terça-feira, 4 de julho de 2017

Ridículo Político. Márcia Tiburi.

Mais um livro de Márca Tiburi. Depois do inusitado êxito de Como conversar com um fascista, sai agora, menos de dois anos depois o Ridículo político - uma investigação sobre o risível, a manipulação da imagem e o esteticamente correto. Não é um livro fácil. Para entendê-lo muitos conceitos e autores da filosofia contemporâneos são necessários para uma boa compreensão da obra. Sessenta e um tópicos, que variam de duas a cinco páginas, são apresentados ao longo de duzentos e trinta e seis páginas. Da Record.
O necessário livro de Márcia Tiburi para melhor entender a política na era do espetáculo.


Apenas para terem uma ideia, apresento, com a autora, alguns conceitos e os filósofos que os desenvolveram. "Vivemos na época da exposição radical dos quatro braços tentaculares que produzem a ontologia de nossa cultura, nosso modo de ser: se falamos em sociedade administrada (Adorno e Horkheimer), o núcleo do dispositivo é a racionalidade burocrática; se pensamos em sociedade do espetáculo (Debord), temos que o núcleo do dispositivo é a imagem; se falamos em sociedade do conhecimento (Negroponte), vemos que seu núcleo é a informação; se falamos em uma sociedade excitada (Türcke), então nos referimos ao lugar essencial das sensações em nossa cultura" (Página 164). Apenas para ter uma ideia da profundidade do livro. Como é muito difícil fazer a resenha do livro, vamos a apresentação que está no próprio livro. Primeiramente na contracapa.

"O termo ridículo é usado tanto para falar de algo insignificante, daquilo que não faria diferença, quanto para dar sinal de uma cena escandalosa. Neste livro, deseja-se compreender seu potencial intimamente ligado, em nosso tempo, ao que podemos denominar o momento publicitário da política, que muito tem contribuído para a aniquilação de sua própria ideia como algo positivo. O problema é que política não é algo que se destrói, mas algo que se transforma, e, nesse caso, podemos dizer que o ridículo político é a sua deturpação. O que vem a ser política na era da racionalidade publicitária é a nossa questão. O ridículo político é um efeito da deturpação da política na era do espetáculo; é a deturpação do direito a aparecer, bem como do direito à expressão, do direito de representar e de ser representado. Ridículo político seria, portanto, a forma visível da crise do político enquanto o poder o utiliza justamente para acobertar essa crise".

Já na orelha do do livro, lemos o seguinte: "Quem nunca sentiu vergonha alheia em assuntos políticos? Em nossa época, proliferam cenas que desfiguram a vida política  para além da simples aparência. Um nível curioso de manipulação da imagem nos leva diretamente ao tema da estetização da política, o que representa sua desmoralização. A naturalização e a capitalização do mal-estar estético e ético transformam aquilo que chamamos de ridículo em sua forma de poder capaz de alterar o significado da política. É nesse contexto que podemos falar de "Ridículo Político", fenômeno que tem afetado profundamente a cultura política. 

A berlusconização da política é um fenômeno mundial concomitante à destruição da política. As cenas ridículas - e seus personagens conhecidos - traduzem o sentido da política em nossos dias, mas não apenas como uma bagunça feita por gente despreparada para os cargos que ocupa. A deturpação serve a uma nova política, em um sentido altamente problemático. O poder é transformado em violência, e a seriedade de certos assuntos dá lugar ao cinismo. Enquanto isso, muitos não percebem como ocupam o lugar de otários. Não levar a política a sério se tornou um hábito no Brasil e em todo o mundo. A desatenção ao limite entre o que é simplesmente risível e o ridículo político já produz consequências desastrosas na ordem simbólica. Os cidadãos se afastam da política e um sentido mais radical de democracia desaparece sem muito esforço.

Abusadores do poder seguem sempre mais poderosos como engraçadinhos ou bufões inofensivos, muitas vezes até confiáveis, enquanto a população paga um preço altíssimo por uma despolitização apresentada como o melhor dos mundos. Soltos em escala social, o fascismo, o machismo e o racismo dão o ritmo e o tom da política em nossos dias sem que pareça que algo possa ser feito. Ao introduzir a noção de "ridículo político" no debate sobre estética e política, os ensaios deste livro são uma contribuição original - e fundamental - de Márcia Tiburi para que pensemos sobre quão grave é o hábito de não tratar com seriedade as coisas da política".

Como vimos, ridículo político é a política que provoca riso, que é uma palhaçada. Estes elementos são usados como mistificação. É o momento em que entra em cena a publicidade, que esteticiza este ridículo, para assim dele tirar proveito. Na leitura, com a exemplificação, isto se torna mais evidente e mais fácil de compreender. Entre os muitos exemplos que livro apresenta, mostro dois, que parecem mais evidentes. Dória no Brasil e Trump nos Estados Unidos. O golpista Temer e a sua jovem esposa também fazem parte deste ridículo.

Mas o mais importante do livro vai para muito além destas análises muito perspicazes. É para as suas consequências e para as formas de resistência. A própria Márcia, numa espécie de conclusão aos seus ensaios nos alerta. "Inevitavelmente, precisamos nos perguntar como sairemos disso, como desmancharemos esse processo, como desmontaremos o dispositivo estético político da publicidade política. Sabemos que é preciso pensar, que é preciso refletir, que é preciso produzir outras narrativas capazes de recriar o mundo das subjetividades autônomas e libertárias". O tópico de número 20, sobre o ridículo judicial é simplesmente imperdível. Ainda é necessário dizer que tudo isso é o movimento do capital, em busca de novas formas de dominação.


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