quinta-feira, 30 de março de 2023

E a Mentira vestiu a roupa da Verdade.

Depois de ler Como enfrentar um ditador - a luta pelo nosso futuro da Nobel da Paz de 2021 (Como reconhecimento de seu compromisso com a verdade dos fatos e pela sua luta pela Liberdade de Imprensa), Maria Ressa e A máquina do ódio - notas de uma repórter sobre fake news, da jornalista Patrícia Campos Mello e ficar atordoado com tanta mentira revestida de verdade, me deparei com essa pequena história que passo a relatar, acreditando não ser necessário nenhum tipo de comentário. Apenas indago, indignado: Em que tipo de mundo estamos vivendo? É uma pequena parábola. Um religioso diria que o fim dos tempos está se aproximando.

Essa beleza - apenas para amenizar. Uma foto minha de 2021.

"Conta uma parábola que um dia a Mentira e a Verdade se encontraram:

A mentira disse à Verdade:

- Bom dia, dona Verdade.

E a Verdade foi comprovar se realmente era um bom dia. Ela olhou para cima, vendo que não havia nuvens de chuva, que vários pássaros cantavam e que era realmente um bom dia, respondeu à Mentira:

- Bom dia, senhora Mentira.

- Está muito quente hoje, continuou a Mentira.

E a Verdade, vendo que a Mentira era sincera, relaxou-se.

A Mentira, então, convidou a Verdade a se banhar no rio. Ela tirou a roupa, pulou na água e disse:

- Realmente, a água está deliciosa.

E, uma vez que a Verdade, sem duvidar da Mentira, tirou suas roupas e caiu no rio, a Mentira saiu da água e vestiu-se com a roupa da Verdade. Esta por sua vez, recusou-se a vestir as roupas da Mentira e, não tendo de que se envergonhar, saiu desnuda, andando pela rua.

Aos olhos das outras pessoas, no entanto, foi mais fácil aceitar a Mentira vestida de Verdade, do que a Verdade nua e crua".

Autor desconhecido. Parábola recolhida das redes sociais.

Aproveito para deixar o link dos livros acima apontados. São livros de denúncia sobre os males que estão sendo provocados pela Mentira coberta pelo manto da Verdade, mundo afora. 

http://www.blogdopedroeloi.com.br/2023/03/como-enfrentar-um-ditador-maria-ressa.html 

http://www.blogdopedroeloi.com.br/2023/03/a-maquina-do-odio-notas-de-uma-reporter.html

terça-feira, 28 de março de 2023

Como funciona o fascismo. A política do "NÓS" e "ELES". Jason Stanley.

A leitura dos livros Como enfrentar um ditador - a luta pelo nosso futuro, da Nobel da Paz de 2021, Maria Ressa e A máquina do ódio - notas de uma repórter sobre fake news e violência digital, de Patrícia Campos Mello e uma série de estudos sobre o fascismo que estamos desenvolvendo em um círculo de leituras, me levou à leitura de Como funciona o fascismo - a política do "NÓS" e "ELES", do professor da Universidade de Yale, Jason Stanley. Trata-se de um livro referência para os estudos sobre este nebuloso tema. O livro teve a sua primeira edição em 2018. A edição que tenho em mãos é da L&PM, do ano de 2022. 8ª edição.

Como funciona o fascismo. A política do "NÓS" e "ELES".  Jason Stanley. L&PM.

Na introdução, o autor apresenta o seu envolvimento com o tema. Seus avós foram fugitivos da Alemanha nazista. Sua avó escreveu um livro em que relata as desventuras dessa fuga - para a vida - em The Unforgotten. O autor tem o seu encontro com o tema, um encontro mais próximo, com a eleição de Donald Trump como presidente dos Estados Unidos no ano de 2016. O livro foi escrito num misto de dor e advertência, possivelmente mais advertência do que dor. É que nos dias de hoje, as práticas fascistas estão sendo naturalizadas por inúmeros governantes, mundo afora. Hannah Arendt tem muita razão quando escreveu sobre a banalidade do mal. Ele integra as prática burocráticas do cotidiano.

O fato que mais me chamou a atenção no decorrer da leitura é o quanto o fascismo está impregnado no cotidiano das pessoas, o quanto ele está embutido nas mais diferentes instituições em que estamos envolvidos e o quanto, por inúmeras vezes, ele está revestido com roupagens nobres e virtuosas, se apresentando como princípios de moralidade a serem assimilados e seguidos. As instituições envolvidas no processo de socialização contém inúmeros germens que tendem à aderência a tão despropositadas ideias, movedoras de comportamentos. O livro de Stanley nos coloca diante do espelho que nos lança a um profundo olhar sobre nós mesmos.

