quinta-feira, 9 de maio de 2013

Os Subterrâneos da Liberdade. 3 - A luz no túnel.

O terceiro volume de Os subterrâneos da liberdade, a luz no túnel começa com pancadaria pura e braba. É tortura e mais tortura. O Dr. Fleury da época era o Dr. Barros e o médico legista Harry Shibata era o Dr. Pontes. Só que este não aguenta o tranco. Ele se suicida. É pancadaria em cima de pancadaria. tem uma cena em que uma criança é torturada na frente de seus pais. Mas ninguém entrega ninguém. As quedas dos camaradas, sempre se dão por traições, ou por alguns camaradas muito fragilizados.
O terceiro volume de "Os subterrâneos da liberdade". "A luz no túnel".  

Neste terceiro volume, ao menos em sua primeira parte, a impressão que ocorre é a de que a polícia saiu vitoriosa contra o Partido. O arquiteto Carlos e o historiador Cícero d'Almeida até se encontram com  Hermes Resende, para que este vá a Getúlio pedir o fim das torturas, ao que o intelectual se recusa, sob a alegação de que não quer dar prestígio a Vargas. O sociólogo vivia um momento de grande popularidade. O declínio do Partido se deu em função das muitas quedas de dirigentes, por causa da ação traiçoeira, de Saquila e, especialmente, de Heitor Magalhães, um antigo tesoureiro do Partido, expulso em função de desvios de dinheiro. Eles são acusados de trotskistas. Heitor denunciou todos os antigos camaradas à polícia. Heitor continuará corrupto, aproveitando-se da rentável indústria do anticomunismo, com o nome de solidariedade à Finlândia.

Importante parte deste terceiro livro é dedicado ao vale do rio Salgado. A tomada das terras dos caboclos pelo latifundiário Venâncio Florival e a instalação da empresa sob o domínio do banqueiro Costa Vale, desta vez será para valer. O consórcio com capitais americanos traz junto com a dominação econômica, a ação do FBI. Os debates são muito interessantes. Deles emanam os preconceitos. Os caboclos não servem para trabalhar, porque são frutos da miscigenação. Os negros, em seu estado original, ao menos serviam para trabalhar. É preciso trazer imigrantes. As conversas vão por aí. 
Jorge Amado na cerimônia em que recebe, em Moscou, o Prêmio Internacional Stálin da paz, em 1952.

No vale, os caboclos prometem resistência. Entre eles está Gonçalo. Ali ele plantara as sementes do Partido. O Partido também estará presente entre os operários da empresa, pela ação do negro Doroteu, aquele da greve de Santos, para ali enviado pelo Partido. A inauguração da Companhia é adiada por duas vezes. Durante as obras ocorre greve e os caboclos se organizam em torno de táticas de guerrilhas. Mas são vencidos. Gonçalo é dado por morto, mas quem morre é um outro camarada. Gonçalo, na reconstrução do Partido, receberá a tarefa da organização dos camponeses.

Também por parte dos trabalhadores ocorrerão interessantes debates. As dúvidas do arquiteto Carlos, que recebe a missão de organizar uma revista, para atrair os intelectuais, ao menos como simpatizantes do Partido. Carlos compartilha esta missão com o historiador e escritor Cícero d' Almeida. Das discussões fica evidente que a direção do Partido deve ser confiado a operários, a essência do que é a classe trabalhadora. A URSS é apresentada como a única possibilidade de derrotar a Hitler e o monstro do nazismo, mas os intelectuais tem dificuldade de compreender o comportamento soviético no Tratado de Munique, quando os sudetos tchecos são entregues a Hitler. Mas o Partido tem interpretação convincente.
Cena do dia 7 de novembro de 1940, data do julgamento de Prestes e do momento que encerra a trilogia de "Os subterrâneos da liberdade".

O livro e a trilogia se encaminha para o final, quando Vítor chega a São Paulo, vindo da Bahia, para reorganizar o Partido. Os diretores presos são condenados e enviados para a Ilha de Fernando de Noronha. Para a reconstrução Vítor conta com Mariana e umas poucas pessoas a mais. Maria e João tiveram um filho, mas João, depois de julgado, recebe a condenação de oito anos de prisão. Neste entremeio ainda se casam Carlos e Manuela e Manuela se propõe a fundar um balé nacional. Recebe, inclusive, a sugestão de ir a Salvador para estudar as danças afro e, incorporá-las ao seu balé.

Já ao final, o Partido está praticamente reestruturado e todo o entusiasmo com esta situação é mostrada por um operário idoso, que chega em casa, junto ao leito de sua esposa, que estava enferma. O velho operário, durante o seu dia vira volantes e pichações dando vivas a Prestes e abaixos para Getúlio. O partido havia renascido. A velha companheira do operário, diante das novas trazidas por este, exulta: "Eu quero ficar boa... Agora que eles voltaram, vale a pena viver. Noutras casas, inúmeras pobres casas onde faltava o necessário para o jantar, a mesma luz de esperança renascia no relato emocionado de um operário que contava sobre as inscrições e as bandeirolas ou que lia as ardentes palavras do volante. Novamente o Partido estava com eles, era como uma luz no túnel. Reparem que o título do terceiro volume se chama a luz no túnel.
Apolônio de Carvalho é o tenente Apolinário, que aparece nos três volumes da trilogia. Foi heroi na Guerra Civil Espanhola e na Resistência Francesa, além de suas lutas no Brasil. É dele a ficha número um, da inscrição no Partido dos Trabalhadores.

Vítor também explica ao camarada Ramiro a força do Partido: "É por isso que o nosso Partido é imortal e invencível, Ramiro. Não é que nós sejamos uns super-homens... Somos homens com qualidades e defeitos; o que nos diferencia dos demais é pertencermos ao Partido. É dele que nos vem toda a nossa força. Das ideias que são a sua razão de ser; a felicidade do homem sobre a terra, a criação de um mundo sem fome e sem dor. É por isso que ninguém jamais, nenhum chefe de polícia, nenhum Hitler, ninguém pode nos vencer. Porque nós amamos a humanidade, lutamos por ela, o homem é nosso capital mais precioso. Por isso nosso Partido é imortal e invencível, porque comunismo significa vida, elevação do ser humano. Ninguém os poderá aniquilar jamais, Ramiro, ninguém".

O livro se encerra com uma cena do dia 7 de novembro de 1940. É o dia de julgamento de Luís Carlos Prestes. O juiz dá a palavra a ele e ele a aproveita para afirmar a sua crença: "Eu quero aproveitar a ocasião que me oferecem de falar ao povo brasileiro para render homenagem hoje a uma das maiores datas de toda a história, ao vigésimo terceiro aniversário da grande Revolução Russa que libertou um povo da tirania.

Apenas, para lembrar. A trilogia é literatura engajada. Jorge, com a sua escrita, atende a uma determinação do Partido e a escreve no auge de seu ardor militante, logo após ter recebido o Prêmio Internacional Stálin da Paz. A leitura desta trilogia foi algo mais do que fascinante.




2 comentários:

  1. Há um engano no blog: o arquiteto (que seria Niemeyer) não se chama Carlos, mas Marcos de Sousa.

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  2. Fica aí o registro. Obrigado pela sua observação Guina Ramos.

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