sábado, 29 de junho de 2013

Roteiro de uma Viagem. Um giro Ibérico.

Como o meu blog se ocupa de política, de cultura e de viagens e como iniciarei neste domingo, 30 de junho, mais uma viagem dos sonhos, compartilho com todos o seu roteiro.  A verdadeira viagem dos sonhos eu fiz no ano passado, ao berço de nossa civilização, visitando a Grécia e a Itália. Agora procurarei conhecer mais um berço, o berço das origens do nosso Brasil, numa viagem a Portugal e Espanha e de lambuja, uns dias em Paris. Quero realizar um dos sonhos da minha vida. Tomar umas cervejas no Quartier Latin e,  rejuvenescer, me imbuir do espírito revolucionário de tantos jovens que por aí passaram e aprontaram.
 O nosso giro começou por Lisboa.

Na volta, prometo detalhar a viagem, com muita história e fotos. Eis o roteiro: Dias 1 e 2 de julho em Lisboa. Visita panorâmica onde se poderá conhecer a Torre e o bairro de Belém, lugar de onde saíram os navegantes portugueses a navegar pelos oceanos no século XV. Jantar no Bairro Alto, num restaurante com o canto de fados.

Dia 3 de julho: Lisboa - Lagos - Vilamoura e Albufeira. O sul de Portugal.

Dia 4 de julho: Albufeira - Mértola e Évora.  Pelo Algarve e a região do Alentejo.Évora é considerada por muitos, como a mais bela cidade portuguesa.

Dia 5 de julho: Évora - Vila Viçosa - Alter do Chão - Almoural - Tomar e Fátima. Em Tomar quero travar um combate com os templários e em Fátima, a Nossa Senhora preferida de Salazar, tentarei rezar para que esta Nossa Senhora ajude a transformar o mundo, para que ele seja mais humano e mais socialista. Na minha infância eu rezava para que ela ajudasse a salvar o país do comunismo. Quanta inocência!

Dia 6 de julho: Fátima e Porto. Um bom período de tempo livro na cidade do Porto, às margens do Douro. Vinhos no programa.

Dia 7 de julho: Porto - Santuário do Bom Jesus - Cambados - Santiago de Compostela. Consta uma viagem no bondinho mais antigo do mundo, no santuário do Bom Jesus. Ostras e mexilhões no caminho. Da Galícia às Astúrias.

Dia 8 de julho: Santiago de Compostela - Lugo- Cebreiro - León - Oviedo. Muita história, castelos e muros medievais.

Dia 9 de julho: Oviedo - Covadonga - Santilhana e Santander. A hospedagem será em Bilbao. Promessas de muitas belezas. E os bascos...

Dia 10 de julho: Santander - Bilbao - La Rioja - Zaragoza. Na costa cantábriga, entre mar e montanhas. Muito vinho na parada, inclusive, visita a um museu do vinho.

Dia 11 de julho: Zaragoza - Mosteiro de Poblet - Montserrat - Barcelona. Em Zaragoza, uma visita a Basílica de Pilar, à catedral com obras de Goya. também uma visita a um dos mosteiros mais bem conservados do mundo, o mosteiro de Poblet. Ao final do dia, chegada a Barcelona. Em Barcelona, tentaremos fazer uma visita ao Neymar. Imperdível... O ponto alto. Futilidades...

Dia 12 de junho:  Barcelona. Com visita panorâmica passando pelas Ramblas. Uma tarde livre e perdidos em Barcelona, maravilhosamente perdidos.

Dia 13 de julho: Barcelona - Peñiscola - Valência - Madrid. Mar Mediterrâneo. Muralhas e mar e chegada a Madrid, com jantar na Plaza Maior. Madrid já conheço.

Dia 14 de julho: Madrid. Visita panorâmica. Desta vez visita aos museus - Prado e Rainha Sofia. Possivelmente uma dança flamenca.

Dia 15 de julho: Madrid - Granada.  passagem pela Mancha no rumo da Andaluzia e chegada a Granada com visita panorâmica e ao palácio de Alhambra.

Dia 16 de julho: Granada - Málaga - Marbela - Ronda - Sevilha. Na costa do Sol. Em Málaga, visita ao museu Picasso. Almoço num dos lugares mais chiques do mundo - Porto Banus, em Marbela. Histórias de bandoleiros estão no cardápio.

Dia 17 de julho: Sevilha: Visita panorâmica e tarde livre. Possivelmente um jantar com dança flamenca.

Dia 18 de julho: Sevilha - Mosteiro de La rábida - Mértola - Évora - Lisboa. Visita ao museu das caravelas em Palos de la Frontera, ponto de partida da viagem de Colombo.  Visita ao mosteiro la Rábida, dos franciscanos e ligado aos descobrimentos. Volta a Portugal e mais um dia em Lisboa.

Dia 19 de julho: Lisboa e voo a Paris.

Dias 20 - 21 - 22 -23 de julho. mini pacote em Paris, com visita panorâmica pela cidade e ida a Versalhes.
Mais dois dias adicionais para ficar perdido, por conta nesta cidade, onde está incluído a minha cervejada no Quartier Latin.

Dia 24 de julho. Viagem de volta. Paris - Lisboa - Porto Alegre - Curitiba.

De novo, alguns euros mais pobre e infinitamente mais rico, culturalmente.
   


sexta-feira, 28 de junho de 2013

O que é a Ilustração. O mais belo texto de Filosofia. Sapere Aude!

Antes de iniciar a minha viagem por Portugal, Espanha e Paris e deixar este blog descansando por praticamente um mês, quero deixar aqui, o que é para mim, o mais belo texto de toda a história da filosofia. O que não seria a humanidade se ela atingisse esse grau de consciência, de emancipação, a partir do Esclarecimento, da Ilustração, ou como diriam os alemães, da Aufklärung? Mas vejamos o texto:

"A ilustração (Aufklärung) é a saída do homem de sua menoridade, da qual ele é o próprio responsável. A menoridade é a incapacidade de fazer uso do entendimento sem a condução de um outro. O homem é o próprio culpado dessa menoridade quando sua causa reside  não na falta de entendimento, mas na falta de resolução e coragem para usá-lo sem a condução de um outro. Sapere aude!  'tenha coragem de usar seu próprio entendimento!' - esse é o lema da ilustração.
kant - Obra de tal modo que uses la humanidad siempre como un fin y nunca
sólo como un medio
Kant, o grande filósofo da Aufklärung, da emancipação pelo Esclarecimento.

Preguiça e covardia são as razões pelas quais uma tão grande parcela da humanidade permanece na menoridade mesmo depois que a natureza a liberou da condução externa (naturaliter maiorennes); e essas são também as razões pelas quais é tão fácil para outros  manterem-se como seus guardiões. É cômodo ser menor. Se tenho um livro que substitui meu entendimento, um diretor espiritual que tem uma consciência por mim, um médico que decide sobre a minha dieta e assim por diante, não preciso me esforçar. Não preciso pensar, se puder pagar: outros prontamente assumirão por mim o trabalho penoso.

Que a passagem à maioridade seja tida como muito difícil e perigosa pela maior parte da humanidade (e por todo o belo sexo) (o que é isso, Kant?) deve-se a que os guardiões de bom grado se encarregam de sua tutela. Inicialmente os guardiões domesticam o seu gado, e certificam-se de que essas criaturas plácidas não ousarão dar um único passo sem seus cabrestos; em seguida, os guardiões lhes mostram o perigo que as ameaça caso elas tentem marchar sozinhas. Na verdade, esse perigo não é tão grande. Após algumas quedas, as pessoas aprendem a andar sozinhas. Mas cair uma vez as intimida e comumente as amedronta para as tentativas ulteriores.

É muito difícil para um indivíduo isolado libertar-se  da sua menoridade quando ela tornou-se quase a sua natureza [...].

Uma imagem símbolo da Ilustração, Esclarecimento, ou do Iluminismo.

Mas que o público se esclareça a si mesmo é muito perfeitamente possível; se lhe for assegurada a liberdade, é quase certo que isso ocorra... Sempre haverá alguns pensadores independentes, mesmo entre os guardiões das grandes massas, que, depois de terem-se libertado da menoridade, disseminarão o espírito de reconhecimento racional tanto de sua própria dignidade quanto da vocação de todo homem para pensar por si mesmo. Mas note-se que o público, que de início foi reduzido à tutela por seus guardiões, obriga-os a permanecer sob jugo, quando é estimulado a se rebelar por guardiões que, eles próprios, são incapazes de qualquer ilustração. Isso mostra quão nocivo é semear preconceitos; mais tarde, voltam-se contra seus autores ou predecessores. Sendo assim, apenas lentamente o público pode alcançar a ilustração. Talvez a destruição de um despotismo pessoal ou da opressão gananciosa ou tirânica possa ser realizada pela revolução, mas nunca uma verdadeira reforma nas maneiras de pensar. [Enquanto essa reforma não ocorre], novos preconceitos servirão, tão bem quanto os antigos, para atrelar as grandes massas não pensantes.

Entretanto, nada além da liberdade é necessário à ilustração; na verdade, o que se requer é a mais inofensiva de todas as coisas às quais esse termo pode ser aplicado, ou seja, a liberdade de fazer uso público da própria razão a respeito  de tudo. [...]

A pedra de toque para o estabelecimento do que devem ser as leis de um povo está em saber se o próprio povo poderia ter-se imposto as leis em questão. [...]

O que o povo não pode decretar para si próprio muito menos pode ser decretado por um monarca, pois a autoridade legislativa deste último baseia-se em que ele une a vontade pública geral na sua própria. A ele incumbe zelar para que todas as melhorias, verdadeiras ou presumidas, sejam compatíveis com a ordem civil; fazendo isso, ele pode deixar aos súditos que busquem eles próprios o que lhes parece necessário à salvação de suas almas".