Depois da apresentação, que também nos remete ao significado próprio do termo fascismo, ligando-o às ideias e práticas do ditador italiano Benito Mussolini e a sua ascensão ao governo italiano ao longo da década de 1920, ideias que logo tiveram inúmeros seguidores e aprofundamentos em seus terríveis e temíveis métodos em inúmeros outros países. O livro nos dá a possibilidade de ver detalhadamente a radiografia de seu funcionamento, com a apresentação de dez conceitos onipresentes em todos os esboços de suas práticas. Eis os dez conceitos chave, as suas ideias indutoras e condutoras:

1. O passado mítico; 2. Propaganda; 3. Anti-intelectualismo; 4. Irrealidade; 5. Hierarquia; 6. Vitimização; 7. Lei e ordem; 8. Ansiedade sexual; 9. Sodoma e Gomorra; 10. Arbeit macht frei. Vou tentar apresentar um pequeno esboço de cada um desses conceitos. Então vamos, conceito por conceito:

1. O passado mítico está profundamente ligado ao nacionalismo, aos feitos históricos dos heróis fundadores. Essa concepção remete ao saudosismo, ao fazer de novo, ao culto aos valores e heróis do passado. América First ou o lema de Trump - Make America Great Again. Este passado glorioso exige a necessária "pureza", que fundamentou a "solução final" do nazismo e a política anti -imigrantes, mundo afora, nos dias de hoje. Remete ainda ao patriarcalismo, ao Pater famílias, ao pai provedor e ao Pai condutor - Führer - de todas as famílias, da grande Nação. 

2. A propaganda é a grande criadora de verdades. É ela a criadora de metas virtuosas. É ela a criadora de mitos e de demônios. Por ela se cria o "NÓS" e o "ELES" e os coloca em confronto. A luta do bem contra o mal. Por ela são criados os corruptos e os incorruptíveis. Será ela o grande instrumento que, pela emoção e não pela razão, impulsionará as massas a seguirem o seu Führer. A repetição da verdade produzida à exaustão será o grande instrumento para o convencimento. 

3. O anti-intelectualismo será a grande marca da desvalorização da educação e da cultura. É o ódio a todo o ato criativo e crítico. A adesão a valores se dará pela emoção e ao culto da tradição e jamais pela razão. Mais uma vez, o culto saudosista aos valores do passado. A Universidade precisa ser contida, assim como os seus professores. Lá se promovem estudos de raça e gênero, que podem quebrar as estruturas do patriarcalismo e da pureza racial. Além disso, ali se desenvolvem as subversivas teorias do "marxismo cultural". A "verdadeira" universidade deveria se dedicar a desenvolver habilidades, deveria estar voltada para a vontade e não para o intelecto, para o desenvolvimento de slogans, guias das massas. Por ela deveriam ser exaltados os valores cívico-patrióticos do primeiro item. Aqui eu devo intervir para sugerir uma leitura, um dos livros mais marcantes que eu já li: Antiintelectualismo nos Estados Unidos, de Richard Hofstadter, uma edição da Paz e Terra de 1967.

4. A irrealidade é a criação da verdade desejada. Ela será criada pela destruição ou controle dos centros de informação e pela afirmação da voz e da verdade desejada. Medo, ódio e intimidação serão práticas que ajudarão no alcance desse intento. Seria o fim da interrogação e da argumentação. A irrealidade se afirmará com as famosas "teorias da conspiração". Stanley faz uma impressionante análise das influências do livro Os protocolos dos sábios de Sião na afirmação das teorias do antijudaísmo. Apenas o inventado será tido como verdadeiro, como referência. Força para o emocional, para o mítico e não para o racional, intelectual e científico.

5. A hierarquia é para o fascista um valor supremo. Para ele a igualdade é um atentado contra a natureza. Seria igualar o que Deus criou desigual (Vejam aí também o papel da religião). Pela hierarquia é que criamos as separações, as distinções, as desigualdades. Ela está onipresente. É o grande instrumento do exercício do poder. Me permitam uma nova intervenção. Em minhas aulas sempre usei quatro palavras quando eu falava desses temas, como alienação, ideologia, dominação... Ei-las: divisão, hierarquia, naturalização e universalização. Um exemplo. Família. Divisão. Pai, mãe, filhos. Hierarquia. O Pater, o pai provedor, a mãe...., os filhos.... (nenhuma igualdade). Naturalização. É um princípio da própria natureza. É uma verdade natural, que não admite contestação. Universalização. Sempre foi e sempre será assim. É uma verdade atemporal, universal. Mais uma intervenção. A etimologia da palavra hierarquia. Do grego: hieros e arquia. Enquanto hieros nos remete ao sagrado, arquia nos remete a poder, a governo, à ordem. Um poder, uma ordem sagrada.

