quinta-feira, 25 de maio de 2023

A Falência. Júlia Lopes de Almeida. Vestibular 2024 - UFPR.

Entre as novidades para o vestibular da UFPR do ano de 2024 está a obra do realismo-naturalismo A falência, de Júlia Lopes de Almeida (1862-1934). A primeira edição do livro surgiu no ano de 1901. Vejamos então alguns fatos que antecederam esta data: 1888 - abolição; 1889 - República. Vejamos ainda os primeiros presidentes: Deodoro da Fonseca - 1889-1891; Floriano Peixoto - 1891-1894 - República da espada; Prudente de Morais - 1894-1898 - Representante da oligarquia cafeeira. Contém a crise econômica. Ocorre o massacre de Canudos; Campos Sales - 1898-1902. Crise econômica e queda internacional dos preços do café. Este é o cenário histórico.

A falência. Júlia Lopes de Almeida. Principis. 2019.

Vejamos mais dados: Vida dos ex escravizados com exclusão social propositada por não haver políticas públicas de inclusão social. A abolição viera rasa, apenas abolição. Ocorrerá aglomeração nas cidades, especialmente no Rio de Janeiro. O domínio da economia cafeeira é absoluto. Fortunas eram construídas da noite para o dia. Na crise, o inverso também ocorria. Fortunas simplesmente se derretiam. A cidade do Rio de Janeiro é o cenário que emoldura o romance. Francisco Teodoro é o comerciante português que aqui fez fortuna. As reformas de embelezamento e saneamento do Rio de Janeiro ainda não tinham ocorrido. As tias ainda moravam no morro do Castelo (Itelvina, a sovina e Joana, a beata). Isso ocorreria no governo seguinte, de Rodrigues Alves (1902-1906).

Neste momento o romance brasileiro já superara o romantismo e enveredara para o realismo e para o naturalismo, movimentos que surgem praticamente de forma simultânea. Machado de Assis será a maior referência do realismo (Memórias póstumas de Brás Cubas (1881), enquanto que Aluísio Azevedo, maior representante do naturalismo, publicava O mulato (1881), a primeira obra do naturalismo brasileiro e O cortiço (1890), a sua maior obra. O naturalismo acrescentava ao realismo uma visão científica da realidade e a procurava transmitir aos leitores.


Com essa contextualização vamos a obra de Júlia Lopes de Almeida, escritora nascida no Rio de Janeiro e militante da causa feminista. A sua obra é vasta, atingindo em torno de 40 volumes, além da participação assídua nos jornais e periódicos de seu tempo. Participou da formação da Academia Brasileira de Letras, mas quem nela entrou foi o seu marido, Filinto de Oliveira. Ainda não era o momento de tal feito para as mulheres. Em entrevista a João do Rio ele falava que a verdadeira merecedora da cadeira (a de número 3) era ela e não ele.

O spoiler da obra está praticamente dado pelo título - A falência. Mas, ao tomar o livro em mãos e olhar a contracapa você verá mais. É uma passagem do livro, já ao seu final: "O último benefício era-lhe ministrado pela filha, como um sacramento. Nem ele soube quanto tempo durou aquela crise de pranto que o sufocava. Quando Ruth acabou a sua música e ele lhe sentiu os passos leves e apressados na areia, teve ímpetos de chamá-la e cobri-la de beijos. Mais forte, porém, do que o seu amor e a sua ternura, foi o medo de enfraquecer. Ele fugiu para dentro; tinha tomado a sua resolução. Cada homem é criado para um fim. O dele tinha sido o de ganhar dinheiro; ganhara-o, cumprira o seu destino. Não podendo recomeçar, inutilizado para a ação, devia acabar de uma vez. Toda a energia da sua vida se concentraria num movimento único e decisivo". A decisão estava tomada. Nem Camila, a esposa o pode impedir de executá-la.

Na orelha do livro, mais informações: "A falência, com forte influência realista-naturalista, é um marco na obra de Júlia Lopes de Almeida, que trouxe a discussão de temas como o adultério feminino e a decadência econômica e moral da burguesia após a abolição da escravatura. A exaltação e afirmação de personagens femininas aparecem na autonomia de Camila, Ruth, Noca e Nina, que conseguem resolver seus conflitos sem precisar do auxílio de um homem - uma visão feminista e original para a época, a decadência é associada aos personagens masculinos, que protagonizam a falência e as ações desastrosas presentes no enredo".

Os 25 capítulos mostram a agitação da vida econômica no armazém da Casa Teodoro, sempre cheia de gente e de movimento, como também a vida de fausto levada no palacete em Botafogo, do casamento arranjado com Camila, uma bela mulher Fala também de Mário, de Ruth, das gêmeas e dos agregados da casa, com destaque para Nina. Fala dos problemas com Mário, o primogênito, o oposto do pai. Este nunca tivera tempo para a família. O Dr. Gervásio participava da intimidade da família, e, com Teodoro dividia os amores de Camila, bem como dos problemas decorrentes. E por fim, a crise do café, com a derrubada internacional de seus preços. Havia sido enganado por Inocêncio, que o lançara na aventura da especulação. Mas havia uma culpada. A República.

A personagem central do romance é Camila, uma mulher adúltera, nos fins da década de 1890. Com a falência e a perda do marido e de Gervásio, o único amparo financeiro que lhe sobrara era o Mário, casado com Paquita, filha de uma baronesa. No espólio da família Teodoro ela ficara com as gêmeas. Mas, o romance não terminaria dessa forma. Camila não poderia ser mostrada como uma derrotada. Vejamos as palavras finais, após Camila mandar buscar as gêmeas e ter resolvido enfrentar os problemas da vida com toda a determinação: 

- "Vai - respondeu Camila muito excitada; mas olha, não ofendas a baronesa. Basta dizer... que eu não tenho nada no mundo senão as minhas filhas!                                                                                               - Bem que eu ouvi a senhora chorar toda a santa noite... Até estive quase...                                              -  Basta de palavreado, Noca! - interrompeu Nina; e acrescentou:                                                               - Vá descansada, eu acabarei de borrifar a roupa. E depois, para a tia:                                                         - Faz bem tia Mila. O trabalho distrai".

Ao final do livro - temos ainda - um complemento de leitura -, Texto e contexto.

"A falência é uma obra de clara influência realista-naturalista que, em sintonia com isso, trata de uma temática muito cara aos autores do Realismo e do Naturalismo: o adultério feminino dentro da instituição burguesa do casamento.

Diferentemente, no entanto, do que ocorria às mulheres adúlteras dos romances de Eça de Queirós ou de Gustave Flaubert, por exemplo não haverá a morte como único destino possível a essa mulher, aliás, narra-se com crueza o enredo de uma mulher adúltera em busca de realização, entremeado à derrocada de um exportador de café. Camila, de origem pobre e casada com Francisco Teodoro em virtude da comodidade que a riqueza do marido traz, descobre a paixão tardiamente nos braços do doutor Gervásio. Francisco de nada desconfia, e Camila só terá seu ideal de família perfeita abalado após um mau negócio feito pelo marido que os leva à falência. E neste romance quem estará fadado à morte é o marido, que se mata por causa da falência. Camila terá, aliás, ao fim do romance, o vislumbramento de que não precisa nem de amante, nem de marido, nem de filho, que pode se sustentar a partir da união com outras mulheres, o que se trata já de uma visão muito inovadora e feminina em relação à época".


segunda-feira, 22 de maio de 2023

Um enigma chamado Brasil. 29 intérpretes e um país. 29. Roberto Schwarz.