Este texto, que salvo engano, encontra-se na Crítica da Razão Prática foi extraído do livro Os Clássicos da Política. Volume dois, organizado por Francisco Weffort. O texto sobre Kant e a seleção de textos é da autoria de Regis de Castro Andrade.

Em outro texto kant esclarece sobre os obstáculos: " Nossa época é propriamente a época da crítica à qual tudo tem de submeter-se. A religião por sua santidade, e a legislação, por sua majestade, querem comumente esquivar-se dela. O que kant diz com tanta elegância, Diderot teria dito de forma extremamente irreverente: "A humanidade só será feliz, quando o último padre (sua santidade) for enforcado com as tripas do último rei" (sua majestade).


quarta-feira, 26 de junho de 2013

A Conferência Municipal de Educação em Nova Fátima.

Nova Fátima é uma hospitaleira cidade do Norte Pioneiro do Paraná. Ela possui em torno de 8.500 habitantes. O seu prefeito é Nilson Xavier, o popular Cabeça. Pois bem, ali estava programada mais uma Conferência Municipal de Educação, que contaria com a minha participação. A organização foi impecável e a participação foi muito efetiva. Nos pequenos municípios é ainda muito forte o espírito de comunidade. Mais de 200 pessoas estiveram presentes. Ousaram fazer uma Conferência Municipal e não Intermunicipal e o resultado foi magnífico. Além disso, a chuva também se fez presente. Era o dia 21 de junho.

A Conferência se realizou no clube da cidade, modesto, mas muito bem cuidado. O capricho estava presente em todos os detalhes. A mesa de autoridades foi formada e o hino nacional cantado. O prefeito municipal falou. Como a APP- Sindicato participou da Conferência, indicando, inclusive, o palestrante, ele começou a falar do sindicato, do medo que ele tinha do mesmo e, fez uma bela confissão. O sindicato me ensinou a dialogar, ele me deu uma das maiores lições de democracia que aprendi na minha vida, quando com ele eu negociei. Gostei de ouvir, sr. prefeito.
O prefeito de Nova Fátima, falando aos participantes da Conferência.

A secretária municipal de educação destacou na sua fala, que o município paga aos professores o piso salarial nacional. Este piso não é elevado, mas mesmo assim não é pago em inúmeros municípios. Quando o município não tem condições de pagá-lo, o MEC complementa. Mas para que isso aconteça, as contas da prefeitura precisam ser abertas. E é nessa questão que ocorrem os tropeços. Altos salários e nomeações estranhas à escola impedem a complementação. Por isso ela, muitas vezes, não é nem sequer solicitada e os professores pagam por isso.

Quero também destacar a ativa presença do ensino superior na Conferência e os diversos Conselhos Comunitários estabelecidos no município. Além, é óbvio, das educadoras e educadores, que realmente fazem a educação e a formação acontecer.
Panorâmica dos participantes da Conferência.

Na minha fala destaquei a importância da Conferência, alertando para o fato de que tanto os projetos políticos, quanto os educacionais, são projetos em disputa e, ferozmente em disputa. Resultando daí a importância da nossa participação. Somente com ela, as diretrizes da educação terão a nossa fisionomia, terão a nossa marca, a marca da nossa participação na sua elaboração. Isto nos identificará com elas e nos darão o sentimento de pertencimento. Ao contrário, se estivermos ausentes e alheios, teremos que nos prostrar diante do que nos for imposto por estranhos. No princípio de não se prostrar diante de imposições de outros, estão as origens mais remotas da democracia entre os gregos. Para não se prostrarem é que eles se reuniam na ágora, no espaço público para criarem as suas próprias leis e instituições.

Destaquei também as origens dos direitos e da educação escolar pública como direito. Frisei que os direitos, civis, políticos e sociais são construções histórico sociais e culturais e não eternos e imutáveis e que os mesmos, mesmo com tropeços e percalços, tendem para a universalização. O direito à educação escolar pública, avançou até chegar ao seu ideal máximo, da educação pública nacional  e democrática. Destacamos as dificuldades de uma escola ser única e de qualidade, numa sociedade dividida em classes.

Depois o nosso foco foi o Brasil e a sua relação com os direitos. Uma triste história. Um Warfare e não um Wellfare State. Mostramos isso nos grandes momentos históricos, como a abolição, as questões sociais ao longo da República Velha e do Estado Novo, bem como o que o Estado militar fez com as populações do campo, em seu êxodo, para dar viabilidade ao agro negócio exportador. Ao trazer estas questões ao presente, traçamos um paralelo entre os anos 90 e os dez primeiros anos do 2000. Comparamos as concepções de Brasil como mercado emergente, que prevaleceu nos anos 90, com as concepções de Estado/Nação/Pátria, dos anos 2000 e as suas consequências sobre a sociedade e sobre a educação.

O mercado faz abstrações de tempo, de espaço e de pessoas e glorifica os valores de seleção e de competição, gerando exclusão. A busca por direitos compete aos indivíduos, por serviços disponíveis no mercado. Enquanto que o Estado - nada deve a ninguém. Ao contrário, na concepção de Estado/Nação, a pessoa é portadora de direitos e estes direitos são os deveres do Estado, que dá amparo, através de uma rede de proteção social, aos excluídos do mercado. Também estabelecemos estas diferenças com relação às políticas educacionais.

No encerramento, voltamos a destacar a importância da participação na Conferência e a miramos nos seus objetivos, que são os de preparar as diretrizes para o Plano Nacional de Educação e para, pela primeira vez em nosso país, o Sistema Nacional de Educação. Para que eles tenham a marca de nossa participação e não nos pareçam alheios e estranhos, como imposições de outros, provavelmente, sob a inspiração nefasta do Banco Mundial.

Com a secretária de educação do município, à minha direita, e outras professoras participantes da Conferência.
No encerramento, quase sou levado a sentimentos de orgulho e de soberba de tantos elogios que recebi, tanto em público como em particular, pela minha fala. E, de verdade, não escondo os bons sentimentos de que sou possuído nestas ocasiões. Na minha dissertação de mestrado tem uma frase em epígrafe, que está ali, não de forma gratuita, mas como um princípio de vida. Ela reza assim:

"A história conta entre os maiores, aqueles que, agindo no sentido do interesse comum, se tornaram eles mesmos melhores! A experiência considera ser mais feliz aquele que tornou feliz o maior número. [...] Quando tivermos escolhido a situação que nos permitirá obrar ao máximo para o bem da humanidade, nunca nos poderemos dobrar sob o seu fardo, porque os sacrifícios feitos sê-lo-ão para o bem de todos. Não gozaremos então  de uma alegria irrisória, limitada, e egoísta mas a nossa felicidade será partilhada por milhões de seres humanos; as nossas ações viverão, silenciosas mas eternas, e as nossas cinzas serão regadas pelas lágrimas ardentes de nobres seres humanos". A frase é de Marx.

Quero ainda ainda registrar os maiores agradecimentos a todas as pessoas envolvidas em minha participação nesta Conferência. Especialmente à secretaria municipal de educação de Nova Fátima e ao Núcleo Sindical da APP de Cornélio Procópio. Desta vez a minha anfitriã foi a professora Sônia. A noite, ainda um belo jantar em companhia da Sônia e da Sidineiva, a presidente do Núcleo Sindical de Cornélio Procópio. Sim, também quero registrar que conheci a primeira pessoa que já me conhecia através do meu blog. Uma estudante de filosofia. Coisas do Google.

terça-feira, 25 de junho de 2013

Próxima Estação, Paris. Uma viagem histórica pelas estações do metrô parisiense.

Estou de malas prontas. No domingo iniciaremos uma viagem para fazer, primeiramente um giro ibérico, para depois, ficar uns cinco dias em Paris. Estou feito criança, riscando os dias, no seu ritmo decrescente, até chegar ao dia da partida. Um encontro com a nossa história, começando por Lisboa, depois Portugal de sul a norte e um giro espanhol, começando por Santiago de Compostela e passando por todas as cidades mais importantes, para terminar, num gran finale, na cidade luz ou na cidade de mil histórias.
Próxima estação, Paris. O belo livro que conta a história da cidade, pelas estações do metrô. O destaque da foto vai para o Sena e a Îlle de la Cité.

Estou me preparando intensamente para esta viagem. A maioria das dicas me são dadas pelo Google, mas também vídeos, filmes e livros são os meus guias. Sobre Paris terminei de ler um livro simplesmente maravilhoso. A sua história contada através das estações do metrô. Próxima Estação, Paris. Uma viagem histórica pelas estações do metrô parisiense. A autoria do livro é de Lorànt Deutsch e a edição é da Paz e Terra. Vejam o autor contando a sua experiência em Paris, movido pela curiosidade.

























Os dez primeiros capítulos, ou as dez primeiras estações.

"Nessa cidade onde eu era um estrangeiro (veio do interior), onde não conhecia praticamente ninguém, meus primeiros companheiros foram os nomes das ruas. E descobri essas ruas com o metrô. É verdade. O metrô me fornecia as instruções necessárias para desvendar o formigueiro fervilhante, abissal, que se oferecia ao pequeno provinciano que eu era. Mergulhei naquele universo desconhecido com gula e sofreguidão... Percorri Paris em todos os sentidos, parei em cada estação, indaguei a mim mesmo... Por que os Inválidos? O que é Châtelet? Que República? Quem era Etienne Marcel? O que quer dizer Maubert? Definitivamente, as estações de metrô desembocavam na história".

















O séculos X a XXI e as respectivas estações.

Que método maravilhoso de estudar a história, sempre começando com algo muito vivo, provocando tanto a curiosidade, quanto o interesse. O resultado foi a produção de livro um muito interessante. Com certeza absoluta, não chegarei a Paris de forma analfabeta. Em cada local que eu chegar, pela memória, evocarei muito de sua história.

