quarta-feira, 1 de novembro de 2017

A missão dos jesuítas alemães no Rio Grande do Sul. Padre Ambrósio Schupp SJ.

Entrei em contato com o padre Ambrósio Schupp SJ. com a leitura de seu livro Os Muckers. O li, sabendo de sua filiação à ordem religiosa dos padres jesuítas. O livro tem o olhar de um jesuíta, mas tem também um olhar de profundidade, de um arguto observador. Narra os fatos ocorridos com muita objetividade, embora o viés de sua posição, devidamente assumida. É um livro de valor. Originariamente foi escrito em alemão. A sua tradução é de Arthur Blásio Rambo.
Uma preciosidade que vai para bem além de um livro de história. Da editora Unisinos. A missão dos jesuítas alemães no Rio Grande do Sul, do padre Ambros Schupp, SJ.

Os muckers me levou a outro livro seu, A missão dos jesuítas alemães no Rio Grande do Sul, um livro da editora da Unisinos, a universidade dos padres jesuítas. É um livro grandioso e indispensável para quem quer, minimamente, conhecer a história do Rio Grande do Sul de maneira geral, e a da imigração alemã, em particular. Mais uma vez, muita objetividade na narrativa dos fatos. O livro é uma viagem pelas colônias alemãs dos vales dos rios dos Sinos, do Caí, do Taquari e do Pardo. E para quem é nascido na região, um grande reencontro com as origens. Este foi o meu caso.

O livro é dividido em três partes: A parte I se dedica à evolução histórica dos assentamentos alemães (colonização alemã) e missão no Rio Grande do Sul; a parte II, às atividades dos jesuítas alemães na missão e a parte III, aos elementos hostis. Do ponto de vista histórico, evidentemente, que a primeira parte é a mais interessante. Li o livro, com o meu olhar constantemente voltado para Harmonia, a minha terrinha natal. E ela, de fato, aparece várias vezes na narrativa.

A primeira parte também é a mais longa e o autor a divide em três capítulos, a saber: I. História das Colônias de São Leopoldo antes da chegada dos padres alemães; II. Fundação e desenvolvimento de cada uma das colônias e residências dos padres alemães e III. Retrospectiva sobre a missão como tal.  Lembrando que os primeiros colonos alemães aportaram em São Leopoldo no dia 25 de julho de 1824, numa iniciativa do Império brasileiro recém instalado. Observem que a data está colada à da independência.

O olhar perspicaz do padre se volta neste primeiro capítulo da primeira parte sobre três temas fundamentais: sobre os primórdios da imigração, sobre a sua chegada e instalação e, ainda, sobre a situação religiosa e a vivência  em estado de absoluto abandono. Esta situação só se modifica com a chegada dos primeiros jesuítas espanhois, expulsos da Argentina. Posteriormente chegam os alemães. Também na Alemanha eles haviam sido expulsos. As revoluções de 1848.

O segundo capítulo da primeira parte, é propriamente o corpo de todo o trabalho. Cada uma das colônias é retratada com preciosos detalhes históricos. Importante não esquecer que estamos no Império, quando Igreja e Estado formavam uma unidade. Por isso os fatos históricos são mais registrados nas igrejas, nas paróquias. Duas picadas merecem atenção especial. São as chamadas paróquias mãe, das quais todas as outras se desmembraram. São elas, a Picada Baum, a São Miguel dos Dois Irmãos e a Picada dos Portugueses (portugieserschneis), a São José do Hortêncio. O padre apresenta primeiramente as colônias localizadas no rio dos Sinos e logo a seguir as do vale do rio Caí, onde se localizam as duas paróquias mãe, as de Dois Irmãos e  de São José do Hortêncio. São Leopoldo, Novo Hamburgo, Bom Jardim (Ivoti) e  Porto Alegre ganham, cada uma, um capítulo especial. Em Porto Alegre os alemães se aglutinaram em torno da igreja de São José.

Entre as colônias do vale do rio Caí merecem destaque as localidades de Montenegro, São Sebastião do Caí, Nova Petrópolis, Bom Princípio, São Salvador (Tupandi), Harmonia e Feliz. Seguem as do vale do Taquari, com Estrela e Lajeado e as do rio Pardo, onde se localiza Santa Cruz. Pelotas e Rio Grande também merecem a atenção do padre historiador, assim como São Pedro de Alcântara, São Lourenço e Nonoai. O terceiro capítulo desta parte faz uma retomada  de todo o trabalho dos padres da Companhia. Toda esta primeira parte está dividida em 14 capítulos.

A segunda parte do livro está disposta em treze capítulos onde são narradas as principais atividades realizadas pelos padres, a saber: os cultos religiosos, a construção de igrejas, o canto, as devoções domésticas, as atividades pastorais, o associativismo, as escolas (o capítulo V é dedicado ao desenvolvimento histórico da escola e do ensino no RS., uma preciosidade), os seminários, a atividade literária, o atendimento aos doentes, as atividades culturais e as iniciativas de ordem social. Também as provocações políticas ganham um capítulo.
Esta foto é do padre Oscar Francisco Mallmann, que foi pároco de Harmonia, entre os anos de 1930 a 1981. Não é da época retratada pelo livro, mas mostra a inseparabilidade do padre com o cavalo para a realização das atividades pastorais. A foto é dos arquivos de Antônio Kunzler.

A terceira parte é a mais breve, embora os elementos hostis não tenham sido poucos. O primeiro lamento neste sentido é feito em cima da enorme falta de padres para atender tão vasta região e da difícil comunicação, já que as estradas eram praticamente intransitáveis em períodos de chuva. O auxílio do cavalo era imprescindível. Mas inimigos mesmo, o padre aponta, em primeiro plano as lojas maçônicas. É o conflito provocado pela razão, pelo esclarecimento e pela formação do espírito da laicidade, especialmente, o caráter leigo das escolas no embate com o ensino religioso. Um capítulo que também é uma preciosidade. Lembrando, a edição do livro da Unisinos data de 2004, mas a pequena introdução, escrita pelo próprio padre Ambrósio, data de 1912. Portanto, é um olhar datado anterior a 1912. Os outros elementos hostis são a imprensa, dividida entre os católicos e os protestantes e a laica, que começa a se formar. Também, já neste período, começam a descer as seitas oriundas dos Estados Unidos, anglicanos e adventistas, neste primeiro momento.

Um livro de muito valor. Além da preciosidade dos elementos históricos, ricamente detalhados, temos a preciosidade da marca de um olhar. O olhar extremamente perspicaz de um sacerdote jesuíta, nos idos de 1912. Vou retornar o tema com outros posts, relatando a história de Tupandi e de Harmonia.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Obrigado pelo comentário. Depois de moderado ele será liberado.