Termino hoje mais um trabalho referente aos intérpretes do Brasil. Desta vez o livro referência é Um enigma chamado Brasil - 29 intérpretes e um país. O livro é organizado por André Botelho e Lilia Moritz Schwarcz. É um lançamento da Companhia das Letras do ano de 2009. A edição que usarei é de 2013. Quem são os personagem trabalhados? Os organizadores respondem: "Os teóricos do racismo científico e seus críticos na Primeira República; modernistas de 1920 e ensaístas clássicos dos anos 1930; a geração pioneira dos cientistas sociais profissionais e seus primeiros discípulos". A abordagem sempre será feita por algum especialista. O livro tem uma frase em epígrafe/advertência. O Brasil não é para principiantes, de Antônio Carlos Jobim.

Um enigma chamado Brasil. 29 intérpretes e um país.

O último intérprete analisado no presente livro, o vigésimo nono, é o sociólogo e crítico literário Roberto Schwarz. Ele é analisado por Leopoldo Weizbort, professor do Departamento de Sociologia da USP, sob o título Roberto Schwarz: entre forma literária e processo social. Vejamos um pouco da biografia desse intérprete.

"Nasce em 1938, em Viena, Áustria. No ano seguinte, sua família muda-se para o Brasil. Gradua-se em ciências sociais pela Universidade de São Paulo (1960), período no qual participa do seminário de leitura das obras de Marx, que ocorre entre 1958 e 1964. Defende mestrado em teoria literária e literatura comparada pela Universidade de Yale (1963) e, no mesmo ano, é nomeado assistente de Antônio Cândido no Departamento de Teoria Literária da USP. Em 1968 exila-se em Paris. Defende doutorado em estudos latino-americanos pela Universidade de Paris III (1976). Leciona teoria literária na Universidade Estadual de Campinas (1978-92). Publica, entre outros, Ao vencedor as batatas (1977), Um mestre na periferia do capitalismo: Machado de Assis (1990) e Duas meninas (1997)".

Foram dois os campos de atuação profissional de Roberto Schwarz. A sociologia e a crítica literária, ou melhor, a junção dos dois, foi o seu trabalho. E o fez examinando a obra de Machado de Assis. Dois foram os seus livros, ambos sobre Machado: Ao vencedor as batatas: forma literária e processo social nos inícios do romance brasileiro (1997) e Um mestre nas periferias do capitalismo: Machado de Assis (1990). Ele uniu os seus estudos  sobre a formação nacional, o desenvolvimento dependente e o capitalismo, somado com o regime de escravidão com a literatura de Machado de Assis.  Vejamos o resenhista, primeiramente sobre Ao vencedor as batatas: 

"A disposição arquitetônica do livro também segue um esquema lucacsiano, segundo o qual convém começar com a exposição da forma geral que se realizaria na forma literária (forma geral essa que decanta o processo social mais amplo), seguida pelo rastreamento de seus antecedentes históricos para, por fim, chegar à forma que se quer investigar. Ao vencedor as batatas segue esse esquema, que lhe serve muito bem: seu primeiro capítulo trata de formular a generalidade capaz de engendrar a forma literária, generalidade essa dada pela sociedade escravista e baseada no favor, mas que não renuncia ao liberalismo no plano das ideias; seu segundo capítulo investiga os antecedentes históricos da forma literária, que desaguarão logo a seguir em Machado de Assis; seu terceiro e último capítulo discute os romance iniciais de Machado, abrindo a perspectiva para o segundo livro. Um mestre na periferia do capitalismo continua desse ponto, da passagem do Machado dos primeiros romances para o romancista maduro. Nesse sentido, limita-se a analisar um único livro da fase plena do escritor, representativo de toda a situação histórica, literária e social". Ainda sobre este mesmo livro:

"A constatação de base, da qual parte, é a contradição entre a ideologia liberal proclamada pela classe dominante e a realidade antiliberal do escravismo. Essa contradição determinaria a vida intelectual, não somente no repertório e nas formas das ideias, mas também em seu corte de classe. Com efeito, na Europa o ideário liberal era ideologia que mascarava a exploração capitalista do trabalho; na periferia do sistema, a forma básica e generalizada de exploração, o trabalho escravo, corria solta, e a ideologia liberal apenas garantia fumos de distinção, de relevo social". E ainda:

"Cabe destacar que, como a forma social é parte do sistema mundial, do qual depende e para o qual contribui, o mesmo se pode dizer com relação a forma literária, a saber: que ela pode revelar muito do que permanece interdito à forma no centro. Em ambos os sentidos, Schwarz repõe a afirmação de Marx, segundo a qual é na colônia que se revela a verdade da metrópole - ou, por outras palavras, o ponto de vista da totalidade que engendra centro e periferia".

Sobre o seu segundo livro: "Neste segundo livro, Schwarz analisa em profundidade um único romance, que abre a perspectiva geral de toda a obra madura: Memórias póstumas de Brás Cubas. E o que consta nesse livro?

"Uma das teses centrais do livro - formulada sob inspiração de Adorno - reza que a dimensão mimética da prosa machadiana madura não diz respeito a conteúdos quaisquer, que ela formula, mas sim ao rigor construtivo da prosa, que mimetiza a vida ideológica e expõe assim estrutura e experiência sociais. Trocando em miúdos, a prosa do romance, em seu andamento volúvel, inconstante e caprichoso, permite a coabitação contínua e sistemática de norma burguesa e seu desrespeito, interesse discricionário e ideologia igualitária, que não se resolvem jamais: nem no romance, nem na realidade, onde continuam até hoje. No registro da prosa, isso significa verossimilhança".

E, as palavras finais do resenhista: "Nessa perspectiva de interpretação do Brasil por Schwarz, construída por meio da refração machadiana, alinha-se aos esforços da história e da sociologia em se pensar a especificidade da nossa formação nacional como um momento estrutural do processo mais amplo de desenvolvimento do capitalismo moderno - nosso atraso moderno. Considerada em paralelo com aqueles esforços, tal interpretação ressalta pela sua articulação brilhante: penetração analítica, inteligência argumentativa e sugestão teórica".

Como de hábito, também neste último post, o trabalho anterior, sobre FHC.

http://www.blogdopedroeloi.com.br/2023/05/um-enigma-chamado-brasil-29-interpretes_21.html


domingo, 21 de maio de 2023

Um enigma chamado Brasil. 29 intérpretes e um país. 28. Fernando Henrique Cardoso.

Continuo hoje mais um trabalho referente aos intérpretes do Brasil. Desta vez o livro referência é Um enigma chamado Brasil - 29 intérpretes e um país. O livro é organizado por André Botelho e Lilia Moritz Schwarcz. É um lançamento da Companhia das Letras do ano de 2009. A edição que usarei é de 2013. Quem são os personagem trabalhados? Os organizadores respondem: "Os teóricos do racismo científico e seus críticos na Primeira República; modernistas de 1920 e ensaístas clássicos dos anos 1930; a geração pioneira dos cientistas sociais profissionais e seus primeiros discípulos". A abordagem sempre será feita por algum especialista. O livro tem uma frase em epígrafe/advertência. O Brasil não é para principiantes, de Antônio Carlos Jobim.

