sexta-feira, 14 de julho de 2017

ADHEMAR. Fé em Deus e pé na tábua. Amilton Lovato.

"Amado e combatido, aclamado e atacado em toda sua carreira política, o homem que faleceu ontem, em Paris, deixa, para a história de São Paulo e do Brasil, uma das mais controvertidas imagens entre os políticos de seu tempo". Desta forma a Folha de S.Paulo anunciou a morte de Adhemar de Barros, ocorrida em Paris, no dia 12 de março de 1969, já em pleno fervilhar da radicalização da golpe militar, após a edição do AI-5, em dezembro do ano anterior.
Uma bela biografia. Da Geração Editorial.

Uma imagem controvertida. Creio que este conceito é o que merece o maior destaque com relação a biografia deste importante personagem político paulista e brasileiro. Cheguei a esta biografia pela feira de livros da Top Livros, livros de ponta de estoque, em que estes são vendidos por preço único de dez reais. Isso de forma alguma significa dizer que o livro não tenha o seu valor. Preço, gosto por biografias e uma certa curiosidade me fizeram comprar o livro. A autoria do livro é de Amilton Lovato, um advogado do interior paulista.

Adhemar nasceu na cidade de Piracicaba em 1901. A sua formação profissional se deu no Rio Janeiro, na Faculdade de Medicina. A sua vida política começou com a Revolução Constitucionalista de 1932. Nunca teve uma cor ideológica e foi fortemente marcado pelo seu destempero verbal. O "rouba mas faz" foi um slogan que o acompanhou ao longo de sua vida política. É o que lemos na orelha do livro como uma espécie de apresentação do mesmo. Também como um outro paulista, hoje em triste evidência, ele se fartava no uso de mesóclises.

O livro se desenvolve ao longo de dezesseis capítulos, distribuídos ao longo de 367 páginas. Nos capítulos iniciais se fala de sua formação, sobre a sua origem familiar, como filho de um dos maiores cafeicultores de São Paulo, sua participação na Revolução Constitucionalista, a posterior adesão a Getúlio e a sua nomeação como interventor no Estado de São Paulo, pelo caudilho. Isso lhe deu imenso gosto pelo poder, o que o tornou um rival do próprio Getúlio.

Nos capítulos que seguem ele é mostrado como o criador do PSP, o grande partido paulista, as suas ligações com o PTB e a sua volta ao governo de São Paulo pela via eleitoral.  Recebe forte oposição da família Mesquita, proprietária do jornal O Estado de São Paulo. As circunstâncias o fazem adiar o seu sonho presidencial, presta ajuda a um novo político que surge na pessoa de Jânio Quadros, de quem se torna, posteriormente, inimigo figadal. Rompe com Getúlio, contra o qual começa a tramar, juntamente com Carlos Lacerda.

Com a sucessão de Getúlio começa um aparente declínio, perdendo a eleição presidencial para Juscelino e sofrendo condenações judiciais e empreendendo fugas. Vence as eleições para a prefeitura de São Paulo e prepara nova ofensiva para as eleições presidenciais de 1960, quando o seu inimigo Jânio sai como vencedor. Após a renúncia de Jânio como presidente, Adhemar mais uma vez se candidata a governador de São Paulo e vence as eleições. Com o golpe de 1964, do qual foi ativo articulador, mais uma vez se torna protagonista da história. Os três capítulos finais tratam desta questão e que sem dúvida são os mais importantes capítulos do livro. São os capítulos 14. A Redentora; 15. Decepção e Ousadia e 16. O Fim.

As suas aspirações políticas o incompatibilizam com a ditadura militar, uma vez que continuava alimentando o seu sonho presidencial. Aos poucos os militares foram se livrando de todas as lideranças civis que os apoiaram no golpe e Adhemar foi por eles deposto do cargo de governador, sendo substituído por Laudo Natel. Adhemar assim conta do seu afastamento:

"Surpreendido com o decreto de suspensão dos meus direitos políticos, sinto-me no dever indeclinável de me dirigir, neste momento tão grave da nossa vida, ao povo brasileiro. Jamais poderia imaginar que a mesma revolução para cuja vitória tão decisivamente contribuí, arriscando naquela altura a minha vida e este próprio mandato, viesse um dia arrebatar os meus direitos políticos. Compelido a deixar o mandato que, pela terceira vez, o povo me confiou, protesto perante a História pela violência que assim compromete todos os princípios da democracia, por cuja sobrevivência lutamos a 31 de março. Grato a meu povo, fiel à minha Nação, confio aqui o meu até sempre e confirmo a minha confiança num Brasil democrático. Rogo a Deus proteger minha Pátria".

O livro termina com um epílogo, em que é narrado o assalto ao cofre do Adhemar, já nos anos de chumbo. O grupo VAR-Palmares foi o autor desta bastante conhecida façanha, mas nunca bem esclarecida. O assalto ao cofre ocorreu na casa de sua eterna amante Ana Capriglione e no qual teriam sido encontrados 2,5 milhões de dólares. Com certeza um livro bem interessante de um personagem político nem tanto.





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