Creio não incorrer em erro ao apresentar Antônio Cândido, como o maior intelectual vivo, da atualidade brasileira. A revista Teoria e Debate, a revista teórica do Partido dos Trabalhadores, solicitou a ele, lá nos idos do ano 2000, a indicação dos dez livros que melhor interpretam o Brasil. Ele topou a parada, embora com algumas indicações a mais. Antes da indicação ele definiu os fatores que deveriam ser levados em conta, para que merecessem a indicação. Esta indicação dos fatores a serem considerados são um verdadeiro programa de um curso de cultura ou de realidade brasileira. As suas indicações, segundo ele próprio, seriam assim para um jovem iniciante.
![Antonio Candido, recentemente no filme sobre a vida e a obra de Sérgio Buarque de Holanda](http://www.unicamp.br/unicamp/unicamp_hoje/ju/maio2004/imagens/Antonio-Candido.jpg)
![Antonio Candido, recentemente no filme sobre a vida e a obra de Sérgio Buarque de Holanda](http://www.unicamp.br/unicamp/unicamp_hoje/ju/maio2004/imagens/Antonio-Candido.jpg)
Ninguém melhor indicado para nos fornecer a lista de livros que melhor interpretam o Brasil. Antônio Cândido.
Ao apontar o que efetivamente conta, ele levanta os seguintes tópicos: "os europeus que fundaram o Brasil; os povos que encontraram aqui; os escravos importados sobre os quais recaiu o peso maior do trabalho; o tipo de sociedade que se organizou nos séculos de formação; a natureza da independência que nos separou da metrópole; o funcionamento do regime estabelecido pela independência; o isolamento de muitas populações, geralmente mestiças; o funcionamento da oligarquia republicana; a natureza da burguesia que dominou o país". Segundo ele, isto nos daria uma ideia básica. A partir destes tópicos e, de acordo com os mesmos, ele então passa a fazer as indicações. Mas em vez de dez, ele amplia a lista para onze, sendo o primeiro, uma espécie de introdução geral.
O livro de Darcy é apontado como uma introdução geral aos estudos de interpretação do Brasil.
O livro de Darcy é apontado como uma introdução geral aos estudos de interpretação do Brasil.
Para a introdução geral ele apresenta o livro de Darcy Ribeiro: O Povo Brasileiro (1995). Sobre ele, ele diz não conhecer outro melhor, por suas ideias originais e pelo estilo movimentado e atraente expresso em seu subtítulo: A formação e o sentido de Brasil. Já trabalhei os seus capítulos aqui no meu blog. Depois desta introdução, começa então a indicação de um livro, para cada um dos temas propostos.
Livro número um: Sobre a caracterização do português e sobre a natureza do povo brasileiro e de sua sociedade a partir da incorporação de sua herança indica: Sérgio Buarque de Holanda com o livro Raízes do Brasil, livro lançado em 1936 e que mostra a transfusão cultural e social, de Portugal para o Brasil.
Livro número dois: Em relação às populações autóctones deixa de fora os clássicos para apontar um livro exemplar tanto na concepção quanto na execução: História dos Índios no Brasil. O livro foi organizado por Manuela Carneiro da Cunha e escrito por especialistas. O livro data de 1992.
Sobre a formação do Brasil, desde seus tempos de colônia, o livro de Caio Prado Júnior.
Quanto ao livro de número três, lamenta não ter livro semelhante ao dos índios para indicar sobre os negros. Assim indica, por critérios etnográficos e de folclore o livro escrito em francês e para estrangeiros tomarem conhecimento da escravidão no Brasil, o livro de Kátia de Queirós Mattoso, lançado em 1982 Ser Escravo no Brasil. Diz ainda ter inclinações para indicar, O Abolicionismo (1883), de Joaquim Nabuco, A Escravidão africana no Brasil de Maurício Goulart e o grande clássico sobre a exclusão social no Brasil, que é o livro de Florestan Fernandes, A Integração do negro na sociedade de classes, de 1964.
Como livro de número quatro para a interação dos povos formadores aqui no Brasil, sob o domínio absoluto do português, a indicação recai sobre um dos nossos maiores clássicos, que segundo Antônio Cândido tem golpes de gênio e escrita admirável. Trata-se de Casa Grande e Senzala, de Gilberto Freyre. Com sua genialidade é mostrada a fusão inevitável das raças e das culturas. A obra é data de 1933.
