domingo, 5 de novembro de 2017

Harmonia no livro A missão dos jesuítas alemães no Rio Grande do Sul.

O livro A missão dos jesuítas alemães no Rio Grande do Sul é de uma preciosidade que vai para muito além dos dados apenas históricos. São descritas as dificuldades, os costumes, as desavenças e, acima de tudo, o zelo com a questão religiosa dos imigrantes alemães, que é o objeto tema específico do livro. O livro tem uma apresentação de seu autor, o padre Ambros Schupp SJ., que nos fornece a data de sua escrita, 1912. Originariamente foi escrito em alemão. A tradução é de Arthur Blásio Rambo.
O maravilhoso livro do padre Ambros Schupp, da editora Unisinos.


Na primeira parte do livro, em seu segundo capítulo, cada uma das colônias alemãs é retratada. Assim são descritas as duas paróquias mãe, respectivamente, Dois Irmãos e São José do Hortêncio, e as então localidades de São Leopoldo, Novo Hamburgo, Montenegro, São Sebastião do Caí, Nova Petrópolis, Bom Princípio, São Salvador (Tupandi), Harmonia, Feliz, Estrela, Lajeado e Santa Cruz, entre outras.

Neste post vou me ater a Harmonia, a cidade em que eu nasci, quando ela era o 3º distrito do grande município de Montenegro. Não posso transcrever literalmente o que o padre fala de Harmonia, antes de uma pequena explicação, pois, antes de ser paróquia, Harmonia era uma capela filial de São Salvador (Tupandi). Vejamos a descrição desta situação da capela e a confusão havida entre São Salvador e Harmonia:

"A segunda capela filial de São Salvador, a Harmonia, localiza-se uma hora mais para o sul, portanto duas horas distante da igreja matriz.  Sua fundação data de 1863, sendo, portanto, três anos mais recente do que São Benedito. Em 1868, os moradores ergueram um pequeno prédio escolar, que também teve que servir para os serviços religiosos. Passaram mais dez anos para que fosse construída uma nova capela. A igreja atual existe apenas desde 1901" (página 94).
Creio que seja esta a igreja inaugurada em 1901, a qual o livro faz referência. Ela existe até hoje, junto à Igreja nova, que data dos anos 1950, que mostro abaixo.


Antes de Harmonia o livro fala de São Benedito, como a primeira capela e, ainda,  sobre Linha Bonita, a terceira, pertencentes a São Salvador. Aí o livro passa a relatar as desavenças havidas ente São Salvador e Harmonia, para sediar a paróquia, invertendo as posições de paróquia e capela. Vejamos a narrativa: "Até aquele momento reinaram paz e entendimento na paróquia. No ano de 1883 entraria em cena um acontecimento que acarretaria uma profunda cisão na comunidade e traria muitas horas amargas para o vigário.

Com grande sacrifício em dinheiro trabalhava-se num acabamento interno digno da igreja. Joseph Flach, um jovem artesão em madeira, discípulo do irmão Johan Egloff, acabara de confeccionar um altar-mor em estilo gótico. No ano seguinte deveria pintar internamente a igreja, e seu irmão Michael, também discípulo do mencionado irmão jesuíta e mestre não menos exímio, construir dois altares laterais góticos. Foi quando um grupo de homens da capela filial de Harmonia cismou que o lugar certo para a sede da paróquia estaria com eles. Fizeram de tudo e por fim conseguiram que o seu pleito fosse decidido favoravelmente pela câmara. Mas não lograram a confirmação da parte da igreja. A fim de consegui-lo, empenharam-se em vão durante cinco anos. Veriam então realizado o desejo". Páginas 94 e 95. Aí sim, começa o texto sobre:

HARMONIA. 

"Harmonia tornou-se paróquia e São Salvador (Tupandi) sua filial. A agitação em São Salvador foi extraordinária. Não se podia e não se queria acreditar que as coisas ficassem assim. E para que a convicção desse algum resultado, dois homens de respeito, Peter Heck e Joseph Nedel, dirigiram-se a Porto Alegre, o primeiro um excelente católico, o outro, além disso, um membro influente do partido do governo. Por meio de sua intermediação conseguiram que no dia 28 de novembro de 1887 as coisas tomassem um outro rumo. É verdade que Harmonia permaneceu com Linha Bonita como paróquia independente. São Salvador recebeu de volta a sua antiga autonomia, mesmo que com uma única capela filial: São Benedito. De lá em diante, Harmonia ficou inteiramente sob a direção de padres seculares.

A ferida aberta com a separação de Harmonia de São Salvador não demorou em cicatrizar, e as coisas entraram em seu ritmo costumeiro.

Em dezembro de 1901 completaram-se 25 anos desde que o P. Pfluger assumira a administração da paróquia. Nesta ocasião, os paroquianos deram uma demonstração do quanto amavam o seu pastor. Nunca, afirmam as cartas ânuas, São Salvador viu tanta gente reunida como no dia da festa. Também os colonos de Harmonia e Linha Bonita fizeram-se presentes em massa. De modo especial, participaram todos os professores com seus alunos, 440 ao todo, no solene cortejo levando suas bandeiras e bandeirinhas, a fim de dar os parabéns ao querido ancião jubilar.

Quatro anos mais tarde, o fiel pastor de almas, amado por todos e acompanhado de um luto profundo, foi conduzido ao túmulo.

Relataremos mais tarde o que o P. Pfluger realizou em favor do bem-estar corporal de seus paroquianos.

Foi sucedido pelo P. Gallus Benz".

Na página 165 encontramos outra referência a Harmonia, quando o padre Ambros narra as atividades realizadas pelos jesuítas. Entre elas estava o cuidado com os professores, congregados em associação. Vejamos a narração: " A fundação da Associação dos Professores foi fruto da primeira Assembleia Geral dos Católicos, realizada em 1898 em Harmonia", quando também foram explicitadas as finalidades da mesma. O fato lembra o destaque que Harmonia mereceu em sediar a primeira Assembleia Geral dos Católicos. Quero lembrar ainda que os colonizadores (as terras pertenciam a José Ignácio Teixeira, residente em Pareci) de Bom Princípio, São Salvador e Harmonia só vendiam terras mediante duas exigências: serem alemães e serem católicos.

Na página 166 encontramos outra referência a respeito deste Congresso: "A realização do primeiro Congresso dos Católicos foi decidido, e a realização foi marcada para 24 de março de 1898, ao mesmo tempo em que foram distribuídos os temas a serem debatidos.

Realmente, o primeiro Congresso dos Católicos aconteceu em Harmonia (na sede da paróquia) e assumiu um andamento altamente satisfatório. Os participantes, contados em alguns milhares, retornaram entusiasmados para as suas picadas. Despertaram também em outras pessoas o desejo de participar do espetáculo edificante de uma Assembleia Geral dos Católicos".

É isso. Uma bela reconstrução histórica. Em outro livro, encontrei o fato de o padre Theodor Amstad, ter estado em Harmonia no ano de 1904 para formar a Associação de Poupança. Pela importância deste padre, fundador do SICREDI em Nova Petrópolis, ou mais precisamente, em Linha Imperial, vou procurar fazer alguma pesquisa a respeito. Assim que tiver os dados eu os compartilharei. O padre Amstad era um jesuíta suíço que estimulou o crédito cooperativo nas colônias alemãs. As Sparkasse.

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