Mas vejamos ainda um pouco do convite de Deutsch para esta viagem: "Gostaria de seguir com vocês as linhas de metrô como se fossem fios de Ariadne. Elas nos levariam a estações cujas entradas tagarelas se lembrariam das esperanças, dos sobressaltos, dos arrebatamentos da capital. Tomem seus lugares,atenção ao fechamento das portas, direção Lutécia". Em Lutécia tudo começou.

O livro está estruturado em cima de 20 capítulos, ou de vinte estações do metrô, cada um ou cada uma, representando um século de história, começando com a Île de la Citè, a ilha do rio Sena, onde a cidade começou e terminando com a estação Champs-Élysées-Clemenceau, à qual o autor acrescenta os nomes de De Gaulle e de Churchill, somando assim os heróis de duas guerras. Termina mesmo com a estação La Défense, a estação do Arco do Triunfo.

Na leitura do livro você perpassa, praticamente, todos os grandes nomes da história de Paris e, em consequência, de toda a história francesa. Esta começa com a história de Júlio César, dominando os gauleses, os templos gauleses, depois galo-romanos e finalmente cristãos. Passa pela consolidação do domínio romano e pela sua cristianização e com os seus santos. Mergulha depois na história da Idade Média. Dá bem uma noção do período de horror que ele efetivamente foi. Passa depois pela construção da modernidade e por seus períodos revolucionários, pela constituição da república, chegando as século XX e o seu envolvimento nas horríveis guerras.

Os grandes nomes desfilam todos nas páginas deste livro nos dando a história de cada um dos grandes nomes da França. Assim ficamos sabendo sobre São Denis, o primeiro bispo, São Martinho, o apóstolo das Gálias, Santa Genoveva, a padroeira, Clóvis e Clotilde, o início da Idade Média, sobre os Merovíngios, o bispo Germain, Dagoberto, Pepino, o Breve, Carlos Magno, os Normandos, os Capetíngios, Felipe Augusto, o surgimento da Sorbonne, Avignon, a interminável Guerra dos Cem Anos, Joana d'Arc, de Henrique IV, o de navarra, aquele da frase "Paris bem vale uma missa", mostrando desta forma, o cinismo na sua conversão ao catolicismo, Luís XIV, a Revolução, Napoleão, Luís Felipe, a República, a Guerra Franco Prussiana, a Comuna e os grandes personagens do século XX.
Um mapa da cidade de Paris, tendo o Sena e a sua ilha, como guia mestre.

Dou um aperitivo do primeiro século, da Île de la Cité, sobre a origem do nome da cidade de Paris, a cidade dos Parisii. Um dos meus livros preferidos é A Eneida de Virgílio. É uma peça publicitária. Virgílio descreve as origens mais remotas de Roma, buscando-a em Eneas, o filho de Anquises, herois troianos, na guerra contra os gregos. Eles perderam a guerra, porque os deuses lhes reservaram um destino maior, fundar o maior império de todos os tempos, o Império Romano. Para dar ao povo o sentimento de pertencimento, lhes é dado um grande PAI, que a todos congregue e irmane. Pátria, o grande pai comum. Um ancestral que orgulhe a todos, sempre é buscado, quando se trata de estimular sentimentos de patriotismo.

Assim também os Parisii, não se consideram descendentes de bandos de viajantes celtas, mas possuem a mesma e nobre ascendência dos Romanos. São filhos de Paris, o filho caçula de Príamo, e o causador de toda a guerra, com o rapto da bela Helena, esposa de Menelau. Após a guerra e com a volta de Helena para Menelau, Paris virá de estabelecer às margens do rio Sena. Os Parisii sempre se consideraram mais latinos do que germânicos. Esta é apenas uma das belas e ilustrativas histórias do livro.

Gostei muito do livro e me considero razoavelmente preparado para visitar Paris. Lá não chegarei, como disse, de todo analfabeto. Na memória evocarei os seus gloriosos e heroicos personagens, quando os ver em seus monumentos. Ainda verei, como preparação o Desconstruindo Paris, do Discovery Channel e também o livro de turismo da Folha de S. Paulo, sobre a cidade de Paris. Para a volta prometo muitos posts e muitas fotos.

segunda-feira, 24 de junho de 2013

A Conferência Municipal de Educação de Mandaguari.

Para a Conferência Municipal de Educação de Mandaguari eu não estava escalado. Quando após a participação na Conferência de Bandeirantes eu estava descansando no hotel, chega o telefonema, comunicando que o palestrante escalado para Mandaguari falhara e, junto vem a solicitação da possibilidade de substituí-lo. Como o Núcleo Sindical da APP de Cornélio Procópio cuidaria da logística, não vi problemas em atender a solicitação.

Gosto muito de ir a Mandaguari. Lá vive uma pessoa maravilhosa, amiga há mais de 20 anos. Trata-se de Maria Inês Teixeira, presidente do Núcleo Sindical da APP, naquela cidade e, uma das responsáveis pela organização da Conferência. Onde a Maria Inês está presente, nunca está ausente o Cuidado. Ela organiza tudo e o seu olhar e o seu toque estão sempre presentes.
Na abertura da Conferência, a apresentação da Orquestra de Viola Caipira de Marialva.

O toque especial da Maria Inês fez com que os participantes do Congresso fossem brindados com uma magnífica apresentação da orquestra de viola caipira da cidade de Marialva. A orquestra, além das muitas violas, estava enriquecida com a participação de três gaiteiros, de um violino, de percussão e de vocal. Entre as músicas constaram a Cabocla Tereza e Na Casa de Mané Pedro, que, se eu não fosse tão tímido, eu diria que ela é meio autobiográfica minha, naquela passagem que diz: "Eu fiz as velhas chorar - e as moças sentir paixão". Mas isso foi naqueles tempos... Com tantas maravilhas de raízes de nosso Brasil... - na nossa televisão, tanto lixo da indústria cultural. Marialva conta com uma verdadeira maravilha. A cidade está de parabéns.

Mandaguari é uma histórica e tradicional cidade do norte do Paraná, contando com algo em torno de 33.000 habitantes. Na mesa de autoridades estiveram presentes, o seu prefeito municipal, Romualdo Batista e sua esposa, o deputado estadual  Ênio Verri, a secretária municipal de educação, Adenise Batista Rodrigues, entre outras. Todas as falas convergiram para o tema da educação e da importância da participação na Conferência. O cerimonial do evento, digamos, foi extremamente cerimonioso. Leu o nome de listas infindáveis, quase tão compridas quanto a lista telefônica de Mandaguari, de autoridades municipais de educação, mas não presentes ao evento. Se perdeu bastante tempo.
Mesa das autoridades da Conferência de Mandaguari.

Quando da minha intervenção, na qualidade de palestrante, eram já quase 10:00 horas e muita gente já se tinha retirado, mas os que sobraram ficaram atentos até o final da fala. Da mesma forma, como na minha participação em outras Conferências fiz referência à democracia, aos direitos humanos, à educação como um direito. Num segundo momento abordamos o Estado brasileiro e a sua participação na efetivação dos direitos, mostrando que isto é algo muito recente. Historicamente o Estado sempre foi hostil ao seu povo, e isto ficou evidenciado em momentos históricos como a abolição, ao não integrar os negros na sociedade, na república velha, quando questões sociais eram tratadas como questões policiais e mesmo em tempos mais recentes, quando, contra o povo as instituições do Estado foram golpeadas e quando tentaram transformar o Estado/Nação/Pátria em um mero mercado emergente, dele abstrair o tempo, o seu território e o seu povo.
Panorâmica dos participantes da Conferência Municipal de Educação de Mandaguari.

Ainda fizemos uma diferenciação entre os anos 90 e os anos 2000, tanto na visão política econômica, quanto nas questões educacionais. Destacamos que a Lei de responsabilidade fiscal é uma lei do Estado mínimo, do Estado que se julga nada dever a ninguém, que os direitos da cidadania são encontrados no mercado, para serem comprados e que, em tempos que o Estado se volta para a cidadania, esta lei deve ser substituída por leis de responsabilidade social, de saúde e de educação. Destacamos ainda a iniciativa da convocação das Conferências de Educação preparatórias para a grande Conferência Nacional de Educação (CONAE - 2014) para a elaboração do Plano Nacional de Educação e do Sistema Nacional de Educação, este, pela primeira vez na história de nosso país. A nossa participação nos leva à ideia do pertencimento destas diretrizes, uma vez que foram construídas com a nossa participação.

A Conferência de Mandaguari iniciou no dia 20 de junho e se alongou por todo o dia 21, com a discussão dos eixos temáticos e a realização da plenária final. A sessão de abertura da Conferência também contou com a participação dos dirigentes da APP.-Sindicato, que se encontravam na região, para no dia seguinte participarem de Conferências na região.Assim estavam presentes, o professor Edilson, o Valdevino e o Paixão. Também a participação do Ensino Superior de Mandaguari merece destaque todo especial na realização desta Conferência.
Após a cerimônia de abertura, um belo jantar em companhia de pessoas maravilhosas..

Ainda fomos agraciados com um belo jantar encomendado pela professora Maria Inês, com um belíssimo cardápio que constava de costelinha de porco e mandioca frita, além de maravilhosos filés, que compunham os pratos principais. As cervejas estavam vestidas de noiva, de tão geladas que estavam.  Fui dormir já de madrugada, 2:30 horas, para levantar cedo e participar de mais uma Conferência, desta vez na simpática cidade de Nova Fátima. 

domingo, 23 de junho de 2013

A Conferência Intermunicipal de Educação de Bandeirantes, Itambaracá e Santa Amélia.

