sábado, 4 de novembro de 2017

Um ano de golpe. Crônicas da resistência.

"Um ano de golpe completa a trilogia da série lançada pela ComPactos para encabeçar uma vertente de resistência no mercado editorial, dando voz aos cidadãos comuns que diariamente militam por um Brasil mais justo". É o que lemos na contracapa do livro Um ano de golpe - Crônicas da resistência. O livro é organizado pela jornalista Cleusa Slaviero e conta com mais de oitenta crônicas de militantes espalhados por todo o Brasil.
O livro contém uma pluralidade de vozes humanitárias e resistentes.


O livro, que completa a trilogia (os outros foram Crônicas da resistência 2016 - Narrativas de uma democracia ameaçada e A Luta continua - Crônicas da resistência - 2016. Este foi escrito seis meses após golpe), tem uma forma de organização bem peculiar, que o torna possível. Ele é financiado coletivamente. O autor paga para escrever e como compensação recebe um certo número de livros para vender ou presentear. É isso que permite a grande pluralidade de vozes. Uma verdadeira sinfonia. O facebook ajuda a arrebanhar os cronistas militantes.

Esta forma permite, por meio desta pluralidade, fazer frente ao uníssono da grande mídia que promove debates com convidados, todos apresentados como renomados especialistas, que, invariavelmente, tem a mesma opinião. Acabo de ler o magnífico livro de Jessé Souza A elite do atraso - da escravidão à lava jato, onde ele faz exatamente esta reflexão sobre o comportamento da grande mídia brasileira. Cá comigo, sempre digo que os economistas transformados em colunistas das nossas rádios e TVs, não são economistas, e sim publicitários em defesa do dito "livre" mercado e de seus supostos benefícios. Como os autores são das diferentes regiões brasileiras, o livro tem a garantia de ampla circulação nacional.

Desta vez o livro é prefaciado pela professora, escritora e psicanalista Maria Rita Kehl. (No primeiro livro a apresentação foi de Adolfo Pérez Esquivel e contracapa de Leonardo Boff e no segundo tivemos o luxo de duas apresentações: uma de Lucía Topolanski e outra de Fernanda Takai). Maria Rita apresenta o livro como um alento contra o desânimo causado pelo golpe e a indignação perante um moralismo seletivo de combate à corrupção, voltado apenas contra os governos do PT. Destaca ainda o fato de as crônicas serem a expressão de trabalhadores organizados e que foram escritas não para impressionar a academia mas para mobilizar os trabalhadores. Faz ainda um pequeno apanhado de citações de algumas das crônicas que compõem o livro.

É também absolutamente notório o esforço da organizadora do livro, a jornalista Cleusa Slaviero. Ela vai ganhando experiência junto aos trabalhos de sua editora, a editora ComPactos. Ela já tem reconhecimento nacional com o seu trabalho. É um trabalho que exige enorme esforço e empenho no sentido de arregimentar os cronistas. Acima de tudo é um trabalho de convencimento. A pluralidade de vozes não diminui em nada a qualidade do livro. Muito pela contrário, o torna ainda mais virtuoso e cheio de qualidades.

Mas quanto ao tema, qual o assunto que povoa as diversas crônicas. São um lamento pelas perdas e um destrinchar das causas do golpe. Na contracapa lemos, começando por uma interrogação: "Quanto o Brasil perdeu em um ano de golpe? Difícil precisar os números. Mas basta olhar para a nossa sociedade para perceber que o país regrediu. Nem a economia retomou o crescimento, nem os empregos voltaram. E ainda tivemos uma queda histórica no bem-estar social, na inclusão das minorias e na redução da desigualdade".

Boas leituras e, deixo uma reflexão final, ainda do grande livro do Jessé Souza, A elite do atraso: "Ora, em um contexto de sociedades influenciadas pelo cristianismo, moralidade deveria ser, antes de tudo, igualdade e fraternidade". Páginas 140/1. Em vez disso temos o combate seletivo à corrupção para ocultar a verdadeira corrupção que é a dos juros altos, do apoderar-se do orçamento, das isenções fiscais, da venda de nossas riquezas em troca de miçangas... Todo o esforço produtivo de um país em favor de 1% de sua população. E muito ódio devotado aos pobres.


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