Um enigma chamado Brasil. 29 intérpretes e um país.

o vigésimo oitavo intérprete analisado neste livro é Fernando Henrique Cardoso. A resenha é assinada por Leôncio Martins Rodrigues, professor de ciência política da USP e da UNICAMP, sob o título Fernando Henrique Cardoso: a ciência e a política como vocação. Antes vejamos traços biográficos seus, contidos ao final do livro.

"Nasce em 1931, no Rio de Janeiro. Gradua-se em ciências sociais (1952) e doutora-se em ciência política (1961), ambos pela Universidade de São Paulo. Com o golpe militar, exila-se no Chile e na França, e ministra aula na Faculdade Latino-americana de Ciências Sociais, na Universidade do Chile e na Universidade de Paris-Nanterre. Em 1968 retorna ao Brasil e obtém a cátedra de política da USP, da qual é professor emérito. No ano seguinte cria Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (CEBRAP). É um dos fundadores do Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB) pelo qual foi ministro da Fazenda de Itamar Franco (1992-5); e posteriormente eleito presidente da República por dois mandatos consecutivos (1995-2003). É autor, entre outros, de  Capitalismo e escravidão no Brasil meridional (1962) e Dependência e desenvolvimento na América Latina (1969, com Enzo Faletto).

O resenhista, após apresentar dados biográficos e traçar o caminho de FHC para as ciências sociais na Universidade de São Paulo, local também do exercício de suas atividades profissionais mostra as três grandes etapas da vida do teórico e político brasileiro: as de sua carreira acadêmica, a de seu exílio pós-golpe de 1964 e a sua fase política em que chegou a ser senador, ministro de Relações Exteriores e da Fazenda e eleito e reeleito presidente da República.

De sua fase acadêmica destacam-se os livros sobre a temática da questão racial, presente em sua dissertação de mestrado Cor e mobilidade social em Florianópolis, escrita junto com Octávio Ianni, sob a orientação de Florestan Fernandes (1955) e o seu doutoramento, do qual resultou Capitalismo e escravidão no Brasil meridional (1962). Ainda é desse período Empresário industrial e desenvolvimento econômico, a sua livre docência, em livro de 1964.

De sua fase de exílio surge o seu livro mais famoso. Ele exilou-se em Santiago do Chile, sede de alguns organismos da ONU, - CEPAL entre eles -, entrando, dessa forma, em contato com muitos intelectuais de passagem pelo Chile. Foi ali que conheceu Enzo Faletto, com quem escreveu em 1966-7, - Dependência e desenvolvimento na América Latina. Sobre este livro, vejamos o resenhista:

"Trata-se de um ensaio relativamente curto (166 páginas na primeira edição em espanhol) que jogou para o centro do debate sociológico, político e ideológico o tema das vias e possibilidades de desenvolvimento latino-americano. Mais ainda: FHC e Faletto abriram um novo esquema de interpretação capaz de entrosar variáveis econômicas com políticas, quer dizer, com as estruturas de dominação de classes, dos conflitos e das instituições sociopolíticas. Desse modo, por um lado, flexibilizaram o determinismo das análises que partiam das infraestruturas do modo de produção, enquanto, por outro, introduziam as incertezas derivadas  dos conflitos das vontades e dos resultados das ações dos homens. Tomaram como variável principal os modos de relacionamento (dependente) dos países latino-americanos com o mercado mundial, ou seja, com as metrópoles; trabalharam com a variável (ou as variáveis) que era determinante e deixaram de lado a multidão de dados que não lhes parecia decisiva". Vejamos ainda, sobre esse livro, causador de muitas polêmicas:

"Após sua publicação, o tema da dependência ganhou espaço nas discussões políticas sob versões mais radicais e esquemáticas das quais se extraía a conclusão que a dependência implicava a impossibilidade de desenvolvimento econômico nacional. Mais pragmático do que ideológico, FHC já tinha observado que o capitalismo não estava estagnado na maior parte da América Latina. A industrialização - no Brasil particularmente - avançava mesmo sob regime militar".

A sua volta ao Brasil ocorre em 1968, mesmo atingido pelo AI-5 em 1969. Com a redemocratização intensifica a sua atividade política e, como vimos em seus dados biográficos, exerce e se elege para vários cargos, chegando em duas oportunidades ao exercício da presidência da República, pelo partido que ajudara a fundas, O PSDB. A partir daí, seus livros são coletâneas de artigos publicados, de observações sobre a política e sobre o exercício do poder. Leôncio Rodrigues assim termina a sua resenha:

"Aprendeu que políticos e intelectuais estão em campos sujeitos a regras de comportamento e de ascensão diferentes. Contudo FHC se define 'basicamente', como um intelectual. A política, segundo ele, teria sido apenas atividade transitória. Aceitemos. Mas então aceitemos também que FHC foi um intelectual com extraordinária capacidade para a política e que não consegue abandonar nenhum desses campos. Depois de deixar a presidência da República, aceitou o cargo de presidente de honra do PSDB e voltou a dar, em 2008, um curso na Universidade de Brown, nos Estados Unidos". E uma observação, um tanto picante. O seu PSDB está naufragando.

Como de hábito, o trabalho anterior sobre Octávio Ianni.

http://www.blogdopedroeloi.com.br/2023/05/um-enigma-chamado-brasil-29-interpretes_20.html

sábado, 20 de maio de 2023

Um enigma chamado Brasil. 29 intérpretes e um país. 27. Octávio Ianni.

Continuo hoje mais um trabalho referente aos intérpretes do Brasil. Desta vez o livro referência é Um enigma chamado Brasil - 29 intérpretes e um país. O livro é organizado por André Botelho e Lilia Moritz Schwarcz. É um lançamento da Companhia das Letras do ano de 2009. A edição que usarei é de 2013. Quem são os personagem trabalhados? Os organizadores respondem: "Os teóricos do racismo científico e seus críticos na Primeira República; modernistas de 1920 e ensaístas clássicos dos anos 1930; a geração pioneira dos cientistas sociais profissionais e seus primeiros discípulos". A abordagem sempre será feita por algum especialista. O livro tem uma frase em epígrafe/advertência. O Brasil não é para principiantes, de Antônio Carlos Jobim.

Um enigma chamado Brasil. 29 intérpretes e um país.

A vigésima sétima resenha do presente livro é sobre Octávio Ianni. Ela é assinada por Elide Rugai Bastos, professora do Departamento de Sociologia da Universidade Estadual de Campinas, sob o título Octávio Ianni: diversidade e desigualdade. Vejamos inicialmente dados biográficos seus, contidos ao final do livro:

"Nasce em 1926 em Itu, São Paulo. Gradua-se em ciências sociais pela Universidade de São Paulo (1954) e torna-se assistente da cadeira de Sociologia I, na época ocupada por Florestan Fernandes. Defende mestrado (1956), doutorado (1961) e livre-docência (1964) na mesma instituição. Cinco anos depois, é aposentado pelo AI-5 e participa da fundação do CEBRAP. Atua como professor visitante e conferencista em universidades dos Estados Unidos, Europa e América Latina. Em 1977 começa a lecionar na Pontifícia Universidade Católica e, em 1986, na Universidade Estadual de Campinas. É professor emérito da USP e UNICAMP. Assina, entre outros: As metamorfoses do escravo (1962), A formação do Estado populista na América Latina (1975), A ideia de Brasil moderno (1992) e Teorias da globalização (1996). Falece em São Paulo em 2004.