6. Vitimização. Os brancos e os cristãos representam a civilização. São os portadores do mérito. Eles constantemente tem que ceder na ordem hierárquica, ao "eles", não brancos e não cristãos, ao outro, ao diferente. Tem que ceder direitos, tem que pagar mais impostos, para que "outros" a eles sejam igualados. Vítimas do outro, do desigual, do estrangeiro, do imigrante, do refugiado, do inadaptado e inadaptável, que tantos sofrimentos causam aos que estão no topo da hierarquia, da sagrada ordem. 

7. Lei e ordem. É a construção de um discurso que divide entre os que cumprem e os que não cumprem a lei e a ordem. E... morte e reclusão aos que não a cumprem, mesmo quando todas as oportunidades lhes sejam negadas, mesmo que haja leis que necessariamente levam à exclusão social propositada, como o foi, a abolição da escravidão no Brasil. É um discurso que confere poder e que leva às politicas de encarceramento, em vez de políticas sociais inclusivas e afirmativas. A lei e a ordem também geram as pré-condenações ao "Eles", os indesejados e estigmatizados como criminosos.

8. Ansiedade sexual. A fragilidade sexual seria um atentado ao PAI da Nação, portanto, ao patriarcalismo. A força sexual, o mito do, me permitam, imbrochável, é uma ideia força. É o Pai provedor, o Pai que garante a pureza na sucessão da raça, que não fraqueja, que, em suma, permite a continuidade da pureza das raízes fundadoras e que deram identidade à Nação. Que livram os "puros" do estupro dos 'impuros", dos miscigenadores de raças.

9. Sodoma e Gomorra. É nas cidades, no cosmopolitismo, que reside a perversão. É no campo que reside a pureza primitiva e fundadora, do respeito às hierarquias e dos valores fundacionais. É na cidade que vivem os parasitas sustentados pelo campo. É no campo que moram as pessoas auto suficientes, que não precisam, que não dependem de subvenções do Estado. É no campo que vive a família tradicional, em que os papeis são bem definidos. Enquanto que a cidade é a fonte e o local das contaminações, perversões e digressões. É no campo que, com o esforço de trabalho, se provê a auto suficiência, a não dependência.

10. Arbeit macht frei. O trabalho duro encerra em si todas as virtudes. É por ele que você se tornará auto suficiente, responsável e cumpridor da lei e da ordem. Pelo trabalho duro, inclusive, será possível a própria regeneração da pessoa, como indicava a placa na entrada dos campos de concentração: Arbeit macht frei. Será também o trabalho importante divisor entre o "Nós" e o "Eles". Os "trabalhadores" e os "vagabundos", os parasitas, os dependentes. O trabalho leva à riqueza, e esta também é apresentada como um grande valor espiritual. Hitler pregava a organização do Estado, à semelhança da organização da empresa, sempre sob a direção de um líder. O trabalhador que trabalha duro também não necessita de sindicatos, instrumentos da massa e não do indivíduo.

No epílogo, Stanley nos lança uma advertência sobre os avanços do fascismo em nosso tempo presente. O maior perigo reside no fato da normalização. Ele já não nos choca, ele já não assusta. Convivemos com ele e a ele fazemos concessões diárias, sempre com justificativas, que sempre são encontradas com facilidade. O mal se torna normal, se torna banal. Não precisamos ser protagonistas para ajudar o fascismo a prosperar, basta não combatê-lo, ao nos adaptar aos seus trâmites burocráticos e não considerá-lo tão perverso como, de fato, ele o é. E o quanto ele está próximo de nós, e, inclusive, introjetado em nós.

"A exigência que Auschwitz não se repita é a primeira de todas para a educação. De tal modo ela precede quaisquer outras que creio não ser possível nem necessário justificá-la". Adorno. Educação após Auschwitz em Educação e emancipação. Outro interessante estudo sobre o fascismo, de fácil compreensão, por estar didaticamente exposto em tópicos, é o de Umberto Eco, em seu pequeno livro O fascismo eterno. Veja e estabeleça as comparações ou as semelhanças:

http://www.blogdopedroeloi.com.br/2019/03/fascismo-eterno-umberto-eco.html



terça-feira, 21 de março de 2023

A máquina do ódio. Notas de uma repórter sobre fake news e violência digital. Patrícia Campos Mello.

O livro A máquina do ódio - Notas de uma repórter sobre fake news e violência digital, da jornalista Patrícia Campos Mello chegou em minhas mãos pela via do programa Roda Viva da TV Cultura de São Paulo, do dia 30 de janeiro de 2023. A entrevistada do dia era Maria Ressa, a jornalista filipina- estadunidense, Nobel da Paz de 2021, por sua defesa da liberdade de imprensa, prêmio dividido com o jornalista russo Dmitry Muratóv, pela mesma causa. Maria Ressa é também autora do livro Como enfrentar um ditador - A luta pelo nosso futuro. O ditador em questão é Rodrigo Duterte, das Filipinas.

A máquina do ódio. Patrícia Campos Mello. Companhia das Letras. 2020.

