quinta-feira, 27 de julho de 2017

O Mulato. Aluísio Azevedo.

Estou terminando o meu estoque de livros comprados na pequena feira da Top Livros, uma feira de ponta de estoque, aqueles livros que encalham nas editoras. Agora foi a vez de O Mulato, do maranhense Aluísio de Azevedo. Dele eu já tinha lido O Cortiço (1890) e Casa de Pensão (1894). O Mulato é anterior, datado de 1881. Toda a ambientação do livro ocorre na cidade de São Luís, nos últimos anos do Império. Talvez resida aí um dos maiores valores do livro, um perfeito retrato da sociedade maranhense destes tristes tempos. Que horror.
O Mulato. Uma bela edição da Ediouro. A mão de Ana Rosa e Raimundo não podem se tocar.

A descrição desta sociedade cresce em importância devido ao fato de Aluísio Azevedo pertencer a escola naturalista, que tem exatamente na descrição detalhada de tudo, uma de suas mais importantes características. Aluísio de Azevedo nasceu na capital maranhense em 1857 e veio a morrer em Buenos Aires em 1913. Fez carreira de escritor no Rio de Janeiro, cidade onde também ingressou na carreira diplomática. O escritor pertenceu aos quadros da Academia Brasileira de Letras, ocupando a cadeira de número quatro.

O Mulato é o primeiro grande livro do escritor. Creio que sem erro podemos afirmar que O Mulato é o grande romance brasileiro da denúncia da existência de um forte racismo no Brasil. No caso, Raimundo, o personagem central, o mulato do título, é sobrinho de seu Manuel Pescada, rico comerciante e proprietário maranhense. Raimundo é filho de um irmão de Manuel, que teve atribulada vida familiar. Ele teve filho com uma escrava, matou a sua mulher em flagrante adultério junto ao padre, que será importante personagem da história e encontrou ele próprio a morte pela mão deste padre, sem no entanto, provocar suspeitas sobre tal. Ele era habilidoso em suas persuasões.

Seu Manuel cuida da formação de Raimundo, que faz os seus estudos em Portugal, formando-se em Direito na famosa Universidade de Coimbra. Após formado conheceu a Europa, viajando por ela ao longo de três anos. Na sua volta ao Brasil moraria na Corte, na cidade do Rio de Janeiro. Antes porém viajaria a São Luís, encerrar as suas pendências com o tio, como a venda de suas propriedades, terra e casas. É bem acolhido na casa do tio. O Cônego Diogo é o compadre e confidente de seu Manuel Pescada. Manuel tem um filha de nome Ana Rosa. Raimundo nada conhece de seu passado.

Bem, aí estão os ingredientes do enredo, que é contado ao longo de 19 capítulos. Um pai, uma filha em idade de casamento, um padre confidente e um jovem doutor que busca desvendar o seu passado. Como tudo isso se deu, eu não conto. Dou apenas mais um dado. Aluísio Azevedo é totalmente anticlerical, e por isso, todas as maldades do romance ficam por conta do cônego Diogo. E ponha maldade nisso. Entra também na história um acomodado caixeiro do seu Manoel, o pacato Dias. No meu modo de ver, o romance não tem um gran finale.

O valor maior está mesmo na descrição que é feita da sociedade maranhense, absolutamente preconceituosa e dada a todo o tipo de crendices e fé cega na fala do latinório do padre. O fato absolutamente imperdoável desta alta sociedade religiosa e burguesa é a mancha da mistura do sangue de Raimundo, o fato de ele ser mulato. Volto a repetir. Deve ser o grande romance da exposição da chaga do preconceito racial dentro da literatura brasileira.Também é uma bela introdução à formação da sociedade brasileira, que tão bem conhecemos nos dias de hoje, de uma elite extremamente desumana e perversa.

No livro, na sua contracapa, encontramos a referência ao grande valor da obra: "Aluísio Azevedo foi o introdutor do movimento naturalista nas letras brasileiras. Acima de tudo, O Mulato é obra de um observador atento da sociedade - agrária, latifundiária, escravocrata - que se transforma em civilização burguesa, pré-industrial, com lenta ascensão dos mestiços e participação na vida social, política e intelectual, sinalizando as relações entre o indivíduo e o meio. Trata-se de uma crônica da vida maranhense, com todos os seus preconceitos e mesquinharias, durante o Segundo Império. O protagonista, Raimundo, é um jovem de boa formação e que após os anos de estudo volta à sua província natal. Apaixonado por Ana Rosa, não obtém a aceitação da família da moça, sem que se dê conta do porquê".

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