O livro de número cinco versando sobre o mesmo tema da sociedade colonial fundadora, mas com um olhar mais econômico e com destaque para a nossa expansão geográfica e a organização social e política, a indicação recai sobre Caio Prado Júnior, e o seu Formação do Brasil Contemporâneo - Colônia, datado de 1942.
O livro de Bomfim, possivelmente o livro menos conhecido das indicações mas, o mais vibrante.
O livro de indicação número seis - sobre a formação da sociedade colonial diz que a sua tendência inicial era a de indicar os dois clássicos de Oliveira Lima: D. João VI no Brasil 1909) e O Movimento da Independência ( 1922), mas fica com Manoel Bomfim e o seu A América Latina - Males de Origem. A escolha se deve por sua visão socialista, que lhe permitiu enxergar melhor as nossas desigualdades e toda a opressão, não só no Brasil, mas em toda a América Latina. O livro é 1905.
O livro número sete - seria sobre o Brasil imperial, a tendência seria indicar Um Estadista do Império,de Joaquim Nabuco, mas como ele está muito centrado na figura de seu pai a indicação recai sobre Sérgio Buarque de Holanda com o seu Do Império à República, que enfoca a mudança do regime e integra a coleção História Geral da Civilização Brasileira. O livro é de 1972.
O Brasil da miséria e do isolamento e ao mesmo tempo da força do sertanejo. Os Sertões.
Já a indicação de número oito, sobre o Brasil Republicano, Antônio Cândido destaca o surgimento de brasis diferentes: um, o do isolamento e da miséria, gerador de violência e conflito e o outro, o da civilização urbana. Para este primeiro Brasil indica um livro cheio de observação e de indignação social, que é o livro de Euclides da Cunha, Os Sertões. O livro é de 1902.
Para o período que vai de 1889 até 1930 e que forma a chamada república velha, vai a sua indicação de número nove. Destaca que este período foi marcado pela oligarquia dos proprietários rurais e a sua atuação como chefes regionais. A indicação recai sobre o livro de Vitor Nunes Leal, Coronelismo, enxada e voto. O livro data de 1949.
Sobre o período da modernização, da passagem do poder para a burguesia urbana, de base industrial e as reivindicações das bases populares e os ajustes ocorridos vai a sua indicação de número dez. A indicação é A Revolução burguesa no Brasil, de Florestan Fernandes, livro lançado em 1974.
Eu não sei o que eu fiz na contagem, mas eu estou chegando na indicação de número onze, que recai sobre o tópico da imigração. Lamentando não haver uma grande obra a respeito, indica, para a colonização alemã, A aculturação dos alemães no Brasil, de Emílio Willems, lançada em 1946. Para a imigração italiana faz duas indicações: a de Franco Cenni, de 1959, Os italianos no Brasil ou então Do outro lado do Atlântico, de Ângelo Trento, livro datado de 1989.
No parágrafo final, uma aplacação para o seu remorso de indicações não feitas, tanto de velhos autores, como Oliveira Viana, Alcântara Machado, Fernando de Azevedo e Nestor Duarte, e mais novos, como Raimundo Faoro, Celso Furtado, Fernando Novais, José Murilo de Carvalho e Evaldo Cabral de Mello. E para aplacar ainda mas segue um monte de etc.............
Me atrevo ainda a uma outra indicação, que já me foi muito útil. Uma publicação que saiu nas comemorações dos 500 anos do descobrimento: Um Banquete no Trópico - Introdução ao Brasil. Volumes 1 e 2. Lourenço Dantas Mota é o organizador. O livro foi editado pela editora do SENAC - São Paulo. Mais adiante eu comento.
Livro número dois: Em relação às populações autóctones deixa de fora os clássicos para apontar um livro exemplar tanto na concepção quanto na execução: História dos Índios no Brasil. O livro foi organizado por Manuela Carneiro da Cunha e escrito por especialistas. O livro data de 1992.
Sobre a formação do Brasil, desde seus tempos de colônia, o livro de Caio Prado Júnior.
Quanto ao livro de número três, lamenta não ter livro semelhante ao dos índios para indicar sobre os negros. Assim indica, por critérios etnográficos e de folclore o livro escrito em francês e para estrangeiros tomarem conhecimento da escravidão no Brasil, o livro de Kátia de Queirós Mattoso, lançado em 1982 Ser Escravo no Brasil. Diz ainda ter inclinações para indicar, O Abolicionismo (1883), de Joaquim Nabuco, A Escravidão africana no Brasil de Maurício Goulart e o grande clássico sobre a exclusão social no Brasil, que é o livro de Florestan Fernandes, A Integração do negro na sociedade de classes, de 1964.