Elide Bastos inicia a sua resenha destacando os campos de trabalho de Ianni: a questão racial, o mundo agrário, Nação e Estado, cultura, planejamento estatal e a globalização. Mas o seu grande tema é o que está contido no título de sua resenha: diversidade e desigualdade. A diversidade ajudava a esconder a desigualdade. Foi introduzido nessa temática por Florestan Fernandes, de quem foi orientando e assistente. Polemizou com Gilberto Freyre, de quem contestou o mito da democracia racial. Crítico do processo da abolição, afirmava a permanência dessa instituição e o impedimento ao acesso aos direitos básicos da cidadania.

Outra de suas marcas é contestação da visão dominante no Brasil de que as desigualdades provinham da questão da classe social, afirmando que o principal motivo da desigualdade brasileira era originária do racismo, da estereotipação do negro. Vejamos a resenhista: "Percebe como o negro é definido a partir de fórmulas estereotipadas em relação a seu aspecto pessoal, ao modo de encarar a vida, à percepção do trabalho, à dedicação profissional, à moralidade, à capacidade intelectual. Em um balanço geral, o negro é apreendido em termos negativos, ou melhor, na comparação entre brancos, mulatos e negros, ao último cabe o índice inferior em termos de valorização".

Esse será o tema dominante em sua formação. Havia uma cultura hierarquizada. Ao negro cabia manter as suas origens e permanecer excluído, ou então assimilar passivamente a cultura branca dominante. A isso chamavam de "integração" na sociedade. Ao negro foi proibido ser o sujeito político de sua própria abolição. Após a abolição não foram fixadas as bases de sua nova socialização, a da sua transição de homem escravizado para homem livre.

Outro tema forte sempre presente é a questão da criminalização do social, sempre vista como uma questão de desordem. Vide, os movimentos sociais. Criticou os projetos de "colonização" da amazônia, pela total desconsideração dos povos indígenas, posseiros e povos da floresta. Tinha também profundas divergências com os pensadores do ISEB. Afirmava ainda que a sociologia permitia, para além do conhecer, também um modo de atuar. Assim, era permitido ao sociólogo, ou ao intelectual, agir não em esquemas rígidos e únicos. Considerava, ainda, as ditaduras como os grandes pesadelos dos povos latino americanos.

Seu último grande tema foi a análise do processo de globalização, no qual a diversidade e a desigualdade se acentuavam ainda mais. Também falava da permanência dos problemas na entrada do século XXI. Vejamos pelas palavras da resenhista: "Mostra que o mundo ingressa no século XXI debatendo-se com a questão racial, com a intolerância religiosa, com a contradição natureza-cultura, com os dilemas do lugar da mulher na sociedade, com as tensões trazidas pela desigualdade social e econômica entre os diferentes países e classes sociais".

Na conclusão de sua resenha Rugai Bastos fala da permanência e da atualidade de Ianni: "A negação à verdadeira participação política, social e aos bens culturais configura fortemente a noção de desigualdade. Em outros termos, a exclusão articula as diferentes esferas da sociedade: a econômica, a social, a política e a cultural. [...] Um segundo ponto diz respeito ao fato de nas crises econômicas, naturalmente com reflexos políticos, desnudarem-se as relações entre diversidade e desigualdade. Nesses momentos aparece, de forma clara, como a liberdade do diverso é comprimida pela destituição e pela exclusão. Em outros termos, as formas culturais que fogem do modelo ocidental homogeneizador são fortemente reprimidas".  Vejamos ainda as palavras finais:

"Haveria segundo o autor, formas de superar o impasse? Afirmando essa possibilidade, segundo ele, caberia às ciências sociais encontrar uma maneira de garantir a interação entre direitos e liberdades. O desafio seria encontrar um modo de organização da sociedade que permitisse aos indivíduos uma liberdade real para que pudessem realizar diferentes concepções de vida, conforme suas aspirações". 

Deste autor já tenho uma resenha de seu livro O colapso do populismo no Brasil.

http://www.blogdopedroeloi.com.br/2020/10/o-colapso-do-populismo-no-brasil.html

E, como de hábito, o trabalho anterior do presente projeto sobre Raymundo Faoro

http://www.blogdopedroeloi.com.br/2023/05/um-enigma-chamado-brasil-29-interpretes_19.html

sexta-feira, 19 de maio de 2023

Um enigma chamado Brasil. 29 intérpretes e um país. 26. Raymundo Faoro.

Continuo hoje mais um trabalho referente aos intérpretes do Brasil. Desta vez o livro referência é Um enigma chamado Brasil - 29 intérpretes e um país. O livro é organizado por André Botelho e Lilia Moritz Schwarcz. É um lançamento da Companhia das Letras do ano de 2009. A edição que usarei é de 2013. Quem são os personagem trabalhados? Os organizadores respondem: "Os teóricos do racismo científico e seus críticos na Primeira República; modernistas de 1920 e ensaístas clássicos dos anos 1930; a geração pioneira dos cientistas sociais profissionais e seus primeiros discípulos". A abordagem sempre será feita por algum especialista. O livro tem uma frase em epígrafe/advertência. O Brasil não é para principiantes, de Antônio Carlos Jobim.
Um enigma chamado Brasil. 29 intérpretes e um país.


A vigésima sexta resenha do presente livro nos leva ao pensamento de Raymundo Faoro. Ele nos é apresentado por Luiz Werneck Vianna, professor do Centro de Estudos Direito e Sociedade do Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro (IUPERJ/UCAM), sob o título de Raymundo Faoro e a difícil busca do moderno no país da modernização. Antes do seu pensamentos, alguns dados de sua biografia:

"Nasce no ano de 1925 em Vacaria, RS. Muda-se em 1930 para Caçador SC. Forma-se em Direito pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul em 1948. Atua como procurador do estado do Rio de Janeiro desde 1951. Preside a Ordem dos Advogados do Brasil de 1977 a 1979. Colabora regularmente com periódicos e revistas desde 1947. Recebe os prêmios José Veríssimo da Academia Brasileira de Letras (ABL), em 1959; e Moinho Santista - Ciências Sociais, em 1978, dentre outros. Torna-se, em 2002, membro da ABL. É autor, dentre outros, de Os donos do poder (1958), Machado de Assis: a pirâmide e o trapézio (1974) e Existe um pensamento brasileiro? (1994). Morre no Rio de Janeiro em 2003".

A resenha de Luiz Werneck Sodré se centra na obra Os donos do poder, da segunda edição, datada de 1975. A primeira foi de 1958, que não teve tanta repercussão como a segunda. O livro, em sua segunda edição teve novas incorporações e o movimento histórico já era outro, com a efetivação do golpe militar de 1964. Recrudescera a intervenção do poder estatal, fundamento de sua principal categoria de interpretação do Brasil, qual seja, a do patrimonialismo. Nunca considerei a categoria patrimonialismo de fácil interpretação. A palavra nem sequer existe no Aurélio. Então para esclarecer fui buscar mais no Google. Vejamos:

"Patrimonialismo é uma forma de organização política onde a autoridade estatal é fundamentada principalmente no poder pessoal exercido pelo governante (ou corporação) sobre suas propriedades. Foi comum tanto nas monarquias quanto nas repúblicas pré-modernas". No Google ainda lemos: "Dá margem a atos de corrupção, nepotismo e dilapidação do patrimônio publico". Creio que os estudos de Max Weber, sobre a racionalização e a burocracia ajudam a compreender melhor o termo.

