Uma das regiões do Paraná que eu menos conheço é a região do centro para o sul, ou a sua região sudeste. Tive a oportunidade de conhecer um pouco desta região agora, quando recebi um convite do núcleo de Irati, da APP-Sindicato, para participar das suas atividades de planejamento para o ano de 2014. Estas atividades se realizaram na pousada Vila Vitória, na cidade de Rio Azul. As atividades se realizaram, primeiramente com os dirigentes do núcleo, envolvendo em torno de 20 pessoas e numa segunda etapa, com os dirigentes sindicais municipais, das diversas cidades da região, envolvendo em torno de 40 pessoas. A minha participação foi no sentido de trabalharmos a conjuntura da realidade brasileira, sob a ótica da classe trabalhadora, obviamente. Comentarei estas atividades, num post específico.
Registro de uma das atividades junto às professoras e professores, em Rio Azul.
Registro de uma das atividades junto às professoras e professores, em Rio Azul.
Meus hospedeiros foram as professoras Tatiana, moradora de Inácio Martins e presidente do núcleo sindical de Irati, e Manoela Carneiro, da cidade de Rio Azul. Fui muito bem tratado. Me acomodaram no melhor chalé da pousada (mordomia) e me proporcionaram um tour pelas atrações da cidade, em companhia da linda jovem Janaína, estudante de turismo no campus da UNICENTRO, de Irati. Tive os meus privilégios.
Em ninhas viagens sempre levo a curiosidade como companheira e, por isso mesmo, ao manifestar o desejo de conhecer um pouco da realidade regional e da cidade, ganhei até cicerone. Janaína me mostrou a capela do Senhor Bom Jesus, única, uma cachoeira junto a uma gruta, o Parque da Pedreira, com uma bela cachoeira, a maior atração natural da cidade, e uma visita a Framora, uma pequena agro-indústria de frutas vermelhas.
Rio Azul é um município de 14.093 habitantes, com renda per capita de R$ 12.000,55 e IDH de 0.738. A agro-pecuária se constitui na sua principal atividade econômica, com destaque todo especial para as lavouras de fumo. Milho e soja o acompanham. O fumo é uma lavoura que me reporta à minha infância. Meu pai fazia as contas, das dívidas a pagar no ano, e elas determinavam o tamanho da roça de fumo que plantaríamos. Era renda certa. Nós produzíamos fumo de corda. Lembro que era um trabalho que eu não gostava. Ele é meloso e grudento em todas as fases de seu trabalho. A economia é complementada com as atividades madeireiras e a agro-indústria.
A maior atração de Rio Azul. A pintura da capela do Senhor Bom Jesus, do artista nativo, Antônio Petrek.
A maior atração de Rio Azul. A pintura da capela do Senhor Bom Jesus, do artista nativo, Antônio Petrek.
Seguramente o cidadão mais ilustre de Rio Azul, ou que, ao menos deveria sê-lo, é o senhor Antônio Petrek, uma figura ímpar e única. Artista inigualável e, na qualidade de artista, uma pessoa engenhosa, de difícil trato. A solidão era a sua grande oficina de trabalho. Não gostava da presença de pessoas ao seu redor, nem para lhe levarem comida. Esta era deixada em lugares determinados, donde ele a recolhia. Dormia de dia para trabalhar de noite, quando ninguém o perturbaria. Na sua juventude conviveu com um pintor russo, que lhe deve ter ensinado as lições básicas de pintura. Deve ter superado o seu mestre. Transportou a pintura das pêssankas ucranianas para as paredes das igrejas. A fórmula de suas tintas era original, segredo que levou consigo. Misturava uma espécie de cal natural, com tintas, com leite fervido, com couro de boi. Cores únicas. Pintava centímetro por centímetro, excluindo apenas o piso. Assim que alguém se aproximava, imediatamente parava o trabalho.
Petrek nasceu em Rio Azul e viveu na região uma vida absolutamente solitária, até completar 81 anos, em 2011, ano de sua morte, no asilo de velhinhos de sua cidade natal. Pintou várias igrejas na região. Em Rio Azul, sua grande obra é a capela do Senhor Bom Jesus, à qual dedicou cinco anos de trabalho. Os quadros destacam o final da vida de Cristo e uma via sacra. Todas as paredes foram revestidas de pintura.Viveu da pintura, sem nunca ter cobrado um centavo sequer. Duas eram as suas exigências. Alimento e solidão. A RPC (Rede Globo de Curitiba) lhe dedicou um programa Meu Paraná. Vale a pena conferir. Regina Pegoraro, proprietária da pousada Vila Vitória também produziu um vídeo com o nome de O Dom de Deus.
A visita à agro-indústria Framora também foi muito interessante.Fomos recebidos pelos proprietários, o senhor Guilherme e a sua esposa, Da. Maria. Amabilidades em pessoa. Em menos de cinco minutos já fomos agraciados com um saboroso suco de amora. O senhor Guilherme contou toda a história da sua vida, venturas e desventuras. De uma grande frustração de safra foi para a cultura das frutas vermelhas, amora moranguinho e framboesa. A frustração da safra foi de batata, de uma semente, que em vez de germinar, simplesmente apodreceu. E lá se foram os tratores e outros pertences. Os filhos tiveram que vir para Curitiba. A ideia foi fazer algo diferente. A sua agro-indústria vai bem. Os filhos já estão de volta. Moram na propriedade que é um mimo, bem cuidada. Trabalham com frigorificação e assim nada se perde.
