sexta-feira, 18 de outubro de 2013

Interpretações de Brasil. Darcy Ribeiro e a obra de Manoel Bomfim I.

Em minha formação acadêmica e continuada nunca tinha ouvido falar de Manoel Bomfim. Até que um dia vi a lista de livros, no blog da Editora Boitempo, recomendada pelo Antônio Cândido, para interpretar o Brasil, que originalmente fora publicado na Revista Teoria e Debate, de 30.09.2000. A revista solicitou a Antônio Cândido que fizesse a relação de dez livros que melhor interpretam o Brasil. Teoria e Debate é a revista editada pelo Partido dos Trabalhadores.

Antônio Cândido não obedeceu integralmente a solicitação da revista, pois deu onze, e não dez livros. Deu o livro de Darcy Ribeiro O povo brasilçeiro - A formação e o sentido do Brasil, (Companhia das Letras) como introdução geral, para daí sim, listar os dez livros. A grande surpresa da lista, foi para mim, o livro A América Latina - Males de Origem, (Topbooks) de Manoel Bomfim. Quanto aos outros livros não houve surpresas. Em outro momento eu listo os dez livros. Imediatamente comprei o livro por via eletrônica. O consegui na Americanas.
13.05.17_Antonio Candido_10 livros para conhecer o Brasil
Antônio Cândido, indica dez livros que melhor interpretam o Brasil. Entre eles está: A América Latina. Males de Origem, de Manoel Bomfim.

O livro original data de 1905. A versão atual é a edição de centenário, portanto, de 2005. Esta versão tem um prefácio de uma edição de 1937, escrita por Azevedo Amaral. A edição atual tem duas apresentações, uma de Darcy Ribeiro e outra de Franklin de Oliveira. A apresentação de Darcy Ribeiro aliviou a minha consciência pelo seu desconhecimento. Darcy assim se refere ao desconhecimento do autor: "Teve predecessores, é certo, que cita copiosamente, dos quais se quis fazer herdeiro e continuador. Não teve foi sucessores, porque jamais existiu, de fato, na bibliografia brasileira. A culpa não é de Bomfim, é nossa. Não porque ele fosse adiantado demais, mas sim porque nossos pensadores são servis demais. Entre nós, a cultura não constrói, como em toda parte, pela superposição de tijolos nas paredes de um edifício que se levanta coletivamente. Aqui, cada pedreiro está olhando para a casa alheia e só deseja contribuir com seu grão de areia exemplificativo ou seu tijolinho de lisonjas ao pensador estrangeiro que mais o embasbaca".

Darcy encontrou o livro quando esteve exilado em Montevidéu, estudando a América Latina. Com Bomfim descobriu que a identidade latino americana era comum "feita com as mesmas vicissitudes vividas pelos povos que construíram, aqui, com carne e com a alma dos índios e dos negros que os brancos caçaram e encurralaram para produzir suas riquezas". Descobriu mais, "que o nosso descompasso histórico é feito de papagaios da sabedoria alheia ou parlapatões". Fui ver o significado exato de parlapatão: homem cheio de vaidade, mentiroso, impostor, fanfarrão, me esclareceu o Aurélio. E toda a sabedoria deles se reduz, segundo palavras de Bomfim, "a sentenças invariavelmente condenatórias".
Este é o livro de Manoel Bomfim. América Latina. Males de Origem. É a edução do centenário do livro, editado em 1905.

Darcy continua situando o pensamento de Bomfim: "Penetrando no nevoeiro das aparências" ele desmascara o que ele chamava o "parasitismo europeu" como causa real de nossas desgraças. Praticavam uma economia insensata para nós, mas racionalíssima para eles. "Algumas centenas de escravos e um chicote" foi o estilo civilizatório europeu de homens brancos, cristãos e civilizados. E toda a literatura produzida em nome da ciência teve, na verdade, como real finalidade, encobrir o papel real do homem branco como dizimador e genocida dos povos que tratou ou consumiu os escravos como carvão humano, para produzirem o que não consumiam.

Darcy constata mais: "Só Manoel Bomfim, naqueles anos, teve olhos para ver que as teorias europeias do atraso e do progresso, que os atribuíram ao clima, à raça, à religião católica, são, de fato, mistificações urdidas para disfarçar ações hediondas. O que se tomava por sabedoria científica é, a rigor, a ideologia do colonizador, consagradora de suas façanhas". Assim o racismo foi uma técnica ideológica para justificar a dominação e a escravização.

Na sequência Darcy apresenta algumas visões de intérpretes do Brasil consagrados, que eu apresentarei em outro post, e a sua visão sobre a realidade brasileira, que não incorporaram em suas visões o olhar de Bomfim. As teses do autor de A América Latina - Males de Origem são as de que as ditas taras do criouléu não vinham da raça, mas da escravidão, do caráter classista e intrinsecamente tirânico e espoliativo do Estado brasileiro. Que as condições de existência, a situação de casta do escravo, são as conformadoras do caráter e do temperamento de cada segmento de um povo e nunca determinações de uma raça. Que é absolutamente desonesto confundir "alternativas históricas dos povos" com a suposta "inferioridade definitiva das raças".
O livro de Manoel Bomfim tem apresentação de Darcy Ribeiro. O livro de Darcy é a melhor introdução aos estudos de interpretação do Brasil, segundo Antônio Cândido.

Encerro este primeiro post com o que Darcy mais admira em Bomfim: "O aspecto com que mais me identifico na obra de Manoel Bomfim é aquele que o opõe a todos os antigos e modernos pensadores coniventes com os grupos de interesse que mantêm o Brasil em atraso. É sua extraordinária capacidade de indignação e de esperança. É sua certeza de que esse é um país viável. É sua convicção de que construiremos aqui uma civilização solidária e bela, assim que retirarmos o poder de decisão das mãos de nossas classes dominantes, infecundas e infiéis".

Eu, da minha parte, já estou satisfeito com a compra do livro só com a apresentação do Darcy. São 11 páginas que já pagaram o livro. Mas a minha expectativa em torno do livro e das outras apresentações é grande. Eu volto a esta apresentação do Darcy, mostrando autores renomados e os seus erros de visão, por pouco olharem ao seu redor, por serem apenas, parlapatões das ideologias do colonizador.




2 comentários:

  1. Estou lendo o livro do Manoel Bomfim e estou achando excelente. Você sabe se em alguma obra específica do darcy ribeiro ele faz menção ao Bomfim?

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  2. Já faz um bom tempo que li Darcy Ribeiro. Não tenho lembrança de que ele faça uma abordagem direta da obra de Bonfim. Que interpretação real de Brasil, como sentimos isso em nossos dias. Davi, muito obrigado pelo seu comentário.

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