Patrícia Campos Mello participou do programa, na qualidade de entrevistadora. Ela também prefaciou a edição brasileira do livro de Maria Ressa. Deixo aqui a resenha desse livro.

http://www.blogdopedroeloi.com.br/2023/03/como-enfrentar-um-ditador-maria-ressa.html

Patrícia Campos Mello é uma jornalista de renome que já trabalhou em quase todos os grandes meios de comunicação brasileiros, se notabilizando por coberturas internacionais. Hoje trabalha na Folha de S.Paulo e se tornou famosa ao longo do governo de Bolsonaro por combater suas mentiras com a verdade dos fatos. Por suas denúncias, ainda na campanha eleitoral de 2018, do uso de disparos em massa, pela via da mídia digital de fake news em favor da campanha de Bolsonaro, este lhe devotou um ódio profundo e passou a difamá-la, desmerecendo-a como jornalista e desrespeitado a sua condição de mulher, atingindo a sua reputação moral e pessoal. Coisa de cafajeste. O assassinato de reputações foi amplamente repercutida pelos filhos de Bolsonaro e por seus seguidores. Patrícia foi acusada sem nenhum escrúpulo por ter praticado atos inimagináveis.

Patrícia não se calou e muito menos se retirou do campo de batalha. Ela continuou o seu trabalho jornalístico e lançou o livro como denúncia e alerta por todos os perigos representados por Bolsonaro e pelo bolsonarismo. Além disso ela coloca esse fenômeno dentro do universo mundial, representado pelo avanço da extrema direita fascista, pelo uso do método da multiplicação das fake news e da violência digital, como lemos no subtítulo de seu livro: Notas de uma repórter sobre fake news e violência digital. É sob esse aspecto que o seu livro ganha em importância e se alinha com o da sua colega de profissão, Maria Ressa. 

O seu livro foi editado pela Companhia das Letras, no ano de 2020. Ao longo de suas 294 páginas, encontramos uma introdução, quatro capítulos, uma conclusão, um epílogo, agradecimentos, notas e uma mini biografia da autora.

Na introdução, que tem por título Como as redes sociais me transformaram em uma "jornalistinha" comunista, ela relata o ódio que lhe foi devotado a partir das matérias que ela escreveu para a Folha de S.Paulo, denunciando o uso de fake news na campanha do então candidato Jair Bolsonaro. O corpo do livro tem quatro capítulos, com os seguintes títulos: 1. A eleição do WhatsApp no Brasil; 2. Assassinato de reputações, uma nova forma de censura; 3. Fatos alternativos e a ascensão de populistas no mundo; 4. Bolsonaro e o manual de Victor Orbán (Hungria) para acabar com a mídia crítica. A sua conclusão também mereceu um título: Será que uma pandemia pode salvar o jornalismo. Ele é uma referência à divulgação de fatos, vejam bem, de fatos e não de fatos alternativos, como os examinados no terceiro capítulo. Por fatos alternativos, leia-se, fatos do interesse de seus propagadores. Creio que conhecemos bem essa realidade.

Na contracapa temos duas apresentações de seu livro. A primeira é do renomado professor Jason Stanley, autor do livro Como funciona o fascismo - A política do "Nós e Eles". Vejamos: "Graças ao trabalho desbravador  de jornalistas como Patrícia Campos Mello, nós pudemos descobrir e entender como a internet contribuiu para propagar movimentos contrários à democracia. Se você quer  compreender os desafios atuais para a democracia no mundo, precisa ler este livro". 

A segunda apresentação é da jornalista Míriam Leitão: "Para entender a natureza dos riscos que ameaçam a democracia brasileira hoje, é preciso seguir o rastro da conspiração digital que simula movimentos de apoio popular e fabrica ódio contra pessoas e instituições. Este livro desvenda esse mundo das sombras com um texto envolvente e esclarecedor". Outra apresentação do livro está nas orelhas do mesmo:

"Dias antes do segundo turno das eleições de 2018, Patrícia Campos Mello publicou a primeira de uma série de reportagens sobre o financiamento de disparos em massa no WhatsApp e em redes de disseminação de notícias falsas, na maior parte das vezes em benefício do então candidato Jair Bolsonaro. Depois disso, a repórter se tornou alvo de uma violenta campanha de difamação e intimidação estimulada pelo chamado "gabinete do ódio" e suas milícias digitais.

Em A máquina do ódio, a autora discute como as redes sociais vêm sendo manipuladas por líderes populistas e em que medida as campanhas de difamação funcionam qual uma censura, agora terceirizada para exércitos de trolls patrióticos repercutidos por robots no Twitter, no Facebook, no Instagram e no WhatsApp, que investem preferencialmente contra jornalistas mulheres. Os bastidores de reportagens que produziu e os ataques de que foi vítima servem de moldura para um quadro mais amplo sobre a liberdade de imprensa no Brasil e no mundo.