Em noite de intenso frio, mais uma viagem ao interior, no rumo de Cornélio Procópio. É que no dia 20 de junho se realizaria mais uma Conferência Intermunicipal de Educação, congregando as cidades de Bandeirantes, Itambaracá e de Santa Amélia. O município anfitrião foi o de Bandeirantes.  Os prefeitos das três cidades, Celso Silva, de Bandeirantes, Amarildo Tostes de Itambaracá e Jarbas Carnelossi de Santa Amélia estiveram presentes, dando importância ao evento.
A composição da mesa de autoridades, na Conferência Intermunicipal de Educação, que teve Bandeirantes  como cidade anfitriã e que contou com a participação de Itambaracá e de Santa Amélia.

As cidades, integrantes do norte pioneiro do Paraná, possuem uma população de algo em torno de 32.000 habitantes em Bandeirantes, de 6.000 em Itambaracá e de 4.000 em Santa Amélia. Também estiveram presentes as pessoas encarregadas das tarefas de presidir a educação nestes municípios. Além, é claro, daqueles que efetivamente fazem a educação acontecer nestes municípios, as suas educadoras e os seus educadores.

As solenidades foram as de praxe. Composição da mesa das autoridades, a execução e o canto do hino nacional e a fala das autoridades. Destaco a fala do prefeito de Bandeirantes e a sua abordagem em torno do pacto federativo, em torno do lamento da pobreza dos municípios, na participação das verbas arrecadadas, que fortemente privilegiam a União. Os municípios ficam com algo em torno de 15% do arrecadado. Ressalte-se também o fato de que o poder municipal é o mais próximo do povo e ao poder que o cidadão sempre, por primeiro, recorre. Também por ser o poder mais próximo do povo é o poder que é mais facilmente fiscalizado pelo povo.
A presença das educadoras(es) na realização da Conferência.

Cerimonial rápido e preciso, me foi passada a responsabilidade pela fala. A exemplo do que falei nas outras Conferências, mais uma vez abordei os temas relativos à democracia, à sua forma de funcionamento e a sua essencialidade, na instituição de debates em ambientes públicos, donde emanavam deliberações e leis, que se constituíam nas instituições do Estado. Creio que já perceberam que isto foi uma invenção grega.  Os gregos assim procediam, por se acreditarem portadores da razão e, portanto, iguais, e que, por isso mesmo, lhes era indigno prostrarem-se perante déspotas. A sua participação, nos espaços públicos, da elaboração das leis e das instituições conferiam identidade ao povo grego e o orgulho em obedecerem a instituições, por eles próprios criadas, gerando neles  a sensação de pertencimento à comunidade e não o estranhamento e o alheamento. Com orgulho obedeciam às suas instituições, realmente suas, sem o sentimento da prostração. 

O mesmo espírito perpassa a realização das Conferências de Educação, preparatórias à grande Conferência Nacional de Educação de 2014. Educadores estão se reunindo em espaços públicos, aos milhares, para fixarem as diretrizes da Educação Brasileira. Para construírem, numa perspectiva mais de curto prazo, o Plano Nacional de Educação e no longo prazo, de uma instituição mais permanente, pela primeira vez na história brasileira o Sistema Nacional de Educação. Destacamos a importância deste acontecimento, pois se assim não o fizermos, outros nos irão impor um plano e um sistema. Provavelmente o Banco Mundial, que é o nosso maior competidor e adversário em sua elaboração. Se nós não o elaborarmos, teremos que nos submeter a um plano imposto pelos outros e vivermos sob a alienação e o estranhamento e não com o sentimento de pertencimento, de algo que eu ajudei a construir.
Entre educadoras e dirigentes municipais de educação dos municípios participantes da Conferência.

Se nós não o construirmos, se ele não tiver a marca da nossa participação, do nosso consentimento, nos sobrará a amarga sensação da prostração diante de um Plano e de um Sistema marcado pelo alheamento e do estranhamento e não do pertencimento. Esta é grandiosidade do debate público. É esta a essencialidade da democracia: a de elaborar, em espaços públicos, as leis e as instituições que regem  o nosso conviver e assim determinar as tarefas dos governantes, que não é a de imporem a sua vontade, própria dos regimes despóticos, mas a vontade do povo, emanada da ágora, do espaço público.

Continuamos, na fala, historiando a evolução dos direitos - direitos civis, políticos e sociais - evidenciando o seu caráter histórico, social e cultural  e não o a sua perenidade e imutabilidade e, inserimos a educação escolar no contexto destes direitos.

Um outro tópico da fala foi a de passar uma visão do Brasil, fazendo uma interface com a história dos direitos e da educação escolar. Trouxemos este panorama ao tempo presente, mostrando os projetos políticos e educacionais hoje em disputa.. No encerramento convocamos a todos para a participação da construção coletiva para as diretrizes da Educação Brasileira, tanto nas perspectivas de um plano mais próximo, quanto para um sistema dentro de um horizonte mais permanente. Inscrever a marca da nossa participação na elaboração do Plano Nacional de Educação e do Sistema Nacional de Educação.
Mais educadoras presentes na Conferência. Quero destacar a presença da professora Sidineiva (de vermelho) presidenta do Núcleo Sindical da APP de Cornélio Procópio e minha anfitriã.

Ainda sobrou espaço para um debate. Pela tarde as educadoras (es) se reuniram para a discussão dos eixos temáticos e para a aprovação, em plenária final, de suas deliberações. Não tenho dúvidas em afirmar que estas Conferências Municipais ou Intermunicipais, preparatórias para a Conferência Estadual e a Nacional está se constituindo no maior debate educacional, que o Brasil já viu. Quero também registrar o meu agradecimento especial à todas as pessoas envolvidas na minha participação nesta Conferência.  

quarta-feira, 19 de junho de 2013

Reflexões em Torno das Manifestações Populares de Junho - 2013 - MPL.

De volta do Paraguai, almoçando numa churrascaria em Guaíra, um garção chega à nossa mesa e, com os olhos arregalados, nos dirige a palavra: "Olha, quantos garções estão aí parados". Imaginei que ele estaria se referindo a corpo mole e comentei: "assim você tem que trabalhar mais". "Não é isso" retrucou ele. "Eles estão aí parados por causa do pequeno número de clientes no restaurante" e complementou: "eu sou o único garção que estou em estágio probatório, - se mandarem alguém embora, serei eu o primeiro". Pouco depois,  já indo embora, o mesmo garção repete toda a conversa, acrescentando que fizera compras, com a perspectiva do novo emprego. Evidentemente que à prazo. Ele estava literalmente em pânico, para a síndrome, faltava pouco. No caso específico, a alta do dólar.

Creio que transpondo a história deste garção para milhares de brasileiros, conseguiremos entender o que está latente no povo brasileiro e que o faz se mover e ir para a rua protestar. O povo está tomado pelo medo. Vamos ver o que se passa? Alguns elementos de conjuntura mais amplos.
André Singer faz a análise sobre o governo Lula em Os sentidos do Lulismo - reforma gradual e pacto conservador. Companhia das letras.

Nos dez anos de PT no governo o povo brasileiro esteve em trânsito, no caminho de melhorias. Não canso de usar a imagem de Márcio Pochmann sobre este quadro ascensional. Ele compara o atual estágio brasileiro a um prédio moderno. Neste prédio existe elevador e escada. Todos podem subir. Em outros tempos a polícia, ou até o exército, impedia a subida pela escada. Agora, milhares de pessoas conheceram uma mobilidade ascendente. Ampliou-se o mercado interno e surgiu uma nova, mas frágil, classe média. Muitas políticas de Estado contribuíram para isso: elevação real do salário mínimo, boas negociações salariais nas datas base, redes de proteção social, isenções de impostos e acima de tudo a expansão do crédito, mecanismo intrinsecamente ligado ao endividamento. Mas o que se passa? O país não cresce mais. O modelo se esgotou.

Inúmeras pessoas atingiram a condição de classe média (seria mesmo classe média?) pela melhora da remuneração salarial, outros pelo empreendedorismo, abrindo pequenos negócios. A relativa tranquilidade lhes vinha com a perspectiva da continuidade do crescimento. Lula sobreviveu às crises e vem o governo Dilma. O PIB patina e a angústia e o medo se instalam. A inflação resiste em ser domada. A oposição, formada pelos demo-tucanos, pelos ex-comunistas arrependidos e pela imprensa conservadora (desculpem o pleonasmo) movem-se no anúncio de desgraças, esquecendo-se das desgraças causadas, quando no governo. Mostram-se como verdadeiras vestais, incorruptíveis e providos de ética. Alguns até se ufanam de terem as "mãos limpas". Especialistas ficam no ar 24 horas por dia, anunciando e descrevendo o caos. A crise é elevada ao quadrado e ao cubo. A intranquilidade é semeada. A economia não deixa de ter muitos componentes subjetivos. Boatos também a movem.
Naldo e Preta Gil farão show em evento-teste do novo Maracanã Christophe Simon/AFP

A copa e o superfaturamento na construção dos estádios em muito contribuiu para o movimento explodir.

E a nova classe média, aquela que se fez com pequenos negócios, se constituiu pela ideologia do empreendedorismo, uma ideologia absolutamente individualista, de self made man, de pouca compreensão histórica e de pouca visão solidária. Não ascenderam pela via dos movimentos sociais, das lutas coletivas e solidárias. São facilmente manipuláveis pela grande mídia. Creio que esta é uma pequena descrição do quadro latente no Brasil.

