ele não possa reclamar de nós, como ele reclama em sua música  De Gurreiro a Payador: 


Pra manter viva a memória
As pedras ganharam nome
E transformaram em história
O que resta desses homens, 
Pois mais vale a carcaça
De um templo quase no chão
Que os descendentes da raça
Que vivem changueando o pão.

Para a viagem de volta para Curitiba recebi uma bela indicação do meu irmão, que mora na cidade catarinense de Mondaí. Me recomendou a visita a Ametista do Sul, a capital mundial da pedra ametista. Existem mais de cem minas em exploração. As atrações da cidade são a sua igreja, revestida de pedra ametista e uma pirâmide com os tradicionais cristais. Também achei uma cachaça para a minha coleção. É a Seiva Missioneira, produzida em Caibaté, a cidade coração das missões. Também vou trazer a famosa cruz das missões, a cruz de Lorena, que pelos seus dois braços, indica fé em dobro. Depois da viagem, eu conto do sucedido.















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