Produtos da terra, da agro-indústria de frutas vermelhas Framora, framboesa, amora e moranguinho.
Polpas, geleias, licores e frutas conservadas in natura são os produtos comercializados. As frutas in natura são o carro chefe e são consumidas como ornamento de bolos e pratos. É um mercado que não conhece crise. A felicidade do casal está desenhada em seus semblantes. As plantas são cultivadas do lado da casa. Observar o seu ciclo de produção, do plantio ao desenvolvimento da brotação, da floração, da maturação e da colheita lhes dá uma satisfação enorme. E o dinheirinho da comercialização não faz mal a ninguém. De um lugar desses dá dó de ir embora. Trouxe geleia e licor, o licor vai para a minha coleção de licores e cachaças.
Foto da Pousada Vila Vitória.
Por último, quero falar da Pousada Vila Vitória. Da pousada em si, não. Ela é simples e aconchegante em um ambiente muito agradável. É formada por chalés. Se não quero falar da pousada, quero falar do senhor Marco e da dona Regina, o casal proprietário. Marco tem descendência espanhola e, se não é um anarquista, herdou muito de seu espírito. Seria a teoria política perfeita, se fosse exequível. O seu espírito libertário é contagiante. Dona Regina exerce forte liderança comunitária, está onipresente. Desde as atividades comerciais, de benemerência, até as culturais. Percebeu a importância de Antônio Petrek, como ícone histórico e cultural e produziu um vídeo documentário sobre a sua vida e obra, O dom de Deus. A pousada é um ótimo local para você fazer um tour pela região.
Em suma, passei três dias maravilhosos em Rio Azul. Modestamente, creio que dei uma pequena contribuição para a formação continuada dos professores, no espírito da frase de abertura do meu blog e ampliei horizontes, conhecendo pessoas e estabelecendo relações humanas, simplesmente enriquecedoras. Vidas simples, no complexo das relações humanas. Trabalho gratificante que me dá a certeza do valor do meu atual trabalho, que é o da administração de tempo livre. A todos registro os meus agradecimentos.
A visita à agro-indústria Framora também foi muito interessante.Fomos recebidos pelos proprietários, o senhor Guilherme e a sua esposa, Da. Maria. Amabilidades em pessoa. Em menos de cinco minutos já fomos agraciados com um saboroso suco de amora. O senhor Guilherme contou toda a história da sua vida, venturas e desventuras. De uma grande frustração de safra foi para a cultura das frutas vermelhas, amora moranguinho e framboesa. A frustração da safra foi de batata, de uma semente, que em vez de germinar, simplesmente apodreceu. E lá se foram os tratores e outros pertences. Os filhos tiveram que vir para Curitiba. A ideia foi fazer algo diferente. A sua agro-indústria vai bem. Os filhos já estão de volta. Moram na propriedade que é um mimo, bem cuidada. Trabalham com frigorificação e assim nada se perde.
Produtos da terra, da agro-indústria de frutas vermelhas Framora, framboesa, amora e moranguinho.
Polpas, geleias, licores e frutas conservadas in natura são os produtos comercializados. As frutas in natura são o carro chefe e são consumidas como ornamento de bolos e pratos. É um mercado que não conhece crise. A felicidade do casal está desenhada em seus semblantes. As plantas são cultivadas do lado da casa. Observar o seu ciclo de produção, do plantio ao desenvolvimento da brotação, da floração, da maturação e da colheita lhes dá uma satisfação enorme. E o dinheirinho da comercialização não faz mal a ninguém. De um lugar desses dá dó de ir embora. Trouxe geleia e licor, o licor vai para a minha coleção de licores e cachaças.
Foto da Pousada Vila Vitória.
Por último, quero falar da Pousada Vila Vitória. Da pousada em si, não. Ela é simples e aconchegante em um ambiente muito agradável. É formada por chalés. Se não quero falar da pousada, quero falar do senhor Marco e da dona Regina, o casal proprietário. Marco tem descendência espanhola e, se não é um anarquista, herdou muito de seu espírito. Seria a teoria política perfeita, se fosse exequível. O seu espírito libertário é contagiante. Dona Regina exerce forte liderança comunitária, está onipresente. Desde as atividades comerciais, de benemerência, até as culturais. Percebeu a importância de Antônio Petrek, como ícone histórico e cultural e produziu um vídeo documentário sobre a sua vida e obra, O dom de Deus. A pousada é um ótimo local para você fazer um tour pela região.
Em suma, passei três dias maravilhosos em Rio Azul. Modestamente, creio que dei uma pequena contribuição para a formação continuada dos professores, no espírito da frase de abertura do meu blog e ampliei horizontes, conhecendo pessoas e estabelecendo relações humanas, simplesmente enriquecedoras. Vidas simples, no complexo das relações humanas. Trabalho gratificante que me dá a certeza do valor do meu atual trabalho, que é o da administração de tempo livre. A todos registro os meus agradecimentos.