O ferry nos largou em Nápoles pela manhã. Após um bom café, fizemos mais um passeio pela cidade, passando especialmente pelo bairro de Santa Luzia, aquele da canção. É o bairro mais elegante e é o local em que se encontram os hotéis de mais do que cinco estrelas.
Mas o destino do dia seria Pompéia. De novo, algo absolutamente indescritível estava a nossa espera. Com um ingresso de 11 euros e um guia local extraordinário, e ainda por cima, muito bem humorado, iniciamos essa maravilhosa tarefa. Praças, templos, mercados palácios e casas mais simples, casas comerciais, termas e os famosos lupanários estavam a nossa espera. Ali você realmente se reporta a uma época e vive como que por inteiro a sua realidade. A cidade é do século I da era cristã e a destruição ocorreu no ano de 79. Iniciamos a visita pelo teatro.
O teatro de Pompéia.
A cidade era portuária e comercial e muito rica. Mercadores do mundo inteiro ali se encontravam. A famosa erupção do vulcão que a destruiu, como vimos, ocorreu no ano de 79 e matou em torno de duas mil pessoas, especialmente as mais ricas, que se sentiam mais protegidas no interior de suas casas. Essas não procuraram fugir. A destruição de Pompéia ocorreu não pelas lavas vulcânicas, como ocorreu com a vizinha Herculano, mas com nuvens de cinzas e fuligens e as mortes foram provocadas por asfixia. Essas nuvens atingiam até seis metros, enquanto que o soterramento pelas lavas atingia até trinta metros, o que explica a maior facilidade de sua reconstituição.
Vista do que teria sido uma casa de comércio, com o local em que ficavam expostas as mercadorias.
As escavações da cidade começaram no século XVIII, mais precisamente em 1748. O estado de preservação e conservação das ruínas impressionam realmente a todos. As casas me chamaram particularmente a atenção, algumas verdadeiros palácios com pátios internos espetaculares. Muitas das pinturas estão conservadas quase em sua forma original.
Vista da parte interna de uma casa. A rica pintura em suas paredes e um fabuloso pátio interno.
O guia nos dava aulas impressionantes. Por exemplo: sobre o sentido das ruas. As grandes avenidas sempre seguiam a direção do sol, de leste a oeste, portanto. As ruas menores seguiam, em consequência, a direção norte/sul. Sem complicações. Creio que muitos urbanistas ou planejadores urbanos de hoje deveriam aprender algumas lições com os povos antigos. Outra questão que apontei: na frente das casas mais ricas existiam bancos, tipo aqueles das praças. Ali, de manhã cedo, se sentavam os clientes, a espera de ofertas de trabalho para aquele dia. Se não houvesse trabalho, uma esmola sempre seria bem recebida. E para quem a dava, também havia a sua recompensa. Eram vistos, tanto como uma pessoa rica, quanto generosa.
Veja o banco ao lado da porta de entrada de uma casa. Ali se sentavam os clientes a espera de trabalho.
Quando eu chegava em Umuarama nos idos de 1969, numa das primeiras conversas que tive, uma pessoa me contava o seguinte: (Umuarama, na época era uma cidade de pioneiros) o critério que eu uso para escolher uma cidade para me estabelecer, é fazer uma visita na igreja e outra no meretrício do local. Na igreja, para ver se havia princípios e no meretrício, para ver se circulava dinheiro, me explicava. Por esse critério Pompéia deveria atender a esses dois requisitos, pois havia templos maravilhosos e mais de 20 lupanários numa cidade que contava com 18.000 habitantes. E os lupanários eram frequentados apenas pela população mais pobre. Uma mulher valia menos do que uma garrafa de vinho nesses lugares, nos dizia o guia. Os mais ricos frequentavam outros ambientes.
Acima, pintura erótica no lupanário de Pompéia. Abaixo, uma original indicação do caminho para o mesmo.
Nos lupanários havia dois ambientes. Em baixo, mais rústicos e em cima, mais sofisticados. As paredes eram pintadas com quadros eróticos e pela exposição das tabelas de preços e de serviços. A forma original da indicação do caminho para o lupanário (local onde se encontravam as lobas), não sei se observaram bem na foto acima, tem a indicação para a sua direção através de um pênis ereto. Isso acontecia tanto nas paredes, quanto no chão das esquinas.
Será que essa cidade realmente merecera ter sido destruída? Será que isso provocava realmente a ira de Deus? Outra coisa que deveria ser fantástica na cidade eram as suas termas.
Creio que também não preciso dizer nada sobre os souvenirs em Pompéia. O erotismo está presente em quase todos eles, nas mais diferentes formas.
Este dia seguramente foi um dos dias mais fantásticos da minha vida. Essa visita a Pompéia é realmente coisa inesquecível.
Mas o dia ainda não terminara. Seguimos em direção a Roma e no caminho nos aguardava Cassino. Duas atrações bem próximas uma da outra. O cemitério Polaco e um mosteiro impressionante.
Como já vimos, (quando falamos de Salerno) as tropas aliadas desembarcaram em Salerno e avançaram sobre Roma. A caminho, passaram pelas planícies da região de Cassino, onde se encontra o Monte Cassino, de 530 mts. de altura. Portanto, uma posição estratégica ímpar. Ali ocorreu uma das mais sangrentas batalhas da guerra: a batalha de Monte Cassino. vinte mil alemães e cinquenta mil aliados ali morreram. Os alemães ocupavam o monte e estavam imunes aos bombardeios. Parece que a linha de frente dos aliados coube aos polacos.
Pois bem, ali visitamos o cemitério polaco, mas agora fico sabendo que existe também o cemitério alemão e o dos aliados. Creio que nos levaram a este, dos polacos, por sua proximidade com o mosteiro. O alemão se chama cemitério de Caira.
O cemitério polaco em Monte Cassino.
O mosteiro tem toda uma história. As forças aliadas tentaram preservá-lo, mas acabaram bombardeando-o, pois acreditavam que os alemães tinham nele a sua fortaleza. Antes de seu bombardeio, negociaram com o papa a retirada do que era o principal do seu acervo. O mosteiro remonta ao século VI.
Vista do mosteiro no alto do Monte Cassino.
O museu, as estátuas e as pinturas que existem nesse mosteiro são impressionantes. Dizem que suas peças mais valiosas foram levadas ao Vaticano e as mais valiosas entre essas valiosas, jamais teriam sido devolvidas.
O interior da igreja do mosteiro de Monte Cassino.
Imagine então a beleza dessa igreja em todo o seu esplendor. Bem, ainda tínhamos que chegar em Roma. Estava encerrada a nossa excursão, num pacote chamado Itália Clássica. Dormiríamos em Roma e pela manhã iniciarímos o nosso segundo pacote italiano o Tutta Itália, começando por Florença e seguindo para o norte. Deste vez ficamos bem localizados em Roma, mas era só para dormir.