A isso somam-se alguns elementos de conjuntura, deste preciso momento. Os gastos absurdamente ridículos com os estádios, a copa, a percepção da corrupção, a bancada do PMDD, o furor da bancada evangélica, que quer penetrar até entre as quatro paredes das pessoas, para arrancar-lhes qualquer perspectiva de prazeres que a natureza humana proporciona, numa imbecilidade poucas vezes vista, e... o aumento da passagem do transporte público urbano, que junto com a má qualidade dos serviços, se transformou no ponto de ebulição, no estopim do que estamos assistindo. O povo está nas ruas.
O carro da Record é depredado
O povo e as suas mobilizações de rua. O perigo para descambar em vandalismo.

Sobre a corrupção, tenho uma hipótese particular. Com as privatizações sobraram menos espaços para alocar os eternos parasitas do Estado (Nunca pertenceram a classe trabalhadora). Este alocamento passou para as licitações. Os organismos de compra do Estado, em todos os seus níveis, federal, estadual e municipal e em todas as suas esferas, executivo, legislativo e judiciário, são grandes e envolvem cifras fabulosas. Uma  nova classe de lobistas está se formando e como estão licitando até quinquilharias, o conhecimento de suas ações se aproxima de muita gente. A impunidade é outro problema. Está aí o esforço dos políticos em diminuir os poderes de investigação pela famigerada PEC 37. Somente contra esta PEC, deveria ter o triplo de pessoas na rua.

Mas voltando ao preciso momento.Quem está na rua? É difícil de identificar. Quem convocou para estar na rua? As redes sociais. Este é um dado novo e significativo. Quanta força tem este novo instrumento de comunicação! Quem são líderes? Não sei responder. Qual a causa? Os vinte centavos do aumento do ônibus? Com certeza que vai muito além. Preocupante? Dentro do quadro institucional, creio que não. Haverá resultados? Creio que sim. No dia 17 estive na rua. Identifiquei pessoas de todas as tribos. Difícil explicar, ir além do quadro latente que tentei descrever.

O que espero do movimento? Muita coisa. No quadro político espero a emergência do novo, assim como o novo emergiu do movimento da anistia, da constituinte, das diretas, e dos caras pintadas. Que emerjam forças jovens, sem os vícios do pragmatismo político atual. Rotatividade no poder. Sim. Desde que rotatividade não signifique volta ao passado, mas sim, impulso para o futuro. "Água nova brotando"... No econômico, espero mudanças mais profundas, menos periféricas. Pauta, nós já temos. As reformas de base, que nunca foram feitas. Por estas reformas, agrária, urbana, tributária, educacional, poderíamos multiplicar os fatores de renda e poderíamos enveredar por um novo ciclo de crescimento econômico mais duradouro porque mais consistente, com distribuição de renda e alcançar uma sociedade, ainda não justa e igualitária, mas ao menos mais justa e mais igualitária.
Sedes de poderes constituídos são os alvos preferidos dos manifestantes. Os políticos são os visados.

Quanto a reivindicação imediata, a questão do ônibus, creio que esta estará resolvida já nos próximos dias. O caminho será o das isenções e subsídios, que sempre são concedidos para aquilo que o governo considera estratégico. A única diferença é que agora o povo está ditando para o governo o que ele, povo, considera como estratégico. O impacto da mobilização está atingindo a presidenta Dilma. Saíram as primeiras pesquisas. Creio que todos os políticos serão atingidos. E, uma última questão, estaria falhando a comunicação institucional do governo com o seu povo?

Estas são reflexões e percepções minhas. Não pretendo a verdade. Mas creio que fizemos algumas problematizações para entender, minimamente, o que se passa. Outra questão é a da reforma política. Sinto muito em dizer, isto me dói. Mas nestes partidos existentes, eu não milito em nenhum deles, embora eu veja com toda a clareza a diferença entre eles.

Acabo de receber pauta atualizada das reivindicações e prazos para atendimento.
I. PEC- 37 - Retirar de pauta - até 30.06.2013.
II. Saída de Renan Calheiros da Presidência do Senado - até 30.06.2013.
III. Revogar o aumento do transporte em todas as capitais do Brasil - até 30.06.2013
IV. Prisão para todos os condenados do mensalão - até 31.07.2013
V. Criação da CPI dos estádios, com rigorosa apuração nos superfaturados - até 31.07.2013
VI. Lei proibindo aumento de salários de deputados e senadores até 2018
VII. Proibição de novos aumentos no transporte público até 2016
VIII. Aprovação da Lei 2489/2011, que considera a corrupção como crime hediondo.






O Grande Gatsby.

Eu tenho cá comigo os meus deuses. Como gostaria de estar em suas companhias pela eternidade afora. Então sim a vida seria mais leve, mais agradável e sem as aflições comuns a todos. Entre os meus deuses estão os dois Veríssimos: o Pai  e o Filho (o maiúsculo é proposital), o Érico e o Luís Fernando. Recomendações do Luís Fernando eu sigo à risca. Em novembro de 2012 eu descobri uma recomendação de leituras, dos dez maiores romances de todos os tempos, feita pelo Luís Fernando.
 http://www.blogdopedroeloi.com.br/2012/11/luis-fernando-verissimo-seus-livros.html

 Entre as suas preferências estavam os dois livros de Scott Fitzgerald . O Grande Gatsby e Suave é a Noite. Reli o Gatsby e li o Suave é a Noite. Estes anos 20... Paris.... Quem sou eu para dizer que o Luís Fernando esteve certo em suas indicações. Mas os livros são extraordinários.
O Grande Gatsby 27Abr2013 01
O trio central do filme: Leonardo di'Caprio como Gatsby, Carey Mulligan como Daisy e Joel Edgeston como Tom Buchanan

Falo de O Grande Gatsby, porque ontem fui assistir a sua nova versão para o cinema. O novo filme tem a direção de Baz Luhman e conta em seu elenco com as atuações de Leonardo Di'Caprio, no papel de Gatsby, de Carey Mulligan como Daisy e Joel Edgeston, como Tom Buchanan. O papel de Nick Carraway, o narrador, é interpretado por Tobey Maguire. A narrativa ocorre sob forma de retrospectiva. Nick é um aprendiz de escritor e um corretor de ações na Bolsa de Valores. A narrativa ocorre sob forma de retrospectiva. Faz todo o sentido. Ele, como não consegue falar de sua vida, recebe do analista a solicitação de que escreva tudo aquilo sobre o que não consegue falar. Escrever é um recurso muito usado pela psicanálise.

É dessa forma que sai a história, que é relativamente simples. Gatsby, em seu tempo de estudante, conhece uma menina, Daisy, que não se casa com ele, por ele ser muito pobre. Casa-se então com um colega seu, muito rico, Tom Buchanan. Gatsby não a consegue tirar da cabeça e usa de todos os meios para enriquecer.  Dará grandes festas para chamar sua atenção. Para conseguir esta aproximação compra uma mansão perto de Nick, que tem algum parentesco com Daisy, procurando usá-lo, na aproximação. A mansão também está estrategicamente localizada para que Gatsby veja o que se passa na casa do casal Tom e Daisy, do outro lado do lago, em East Egg. A aproximação com Daisy ocorre e, a partir daí, uma verdadeira sucessão de tragédias.
O livro O grande Gatsby, de Scott Fitzgerald, na versão da Penguin - Companhia.

Mas o que esta história tem de tão significativa para figurar entre os maiores romances de todos os tempos e escrito ainda nos anos 20 do século passado? Vamos recorrer a Tony Tanner e a sua belíssima introdução no livro editado pela Penguin-Companhia. O prefácio tem cinquenta páginas e parece impossível escrever algo sobre o livro, que não seja um ensaio. O livro retrata a sociedade americana, mais precisamente o sonho americano do self made man. E sobre este sonho tudo é trágico como a tragédia de Gatsby. Busco num trecho do prefácio algo que faça entender a importância do livro e especialmente o seu tema.

"Ele quis mostrar a América profanada, mutilada, violada. Fossem quais fossem os auspícios do novo mundo - e as tentativas incoerentes, esperançosas e ainda assim desesperançadas de Gatsby dão uma indicação vaga, residual e distorcida de uma 'capacidade de maravilhar-se', desejada e não inteiramente compreendida, que poderia ter sido essencial para aperfeiçoar a América, a última grande chance da humanidade -, enfim, fossem quais fossem suas promessas, a América conseguiu tornar-se completamente acidental e propensa ao acaso. O que poderia ter sido o paraíso (um tema incendiário à literatura americana) tornou-se uma terra desolada".

O livro era para se chamar originalmente Trimalchio, o novo rico vulgar e de imensa fortuna, do Satyricon de Petrônio (estão vendo donde procede a criação, jamais do vazio) ou então Entre cinzas e milionários.  Vejam uma frase em epígrafe do livro, que dá bem uma ideia da obsessão de Gatsby por Daisy.

 "Então use o chapéu de ouro, se isso irá impressioná-la; E se conseguir saltar bem alto, salte para ela também, Até que ela grite: 'Meu amor com um chapéu de ouro, meu amor que salta bem alto, Preciso ter você" (de Thomas Parke D'Invilliers). São muitas simbolizações. Gatsby torna-se rico associando-se a grupos mafiosos para se tornar mais rico que Tom Buchanan, para lhe arrebatar a fútil Daisy. Gatsby é apresentado de forma um tanto simpática, é amigo do narrador, enquanto que Tom é mostrado como um cafajeste, um traidor e infiel marido, tendo caso, inclusive, com Myrtle, que terá um importante papel na história.
A versão do filme dos anos 70. Roteiro de Coppola, com Robert Redford (Gatsby) e Mia Farow (Daisy).

Para fazer um texto de melhor qualidade, creio que precisaria ler novamente o livro e, nem dispondo de todo o tempo livre, eu tenho condições para fazê-lo. Levaria no mínimo uma semana. O que fiz, foi muito mais no intuito de provocar a leitura do livro do que para assistir o filme, que já está em sua quarta versão. A anterior é dos anos 70, com roteiro de Coppola e como personagens principais Robert Redford, no papel de Gatsby e Mia Farrow, no de Daisy.

