Com o 1889, Laurentino Gomes completa a sua trilogia sobre a história do Brasil. Embora os títulos de seus livros se foquem em datas, 1808, 1822 e 1889, o teor dos mesmos é uma maravilhosa contextualização de época. Vejamos os subtítulos de cada uma dessas obras: 1808: Como uma rainha louca, um príncipe medroso e uma corte corrupta enganaram Napoleão e mudaram a História de Portugal e do Brasil. Percebe-se facilmente que o personagem do livro é D. João VI e o cenário é a transferência da corte portuguesa para o Brasil.
O livro que completa a trilogia de Laurentino Gomes: 1889. Os outros são 1808 e 1822.
O livro que completa a trilogia de Laurentino Gomes: 1889. Os outros são 1808 e 1822.
O segundo livro, 1822: Como um homem sábio, uma princesa triste e um escocês louco por dinheiro ajudaram D. Pedro a criar o Brasil - um país que tinha tudo para dar errado. Também é fácil perceber que o personagem do livro é D. Pedro I e o cenário é o da independência. Já o terceiro livro 1889: Como um imperador cansado, um marechal vaidoso e um professor injustiçado contribuíram para o fim da Monarquia e a proclamação da República do Brasil. É óbvio que o personagem é D. Pedro II e o grande cenário é o fim da monarquia e as causas que levaram à proclamação da República.
Uma palavra sobre Laurentino Gomes. Ele é jornalista de profissão. Portanto, não é um historiador. Este fato faz com que sofra algumas restrições. Como é que um jornalista entra em campo tradicionalmente ocupado pelos historiadores. Ele próprio explica: "Como obra de cunho jornalístico, este livro não pretende, nem poderia, oferecer respostas para questões mais profundas envolvendo a história republicana, sobre as quais inúmeros e bons estudiosos acadêmicos já se debruçaram com diferentes graus de sucesso ao longo dos anos". Quero destacar que estes estudiosos estão presentes ao longo da obra. Em especial, destaco dois deles, que nós estudamos no mestrado, na disciplina de História da Educação Brasileira: Emília Viotti da Costa e José Murilo de Carvalho. O que ele pretende então?
As bases do pensamento positivista: Augusto Comte na França e Benjamin no Brasil. Forte influência na proclamação da República.
De novo, ele mesmo responde: "O objetivo é tão somente relatar sob a ótica da reportagem alguns dos momentos mais cruciais daquela época, de maneira a retirá-los da relativa obscuridade em que se encontram hoje na memória nacional". E ainda: "Acredito que, escrita em linguagem adequada, a história pode se tornar um tema interessante, irresistível e divertido, sem, contudo, resvalar na banalidade". E Laurentino Gomes, nascido em Maringá e formado na Universidade Federal do Paraná é um grande contador de histórias. O primeiro contato que eu tive com ele foi através do programa Roda Viva da TV Cultura e, me pareceu uma pessoa de bem com a vida, um quesito que eu considero fundamental para a boa comunicação.
Uma das grandes dificuldades para a consolidação da República. Gaspar Silveira Martins. A Revolução Federalista.
Uma das grandes dificuldades para a consolidação da República. Gaspar Silveira Martins. A Revolução Federalista.
O livro tem 24 capítulos. O cenário é a queda da Monarquia e a consequente proclamação da República, mas o personagem principal é D. Pedro II. Por isso se faz uma bela retrospectiva de todo o Segundo Reinado. Uma das coisas que sempre me chamou muito a atenção é a de como este país foi construindo o alicerce de suas instituições e neste período histórico, mais especificamente, a maior maravilha a ser constatada é o fato de como este país manteve a sua unidade territorial, de como nos diferentes Brasis, foi se construindo efetivamente um único Brasil. Creio que estamos consolidando isto apenas nos dias atuais. Digo tudo isso para falar das abordagens que o livro faz das diferentes tentativas separatistas ocorridas no período. Iniciativas normalmente tomadas pelas populações mais pobres e por isso mesmo resolvidas com o trucidar destas populações. Exceção foi a Revolução Farroupilha, que foi uma briga entre elites, briga entre proprietários.
O Marechal de Ferro. A consolidação da República.
Outra bela abordagem é a da guerra do Paraguai, com a retirada de Caxias do cenário desta guerra e a entrada, em seu lugar, do Conde d'Eu e os atos de injustificável violência praticados. Afinal o conde precisava mostrar serviço. Os outros destaques são dados para aquilo que os manuais escolares apresentam como causas da queda da monarquia, como a questão militar (manutenção da unidade e da disciplina nas forças armadas) a questão religiosa (a relação impossível da interação entre a Igreja e o Estado - agravadas pela questão dos padres maçônicos) e a mais complicada de todas as situações que foi a abolição da escravidão.