Patrícia Campos Mello acompanhou a utilização crescente das redes sociais nas eleições internacionais que cobriu: nos Estados Unidos, em 2008, 2012 e 2016; na Índia, em 2014 e 2019. À experiência de observadora do avanço dos tecnopopulistas e seu 'manual para acabar com a mídia crítica' somou-se a de protagonista involuntária no front de uma guerra contra a verdade.

Relato envolvente de um dos capítulos mais turbulentos de nossa história recente, A máquina do ódio é também um livro em defesa da informação. Em meio à ascensão de governos exímios em falsear os acontecimentos e no contexto da terrível pandemia causada pelo Coronavírus, a imprensa tem uma oportunidade única de renascer. Se ela não resistir aos governos populistas, à manipulação das redes sociais e à recessão econômica, vão sobrar somente os blogs e sites partidários que apenas corroboram crenças, sem nenhum compromisso com a verdade dos fatos".

Um livro imprescindível, especialmente para jornalistas, políticos, professores da área de política e para todos os que prezam o valor da democracia. É como lemos no subtítulo do livro de Maria Ressa: A LUTA PELO NOSSO FUTURO. Eu acrescento, de nossos filhos e netos.


segunda-feira, 13 de março de 2023

Como enfrentar um ditador. Maria Ressa. Nobel da Paz. 2021.

Entrei em contato com Maria Ressa, pela primeira vez, através do programa Roda Viva, da TV Cultura de São Paulo, do dia 30 de janeiro de 2023. Inexplicavelmente me passara despercebido o fato de ela ter sido agraciada com o Prêmio Nobel da Paz do ano de 2021. O prêmio foi por sua luta incansável em favor da liberdade de imprensa, única forma de preservar as democracia no mundo, segundo ela, ante a ameaça da ascensão fascista, representada pelas novas tecnologias, que permitiram o avanço das redes sociais. Essas, pela possibilidade de sua manipulação pela via da multiplicação algorítmica, se constituem hoje na maior ameaça aos regimes democráticos, nunca tão ameaçados como no presente momento da história da humanidade. O prêmio foi dividido com outro jornalista, o russo Dmitry Muratov. Por óbvio, Maria Ressa também exerce a profissão de jornalista.

Como enfrentar um ditador. Maria Ressa. Companhia das Letras. 2022.

O programa me levou à compra do livro. Ele relata sua vida e, especialmente, sua luta e compromisso jornalístico com os fatos, no combate à mentira que, cada vez mais ganha espaços, em função de interesses econômicos, que se aliam aos interesses políticos mais escusos, que corroem as democracias. O seu livro se apresenta com o sugestivo título que enfatiza essa realidade. Como enfrentar um ditador - a luta pelo nosso futuro. O ditador em referência é Rodrigo Duterte, das Filpinas, país tristemente conhecido por um ditador terrível e que figura na lista do Guiness, como o campeão em corrupção, Ferdinand Marcos. Quem não lembra do casal Ferdinand e Imelda Marcos, ela mundialmente conhecida por sua coleção de mais de mil sapatos. Pois é. Depois de Rodrigo Duterte, a família Marcos voltou ao poder através do filho Bongbong Marcos, tendo como vice, Sara Duterte Caprio, filha de Rodrigo Duterte. Questões em família. Simples assim. Triste realidade. Pobre democracia.

 Mas o livro de Maria Ressa vai para muito além de sua terra natal. Assim como ela, que dividiu seus anos de formação entre as Filipinas e os Estados Unidos e, por suas atividades profissionais, se tornou uma cidadã do mundo, assim também seu livro vai para muito além, digamos, de suas duas pátrias, Ele analisa as democracias em risco do mundo inteiro. Esta é também a dimensão do seu reconhecimento, pelo título recebido em 2021, de Prêmio Nobel da Paz. Então, a grande pergunta que nos cabe fazer é a de como essa realidade concreta da ameaça às democracias se tronou possível, simultaneamente e em âmbito mundial. Esse é o teor do instigante livro de Maria Ressa. 

Vou fazer uma pequena apresentação da estruturação do livro para depois deixar os leitores com os indicativos do próprio livro em suas orelhas e contracapa. O livro de 367 páginas, tem prefácio de Amal Clooney, uma ativista dos Direitos Humanos, um prefácio à edição brasileira, assinado por Patrícia Campos Mello, autora do livro A máquina do ódio - notas de uma repórter sobre fake news e violência digital e uma introdução da própria autora.

O corpo do livro está dividido em três partes: Parte I. A volta para casa: o poder, a imprensa e as Filipinas, 1963-2004. Nesta primeira parte temos os seguintes capítulos: 1. A regra de ouro - Escolha aprender; 2. O código de honra - Trace a linha; 3. A velocidade da confiança - Seja vulnerável; 4. A missão do jornalismo; - Sejamos honestos.

