quarta-feira, 22 de maio de 2013

Liberdade - Algumas reflexões.


Qual será afinal de contas o significado da palavra liberdade ou de sua congênere livre arbítrio? Sem entrar em detalhes, vamos apenas afirmá-la como um dos pilares da cultura ocidental, cultura esta, profundamente capitalista e superficialmente cristã, especialmente se formos falar do cristianismo contido no sermão da montanha, cuja publicação chegou a ser censurada no Estado Novo, não sei bem, talvez, - em nome da preservação da liberdade de imprensa. Também os jornais brasileiros não tiveram a liberdade de publicar a declaração da independência dos Estados Unidos, pela ditadura militar brasileira, na comemoração de seus 200 anos, embora, sendo o país tido como modelo de liberdade. Está tudo muito confuso, não está? O que vem a ser afinal a liberdade?

Recentemente li o livro de Jonathan Franzen, cujo título é simplesmente - Liberdade. Me confundiu ainda mais. Nele tem uma discussão que me intrigou. A discussão é entre dois irmãos, um bem sucedido, no significado estadounidense do termo, e o outro é um bêbado inveterado e alcoólatra reconhecido, não anônimo. O bem sucedido se chama Walter e o mal sucedido, também no sentido estadounidense, é Mitch. Vejam o diálogo entre eles ocorrido e a sua contextualização:
O diálogo entre os irmãos Walter e Mitch e a conclusão de que Mitch é um homem livre, no livro de Jonathan Franzen. "Liberdade".

"O dia estava ensolarado e ele só estava fazendo o de sempre. Bebia o tempo todo, mas sem pressa; a tarde ia ser longa.
De onde você está tirando dinheiro? quis saber Walter. Está trabalhando?
Mitch debruçou-se um pouco vacilante e abriu uma caixa de apetrechos de pesca que continha uma pequena pilha de notas e talvez uns cinquenta dólares em moedas. Meu banco, disse ele. E isso aí deve durar até o tempo esfriar de novo. Trabalhei de vigia noturno em Aitkim no inverno passado.
E o que você vai fazer quando esse dinheiro acabar?
Encontro alguma coisa. Eu sei tomar conta de mim.
Você não se preocupa com os seus filhos?
É, às vezes me preocupo. Mas eles têm boas mães que sabem cuidar deles, e eu não presto para isso. Acabei entendendo que só assim sei tomar conta de mim mesmo.
Um homem livre.
É o que sou.
E se calaram.

Não entendi. Então a liberdade é a vida que Mitch está levando e não a de Walter? O que fez Walter para ser bem sucedido?  Enredou-se?

Fiquei ainda mais confuso com uma personagem de Jorge Amado no seu São Jorge dos Ilhéus. Rita é o seu nome. Ela é absolutamente pobre. Não tem mesmo nada. Jorge a descreve, em meio a todas as doiduras dos coronéis e agora, mais ainda, dos exportadores, que tudo tem, inclusive o medo de perderem o que tem, como sendo feliz, mesmo sem nada ter. Ela vive da entrega de seu corpo e o faz tão bem, que meia Ilhéus por ela se apaixona, mas especialmente o negro Florindo. No tempo da baixa do cacau, no tempo em que todos estão presos à maior miséria, todos buscam abrigo em Rita, que nada tem, inclusive o negro Florindo. Vejam a felicidade dos dois, quando Florindo já desesperado, apenas sonha em encontrá-la, mas o encontro é real:
Rosa e Florindo, em "São Jorge dos Ilhéus", sem terem nada, mas felizes e livres?

"Florindo comprou um pente, leva no bolso, um pente bonito, como pedra de vidro, como brilhante. É para Rosa, pentear os cabelos, para ela sorrir. 'toma teu pente, Rosa, vem te pentear. Te dou um colar, compro num sírio, a prestação. É falso, já sei, quem é que não sabe? Mas é bonito que nem verdadeiro, é pra te dar. Te dou perfume, falso Houbigant. O Varapau, tu sabe, voltou pra roça, já te esqueceu, Capi embarcou, vai ser Herodes num terno de reis. Eu fiquei só. Tem a lua, Rosa, pra nela te mirar. Se tu não vem, Rosa, vou me afogar.
Negro Florindo, não sabe mais rir, se vai afogar. Rosa fugiu, no cais não está, negro Florindo vai se afogar.
Rosa chegou, veio por detrás, o negro se volta, de onde ela veio. Rosa maluca, bonita de ver.
Onde tu tava?
Tu quer saber?
Rosa está rindo, o negro está rindo, rir é tão bom!
Tu quer saber? Melhor não saber...
Rosa que quer? A boca de Rosa, oh! a boca de Rosa, o corpo de Rosa se encostando. Rosa, toma teu pente, não queira colar, não queira perfume, não queira luar. Só queira canoa.
Tu teve pena?
Me ia afogar...
No corpo de Rosa, negro Florindo já se afogou, no escuro do cais. Rir é tão bom.

Os demais estavam enredados, ou na sua riqueza ou na sua pobreza. O que será a liberdade?

Lembro ainda do filme "Advogado do Diabo". Nele o personagem de Al Pacino faz um discurso sobre o livre arbítrio, mas este vamos deixar de lado, para uma outra oportunidade. Se não a confusão aumenta demais. Melhor é não saber. 







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