Como livro de número quatro para a interação dos povos formadores aqui no Brasil, sob o domínio absoluto do português, a indicação recai sobre um dos nossos maiores clássicos, que segundo Antônio Cândido tem golpes de gênio e escrita admirável. Trata-se de Casa Grande e Senzala, de Gilberto Freyre. Com sua genialidade é mostrada a fusão inevitável das raças e das culturas. A obra é data de 1933.
O livro de número cinco versando sobre o mesmo tema da sociedade colonial fundadora, mas com um olhar mais econômico e com destaque para a nossa expansão geográfica e a organização social e política, a indicação recai sobre Caio Prado Júnior, e o seu Formação do Brasil Contemporâneo - Colônia, datado de 1942.
O livro de Bomfim, possivelmente o livro menos conhecido das indicações mas, o mais vibrante.
O livro de indicação número seis - sobre a formação da sociedade colonial diz que a sua tendência inicial era a de indicar os dois clássicos de Oliveira Lima: D. João VI no Brasil 1909) e O Movimento da Independência ( 1922), mas fica com Manoel Bomfim e o seu A América Latina - Males de Origem. A escolha se deve por sua visão socialista, que lhe permitiu enxergar melhor as nossas desigualdades e toda a opressão, não só no Brasil, mas em toda a América Latina. O livro é 1905.
O livro número sete - seria sobre o Brasil imperial, a tendência seria indicar Um Estadista do Império,de Joaquim Nabuco, mas como ele está muito centrado na figura de seu pai a indicação recai sobre Sérgio Buarque de Holanda com o seu Do Império à República, que enfoca a mudança do regime e integra a coleção História Geral da Civilização Brasileira. O livro é de 1972.
O Brasil da miséria e do isolamento e ao mesmo tempo da força do sertanejo. Os Sertões.
Já a indicação de número oito, sobre o Brasil Republicano, Antônio Cândido destaca o surgimento de brasis diferentes: um, o do isolamento e da miséria, gerador de violência e conflito e o outro, o da civilização urbana. Para este primeiro Brasil indica um livro cheio de observação e de indignação social, que é o livro de Euclides da Cunha, Os Sertões. O livro é de 1902.
Para o período que vai de 1889 até 1930 e que forma a chamada república velha, vai a sua indicação de número nove. Destaca que este período foi marcado pela oligarquia dos proprietários rurais e a sua atuação como chefes regionais. A indicação recai sobre o livro de Vitor Nunes Leal, Coronelismo, enxada e voto. O livro data de 1949.
Sobre o período da modernização, da passagem do poder para a burguesia urbana, de base industrial e as reivindicações das bases populares e os ajustes ocorridos vai a sua indicação de número dez. A indicação é A Revolução burguesa no Brasil, de Florestan Fernandes, livro lançado em 1974.
Eu não sei o que eu fiz na contagem, mas eu estou chegando na indicação de número onze, que recai sobre o tópico da imigração. Lamentando não haver uma grande obra a respeito, indica, para a colonização alemã, A aculturação dos alemães no Brasil, de Emílio Willems, lançada em 1946. Para a imigração italiana faz duas indicações: a de Franco Cenni, de 1959, Os italianos no Brasil ou então Do outro lado do Atlântico, de Ângelo Trento, livro datado de 1989.
No parágrafo final, uma aplacação para o seu remorso de indicações não feitas, tanto de velhos autores, como Oliveira Viana, Alcântara Machado, Fernando de Azevedo e Nestor Duarte, e mais novos, como Raimundo Faoro, Celso Furtado, Fernando Novais, José Murilo de Carvalho e Evaldo Cabral de Mello. E para aplacar ainda mas segue um monte de etc.............
Me atrevo ainda a uma outra indicação, que já me foi muito útil. Uma publicação que saiu nas comemorações dos 500 anos do descobrimento: Um Banquete no Trópico - Introdução ao Brasil. Volumes 1 e 2. Lourenço Dantas Mota é o organizador. O livro foi editado pela editora do SENAC - São Paulo. Mais adiante eu comento.