Mas vamos à resenha de Vianna, centrada no livro Os donos do poder. Vianna afirma que o livro de 1958 não teve uma boa recepção no meio universitário. Era o tempo de um certo entusiasmo com o nacional desenvolvimentismo. Faoro tinha uma visão negativa da formação do Estado brasileiro, originário da monarquia portuguesa. Faoro admirava o movimento pernambucano, precursor da independência, a Revolução Farroupilha e o republicanismo dos Estados Unidos. Ele defendia a descentralização e a representatividade, que não ocorria sob o patrimonialismo. Este promovia a cooptação.

Com o golpe de Estado ocorrido em 1964, que ele vê como um recurso às soluções autoritárias entranhadas em nossa formação, seu livro é relançado em 1975 e será recebido com um novo olhar. Ele via no patrimonialismo a via prussiana, bismarckiana de desenvolvimento capitalista, fato que ele, por óbvio, em consonância com a sua teoria, combatia. Por isso mesmo ele se engajou com muita força nos movimentos pela democratização do Brasil, fato que marcou a sua presidência na Ordem dos Advogados do Brasil (OAB).

A essa altura da resenha, Vianna entra na análise de Os donos do poder. Considerava, inicialmente, o rei de Portugal como o grande lavrador da nação. Depois, sob o capitalismo comercial monárquico, ele passou a ser o "Senhor da espada e das trocas". Assim gerou-se o regime patrimonial, no qual o Estado era a 'grande empresa do príncipe'. Já naquele tempo tínhamos um 'capitalismo de Estado', em que a nascente burguesia era sufocada pelo poder do Estado, impossibilitando atos empreendedores da mesma burguesia e os cálculos fundados na racionalidade dos empreendimentos. A economia estava subordinada à política e a sociedade civil não se apartava do Estado. Vejamos um parágrafo bem esclarecedor da resenha:

"O regime seria, pois, patrimonial, gerido pelo rei e seus servidores, aos poucos convertidos em uma nova nobreza, sem luz própria, dependente do monarca. O Estado seria uma empresa do príncipe, marca patrimonial que vai presidir a floração de um capitalismo de Estado, sufocando a burguesia pela supremacia da Coroa. Tal construção, sólida e duradoura, será capaz de atravessar o oceano - e o capitalismo nascido nesse chão não saberá reconhecer a força da empresa individual, do cálculo econômico racional, e será politicamente orientado. Nesse ambiente, a economia não se autonomiza da política, a sociedade civil não se aparta do Estado e a esfera privada dos interesses deve sua legitimação à esfera pública. A organização do poder social dependeria menos de posições ocupadas na economia e mais da detenção de lugares de poder na administração pública. A cooptação estaria no lugar da representação, e, quando ambas coexistissem, a primeira estaria em posição de primazia". Em outras palavras, Faoro, um liberal.

A transposição desse sistema para a colônia se deu pela via da expansão mercantil politicamente administrada e que fazia a total indistinção entre o público e o privado. Isso ocorreu desde Dom João I, até Getúlio Vargas, passando por José Bonifácio e D. Pedro II. Por isso ocorreram as revoluções liberais, sempre em busca de representação. Ele sempre foi diametralmente oposto a Oliveira Vianna, mentor do Estado centralizador e autoritário de Vargas.

Nunca foi favorável ao intervencionismo pelo alto. Não se acelera o relógio do tempo. O moderno não se deu por três grandes obstáculos: o neopombalismo positivista, e as intervenções pelo alto dos golpes de 1937 e 1964.  Vejamos a parte final da resenha, que remete ao título:

"A Raymundo Faoro devemos a compreensão dessa dialética perturbadora entre moderno e modernização que ainda assombra a história da formação brasileira, dialética que, se ainda não encontra solução à vista, ao menos está, agora, mais bem compreendida". 

Tenho um trabalho anterior sobre o intérprete, a partir de Um banquete no trópico.


E, como de hábito, o trabalho anterior sobre o brasilianist, Robert Morse.


 

quinta-feira, 18 de maio de 2023

Um enigma chamado Brasil. 29 intérpretes e um país. 25. Richard Morse.

Continuo hoje mais um trabalho referente aos intérpretes do Brasil. Desta vez o livro referência é Um enigma chamado Brasil - 29 intérpretes e um país. O livro é organizado por André Botelho e Lilia Moritz Schwarcz. É um lançamento da Companhia das Letras do ano de 2009. A edição que usarei é de 2013. Quem são os personagem trabalhados? Os organizadores respondem: "Os teóricos do racismo científico e seus críticos na Primeira República; modernistas de 1920 e ensaístas clássicos dos anos 1930; a geração pioneira dos cientistas sociais profissionais e seus primeiros discípulos". A abordagem sempre será feita por algum especialista. O livro tem uma frase em epígrafe/advertência. O Brasil não é para principiantes, de Antônio Carlos Jobim.

Um enigma chamado Brasil. 29 intérpretes e um país.

Devo primeiramente dizer que Richard Morse não é um intérprete brasileiro do Brasil. Ele comparece como um brasilianist, um estrangeiro, no caso um estadosunidense, a se debruçar sobre o Brasil e sobre toda a América Latina. No livro, Richard Morse é resenhado por Pedro Meira Monteiro, professor de literatura brasileira no Departamento de Espanhol e Português, da Princenton University, sob o título A paixão latino-americana de Richard Morse. Vejamos dados biográficos seus, contidos ao final do livro:

"Nasce em 1922, na cidade de Summit, Nova Jersey, nos Estados Unidos. Em 1939, ingressa na Universidade de Princenton. Após participar na Segunda Guerra Mundial, inicia a pós-graduação na Universidade de Columbia, com o projeto de estudar a formação de São Paulo - cidade que conhece em breve viagem, em 1941. Em 1947, desembarca no Brasil para realizar sua pesquisa. Em 1949, torna-se professor da Universidade de Columbia; em 1963, de Yale. Atua como representante  da Fundação Ford no Brasil (1970) e secretário do Programa para a América Latina do Wilson Center (1988). Publica, entre outros, Formação histórica de São Paulo (1970), O espelho de Próspero (1988) e A volta de McLuhanaíma (1990). Falece em 2001, no Haiti).

Vou me ater, neste post, a algumas transcrições do resenhista. A primeira para conhecê-lo melhor: "Uma maneira para compreender o legado de Richard Morse é pensar com seriedade em sua biografia. Para além dos dados anedóticos, suas opções de vida têm muito a ver com seu trabalho no plano do pensamento social. A sua ligação com o Haiti, de onde é sua esposa [...] explicita a admiração em nada gratuita por esse 'cantinho afro-gálico da América-Latina', onde o fenômeno da 'crioulização' da língua condensa aquilo que se pode entender como uma profunda americanização da Europa - americanização que encerraria a possibilidade de tornar a herança europeia afinal menos provinciana, mais universal".

Sobre a origem de sua paixão latino-americana, numa visita a Cuba, ainda como estudante: "Fiquei perplexo comparando Cuba com os Estados Unidos; lá aquele calor humano, a expressão da vida, e aqui a neutralidade, o formalismo, a distância das pessoas, sempre tão discretas e sóbrias... Em Cuba o exagero emocional, nos Estados Unidos a racionalidade premeditada".

