quarta-feira, 22 de fevereiro de 2017

Lion: Uma jornada para casa. Garth Davis.

Mais um grande filme, entre os que levam a indicação ao Oscar máximo, nesta temporada de 2017. Trata-se de Lion: Uma jornada para casa. Trata-se de um filme extremamente sensível e humano, com a abordagem de relevantes temas, como o são os da adoção e das relações familiares que passam a se estabelecer. A reconciliação com o passado também está fortemente presente. Pobreza extrema e bem-estar, também.


O filme é baseado em uma história real. No interior da Índia vivia, em extrema pobreza, uma mãe e seus dois filhos, Guddu e Saroo. Os dois a ajudam na difícil tarefa da sobrevivência. Saroo, aos cinco anos se mostra extremamente prestativo em ajudar nas tarefas, mas numa delas, se desprende do irmão e vai parar a 1.600 quilômetros de distância, na cidade grande de Calcutá. A sobrevivência se torna mais pesada ainda. O seu drama apenas começa.

Aí cenas ligadas à pobreza são mostradas. Como são bem conhecidas, não precisamos explicitá-las. Por esperteza e desconfiança o menino se salva do tráfico de crianças, mas acaba parando num orfanato, no pior conceito da palavra. Contudo, auxiliado pela sorte, é adotado por pais australianos, da ilha de Tasmânia. Aí encontra todo o conforto, que nunca tivera. Aparentemente, todos os seus problemas acabaram.

Vai crescendo, levando uma vida normal e chega à vida universitária. Se enamora, tem relações difíceis com um irmão, Mantosh, também adotado, e mantém com os pais adotivos uma relação aparentemente razoável. Mas aí o seu passado começa a falar. Sonha com ele e busca um reencontro com a sua família biológica e com a sua Índia natal. Esta busca é mediada pela tecnologia, pelo Google.

A partir desse momento as relações se complicam. Só desentendimentos, com o irmão, com a namorada e até com os seus compreensivos pais. Fixa-se na obsessão do reencontro com o seu passado. Entre as constantes buscas, ocorre uma das cenas mais bonitas do filme, um encontro de conversa franca com a mãe, que lhe explica as razões e a felicidade pela adoção. Os adotaram por opção. O casal poderia ter filhos, mas por opção, escolheram proporcionar o bem-estar a dois meninos pobres. Os seus problemas, aparentemente não impediam a felicidade do casal. Mantosh é bem mais problemático, desde a sua infância.

 Finalmente Saroo localiza a sua cidadezinha na Índia e, vinte anos após dela ter-se perdido, busca a volta. O Google o ajudou a localizar até a casa em que morara, mas ali não encontrou mais ninguém. O problema foi resolvido pelos moradores, que logo promoveram o reencontro com a mãe, mas não com Guddu, vitimado logo após o desencontro. Cenas de grande emoção estão reservadas para momentos de tão difíceis reencontros. A população inteira festeja.

Nas cenas finais são revividos os principais acontecimentos e é mostrada a questão da adoção, especialmente das crianças mais pobres da Índia e louvores são feitos às organizações que a ela se dedicam.

O filme, uma produção dos Estados Unidos, Inglaterra e Austrália, tem a direção do australiano Garth Davis, conhecido no meio publicitário como diretor de comerciais. O filme tem seis indicações a Oscar. O de melhor filme, de melhor roteiro adaptado, o de melhor ator coadjuvante (Dev Patel, no papel do jovem Saroo), o de melhor atriz coadjuvante (Nicole Kidman, a mãe adotiva de Saroo), o de melhor fotografia e de melhor trilha sonora. Mas quem ganhou mesmo o público foi o Saroo menino, interpretado por uma criança indiana, de nome Sunny Pawar. A indicação de Dev Patel como melhor ator coadjuvante causou estranheza, não pelo desempenho, mas pelo papel de protagonista, certamente pela divisão do papel de Saroo.

Eu não ia fazer referência a uma crítica que eu vi, por ser ela meio desairosa. O crítico fez uma comparação do filme com um programa de televisão em que o apresentador patrocina a volta para casa de personagens nordestinos que moram em São Paulo. Só o faço, porque na hora do final, eu mesmo me lembrei de um programa de noticiário aqui de Curitiba, que promove o reencontro de pessoas desaparecidas. Mas nem por isso o filme deixa de ser grandioso, emocionante e com um bela mensagem em um mundo que rapidamente trilha pelos caminhos da desumanização.

Quanto ao nome Lion, no título do filme, eu não conto. Tem que assistir o filme até o seu final. E quem quiser saber tudo sobre esta incrível história real poderá encontrá-la no livro Uma longa jornada para casa, escrita pelo próprio Saroo Brierley. Uma edição da Editora Record, 224 páginas, a R$ 34,90.


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