Um ponto forte do livro é a caracterização dos personagens. Nesta lista entra D. Pedro II, a princesa Isabel, o marechal Deodoro e o professor Benjamin Constant. D. Pedro II já estava visivelmente alquebrado fisicamente, sendo que se afastou do posto em três oportunidades para tratamentos de saúde na Europa. Na interinidade ficava Isabel, a quem coube a decisão sobre a abolição. D. Pedro II não esboçou reações e se comportou passivamente diante dos fatos da proclamação da República. O marechal Deodoro, por sua vez, era um monarquista convicto. Nos acontecimentos da Proclamação se temia mais a sua morte do que o ato de rebeldia. Inesperadamente ele ficou bom e conseguiu reunir energias não só para a Proclamação, como também tomar a frente do Governo Provisório da República. Outro personagem influente do período e muito bem caracterizado é o professor Benjamin Constant.
A República brasileira e acima de tudo a unidade territorial brasileira são uma espécie de milagre, tamanho era o caos. Cena da proclamação da ordem constitucional republicana.
O livro termina mostrando os problemas da novel República, com os novos movimentos de insurreição popular e o governo do outro marechal, o de ferro, o marechal Floriano Peixoto. Termina mesmo, com a "eleição" de Prudente de Morais e o início da hoje chamada República Velha.
O Marechal de Ferro. A consolidação da República.
Outra bela abordagem é a da guerra do Paraguai, com a retirada de Caxias do cenário desta guerra e a entrada, em seu lugar, do Conde d'Eu e os atos de injustificável violência praticados. Afinal o conde precisava mostrar serviço. Os outros destaques são dados para aquilo que os manuais escolares apresentam como causas da queda da monarquia, como a questão militar (manutenção da unidade e da disciplina nas forças armadas) a questão religiosa (a relação impossível da interação entre a Igreja e o Estado - agravadas pela questão dos padres maçônicos) e a mais complicada de todas as situações que foi a abolição da escravidão.
Um ponto forte do livro é a caracterização dos personagens. Nesta lista entra D. Pedro II, a princesa Isabel, o marechal Deodoro e o professor Benjamin Constant. D. Pedro II já estava visivelmente alquebrado fisicamente, sendo que se afastou do posto em três oportunidades para tratamentos de saúde na Europa. Na interinidade ficava Isabel, a quem coube a decisão sobre a abolição. D. Pedro II não esboçou reações e se comportou passivamente diante dos fatos da proclamação da República. O marechal Deodoro, por sua vez, era um monarquista convicto. Nos acontecimentos da Proclamação se temia mais a sua morte do que o ato de rebeldia. Inesperadamente ele ficou bom e conseguiu reunir energias não só para a Proclamação, como também tomar a frente do Governo Provisório da República. Outro personagem influente do período e muito bem caracterizado é o professor Benjamin Constant.
A República brasileira e acima de tudo a unidade territorial brasileira são uma espécie de milagre, tamanho era o caos. Cena da proclamação da ordem constitucional republicana.
O livro termina mostrando os problemas da novel República, com os novos movimentos de insurreição popular e o governo do outro marechal, o de ferro, o marechal Floriano Peixoto. Termina mesmo, com a "eleição" de Prudente de Morais e o início da hoje chamada República Velha.
Ótima resenha... Acabei de comprar o último da trilogia... ansiosa para ler. ( moro no Rio de Janeiro e acho fascinante passar pelos lugares históricos, agora sabendo detalhes do que aconteceu ali no séc XVIII.) Parabéns!
ResponderExcluirObrigado pelo seu comentário,Ticy. A trilogia é realmente muito boa e interessante. Linguagem muito comunicativa. Eu também adoro passar pelos lugares históricos. Até acho que deveria haver excursões levando professores para estes locais. Abraço.
ResponderExcluirSou tataraneto de Gaspar Silveira Martins e fiquei satisfeito com o relato do Laurentino. Fidedigno, assim como o era o ilustre Senador, político mais importante do Império, e figura central no que chamamos de República. Figura esquecida pela história, mas de uma moral que não encontramos hoje em dia nos políticos. Abs Francisco Amarante
ResponderExcluirMuito obrigado pelo seu comentário, Francisco Amarante. E para os pesquisadores, eis a indicação de uma importante fonte.
ResponderExcluirEstou fazendo uma matéria sobre o assunto e, claro, seu blog é sempre fonte de pesquisa professor! :D
ResponderExcluirVocê, Aline, é que é sempre muito generosa em seus comentários.
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