Sobre o livro De comunidade a metrópole: biografia de São Paulo (sua tese de doutoramento): "Ao traçar a 'biografia' da capital paulista, o historiador buscava compreender como as formas de vida e os valores se transformam no processo de metropolização. Nas palavras do historiador Dain Borges, ali se desenha o motivo principal do 'brasilianismo' de Morse: 'a dialética entre regionalismo e modernidade', entre o senso local e o espírito cosmopolita".

Sobre o seu livro O espelho de Próspero: "Em O espelho de Próspero, Morse se vale da metáfora especular para sugerir que a fórmula tradicional por que se concebe o 'exemplo' dos Estados Unidos deveria inverter-se: 'há dois séculos um espelho norte-americano tem sido mostrado agressivamente ao Sul, com consequências inquietantes. Talvez seja a hora de virar esse espelho', diz ele. É preciso ouvir, nessa sentença cheia de provocações, a voz de um norte-americano completamente incomodado com sua própria cultura, em especial com a tendência - afinal persistente - de considerar o resto do mundo, e a América Latina em particular, como uma espécie de campo de experimentação neutro, capaz de acolher sem mais as receitas do desenvolvimento avassalador do gigante do norte".

Ainda sobre O espelho de Próspero: "Resta ainda lembrar o intertexto literário sobre o qual se arma O espelho de Próspero: Em A tempestade de Shakespeare, Próspero, guardião zeloso de sua filha Miranda, reina sobre uma ilha distante, em que se encontra o gentil Ariel e o perverso Caliban (evocação dos 'canibais' do Novo Mundo, é claro). Para além do sentido que a trama possa ter tido para os contemporâneos de Shakespeare, é a recuperação posterior das figuras de Caliban e Ariel que mais diretamente importa para a compreensão do livro de Morse, que dialoga diretamente com uma vasta recepção latino-americana da peça shakespeariana, desde o célebre ensaio Ariel, do uruguaio Rodó (1900), até Caliban, do cubano Roberto Fernández Retamar".

sobre A volta de McLuhanaíma, o tratado joco-sério: " A volta de McLuhanaíma é uma entrada perfeita para os que queiram conhecer mais a fundo o pensamento de Richard Morse. Ali estão os ensaios ('A formação do latino-americanista') que permitem entender por que ele logrou colher amizades e inimizades  profundas não apenas entre os latino-americanos, mas também entre seus pares. E é verdade que Morse sempre teve uma visão ácida, excessivamente crítica, do ambiente acadêmico nos estados Unidos, onde entretanto ele encontrou abrigo, tendo lecionado em Colúmbia, Porto Rico, Stony Brook, Yale e Stanford, para finalmente dirigir o Programa para a América Latina do Wilson Center, em Washington".

Por fim, sobre Morse: "Mesmo que o leitor não concorde com as teses de fundo, ou com as hipóteses que guiam o pensamento do autor, é sempre possível deliciar-se com uma descoberta no meio do caminho, com uma gracinha, ou com uma alfinetada discreta e profunda cujo destinatário acabamos por reconhecer. É difícil ler Morse sem sorrir. Ou mesmo sem rir bastante".

E como de hábito, o trabalho anterior sobre Darcy Ribeiro.

http://www.blogdopedroeloi.com.br/2023/05/um-enigma-chamado-brasil-29-interpretes_17.html

quarta-feira, 17 de maio de 2023

Um enigma chamado Brasil. 29 intérpretes e um país. 24. Darcy Ribeiro.

Continuo hoje mais um trabalho referente aos intérpretes do Brasil. Desta vez o livro referência é Um enigma chamado Brasil - 29 intérpretes e um país. O livro é organizado por André Botelho e Lilia Moritz Schwarcz. É um lançamento da Companhia das Letras do ano de 2009. A edição que usarei é de 2013. Quem são os personagem trabalhados? Os organizadores respondem: "Os teóricos do racismo científico e seus críticos na Primeira República; modernistas de 1920 e ensaístas clássicos dos anos 1930; a geração pioneira dos cientistas sociais profissionais e seus primeiros discípulos". A abordagem sempre será feita por algum especialista. O livro tem uma frase em epígrafe/advertência. O Brasil não é para principiantes, de Antônio Carlos Jobim.

Um enigma chamado Brasil. 29 intérpretes e um país.

A vigésima quarta resenha contida no presente livro versa sobre Darcy Ribeiro. A resenha, sob o título Aposta no futuro: O Brasil de Darcy Ribeiro, é assinada por Helena Bomeny, pesquisadora do Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil (CPDOC) da Fundação Getúlio Vargas (FGV) e professora da UERJ. Vejamos, inicialmente, alguns dados biográficos seus.

"Nasce em 1922 em Montes Claros, Minas Gerais. Forma-se em ciências sociais pela Escola de Sociologia e Política (1946). Entra no Serviço de Proteção aos Índios (1947). Participa da fundação do Museu do Índio (1953) e do parque Indígena do Xingu (1961). Cria na Universidade do Brasil, o primeiro curso de pós-graduação em antropologia, lecionando até 1956. Um dos fundadores e o primeiro reitor da Universidade de Brasília (1962-3). Atua como ministro da Educação e Cultura e chefe da Casa Civil no governo Goulart. Com o golpe militar, exila-se em vários países da América Latina, voltando em 1976. Elege-se vice-governador do Rio de janeiro (1982) e senador (1990). É eleito para a Academia Brasileira de Letras (1992). Escreve, entre outros, O processo civilizatório (1968) e O povo brasileiro (1996). Falece em Brasília em 1997".

Como podem observar nesses breves traços biográficos, duas foram as grandes dedicações de sua vida. A dedicação aos povos indígenas e à atividade política. Seu objetivo era a transformação da sociedade brasileira, tão sofrida, sem haver necessidade para isso. Por isso, toda a sua escrita é uma escrita engajada. Era um intelectual comprometido com o povo brasileiro. Ele sai de Montes Claros em 1939 para cursar a faculdade de Medicina em Belo Horizonte. Logo a abandona para ingressar no curso de ciências sociais na Escola de Sociologia Política de São Paulo, onde será colega de Florestan Fernandes e de Oracy Nogueira.

Do seu professor Herbert Baldus herda o interesse pela população indígena. Em 1947 ingressa no SPI, onde conhecerá o Marechal Rondon. Trabalhará com os indígenas do Mato Grosso e da Amazônia. No Rio de Janeiro participa da Fundação do Museu do Índio e da criação do Parque Nacional do Xingu, entrando em contato com os irmãos Villas Bôas. Com o suicídio do presidente Vargas, volta às atividades políticas, militando no trabalhismo. Antes pertencera ao Partidão. A proximidade que estabelece com Anísio Teixeira o leva ao campo da educação, lutando por um "novo manifesto dos Pioneiros", em favor do ensino público, participando ativamente na elaboração da nossa primeira LDB (1961). Sai derrotado pelos privatistas.

Em Brasília inicia um nova empreitada junto ao governo JK. Participa da fundação da universidade da cidade, sendo o seu primeiro reitor (1962-3). Depois assume o Ministério da Educação e, logo em seguida, a chefia da Casa Civil de Jango Goulart, para ser ceifado, em 1964, pelo golpe militar que o levaria ao exílio em vários países da América Latina. O seu exílio será abreviado pela "generosidade" dos militares, diante de um câncer de pulmão, certamente por o considerarem letal. Volta às atividades políticas, junto com Leonel Brizola no governo do estado do Rio de Janeiro.