Ainda para melhor compreensão do livro, vejam o escrito em sua contracapa: "Fitzgerald escreveu este romance durante sua estadia em Paris, para onde, na mesma época, se mudaram Ernest Hemingway e Gertrude Stein, a 'geração perdida' da literatura americana. Egresso da classe média alta, Fitzgerald usou a própria experiência para fazer um alerta sobre o materialismo. Ainda que o narrador Nick Carraway não seja um alter ego do autor, ambos compartilham conclusões amargas a respeito da falsidade e do dinheiro".

O livro foi concebido em 1922 e escrito em 1924, quando Fitzgerald e Zelda moravam em Paris e andavam pela Riviera francesa. Encontros e desencontros nesta Riviera, será o tema de Suave é a Noite, que também já foi levado ao cinema em 1962, sob a direção de  Henry King. Os livros estão recheados com muitos dos conceitos da psicanálise, que se afirma neste período. As insatisfações humanas estão presentes nos dois grandes livros.

terça-feira, 18 de junho de 2013

A Conferência Municipal de Educação em Cruzeiro do Oeste.

Foi muito grande a minha satisfação de participar também da Conferência Municipal de Educação na cidade de Cruzeiro do Oeste. Na minha vinda ao Paraná, Cruzeiro do Oeste rivalizava com Umuarama. Em Cruzeiro estava a sede de quase todos os órgãos regionais do estado, mas Umuarama tomou a dianteira. Creio eu que a Companhia Melhoramentos Norte do Paraná, um das maiores companhias colonizadoras do mundo, exerceu papel decisivo em favor de Umuarama.
A mesa das autoridades na Conferência Municipal de Educação de Cruzeiro do Oeste. Observem o detalhe do vaso com flores, evidenciando a presença do CUIDADO na organização.

Nos idos de 1969, em Cruzeiro se falava de João Cigano como prefeito e se falava também, embora bem menos, de um tal de Zé Caroço, que não era ninguém mais, nem ninguém menos do que José Dirceu, refugiado nestas plagas, nestes tempos cinzentos de chumbo da ditadura militar.  Uma das maiores amizades que eu tive em Umuarama, e me considero um privilegiado por isso, foi o Dr. Ivo Soma, que era a pessoa com a qual José Dirceu se relacionava com o mundo. José Dirceu tinha uma loja de confecções. Olhem aí, dados para uma biografia e não difamações, como o recente livro sobre o eminente político.

Confesso que tive uma preocupação com o êxito da Conferência. Um sábado, dia de jogo da seleção brasileira e, uma chuva torrencial se anunciava e que de fato, veio. Esta preocupação se desfez desde o momento da chegada. O evento ocorreu no centro cultural do município, que já se encontrava lotado, quando da nossa chegada. Mas o que chamou muita atenção foi a organização do evento. Tudo foi detalhadamente planejado. Havia um diferencial em tudo. Em torno de 250 pessoas participaram da Conferência. A Conferência fora organizada pelo Cuidado. Deixo aqui a fábula mito do cuidado.http://www.blogdopedroeloi.com.br/2013/04/a-fabula-mito-do-cuidado.html para todos entenderem o significado que estou dando. A coordenação da Conferência estava a cargo da Secretária Municipal de Educação, professora Maria de Lourdes Moretto.

Flagrante da apresentação do grupo de dança da cidade de Cruzeiro do Oeste. Um belo momento de sensibilidade.

Constituída a mesa das autoridades, foram feitas as solenidades de praxe. Uma cerimônia religiosa, de prática ecumenista, foi celebrada. Seguiram-se falas das representações, da secretária municipal de educação e da vice  prefeita, Dayana Aparecida Mazzer. Desfeita a mesa, houve um lanche e os trabalhos foram reiniciados, com uma bela apresentação de dança, por sinal, linda e belamente sensual. Sensibilidade pura. Quero destacar o fato de que esta foi a primeira Conferência que a cidade realizou.

Depois foi apresentado, de forma bem didática, o significado da Conferência. Então me coube a palavra. Destaquei no início da fala, em forma de homenagem, a lembrança de duas pessoas que foram muito significativas para a educação da cidade. Os professores João da Luz e João Risseto, que lá do paraíso devem ter dado uma espiada no evento, quando ouviram uma referência a seus nomes, ou aquele barulhinho que faz quando alguém mexe no FB da gente. Dois baluartes da educação da cidade e, acima de tudo, pessoas maravilhosas.
Em companhia de dois vereadores, que fizeram questão do registro do momento.

Na fala, como nas outras cidades em que já falei, dei destaque para as palavras democracia, direitos e da educação como direito. Passamos de relance a história da evolução dos direitos, destacando o seu caráter sócio histórico cultural, e da educação escolar, até ela chegar a sua condição de escola pública, gratuita e universal. Destacamos ainda as contradições da educação numa sociedade capitalista, dividida em classes e o caráter dual que a escola tomou pelo fato de estar inserida numa sociedade dual, também ela receber esta mesma configuração. Numa sociedade dual não poderia haver uma escola única, igual para todos. Falamos do Estado brasileiro e de sua relação com os direitos, constatando que, historicamente, ele sempre foi mais um Estado Warfare do que Welfare, mais um estado de gerra, de mal-estar, do que de bem-estar.
O registro da minha participação na Conferência. Destaque para a permanência do prefeito e da vice prefeita, até o encerramento dos trabalhos.

Falamos dos projetos políticos e educacionais em disputa no Brasil e no mundo e da importância da nossa participação na construção, tanto do Plano Nacional de Educação (PNE), quanto do Sistema Nacional de Educação (SNE), de cuja elaboração está se falando, embora tardiamente, pela primeira vez no Brasil. E deixamos o alerta: se nós não o fizermos, outros o farão. Poderemos ter um PNE e um SNE que tenha a marca da nossa participação e que nos dáará a noção de pertencimento, se não quisermos ter um plano imposto, a nos dar a noção do estranhamento, do alienamento e o executarmos de forma prostrada e resignada. É..., os projetos educacionais sempre foram envolvidas em um campo de batalhas.

Seguiram-se os trabalhos em grupo e a plenária final. Os trabalhos da Conferência foram antecipados em seu horário e se encerraram por volta das 13:00 horas para fugir da competição com o jogo da seleção brasileira.

Quero registrar os mais profundos agradecimentos a todas as pessoas envolvidas na Conferência e que proporcionaram tão belo momento para fazermos algumas reflexões em torno da educação e do nosso trabalho, enquanto educadores.





segunda-feira, 17 de junho de 2013

A Conferência Intermunicipal de Educação de Umuarama.

Voltar a Umuarama, para mim, sempre é motivo de grande satisfação. Lá, recém formado, cheguei em 1969, dando aulas no então Colégio Estadual de Umuarama, na Escola Normal  e no coleginho das irmãs. Em 1972, comecei a lecionar na atual Unipar, que se instalou em Umuarama neste mesmo ano. A minha construção pessoal se deu neste entorno e, lá permaneci até 1993 e em 1995 me desvinculei completamente da cidade, pelo menos, nos meus vínculos de trabalho.

Em Umuarama também me casei e ali nasceram os meus quatro filhos. O mais velho, o Alexis, inclusive, nasceu no dia do aniversário de fundação da cidade. Até aproveitei a oportunidade para tirar uma foto da igreja matriz de São Francisco, que segue aqui publicada. Em Curitiba fiquei na diretoria estadual da APP-Sindicato, fiz o mestrado na PUC/SP.e lecionei por mais treze anos na Universidade Positivo, aqui em Curitiba. Em julho do ano passado encerrei as minhas atividades de professor, após 43 anos de atividades em sala de aula. Hoje exerço o verdadeiro tempo livre, categoria sobre a qual gosto muito de falar, talvez porque dele, do tempo livre, eu tenha usufruído tão pouco ao longo de minha vida.
Vista da igreja matriz de São Francisco, na cidade de Umuarama.

Senti uma profunda nostalgia no restaurante do Pedromiro. Uma geração inteira rodou. Ali encontrei muito poucas das pessoas com as quais eu convivi tão prazerosamente. Uma geração completamente nova nos substituiu. O mesmo aconteceu na fala que fiz na Conferência. O que mais ouvi dizer foi a de que tinham satisfação em conhecer àquele, de quem tanto tinham ouvido falar. Em todos os casos, foi um dia em que vivi muitas emoções e tive muitas reminiscências.

Quanto a Conferência saiu tudo de acordo com o programado. Particularmente, em razão da fala, não gostei do local da realização da Conferência, um espaço muito dispersivo. A Conferência foi realizada num dos espaços da Unipar. Também várias autoridades da cidade se fizeram representar. A Conferência foi intermunicipal, tendo Umuarama como anfitriã, e que contou com a participação de Maria Helena. Quero deixar aqui registrado, que o seu prefeito, o Dr. Elias, participou inclusive da palestra, o que raramente acontece. Normalmente se retiram, após desfeita a mesa das autoridades.
A fala da secretária de educação de Umuarama, professora Cláudia, junto com a mestra da cerimônia.

Também não posso deixar de registrar a antipática atitude tomada pela Unipar, em não permitir o acesso dos participantes da Conferência, em seu pátio de estacionamento, o que causou a indignação de muitos dos participantes. O fato também representou uma profunda contradição, uma vez que a Conferência é um espaço público por excelência. Mas, paciência. Ela se realizou numa propriedade particular. Pode estar embutida nesta atitude, também a ideia da realização de um evento menor. O guardião aparentava rara felicidade no exercício de sua função. Exercer função...

