quinta-feira, 2 de maio de 2013

O Castelo de Papel. Isabel e Gastão.

Estou numa fase de leituras sobre o Brasil. Estou lendo especialmente biografias e memórias, mas, de forma nenhuma, abro mão dos livros de história. É o caso do livro que terminei de ler. Trata-se de O Castelo de Papel. Uma história de Isabel de Bragança, princesa imperial do Brasil, e Gastão de Orléans, conde d'Eu, de autoria de Mary del Priore. Grande historiadora. Recentemente li dela,  Matar para não morrer. A morte de Euclides da Cunha e a noite sem fim de Dilermando de Assis. Simplesmente belíssimo. recentemente ela também concorreu para a Academia Brasileira de Letras, mas perdeu para Rosiska Darcy de Oliveira, na cadeira de número 10.
O livro de Mary del Priore. Um panorama europeu e brasileiro da segunda metade do século XIX.

Priore se especializou no Brasil Império, digamos de leve, um período muito complicado em nossa história, se é que tivemos algum que não o fosse. O livro, em sua orelha, é assim apresentado: "Neste livro, ela apresenta, através da vida do casal, um tempo em que reis perdiam suas coroas, barões eram aposentados de sua grandeza, mas que, como mostra o romance, príncipes e princesas ainda casavam e eram felizes para sempre". A narrativa do livro começa exatamente por aí. D. Pedro II, procurando entre os príncipes europeus, pretendentes para as suas filhas Isabel e Leopoldina. A tarefa se transformou num problema de Estado. Nossas princesas portavam uma vergonha brasileira, a mancha da escravidão. Pegava mal namorá-las. Além disso os príncipes europeus perdiam seus poderes e encantos na medida em que seus pais eram destronados.

D. Pedro II arrumou bons pretendentes entre os Orléans. Gastão de Orléans era neto de Luís Felipe (não o Scolari, pelo qual também muita gente torce para que seja derrubado), o rei francês derrubado nas insurreições de 1848. Ele se submeteu a ser príncipe nos trópicos. Depois de 1848 a sua vida se tornou bem pacata. Foi introduzido nos ofícios militares das guerras. Enquanto Isabel era formada entre os sufocos do catolicismo radical e as práticas de ascetismo. O casal, como vimos, pela orelha do livro, se deu muito bem. Não foram nada boas, em contrapartida, as relações com o Imperador.

Placa indicativa da residência do casal Isabel e Gastão, na cidade de Petrópolis, no Rio de Janeiro.









O Palácio Imperial, na cidade de Petrópolis. O casal adorava morar na cidade, pois, assim ficavam longe dos problemas da capital.



O Segundo Império brasileiro não foi um período histórico tranquilo. O primeiro problema a ser descrito, dentro das delimitações do livro, foi a guerra do Paraguai. Um horror de guerra. Uma guerra que nunca chegava ao fim. Foi, no entanto, o único período, em que Gastão ganhou um pouco de visibilidade, comandando o exército brasileiro, depois da renúncia de Caxias. Se saiu bem, de acordo com os depoimentos do general Osório. Na volta, o ofuscamento total imposto pelo Imperador. O Império por sua vez ia muito mal. A guerra simplesmente consumira onze orçamentos anuais. Além disso, briga com a Inglaterra, por causa da Questão Christie. A festa do casamento, as solenidades e festividades foram um fracasso só. Nada funcionou. Sobraram piadas das gafes cometidas.

Terminada a guerra, novas tempestades estão anunciadas. A abolição e a república tornam a paisagem cinzenta. Além disso, problemas com a infertilidade do casal. Não ter herdeiros se transformava, de novo, num problema de Estado. Soluções foram buscadas em tratamentos pela Europa. O gosto pela Europa fez com que o casal não quisesse voltar ao Brasil. O Imperador interferiu, uma vez que também ele precisava de tratamentos de saúde, de sua diabetes. E os problemas foram se avolumando e e sendo empurrados. E quando o Imperador esteve na Europa a questão da escravidão explode. A pia e beata Isabel queria resolver tudo com a caridade cristã. Mas a avalanche popular fez a abolição.
A catedral da cidade de Petrópolis, onde estão os restos mortais da realeza brasileira.

Evidentemente que a abolição e a perda do trono são os capítulos seminais do livro. Cada fato destes tem um capítulo especial. O da abolição eu conto em separado. A República seria algo inevitável, acima de tudo pela apatia, tanto do Imperador, quanto da princesa, em governar. Enquanto o Imperador se preocupava  com a evolução da ciência, Isabel se ocupava com as práticas piedosas da vida beata que levava. Creio que não seria tão errado, até dizer, que defensores da monarquia proclamaram a república. Tanto assim que, por esta apatia, não houve nenhuma reação contra a proclamação. Vejamos ainda o último parágrafo do livro:

"Em abril de 1971, os restos do casal foram trazidos para o Brasil. No Rio de Janeiro, receberam honras e ficaram expostos na igreja do Rosário, na rua Uruguaiana. Depois, os esquifes seguiram para Petrópolis. Ali, da torre cinza e escura da catedral, o som alegre dos sinos e o canto dos passarinhos os recebeu. No dia 13 de maio, na catedral diocesana, com comemorações da Lei Áurea, descansaram unidos como sempre o foram. Fiéis a si mesmos, entre si e aos amigos, dormiram o eterno sono sem o pesadelo do exílio, nem o sonho do Terceiro Reinado".

Dois anos após o 13 de maio de 1888, as lojas do Rio de Janeiro, aproveitavam a data, não para comemorações, mas para 13% de desconto em suas promoções. Pouca gente comemora o título de Isabel como a Redentora. Os negros mesmo, comemoram o dia de Zumbi. Homenagem mesmo, conheço uma placa de rua em São José dos Pinhais, em que o seu título continua ostentado: Isabel - a Redentora.



2 comentários:

  1. A professora Mary é uma historiadora de respeito, mas tendenciosa em alguns aspectos. A afirmação sobre o temperamento de D. Izabel que Del Priori descreve em seu livro não é coerente com os próprios diários da Imperatriz. Ao afirmar que a princesa cuidava de seu jardim, era voltada para a família com preconceito com os negros é contraditório. A própria Mary Del Priori fala sobre o episódio da Revolta das Camélias em que a Princesa participou. Na verdade não foi uma revolta. D. Izabel foi as ruas arrecadar dinheiro para o movimento abolicionista, em troca ela dava uma camélia para os contribuintes. Disse em seu livro que nesse mesmo dia caiu um temporal e D. Izabel voutou para o Passo Imperial encharcada e com o vestido manchado; o vestido era vermelho. Qual princesa no mundo se exporia a esse papel. D. Izabel achava que arrecadar dinheiro para o movimento abolicionista era uma bobagem, por que não dependia de dinheiro e sim de princípio. Há registro nos cadernos de André Rebouças de que D. Izabel comprou escravos e os alforriou em seguida. Ela foi regente do Brasil por 3 vezes e nessas regências assinou leis importantes para o desenvolvimento da nação.
    Quanto a vê-la como santa e não a vejo. Mas também não deve ser demonizada de forma sorrateira como faz Mary Del Priori. Sugiro que leia os Livros "D. Pedro I" de Isabel Lustosa, "D. Pedro II", de José Murilo de carvalho, ou "O Imperador Cidadão" de Roderick Barmann.

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  2. Obrigado pelo comentário e pela sugestão de leitura. Conheço a qualidade do historiador José Murilo de Carvalho.

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