Parte II. A ascensão do Facebook, o Rappler (do qual ela é cofundadora) e o buraco negro da Internet, 2005-2017. Nesta parte encontramos os seguintes capítulos: 5. Os efeitos da rede - Passo a passo até o ponto da virada; 6. Criando ondas de mudança - Forme uma equipe; 7. Como os amigos dos amigos derrubaram a democracia - Pense devagar, não pense rápido; 8. Como o estado de direito desmoronou por dentro - Calar é ser cúmplice.

Parte III. Medidas enérgicas: prisões, eleições e a luta pelo nosso futuro, 2018- presente. Nesta parte temos mais os seguintes capítulos: 9. Sobrevivendo a milhares de feridas - Acredite no bem; 10. Não vire um monstro para lutar contra um monstro - Aceite seu medo; 11. Defenda a linha - O que não mata fortalece; 12. Por que o fascismo está vencendo - Colaboração. Colaboração. Colaboração. Epílogo, agradecimentos e notas complementam o livro.

Na contracapa lemos uma frase do livro, em destaque: "O mundo que conhecíamos foi dizimado. Agora cabe a nós decidir o que queremos". E logo a seguir, uma pequena resenha: "Vencedora do Nobel da Paz em 2021 por sua luta pelo direito à liberdade de expressão, Maria Ressa  é uma das mais renomadas jornalistas do século XXI. Em 2012, fundou o Rappler, um portal de notícias independente que logo virou alvo do Estado filipino e fez de Ressa inimiga do homem mais poderoso de seu país: Duterte, o então presidente. Mas  ele não é o seu único adversário.

Nestas memórias, Maria Ressa compartilha sua trajetória contra a opressão e a censura e tenta mapear o fenômeno da desinformação que assola o mundo todo. Da invasão do Capitólio dos Estados Unidos ao Brexit da Grã-Bretanha, passando pela influência do facebook nas eleições, Ressa revela como grandes empresas de comunicação incentivaram e disseminaram um vírus de ódio que infecta toda a sociedade, em uma pandemia de raiva e medo.

Contando nas trincheiras da guerra digital, Como enfrentar um ditador é o grito urgente para que lutemos por nossa liberdade - antes que seja tarde demais. O que você está disposto a sacrificar em prol da verdade?". Já na orelha, lemos, primeiramente em destaque: "Fake news e manipulação política assolam o mundo todo. Combatê-las é uma luta árdua, e é necessário coragem. Da vencedora do Nobel da Paz, Como enfrentar um ditador é um relato impressionante sobre os muitos golpes que os Estados democráticos têm sofrido nos últimos anos". Depois segue:

"Por décadas, Maria Ressa desafiou a corrupção em seu país, as Filipinas, na passagem de um Estado autoritário para uma democracia. Ela transformou a cobertura de notícias em sua região, tanto como correspondente da CNN na Ásia quanto como fundadora do Rappler, um portal que rapidamente se popularizou entre os filipinos - o povo que, dentre todos os outros, mais usa a internet.

As Filipinas são o marco zero dos efeitos tenebrosos que as redes sociais podem produzir em uma nação. Nesse âmbito, tudo o que ocorre lá acaba repercutindo no resto do mundo. Um exemplo são as fazendas de cliques, que se tornaram famosas no Ocidente durante as eleições de Donald Trump, nos Estados Unidos, e de Jair Bolsonaro, no Brasil, mas que anos antes já eram utilizadas por outro líder da extrema direita, Rodrigo Duterte, presidente filipino que perseguiu Ressa e outros jornalistas por revelarem a verdade por trás de sua gestão.

Para Maria Ressa, o verdadeiro inimigo é a desinformação. Notícias falsas, bots no Twitter e no Facebook, manipulação de dados - tudo isso é sintoma de uma doença que tem acometido as democracias. E este livro é uma tentativa de mostrar que a ausência do Estado de direito no mundo virtual é devastadora.

'Atualmente, nos encontramos em meio aos escombros de um mundo que se foi, e precisamos de uma visão que antecipe o futuro e de coragem para imaginar e recriar o mundo como ele deveria ser: mais compassivo, mais igualitário, mais sustentável. Um mundo livre de fascistas e de tiranos. Estas páginas resumem minha jornada em busca desse objetivo'".

E sobre a autora lemos: "Maria Ressa nasceu em Pasay, nas Filipinas, em 1963. É CEO, cofundadora e presidente do Rappler, o principal portal  de notícias de seu país. Estudou na Universidade de Princeton e, por anos, investigou o terrorismo no Sudeste asiático, abrindo e administrando a sucursal da CNN em Manila e Jacarta. [...]. Em 2018, foi eleita a Personalidade do Ano pela revista Time e, em 2021, ganhou o Prêmio Mundial de Liberdade de Imprensa da Unesco e o Prêmio Nobel da Paz, ao lado de Dmitry Muratov. Como enfrentar um ditador é seu primeiro livro pela Companhia das Letras. 