Seu último cargo político foi o de senador pelo estado do Rio de Janeiro, quando se destaca na elaboração da nova LDB de 1996. Um episódio marcante foi a sua fuga de UTI de hospital, onde estava internado em função do câncer, para viver por mais algum tempo e escrever, em Maricá, o seu último livro - O povo brasileiro.

De suas primeiras leituras herdou, de Engels, um espírito evolucionista e de militância política. Era movido por um grande otimismo e via na política uma espécie de missão. Vejamos a parte final da resenha de Helena Bomeny: "O homem que se impôs como missão salvar a humanidade não pôde reduzir sua ação às cercas do possível. Isso fez de Darcy Ribeiro o fascínio personificado - aquele que amplia o desejo, a esperança, o tônus vital para a realização de projetos ambiciosos. Alguns de seus parceiros de trabalho chegaram a declarar que saíam das conversas  com Darcy maiores do que haviam entrado. No entanto, o perfil de isolamento no agir movido pelo impulso pessoal, o voluntarismo e a imodéstia justificaram muitas das críticas a ele dirigidas, justamente no campo da política, em que mais acreditou ter os instrumentos para a transformação".

De Darcy, deixo outro trabalho, a partir de Um banquete no trópico.

http://www.blogdopedroeloi.com.br/2022/07/um-banquete-no-tropico-36-os-indios-e.html

Deixo também o link de sua extrema unção, ministrada por Leonardo Boff. Darcy deve ter partido desta vida muito tranquilizado.

http://www.blogdopedroeloi.com.br/2013/04/darcy-ribeiro-recebe-extrema-uncao-de.html

E como de hábito, o trabalho anterior sobre Costa Pinto.

http://www.blogdopedroeloi.com.br/2023/05/um-enigma-chamado-brasil-29-interpretes_15.html

 

segunda-feira, 15 de maio de 2023

Um enigma chamado Brasil. 29 intérpretes e um país. 23. Costa Pinto.

Continuo hoje mais um trabalho referente aos intérpretes do Brasil. Desta vez o livro referência é Um enigma chamado Brasil - 29 intérpretes e um país. O livro é organizado por André Botelho e Lilia Moritz Schwarcz. É um lançamento da Companhia das Letras do ano de 2009. A edição que usarei é de 2013. Quem são os personagem trabalhados? Os organizadores respondem: "Os teóricos do racismo científico e seus críticos na Primeira República; modernistas de 1920 e ensaístas clássicos dos anos 1930; a geração pioneira dos cientistas sociais profissionais e seus primeiros discípulos". A abordagem sempre será feita por algum especialista. O livro tem uma frase em epígrafe/advertência. O Brasil não é para principiantes, de Antônio Carlos Jobim.

Um enigma chamado Brasil. 29 intérpretes e um país.

O vigésimo terceiro intérprete analisado no presente livro é Luiz de Aguiar Costa Pinto, ou simplesmente Costa Pinto. Ele é resenhado por Marcos Chor Maio, professor e pesquisador da Casa de Oswaldo Cruz da Fiocruz, com o título Relações raciais e desenvolvimento na sociologia de Costa Pinto. Antes, vejamos alguns dados biográficos seus:

"Nasce em 1920, em Salvador, Bahia. Ingressa na Faculdade de Medicina desse estado, mas com a morte do pai, médico renomado, abandona o curso. Em 1937, muda-se para o Rio de Janeiro. Estuda ciências sociais na faculdade nacional de Filosofia (FNFI) da Universidade do Brasil, atual IFCS/UFRJ. Formado em 1942, torna-se assistente de Jacques Lambert na cadeira de Sociologia. Professor da FNFI, também passa a lecionar na Faculdade Nacional de Ciências Econômicas da mesma universidade em 1946. De 1948 a 1952, pesquisa sobre demografia e sociologia das profissões no Instituto Mauá. Em 1949, debate o estatuto científico do conceito de raça no Fórum da Unesco, incorporando-se à pesquisa da entidade sobre relações raciais no Brasil de 1950. É autor  de Lutas de família no Brasil (1949) e O negro no Rio de Janeiro (1953), entre outros. Morre em 2002, em sua cidade natal".

Marcos Chor Maio inicia a sua resenha destacando os temas mais gratos do resenhado, manifestados em seu livro de 1953, O negro no Rio de Janeiro: relações de raça numa sociedade em mudança. Fazer "uma ampla investigação em solo brasileiro sobre as tensões sociais resultantes das transformações da estrutura social de uma sociedade tradicional que caminhava em meio a contradições em direção a uma economia moderna. O país era um caso exemplar para o entendimento do que se passava nas áreas consideradas periféricas".

Era o campo de preocupações típico da sociologia dos anos 1950-60. Estudar as mudanças em curso, originárias da industrialização e urbanização, mas que não alteravam o nosso quadro de país subdesenvolvido. Não obstante, via o quadro com otimismo, com possibilidades para o desenvolvimento. Acreditava que o Brasil tinha exemplos a oferecer. Não tínhamos o racismo explícito do apartheid dos Estados Unidos e da África do Sul, e por isso poderíamos contribuir para evitar os efeitos mais perversos do racismo em nossas relações.

O fato de vir de uma família influente e abastada não o impediu, após a sua vinda ao Rio de Janeiro, de somar-se às forças que propunham mudanças no Brasil. Participa da UNE e da Juventude Comunista, lutando contra o nazismo, intensificando a sua militância na redemocratização do país em 1946. Participa da formação da Universidade do Povo, ligada ao Partidão. Aproxima-se de pessoas como Arthur Ramos, Jacques Lambert e Donald Pierson. Foi impedido de ir aos Estados Unidos para, em  Chicago, fazer o seu doutorado, por suas vinculações com os comunistas. É o período em que escreve artigos para a revista da ELSP e ingressa na Universidade do Brasil, como professor.

Em 1950 realiza, junto com um professor e estudantes da Universidade Columbia, estudos no interior da Bahia e no Recôncavo Baiano, para depois realizar o seu estudo mais significativo, qual seja, o das relações raciais no contexto da industrialização. Duas serão as suas conclusões, a coexistência de dois mundos e as disparidades sociais entre os negros e brancos.

A coexistência se relaciona, de um lado, com um capitalismo em processo de modernização pela industrialização e de outro, a permanência das sociedades agrárias. Como resultado teremos uma marginalidade estrutural. Quanto às disparidades, constata que, mesmo com a mobilidade social ocorre a proletarização. Por outro lado, o preconceito racial passa a se acentuar. Eles não eram tão visíveis quando eles não competiam no mundo do trabalho, quando a desigualdade era absoluta. A mobilidade faz aflorar as atitudes racistas. Vejamos, nas palavras do resenhista:

"Com o desenvolvimento capitalista, situações de competição e de mobilidade social levam setores dominantes, ameaçados pela perda de suas posições sociais, a assumirem atitudes racistas." O movimento da mobilidade também é observado por Costa Pinto entre os negros. Vejamos: "Com a expansão do capitalismo e o processo de mobilidade  social vertical, ocorre uma diferenciação interna entre os negros, com o surgimento de uma pequena classe média, constituída particularmente de intelectuais, formando uma 'elite negra'. A nova forma de ascensão dos negros não é mais individual e não se interessa em 'branquear-se', como acontecia na sociedade tradicional, paternalista, especialmente no século XIX". Do outro lado surge 'o negro proletário'. Inicia-se o processo de politização da questão racial.

