quarta-feira, 15 de fevereiro de 2017

A Qualquer Custo. David Mackenzie.

Cumprindo a maratona para ver os filmes com indicação a Oscar, chegou a vez de A Qualquer Custo. O filme é uma espécie de western moderno, que tem um belíssimo cenário de fundo, o Texas. David Mackenzie, o seu diretor, é escocês e lança este belo olhar escocês sobre o Texas e, assim também , sobre todo o território americano. O tema é a propriedade da terra em tempos de capitalismo financeiro. É roubar o banco para pagar o próprio banco.

Dois irmãos, Toby Howard (Chris Pine) e Tanner Howard (Ben Foster), depois de uma longa separação, se reencontram e procuram meios para salvar a propriedade rural da família, hipotecada junto a um banco. Toby é frio, racional, divorciado e que encarna uma pessoa boa, porém em dificuldades. Já Tanner é ex presidiário, irascível e tempestuoso. Facilmente recorre à violência, se ela representar uma saída para determinada situação.

Para levantar a hipoteca eles decidem assaltar o banco credor, em pequenas agências e em pequenos volumes de dinheiro, apenas o que está sendo manipulado nos caixas, para não deixarem pistas sobre a origem do dinheiro. Estão sendo bem sucedidos em sua tarefa. Estes assaltos garantem a dinâmica do filme, com muita ação e tiroteios, tão próprios dos westerns.

Do outro lado está a lei, na figura do velho xerife. Marcus Hamilton (Jeff Bridges) que está prestes a se aposentar mas que ainda quer prestar um último grande serviço no seu emprego. Desvendar os assaltos a banco que estão ocorrendo. Pretende usar mais a inteligência, estudando o caso e preparar a emboscada final contra os assaltantes, fato que ocorre quando os irmãos assaltam uma agência em uma cidade maior e com um movimento também maior. Aí sim ocorre tiroteio digno de bang bang, fugas espetaculares com carrões e a morte de um dos protagonistas.

Bem, o enredo é mais ou menos este. O que então existe de tão grandioso no filme, que o fez merecedor da indicação para o melhor filme e também o de melhor roteiro original? Vamos aos seus méritos. Primeiramente o tema. A propriedade em tempos de capitalismo financeiro. O tempo em que se passa o filme reporta ao ano de 2008 e a grave crise americana e internacional do capitalismo, provocada pela astúcia do mundo financeiro e a voracidade dos bancos. Levanta-se assim um grave questionamento sobre a legalidade da ação dos bancos, em criarem dificuldades financeiras e, depois, se apropriarem dos bens de seus clientes.

Por outro lado temos a voz da lei, que seja ela qual for, precisa ser cumprida. Se é uma loucura assaltar bancos, também é uma loucura ver o que eles estão fazendo, questionam os irmãos que os assaltam. É a velha questão já levantada por Bertolt Brecht, quando questionava sobre a fundação ou o assalto a um banco, sobre qual dos dois atos seria o mais imoral e indecente.

Lendo a crítica vi coisas para além do que realmente o filme mostra, como a desolação dos texanos, de um país desolado e tomado pela tristeza, após o tradicional american way of life ter sido interrompido. O que é bem visível, no entanto, é velho xerife  alfinetando o seu companheiro de trabalho, um velho descendente de indígenas comanches, sempre ironizado em sua condição de descendente de indígenas. A questão é tratada mais sob a forma de humor do que maldade. O companheiro aceita as brincadeiras.

Bem, o filme que tem também um surpreendente final. Tobby e Marcos se encontram frente a frente mas, inesperadamente não se matam. Em vez disso trocam confissões de mútua admiração. Marcos evoca o passado de Tobby.  Tanner, este sim, com passado mais comprometedor, mais afoito e impetuoso, morrera no tiroteio que se seguiu ao assalto. Outro destaque do filme é a sua bela paisagem, a paisagem texana. O filme concorre ao Oscar em quatro indicações: melhor filme, melhor roteiro original, melhor ator coadjuvante para a interpretação de Jeff Bridges, no papel do velho delegado e ao de melhor edição.  Entre os que eu vi, este não é, com certeza, o meu preferido.

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