terça-feira, 21 de fevereiro de 2017

Manchester à beira mar. Kenneth Loregan.

Manchester à beira mar nada tem a ver com a cidade inglesa, berço da industrialização. A Manchester do filme é uma pequena cidadezinha, à beira mar, sim. É um centro pesqueiro e de turismo. O cenário é de um inverno extremamente rigoroso. Nas primeiras cenas aparece um barco e um pai brincando com o seu filho adolescente.


Em outro cenário, agora em Boston, aparece um fac totum, que vai levando a sua vida, não tão tranquila. Ele é zelador em vários prédios e se ocupa da remoção da neve, de reparar torneiras pingando e desentupindo pias, para pessoas nem sempre bem humoradas. O seu humor era ácido e pouco procurava conversar, mesmo com aquelas pessoas que, explicitamente, lhe manifestavam as suas carências. O personagem chama atenção. Raros momentos de conversas e cenas solitárias em bar era a monotonia de sua vida. Um olhar meio atravessado bastava para tudo terminar em pancadaria. Lee Chandler era o seu nome e, seguramente, era uma pessoa muita perturbada.

Esta sua rotina é interrompida por um telefonema que chega de Manchester. Neste telefonema veio a triste notícia do falecimento de seu irmão, que é exatamente aquele pai que brincava com o filho no barco pesqueiro. Cenas de duro cotidiano da burocracia se seguem. Liberação do cadáver, busca de funerária e realização do enterro. Mais encontros de mau humor entre as pessoas envolvidas.

Lee pretendia voltar logo para Boston, continuar o seu trabalho. Não lhe agradava a permanência em Manchester. Mas, a guarda do menino que brincava com o pai no barco pesqueiro a ele foi confiada. Patrick agora era órfão e a mãe não tinha condições para os cuidados com o filho. Esta missão o retinha na cidade. Patrick, 16 anos, era um adolescente razoável, normal. Tinha duas namoradas, estudava, participava de uma banda de rock e jogava hoquei no gelo.

As esquisitices de Lee, as suas cervejas e o seu constante mau humor complicavam a relação entre o tio e o sobrinho. A situação ficava mais tensa, quando Lee falava em voltar para Boston. Lee era absolutamente taciturno e se refugiava em seu silêncio. Tinha com a vida uma relação trágica. Sua falta de cuidado provoca um incêndio, onde morrem as suas filhas. Sim, antes de ir para Boston, ele era casado. É absolvido do caso, fato que ele próprio estranha e busca o suicídio. Vai acumulando tragédias e nada indica que haverá bons termos, tipo final feliz. As complexidades da vida.

Patrick sente o peso de um tutor a lhe interromper uma vida natural de adolescente. Mantém com o tio uma relação, ao mesmo tempo distante, de poucas aproximações e, no entanto, em momentos decisivos, sempre repletas de profunda afeição, que lhe é devolvida, em bela reciprocidade. São cenas de beleza e de ternura. Mas a história terá a sua acomodação. Patrick terá um jeito de continuar a sua vida em Manchester e Lee volta para Boston. O empregado do barco era também um amigo e com ele ficou a guarda de Patrick. 

Também as mulheres ocupam o seu espaço. Randi Chandler, a ex de Lee, busca uma reconciliação enquanto que a mãe de Patrick, que já se livrara dos problemas com o alcoolismo, encontra um novo companheiro junto a um homem extremamente religioso. O filme está sendo um grande êxito de público e de crítica. Tem direção e roteiro de Kenneth Loregan, um homem procedente do mundo do teatro. Tem seis indicações a Oscar: Melhor filme, melhor direção e roteiro original (Kenneth Loregan), melhor ator (Casey Affleck no papel de Lee), melhor atriz coadjuvante (Michelle Williams no papel de Randi Chandler, a ex de Lee) e o de melhor ator coadjuvante (Lucas Hedges, no papel de Patrick).

Um filme que aborda a difícil questão das relações humanas e, ainda mais, as relações familiares. Um filme profundamente existencial e de reflexão sobre perdas e desencontros, especialmente, os de Lee, consigo mesmo. Lee tem uma interpretação fenomenal. É favorito ao Oscar de melhor ator. O seu olhar fala e convence muito mais do que as poucas palavras que ele profere ao longo do filme.

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