Entre o espaço da mesa das autoridades e a mesa da fala, houve duas apresentações artísticas, que achei fabulosas. Foram uma demonstração clara de que a educação para a arte e para a sensibilidade ainda não acabou, embora toda a neura em torno da quantificação de seus resultados. Os maiores resultados da educação sempre serão o intangível, que foge a todas as metrificações e mensurações. Me comoveu demais, um trio que se formou com uma criança bem branquinha, uma bem negrinha e uma terceira bem mulatinha. Um retrato vivo do Brasil, na superação de preconceitos.
Para mim esta é a IMAGEM que levei desta Conferência. O Brasil na superação de seus preconceitos. Eixo II, da diversidade.

Na mesa das autoridades, quero registrar dois destaques. A fala da secretária da Educação de Umuarama, professora Cláudia, pelo uso da palavra pertencimento, no sentido de que os resultados da Conferência nos pertenceriam, não nos seriam estranhos ou alheios. O segundo destaque vai para o professor Lemos, que representou tanto a Assembléia Legislativa, quanto o Fórum Paranaense em Defesa da Escola Pública. Fala precisa, concisa e bem posicionada.

Quanto a minha intervenção, como destaquei na abertura da fala, eu versei sobre democracia (aproveitei a ideia do pertencimento), sobre direitos e sobre educação. Especialmente sobre as possibilidades e dificuldades de uma educação de qualidade numa sociedade dividida em classes. Assim como a sociedade apresenta uma estrutura dual, assim também não haverá uma escola única. Ela sempre se fará dual. Apenas para  lembrar, uma rede PP e outra SS. Primária e profissional para os trabalhadores e secundária e superior para a burguesia. Falei de Brasil, interligando direitos, educação e cidadania. Um Estado de bem-estar ou um Estado de mal-estar. O wellfare state ou o warfare state. Confrontamos ainda as visões de mercado e de Estado/Nação, que dividem o cenário de disputas políticas no país e, obviamente, as repercussões destas concepções sobre a educação.
Um flagrante do registro dos participantes da Conferência.

Até sobrou um pequeno espaço para um pequeno debate, mais precisamente, para três intervenções. A tarde foi tomada pela discussão em torno dos eixos temáticos e da apresentação dos relatórios na plenária final. Para situar leitores não professores, estes debates estão ocorrendo em todo o Brasil e tem o caráter preparatório para a realização da Conferência Nacional de Educação em fevereiro de 2014. O tema central da Conferência é:  O Plano Nacional de Educação na articulação do Sistema Nacional de Educação -  Participação Popular, Cooperação Federativa e Regime de Colaboração. A todas as pessoas envolvidas na organização do evento, deixo registrado o agradecimento pela oportunidade que me proporcionaram para a participação do mesmo.

terça-feira, 11 de junho de 2013

Gabriela, cravo e canela.

Com certeza, Gabriela, cravo e canela figura entre os melhores romances de Jorge Amado. Ele é muito bem estruturado e o tema, as grandes transformações de uma sociedade agrária para urbana, está muito bem trabalhado. O romance é uma extensa e maravilhosa aula de sociologia e, também de história. E não deixa de ser também uma aula de psicologia, de psicologia feminina, com o retrato de Gabriela e também de Malvina, retrato este não bem concluído, especialmente, porque o grande personagem é Gabriela.
A edição de Gabriela, cravo e canela. Pela Companhia das Letras.

Do muito pouco que eu assisti de novelas, ao longo da minha vida, a que mais eu assisti, foi Gabriela. Por ela sacrifiquei muitas cervejas, vindo diretamente para casa, após as aulas. Creio, analisando hoje, que tive uma boa compreensão da obra. Ela foi tanto para a televisão, quanto para o cinema. Este livro e a venda de seus direitos, deram para Jorge, a possibilidade da compra de sua casa no Rio Vermelho, em Salvador. Jorge se gaba, que a ganhou, com o dinheiro do imperialismo ianque. A casa foi ganha da forma mais merecida possível.

A primeira narrativa do livro se ocupa do assassinato de Sinhazinha Guedes Mendonça e do Doutor Osmundo Pimentel, pelo marido de Sinhazinha, o coronel Jesuíno Mendonça. Com a morte do casal, o coronel lavara a sua honra e manteve a tradição ilheense, quanto a moral e os bons costumes. O encerramento do livro ocorre 28 anos depois, em que pela primeira vez, na história de Ilhéus, um coronel do cacau foi condenado por ter matado sua esposa adúltera e o seu amante. Mas esta não foi a única mudança que ocorreu em Ilhéus, nestes 28 anos.
Capa da primeira edição, lançada pela Livraria Martins Editora, em 1958.

Para esta mudança nos costumes, muito influenciou a atitude de seu Nacib Saad, que também flagrou a sua esposa Gabriela, em flagrante adultério com o mulherengo e amigo Tonico Bastos. Possivelmente o perdão de Nacib também ocorreu pela primeira vez na cidade de Ilhéus. A atitude de Nacib mereceu os maiores elogios de toda a sociedade ilheense. Nacib, inclusive, voltou a usufruir dos encantos de Gabriela, na cama e  na mesa, após a sua compreensiva atitude. Para lhe amenizar as dores em sua cabeça, o sábio amigo, dono da Papelaria Modelo, João Fulgêncio, lhe arrumou uma série de estratagemas em que se mudaram os papéis mas não o real. Nacib nunca se casara com Gabriela.

Gabriela foi a retirante que Nacib arrumou, no mercado de escravos, para ser a sua cozinheira. Fazia os melhores quitutes da cidade. Nacib, com o seu bar, o Vesúvio, começa a prosperar. Aliás, a cidade inteira está em prosperidade. Os sentimentos de Nacib com relação a Gabriela também vem num crescendo maravilhoso. Mesmo Gabriela dizendo que não havia precisão, Nacib lhe propõe casamento. O casamento tornou Gabriela infeliz. Nacib tentou transformar a sua arredia e xucra Bié, em venerável dama da sociedade, na venerável senhora Saad. A transmutação não aconteceu. A senhora Saad só deu dores, de corpo e de mente, no moço bom, que era o seu Nacib.
Capas de diferentes edições estrangeiras de Gabriela, cravo e canela.

Gabriela ganha de Nacib um pássaro preso em gaiola. Gabriela, com pena, o solta. Gabriela se soltou da gaiola do casamento. Gabriela gostava de Nacib, moço bonito e, de outros moços bonitos, também. Amarrada a Nacib não gostava não. Gabriela livre era doce e perfumada, era de cravo e de canela. Outra mulher, que enche os olhos de Nacib de satisfação, é Glória. Não é pela questão do sexo. Glória, que tinha casa posta por coronel, ficava sempre à janela. A casa ficava próxima ao Vesúvio, o bar de seu Nacib. Os curiosos por Glória, frequentavam o bar Vesúvio, usufruindo de suas bebidas e petiscos e, com os olhos, apreciavam Glória . Seus lucros aumentavam.

Personagem feminino fascinante foi Malvina, filha do terrível coronel Melk Tavares, companheirão de Ramiro Bastos. Ela encarna a mulher com imaginação e rebeldia. Não foi domada nem pela religião, nem pela moral e pelos bons costumes e, muito menos pelo coronel Melk, o seu pai. Se enamora do engenheiro que veio cuidar do porto, que era separado. O coronel põe o engenheiro a correr, a voltar para o Rio de Janeiro. Malvina é internada em colégio de freiras na Bahia. Jorge, dela dará apenas uma informação imprecisa. Trabalhava e morava em São Paulo. Não lhe descreve as felicidades e infelicidades. Malvina lera romances franceses. João Fulgêncio lhe vendera Eça de Queiroz. O crime do padre Amaro. Que romances franceses teriam sido estes? Flaubert certamente não faltou.
Mais capas de Gabriela, cravo e canela.

Bem, como chegamos a Ramiro Bastos, o coronel, que junto com Jesuíno Mendonça representam o velho e o arcaico em Ilhéus, vejamos agora o personagem do novo e do futuro de Ilhéus, de Itabuna e de toda a região cacaueira. Mundinho Falcão. Os grupos declaram violenta guerra pelo mando político da região, que quase chega a acontecer. Só não acontece por causa da morte do velho coronel. Com a sua morte e com a cadeia para Jesuíno Mendonça, o velho fora varrido da cidade, triunfando o novo, triunfando Mundinho Falcão e o seu mundo de comércio e de empreendedorismo. Jorge, em Gabriela, cravo e canela, já não é mais o militante comunista e faz muitas concessões de bondade ao burguês Mundinho Falcão. Ou seria a tal da dialética do progresso?

Gabriela, cravo e canela integra, junto com  Terras do sem-fim e São Jorge dos Ilhéus, o ciclo cacaueiro do autor. Não são, porém, as únicas. O tema de Gabriela já está presente nestas obras anteriores. Em Terras do sem-fim temos a história dos coronéis e os seus métodos de uso do poder. Em São Jorge dos Ilhéus, este poder lhes escapa das mãos, ficando em poder dos comerciantes exportadores de cacau. Gabriela é uma síntese dos dois. Mas o foco narrativo em torno dos desejos de mulher é algo muito fantástico. E que bom que estejam na literatura e, não apenas, em recônditos confessionários.

O livro tem um saboroso posfácio, escrito por José Paulo Paes. A primeira edição do livro é de 1958. Foi lançado pela Livraria Martins Editora.


segunda-feira, 10 de junho de 2013

Conferência Intermunicipal de Educação em Cornélio Procópio.

Cheguei em Cornélio Procópio por volta das 5:30 horas, com a imagem do Cristo de braços abertos, recebendo a todos. Logo ouço gritos que continham toda sorte de impropérios. Gritava contra tudo o que o afligia: o guarda da rodoviária, a polícia, satanás e contra alguma parte de seu corpo, que denominamos de palavra feia e impronunciável. Não mexia diretamente com as pessoas. Não demorou muito, encostou um carro da polícia, do qual saíram dois policiais com enormes cassetetes. A detenção foi fácil, uma vez que não houve nenhuma resistência. Nenhuma violência física.
A imagem acolhedora do Cristo, imagem que tenho na memória, desde o ano de 1969, salvo engano, quando a vi pela primeira vez.

