terça-feira, 14 de maio de 2013

São Jorge dos Ilhéus. Jorge Amado.

A primeira coisa a dizer é que São Jorge dos Ilhéus é rigorosamente uma continuação de Terras do sem-fim. Enquanto este trata da luta pela posse da terra, com guerras entre os coronéis e os famosos caxixes pela posse das terras, o São Jorge dos Ilhéus é uma luta posterior, pela posse definitiva destas mesmas terras, até que um dia elas sejam posse coletiva, conforme a vontade de Jorge e de seu Partido. O livro terminou de ser escrito em 1944. Já em 1945 Jorge Amado seria eleito deputado constituinte pelo Partido Comunista do Brasil, pelo estado de São Paulo. Trata-se, portanto, de literatura absolutamente engajada, cheia de fervor comunista.
O cacau passa da mão dos coronéis para a mão dos exportadores, em aliança com o capital internacional. Isto é São Jorge dos Ilhéus.

Se Jorge ameniza  relativamente com relação aos coronéis na briga pela posse da terra, ele não poupa, de maneira alguma, os vorazes exportadores, que não se contentam com o menos. Simplesmente Ilhéus inteira deve lhes pertencer, aliás, não só Ilhéus, mas toda a zona cacaueira. Precisam criar raízes na terra, como afirmam e, isso só poderá ocorrer, se amealharem para si todas as terras. Para isso terão que ser muito mais astutos que os velhos coronéis e também muito mais violentos, embora com outros métodos. O livro passa por diferentes etapas.

O livro é estruturado em duas grandes partes. Na primeira a terra dá frutos de ouro e na segunda, a terra muda de dono. A terra dando frutos de ouro ocupa quatro capítulos, enquanto que, já com os donos trocados, apenas um capítulo segue. 

Na primeira parte é mostrada a rainha do sul, a terra do ouro do cacau e de todo o movimento em torno dele. Creio que a transposição de Gabriela para a televisão, dá uma boa mostra dos prodígios causados pelo cacau, em seus tempos de alto preço. Do quanto ele revolucionou esta sua terra, adubada com tanto sangue. Na segunda, são apresentados os lavradores, que estarão presentes no decorrer de toda a obra. Quase todos eles são remanescentes de Terras do sem-fim. A beleza das roças é contrastada com a dureza do trabalho, especialmente aquele realizado nas estufas, onde os trabalhadores morrem estuporados.Também é mostrada a ilha das cobras, onde o progresso não chega. É o bairro onde moram os trabalhadores e os demais desvalidos da sorte.
Capa da primeira edição de São Jorge dos Ilhéus. O livro foi lançado em 1944, pela Livraria Martins Editora.

Na terceira parte todas as conversas giram em torno das previsões de tempo. Anuncia-se uma chuva benfazeja para o cacau. Todo o povo sabe ler os seus sinais, tanto no céu, quanto nos ventos e, ainda, no comportamento dos animais. Jamais erram como as previsões científicas dos dias de hoje. E todos também já antecipam gastos por causa da chuva e da boa safra que virá em consequência. Na catedral e no candomblé se realizam agradecimentos pela chuva. Um novo tema toma conta de toda a cidade: a alta do cacau. Os preços sobem rapidamente dos vinte  para os cinquenta contos por arroba. É a quarta parte do livro. A cidade se engalana em um burburinho só. Luxo e luxúria não tem limites. Apenas os volantes, distribuídos clandestinamente, alertam para um perigoso jogo, no qual exportadores  se associam com o imperialismo internacional. Os liberais se associam aos americanos e os integralistas com os alemães. Os coronéis desprezam os volantes, coisas de comunistas, e começam o seu endividamento. Vidas antes austeras, voltadas para o futuro se dissolvem nos gozos do presente. Todos os desejos passam a ser financiados pelos exportadores. Não há porque, para adiar prazeres. 