Um livro poderoso. Um livro absolutamente necessário para jornalistas, para a classe política, senão para todos os que tem interesses em preservar a democracia. E lembrando ainda uma importante observação: o Facebook não é nada inocente. 


terça-feira, 7 de março de 2023

Os condenados da Terra. Frantz Fanon.

A curiosidade maior para ler Frantz Fanon me foi instigada ou provocada pela obra de Paulo Freire. Também por obras que abordam o colonialismo e o racismo. O gosto pelas fontes me levou à compra e  leitura do livro. Impressionante. A leitura me levou a uma viagem no tempo, em retrospectiva. Me levou a meus anos de formação. Isso me possibilitou uma recontextualização dos principais fatos históricos e me mostrou o quanto eu estava afastado da realidade e dos debates acadêmicos. Foi na década de 1960 que ocorreu a minha formação escolar, ensino ginasial, uma mistura de clássico e científico e a faculdade de filosofia. Tudo isso, nos seminários de Gravataí e Viamão. Terminei a filosofia no enigmático ano de 1968. Para mim, nesse tempo era inimaginável a compra de algum livro. Muitos, também não chegavam. Afinal, entrávamos no segundo tempo da ditadura militar, os anos de chumbo. Violência em estado puro.

Os condenados da Terra. Frantz Fanon. Zahar, 2022.

Bem, mas vamos falar do livro. Ele é uma colocação do colonialismo no contexto mundial. É um clamor pela descolonização total. Colonialismo é violência. É o estabelecimento de uma hierarquização absoluta entre os homens, entre os colonizadores e os colonizados, estes como as vítimas dos colonizadores. Ao longo do humanismo e do iluminismo, movimento desencadeado na Europa, muito se falou da dignidade do ser humano, de direitos, de liberdade, de igualdade e até de relações fraternas. O colonialismo e o seu agregado, o racismo, são a negação de tudo isso, de tudo o que a Europa apresentava para o mundo como sendo a Modernidade. Para dar legitimidade ao colonizador, os colonizados precisariam ser inferiorizados. O racismo foi a grande arma dessa afirmação de inferioridade. 

O livro de Frantz Fanon fala de descolonização, de descolonização total. O pano de fundo da obra é a guerra da independência da Argélia, uma das guerras mais cruéis da história da humanidade (1954 -. 1962). Novos experimentos de tortura foram ali testados. O livro foi lançado em 1961 e foi prefaciado por ninguém mais, ninguém menos do que Jean Paul Sartre. E, convenhamos, Sartre caprichou. Frantz Fanon, com este livro, também fez a sua despedida desse mundo. Morreu neste mesmo ano de 1961, aos 36 anos, vítima, não de seu envolvimento na guerra, como participante ativo da Frente de Libertação Nacional, mas da luta contra a leucemia. É uma obra explicitamente revolucionária. Vou apresentar a estrutura básica do livro, primeiramente.

São cinco capítulos: 1. Sobre a violência. Sobre a violência no contexto internacional; 2. Grandeza e fraquezas da espontaneidade; 3. Desventuras da consciência nacional; 4. Sobre a cultura nacional. Fundamentos recíprocos da cultura nacional e das lutas de libertação; 5. Guerra colonial e distúrbios mentais (distúrbios de quatro origens, com casos de praticantes da violência e de sofredores da mesma). Fanon era psiquiatra. Sobre a impulsividade criminosa do norte-africano na guerra de libertação nacional (as teorias da escola de psiquiatria de Argel). O livro termina com um texto de conclusão. Apenas um pequeno complemento. A violência é implícita ao colonialismo. A espontaneidade é uma referência à organização dos movimentos de libertação. A questão da consciência nacional é uma teoria insuficiente na libertação e humanização do colonizado. Tudo analisado com muita propriedade e profundidade. O mais impactante é a exposição de sua prática profissional no atendimento às vítimas, tanto dos colonizadores, quanto dos colonizados, estes geralmente vítimas de tortura.

Eu tenho em mãos a edição da Zahar do ano de 2022. É uma edição primorosa. Ela mantém o prefácio original de Sartre, da primeira edição francesa. Tem uma introdução à edição norte-americana de 2021, assinada pelo ativista dos direitos humanos Cornel West. Estes textos são apresentados como anexos. Tem também uma notável introdução, sob o título A linguagem da revolução: Ler Frantz Fanon desde o Brasil, assinado por Thula Rafaela de Oliveira Pires, Marcos Queirós e Wanderson Flor do Nascimento. Deixo um pequeno trecho do primeiro parágrafo do prefácio de Sartre:

"Não faz muito tempo, a Terra contava com 2 bilhões de habitantes, dos quais 500 milhões de homens e 1,5 bilhão de nativos. Os primeiros dispunham do Verbo, os outros tomavam-no emprestado. Entre uns e outros, serviam de intermediários reizinhos vendidos, donos de feudos e uma falsa burguesia inteiramente forjada. Nas colônias, a verdade se mostrava nua e crua; as metrópoles preferiam-na vestida; o nativo devia venerá-las. Como se veneram as mães, de certo modo. A elite europeia empenhou-se em fabricar um indigenato de elite; selecionava adolescentes, gravava-lhes na testa, com ferro em brasa, os princípios da cultura ocidental...". Já na apresentação brasileira dessa edição lemos o que segue:

"Frantz Fanon insistiu na ideia de que cada geração deveria descobrir sua missão. Cumpri-la ou traí-la. Na sua intensa, breve e extraordinária vida, fez da destruição do colonialismo tarefa primordial, juntando-se ao destino da maioria do mundo que buscava romper com os sustentáculos da dominação. Dedicou textos, lágrimas, suor, discursos, tratamentos clínicos, armas, livros e a própria saúde a esse fim. Os condenados da terra, publicado poucos dias antes de sua morte, em 1961, é a síntese do conhecimento acumulado de alguém que viveu pela e para a revolução".

Vamos, ainda no ensejo de despertar para a leitura, a apresentações do livro, como a da  contracapa. Nela lemos: "Ao analisar a situação colonial, Frantz Fanon tensiona política, sociedade e  indivíduo, demonstrando as estratégias e os efeitos do poder dominante. O psiquiatra e revolucionário martinicano desmonta a lógica imperialista europeia - branca, brutal e racista - e propõe uma "descolonização do ser". Só assim é possível criar um mundo realmente humano, onde a massa deserdada de homens e mulheres dos países colonizados e pobres - os condenados da terra - sejam os inventores de sua própria vida.

Publicado em 1961, poucos dias antes da morte prematura do autor, Os condenados da terra é um tratado magistral sobre as relações entre colonialismo, racismo, insubmissão e trauma psicológico". Já nas orelhas do livro temos as seguintes informações:

"Escrito com urgência de quem tem pouco tempo de vida, Os condenados da terra é a suma do pensamento de Frantz Fanon e também a mensagem final de um dos maiores intelectuais revolucionários do século XX.

Em meio à Guerra de Independência Argelina, da qual participou como militante da Frente de Libertação Nacional, Fanon trata do conflito, mas estende seu olhar para a luta anti-imperialista na África negra e nos países colonizados de outros continentes. O resultado da opressão é sempre o mesmo: raiva, dor e loucura. Essa espécie de 'santíssima trindade' negativa é a herança do colonizado; é a isso que ele é reduzido pelo colonizador.

Não por acaso, Fanon inicia o livro com uma profunda discussão sobre violência - pois o colonialismo ' é a violência em estado puro, e só se curvará diante de uma violência maior' - e conclui com as desordens mentais decorrentes da guerra colonial. Em seu espectro amplo, a violência está tanto na dimensão física quanto em sua potência simbólica, que rege a linguagem e o arbítrio da colonização.

Com clareza e contundência, Fanon radiografa as condições e os efeitos sociais, políticos e culturais do imperialismo colonizador e apresenta os caminhos possíveis para a libertação dos povos dominados - os condenados da terra -, que é sobretudo uma libertação do indivíduo, uma 'descolonização do ser'. Para ele, é preciso 'desenvolver um pensamento novo, tentar criar um homem novo', um ser consciente de sua humanidade, livre de toda forma de colonização - social, política, mental e espiritual.

Mais que uma análise teórica do colonialismo, Os condenados da terra é um manual para a revolução, um programa de estratégia política em prol do humanismo radical defendido por Frantz Fanon. Escrito em seis meses, com o autor doente e desenganado, o livro custou a ser compreendido em sua real dimensão e importância. Ponto culminante de uma obra incontornável abreviada por uma vida curta, hoje é considerado um clássico absoluto, referência maior para o pensamento decolonial e para a luta antirracista e antimanicomial em todo mundo".

Temos ainda uma minibiografia: Frantz Omar Fanon foi médico, filósofo político e militante revolucionário. Nascido em Martinica em 1925, formou-se em psiquiatria na França e exerceu a profissão na Argélia, onde se tornou membro da Frente de Libertação Nacional, movimento insurgente pela independência argelina. Morto precocemente em 1961, aos 36 anos, foi um dos mais importantes pensadores e ativistas a tratar das questões antirracistas e anticoloniais, deixando uma obra breve e fundamental, em que se destacam livros como Pele negra, máscaras brancas e Por uma revolução africana, este último publicado pela Zahar".

É.... A tal da cultura ocidental. Capitalista e cristã. Um processo de dominação. Como não lembrar de Boaventura de Sousa Santos, O fim do império cognitivo. A afirmação das epistemologias do Sul. Para situar a violência é altamente recomendável ver o filme de Gillo Pontecorvo,  A Batalha de Argel.