Vejamos a parte final da resenha do professor Maio: "Costa Pinto sugere que, com o processo de mudança social que gera situações de competição e de mobilidade social, assiste-se ao surgimento de atitudes reativas, com base no preconceito racial, por parte dos setores sociais dominantes, ameaçados de perder suas posições sociais.  Indo além, considera que a modernização, não obstante suscitar limitadas possibilidades de ascensão social, contribuiu para o estabelecimento de distinções internas entre os negros com a emergência de uma classe média que assume uma identidade racial como forma de organização social e política de enfrentamento do racismo. Enfim, para Costa Pinto modernidade pode suscitar racialização, e não o seu cancelamento".

O que dizer então, sobre a questão racial, após a implantação de políticas afirmativas e de definição de direitos com a Constituição de 1988?  devo ainda dizer que o foi o meu primeiro contato mais sistemático com este intérprete.

Como de hábito, o trabalho anterior, sobre Florestan Fernandes.

http://www.blogdopedroeloi.com.br/2023/05/um-enigma-chamado-brasil-29-interpretes_14.html




domingo, 14 de maio de 2023

Um enigma chamado Brasil. 29 intérpretes e um país. 22. Florestan Fernandes.

Continuo hoje mais um trabalho referente aos intérpretes do Brasil. Desta vez o livro referência é Um enigma chamado Brasil - 29 intérpretes e um país. O livro é organizado por André Botelho e Lilia Moritz Schwarcz. É um lançamento da Companhia das Letras do ano de 2009. A edição que usarei é de 2013. Quem são os personagem trabalhados? Os organizadores respondem: "Os teóricos do racismo científico e seus críticos na Primeira República; modernistas de 1920 e ensaístas clássicos dos anos 1930; a geração pioneira dos cientistas sociais profissionais e seus primeiros discípulos". A abordagem sempre será feita por algum especialista. O livro tem uma frase em epígrafe/advertência. O Brasil não é para principiantes, de Antônio Carlos Jobim.

Um enigma chamado Brasil - 29 intérpretes e um país.

A vigésima segunda resenha do livro sob análise versa sobre o maior nome da sociologia brasileira, Florestan Fernandes. Ele nos é apresentado por Maria Arminda  do Nascimento Arruda, professora do Departamento de Sociologia da Universidade de São Paulo (USP), num trabalho sob o título Florestan Fernandes. Vocação científica e compromisso de vida. Vejamos alguns traços biográficos seus, ao final do livro.

"Nasce na cidade de São Paulo em 1920. Forma-se em ciências sociais pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade de São Paulo em 1944. Torna-se assistente da cátedra de Sociologia II (1945) e titular da cátedra de Sociologia I (1964-9) na mesma instituição. Leciona na Universidade de Colúmbia (1965-6), Toronto (1969-72), Yale (1977) e na PUC/SP. (1978). Elege-se deputado federal pelo Partido dos Trabalhadores em 1986 e 1990, integrando os trabalhos da Assembleia Constituinte. Colabora com diversos periódicos desde 1940. Escreve, dentre outros, A função social da guerra na sociedade tupinambá (1951), A integração do negro na sociedade de classes (1964), Fundamentos empíricos da explicação sociológica (1967) e A revolução burguesa no Brasil (1975). Morre em sua cidade natal no ano de 1995.

A resenha de Maria Arminda está em perfeita consonância com o título que deu ao seu trabalho, ou seja, o entrelaçamento entre a sua vocação de cientista e o  seu compromisso com a vida, a vida de seus semelhantes, diga-se de passagem. Ela destaca a sua origem humilde, de fora de qualquer sistema e de grupos de intelectuais da época. Pelo contrário. Ele nasce de mãe solteira, é ajudado por uma madrinha e até por fregueses de bar em que trabalhava como garçom. Uma vida de constantes superações.

A sua formação se deve aos professores da USP e do ELSP. Ele é o principal artífice da sociologia brasileira. De Mannheim herda a preocupação de intervenção para que mudanças sociais ocorram, pela ação do planejamento de ações do Estado. O seu ingresso na USP se dá por meio de Fernando de Azevedo, para ser assistente de Roger Bastide e, por ação de Sérgio Milliet chega ao jornal O Estado de São Paulo. O seu grande tema sempre será a análise dos impasses para a modernização do Brasil, da superação de seu pesado legado herdado da sociedade escravocrata.

De seus exemplos pessoais de superação, forjou a essência do seu pensar. A educação pública sempre é apresentada como o grande meio para a ascensão, dentro de uma sociedade efetivamente democrática. Considerava que o Brasil não vivia uma democracia, mas sim, uma autocracia. Embora já estivesse na USP desde 1954, em sua tese para a cátedra elabora um de seus mais notáveis trabalhos A integração do negro na sociedade de classes, numa sociedade competitiva, portanto. Além de lhe serem negados os meios para competir, ainda enfrentou a concorrência da chegada de imigrantes. Para os negros sobraria permanecer à margem da sociedade e, ainda por cima, vítimas de todo o tipo de preconceitos. O Brasil mantinha as suas estruturas sociais arcaicas, sob os escombros do antigo regime.

Exerceu fortes influências sobre pensadores como Fernando Henrique Cardoso, Octávio Ianni e Maria Sylvia de Carvalho Franco. Juntos realizam estudos e trabalhos na Escola Paulista de Sociologia, que junto com o ISEB, no Rio de Janeiro, buscam alternativas para o subdesenvolvimento brasileiro. Idealizam também o Seminário Marx. Esses pensadores se situarão mais à esquerda, em busca de alternativas.

Florestan viveu profundamente o golpe de 1964. Destroçou vida e carreira. Ele pessoalmente será atingido no recrudescimento do sistema, sendo afastado de suas funções na Universidade a partir de 1969. Jamais voltou ao seu gabinete de trabalho, na sua volta ao país, segundo um relato da filha, assinalado na resenha. Com a fundação do Partido dos Trabalhadores intensifica a sua militância política, sendo inclusive deputado constituinte muito influente na elaboração de Constituição de 1988.

Em 1975 apresenta o seu último livro A revolução burguesa no Brasil, em que afirma as suas mais profundas convicções. Vejamos a resenhista: "... o livro caminha no sentido de configurar os dilemas e impasses de uma revolução burguesa que não cumpriu a sua missão de construir a nação, de uma classe que não tornou as suas orientações valorativas dominantes, pois se combinou às formas estamentais, em suma, de um agente histórico que não foi capaz de coordenar o seu papel em consonância com a sua posição. Resulta, daí, o domínio de um 'regime de classes sociais' que excluiu os componentes políticos e socioculturais característicos, abrindo espaço para a dominação autocrática, para o imperialismo, para um capitalismo carente de realizações civilizadas". 

Dele tenho outros trabalhos. Vejamos sobre A integração do negro na sociedade de classes.

http://www.blogdopedroeloi.com.br/2022/07/um-banquete-no-tropico-35-integracao-do.html 

Sobre A revolução burguesa no Brasil.

http://www.blogdopedroeloi.com.br/2022/07/um-banquete-no-tropico-19-revolucao.html

E do livro Clássicos, rebeldes e renegados.

http://www.blogdopedroeloi.com.br/2023/01/interpretes-do-brasil-classicos_13.html

E como de hábito, o trabalho anterior de presente projeto sobre Gilda de Mello e Souza.

http://www.blogdopedroeloi.com.br/2023/05/um-enigma-chamado-brasil-29-interpretes_13.html