A alta para ter a aparência irreversível, precisaria durar. E assim foi por quatro anos. Quando todos os exageros e irresponsabilidades estavam no auge vem, sem explicações, a baixa. É a segunda parte do livro e o seu quinto capítulo. A baixa vem arrasadora e inacreditável. Sucessivamente cai de 50 para 47, para 30, para 25, para 15, para 11 e até para 8. Os coronéis, que antes eram vistos como tímidas crianças se transforaram agora em crianças aterradoras. Não há explicações. Alguns poucos lembram dos volantes distribuídos pelos comunistas, alertando para o jogo. Milionários são transformados em mendigos. Os trabalhadores são dispensados. A cidade volta ao estoicismo e para a castidade, embora a oferta de prostitutas fosse muito maior.
Jorge recebe ilustres visitas na região cacaueira. Jean Paul Sartre e Simone de Beauvoir. 

Os exportadores, antes tão amáveis, se transformam agora em comerciantes racionais e "responsáveis". Querem reaver o dinheiro emprestado e, com rapidez. O seu objetivo são as terras. Afinal, na terra precisavam plantar raízes. Se tornam também senhores da política e da justiça. Apenas o coronel Horácio Silveira ainda consegue fazer caxixe, mesmo sendo Silveirinha, o seu filho, sua vítima. Os trabalhadores só não vão todos para o cangaço pela ação aglutinadora de Joaquim, o trabalhador que há muito, já se suspeitava ser o autor dos volantes clandestinos distribuídos pela cidade. Apenas um casal, o capitão João Magalhães e Dona Ana Badaró, não entregam as terras e são mortos por jagunços, agora fardados de policiais.

Histórias de amor correm paralelas e todas tem objetivos bem definidos. Um triângulo amoroso é formado pelo exportador Carlos Zude e sua esposa Julieta. Como ele tem todas as suas ocupações voltadas para os negócios, ela se ocupa com o poeta Sérgio Moura. O poeta é simpatizante dos comunistas e por ele estas ideias chegam e seduzem a Julieta. O outro triângulo é formado por Pepe e Lola, um casal de argentinos falidos, sendo Pepe o cafetão de Lola. A fuga da polícia os levou até Ilhéus. O golpe mais comum que aplicam era o "pulo dos nove", que aplicaram no coronel Frederico Pinto. Jorge aproveita estas histórias para penetrá-las de conceitos morais da grande e da pequena burguesia, com os seus valores decadentes e mercantilizados.

Ao final do livro seguem algumas páginas de posfácio, escrito por Antonio Sérgio Alfredo Guimarães. Ele fala da recepção da obra. Jorge, sob as influências de Gilberto Freyre inova e revoluciona a nossa literatura, junto com José Américo de Almeida e o próprio Gilberto Freyre. Sua literatura é apresentada como reportagem social, como documentação da vida regional, sendo assim simultaneamente sociologia e literatura, romance e história. Depois de São Jorge dos Ilhéus a sua literatura também passou a ser vista como mero "folhetim socializante".

Mas vejamos um trecho de Antônio Sérgio em que ele apresenta a tese do romance:"Diante do fracasso dos coronéis em reproduzir-se como classe dominante - seus filhos são tão incapazes quanto eles para lidar com a economia imperialista que assoma-, os exportadores assumem o comando. Estes trocaram os caxixes primitivos pela trapaça financeira, em que o jogo da bolsa de valores passa a ser o lócus mais visível da acumulação financeira imperialista. O comando sobre a economia, entretanto, só pode completar-se pela propriedade da terra, garantindo o controle da produção...".

Creio que vale a pena dizer que Jorge Amado é filho de um coronel do cacau e que nasceu em Itabuna. Portanto, conhecia a realidade local com muita propriedade. O livro foi escrito em 1944.

2 comentários:

  1. Lixo comunista escrito pelo Milionário Coxinha Comunista Jorge Amado, visitado pelo imbecil comunistóide Sartre e sua mulher, todos Idiotas Úteis do Comunismo Multinacional!

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  2. A verdadeira imbecilidade é a de se considerar autossuficiente e não ter nada a aprender com os outros, ainda mais, sendo estes outros, pessoas como Jorge Amado, Jean Paul Sartre e Simone de Beauvoir. A leitura é antídoto para esta imbecilidade.

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