Fiquei pensando na eficiência da polícia, recolhido em meu, agora, absoluto sossego. Mas este meu sossego me conduziu a reflexões. O rapaz deveria ter algo em torno de 20 anos e não estava mal vestido. Certamente tratava-se de algum cidadão brasileiro excluído, desencontrado e em fuga de si próprio. O que deve ter acontecido com ele após a sua detenção. Prefiro não imaginar. Apenas uma certeza, a de que seria solto após este seu ataque alucinógeno e, voltaria a viver, exatamente, a sua mesma situação anterior. E a sua vida continuaria absolutamente na mesma situação.

Pensei mais. Por que será que este rapaz foi recolhido pelos órgãos repressores do Estado? E se ele tivesse sido recolhido por algum organismo do Estado ligado a cidadania? Me lembrei imediatamente de Jorge Amado e de seu Capitães de areia. Muita coisa me passou pela cabeça. Eu iria falar de direitos, de educação e muito sobre o Brasil. Eu tinha lido no Le Monde Diplomatique, de que no Brasil vivemos no Warfare State e não no Welfare State, em texto que falava sobre a "pacificação" das favelas. E continuei pensando... Deixo espaço aberto para você continuar a pensar...

Quanto a Conferência, tudo estava maravilhosamente preparado. Foi um ato solene. A conferência reuniu os municípios de Cornélio Procópio, Leópolis, Sertaneja e Santa Mariana. Os prefeitos estavam presentes, menos um. Uma correção. Estavam presentes duas prefeitas, as de Leópolis e Sertaneja e o prefeito anfitrião. Repito, estavam presentes duas prefeitas. Que maravilha.
A mesa das autoridades. Duas prefeitas e o prefeito anfitrião. Quem está falando é Leandra, a secretária municipal de educação de Cornélio Procópio.

Foram compostas duas mesas, a primeira, das autoridades e a segunda pelos palestrantes convidados, entre os quais eu me encontrava, junto com o magnífico deputado Tadeu Veneri. Muitas falas das autoridades, todas dentro de seu foco. A lei de responsabilidade fiscal... A educação... Os esforços feitos... O importante dia... Entre o desfazer da primeira mesa e a composição da segunda algo de maravilhoso aconteceu. Uma apresentação de dança do ventre pelas mais belas meninas de Cornélio Procópio. E eu, perdido em minha saudade dos 18, e da minha rígida formação moral, que me enrijeceu mente e corpo com a pregação de que "tudo o que se movimenta é pornográfico". A rigidez da mente, creio que, consegui superar.
Corpos em movimento, numa apresentação de dança do ventre pelas mais lindas meninas de Cornélio Procópio. 

As horas já iam avançando, quando começamos a falar. Falei de democracia, de direitos, dos direitos interligados com a democracia, de educação, da educação como direito, da educação numa sociedade de classes, de projetos educacionais em disputa e acima de tudo, de Brasil. De uma visão histórica do Estado brasileiro e a sua relação com os direitos sociais e de formação da cidadania. Muitas problematizações para os debates da tarde. Dediquei a minha fala a Anísio Teixeira, a Darcy Ribeiro e a Paulo Freire, pelo imenso amor que dedicaram aos brasileiros, especialmente, para suas crianças e para os seus jovens.
O deputado Tadeu Veneri dirigindo a palavra aos participantes da Conferência.

 O deputado Tadeu Veneri falou de seu trabalho à frente da Comissão de Direitos Humanos da Assembléia Legislativa, com foco no sistema penal e no perfil dos presos, acima de tudo vítimas do descaso para com o sistema escolar, de uma educação libertadora, para a rebeldia e não para a acomodação. O seu ponto alto foi a leitura de uma poema sobre o mal provocado pela acomodação. Atingiu o seu objetivo em cheio. Um silêncio profundo, daqueles que são fruto de incomodação, de incomodação consigo mesmo, da qual brotam as reflexões.
O dia só poderia terminar com um jantar em maravilhosa companhia.

A tarde foi dedicada à discussão dos eixos temáticos, com a guia do documento de referência, e à plenária final. Eu, pessoalmente, aproveitei também, parte da tarde, para um passeio pela cidade e algumas fotografias. A noite ainda jantamos num restaurante cachaçaria. Maravilhoso. Na janta estive com a professora Sidneia Gonçalves e também com o professor Paulo, da UFPR, que encontrei no hotel. Foi um reencontro, após, creio eu, de uns quinze anos. O humor do professor Paulo é algo extraordinário. Registro os agradecimentos a todas as pessoas envolvidas com a minha acolhida e pela oportunidade proporcionada para a troca de algumas ideias.  

sábado, 8 de junho de 2013

Por que Santo Antônio é o santo casamenteiro?

Primeiramente um pouco de história deste santo, discípulo de São Francisco, com quem tem várias semelhanças, a principal, por fazer sermões aos peixes e também a dedicação de sua vida aos pobres, aos mais necessitados. Uma outra coisa, O santo Antônio de Lisboa e o santo Antônio de Pádua é absolutamente o mesmo santo.

Ele nasceu em Lisboa no ano de 1195 e fez os seus estudos em Coimbra. Impressionado com mártires franciscanos, ingressa nesta ordem religiosa. Depois fixou-se na Itália, na cidade de Pádua, que fica numa das mais belas regiões da Itália, não longe de Veneza e nem tão distante de Rímini e da Sereníssima república de San Marino, a mais antiga república do mundo. Deve ter sido um grande orador, destacando-se no combate à heresias de sua época. Recebeu a designação de "O martelo dos hereges".

Em Pádua existe uma enorme basílica a ele dedicada. Lá encontram-se os seus restos mortais. Ao lado do templo existe uma famosa estátua de Donatello, presente em quase todos os manuais de estudo de história, uma da primeiras estátuas  esculpidas em bronze, representando o herói militar Gattalamata, montado num cavalo. Diríamos então, que é uma estátua equestre. O santo morreu nas proximidades da cidade no dia 13 de junho de 1231, razão pela qual esta data é consagrada à sua memória.
A bela basílica de Santo Antônio, na cidade de Pádua. Nela se encontram os seus restos mortais.

Mas donde lhe vem a fama de ser o santo casamenteiro. Reproduzo aqui dois parágrafos que escrevi, quando falei da cidade, na qual estive no ano passado. Deixo inclusive, outra foto da basílica. Quem quiser acesso ao post, está aí o seu link.
http://www.blogdopedroeloi.com.br/2012/11/diario-de-uma-viagem-padua-san-marino-e.html

"A fama de casamenteiro não deriva de seus sermões a respeito de casamento, mas da fama de sua ajuda para moças pobres arranjarem dotes ou enxoval para a sua realização. Duas histórias estão relacionadas com essa sua fama: A primeira, uma moça pobre de Nápoles, que após muitas orações, recebe do santo um papel para ser entregue a um comerciante para trocá-lo por moedas de prata. Pensando no peso insignificante do papel resolveu atender o pedido. Para surpresa sua, o pagamento corresponderia a 400 escudos de prata. lembrou-se então que ele os havia prometido ao santo e, deu-os à moça, que assim pode se casar.
Vista de frente da Basílica de Santo Antônio.

A outra história está relacionada a uma moça belíssima que, no entanto, não arrumava pretendentes. Cansada de rezar para o santo, joga fora a sua imagem e atinge um belo jovem. Este vai lhe devolver a imagem e, imediatamente, diante de tanta beleza, se apaixona por ela. Na Basílica estão os restos mortais do santo. A sua construção é feita em diferentes momentos, entre 1232 e 1310 e uma reconstrução em 1522. É essa que lhe dá a fisionomia de hoje. O seu estilo retrata essas diferentes etapas. Ali está presente o românico, o gótico e o bizantino. Giotto e Danatello estão presentes em seu interior.
Na praça da Basílica também se encontra um dos monumentos mais famosos da cidade, presente em quase todos os livros didáticos sobre o Renascimento. A famosa estátua equestre de Donatello, esculpida em bronze".

Uma terceira história tem origem basca e deriva da fama do santo de aproximar os iguais. Conta a história que as moças saíam em procissão para a cidade de Durango e entravam num templo dedicado ao santo e a ele dirigiam as suas preces, com a finalidade de arrumar bons rapazes. Os rapazes também iam ao templo, porém, ficando do lado de fora, esperando a saída das moças, quando as convidavam para dançar. Aí então se aproximavam os iguais, os iguais em afinidades.

A imagem consagrada do santo o relaciona aos resultados do casamento.

A relação do santo com o casamento também deriva de sua imagem mais conhecida, com o menino Jesus nos braços. A criança em seus braços remete para a imagem, já dos resultados do namoro, do noivado e do casamento. Em Curitiba é famoso o bolo com estatuetas do santo. O bolo é comprado aos pedaços e quem comprar um pedaço premiado, isto é, quem encontrar a estatueta no pedaço de bolo, terá o seu pedido atendido. E... aqui onde moro, temos a igreja dedicada ao Santo, a igreja de santo Antônio, no bairro de Orleans. Certamente haverá grandes quermesses, como as haverá no Brasil inteiro, neste mundo afora.

Como os valores e a sua construção são construções históricas, culturais e sociais, e ganham conotações do mundo financeiro, a noite da véspera do dia treze, data dedicada ao santo, movimenta, e em muito, restaurantes e motéis, em noites certamente muito românticas e de juras de amor eterno, mesmo em tempos de tanta flexibilidade e de amor líquido.