sexta-feira, 20 de janeiro de 2023

Intérpretes do Brasil. Clássicos, rebeldes e renegados. 19. Celso Furtado.

Dando continuidade na análise dos "Intérpretes do Brasil", a partir do livro Intérpretes do Brasil - clássicos, rebeldes e renegados, livro organizado por Luiz Bernardo Pericás e Lincoln Secco, vamos hoje trabalhar o economista Celso Furtado, numa resenha de Carlos Mallorquín. O livro é uma produção da Boitempo Editorial do ano de 2014. Ao todo são trabalhados 25 intérpretes, em resenhas escritas por especialistas. O foco do livro são os autores que resultaram das transformações brasileiras dos anos 1920 (tenentismo, semana da arte moderna, PCB), quando se inicia no Brasil a denominada modernização conservadora. São apresentados a primeira e a segunda geração desses intérpretes.

Intérpretes do Brasil - clássicos, rebeldes e renegados. Boitempo Editorial. 2014.

A resenha é de Carlos Mallorquín, um dos maiores estudiosos da obra de Celso Furtado e autor do livro Celso Furtado: um retrato intelectual. Foi professor em universidades mexicanas. É, portanto, uma autoridade no assunto. Também é estudioso da obra de Raul Prebisch, que junto com Celso Furtado se constituíram nos grandes nomes desse organismo internacional. Foi, portanto, um estudioso da economia latino americana. Carlos nos recomenda estudar os projetos de desenvolvimento da América Latina, começando pelos trabalhos desenvolvidos por Celso Furtado. Um estudo mais do que necessário, nesses tempos de hegemonia neoliberal, nos recomenda o resenhista.

Ele apresenta Celso Furtado como um intelectual latino americano, grande estudioso das transformações econômicas dos países periféricos ao sistema capitalista. Destacou-se primeiramente pelos seus trabalhos na CEPAL, integrando junto com Raul Prebisch, os seus economistas de uma linha mais progressista, em contraposição aos economistas dos Estados Unidos.

Celso Furtado nasceu na cidade de Pombal, na Paraíba, no ano de 1920, filho de uma família de classe média e vida dedicada ao serviço público. Ingressa no curso de Direito da Universidade do Brasil, quando naquele tempo apenas se iniciava a ter no curso disciplinas da área das ciências sociais. Por essa razão, no seu terceiro ano, se transferiu para o curso de Administração. Assim descreve a sua passagem pela universidade: "Segundo as regras da época, minha formação em economia era de um autodidata, [...] e apoiado em minha formação jurídica e em estudos especializados de organização das finanças públicas". À economia dedicou toda a sua vida de estudos e de atividades, seguindo o exemplo da família, na sua dedicação ao serviço público. 

Participou da FEB, na Itália, permanecendo depois em Paris, onde faz o seu doutorado, desenvolvendo o tema da economia colonial brasileira, com foco na economia canavieira e traçando paralelos com as Antilhas. Entre 1948 e 1957 trabalha na CEPAL, num dos períodos mais produtivos de sua vida intelectual, focado agora nas questões desenvolvimentistas. Nesse período também trabalha para o governo Vargas, focado na questão da industrialização, e, desenvolvendo trabalhos junto aos pensadores do ISEB. Em 1959 edita o seu principal livro Formação econômica do Brasil. 

Após o seu desligamento da CEPAL e de sua aproximação com o pensamento keynesiano irá para Cambridge fazer o seu pós doutorado e, na volta ao Brasil, trabalhará no BNDE, voltando-se para o desenvolvimento do nordeste, onde, ao longo do governo de JK, participará da criação da SUDENE. Depois será ministro do Planejamento de Jango, responsável pela elaboração do Plano Trienal. Em 1964 terá seus direitos políticos cassados e conhecerá, no exílio, famosas universidades, mundo afora, na qualidade de professor. Após a ditadura, volta à vida pública brasileira como Ministro da Cultura do governo Sarney. Numa nova série de livros, denunciará o abandono das questões sociais por longos vinte anos, os anos da ditadura militar. Também analisa as novas tendências da economia, da nova dependência, da ascensão do capitalismo financeiro, da dívida externa e do monetarismo.

Ainda escreverá três livros autobiográficos. O resenhista termina o seu trabalho reconhecendo o tributo devido ao grande economista: "...Tudo isso me levou à conclusão de que as ciências sociais latino-americanas parecem desconhecer sua grande dívida com Celso Furtado. A herança desse autor é incomensurável e há de se resgatá-la do esquecimento para (re)construir as verdades deste mundo. Furtado, como intelectual comprometido com a transformação das relações sociais reinantes, não foi alheio à dita problemática: nos legou 'um regime de verdade' sobre a ideia de subdesenvolvimento e as possíveis vias para sua superação". É isso que eu guardo desse grande intérprete do Brasil. Um pensador dedicado à superação do nosso subdesenvolvimento, pela via da indução econômica e do planejamento do Estado. Um keynesiano.

Como já trabalhei o autor, a partir do livro Introdução ao Brasil - um banquete no trópico, deixo aqui a resenha feita, com foco no seu livro principal Formação econômica do Brasil. 

http://www.blogdopedroeloi.com.br/2022/07/um-banquete-no-tropico-15-formacao.html

E, como de hábito, o trabalho anterior: http://www.blogdopedroeloi.com.br/2023/01/interpretes-do-brasil-classicos_17.html

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