quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Diário de uma Viagem. - Pompéia - Cassino e Roma.

O ferry nos largou em Nápoles pela manhã. Após um bom café, fizemos mais um passeio pela cidade, passando especialmente pelo bairro de Santa Luzia, aquele da canção. É o bairro mais elegante e é o local em que se encontram os hotéis de mais do que cinco estrelas.
Mas o destino do dia seria Pompéia. De novo, algo absolutamente indescritível estava a nossa espera. Com um ingresso de 11 euros e um guia local extraordinário, e ainda por cima, muito bem humorado, iniciamos essa maravilhosa tarefa. Praças, templos, mercados palácios e casas mais simples, casas comerciais, termas e os famosos lupanários estavam a nossa espera. Ali você realmente se reporta a uma época e vive como que por inteiro a sua realidade. A cidade é do século I da era cristã e a destruição ocorreu no ano de 79. Iniciamos a visita pelo teatro.
O teatro de Pompéia.
 
A cidade era portuária e comercial e muito rica. Mercadores do mundo inteiro ali se encontravam. A famosa erupção do vulcão que a destruiu, como vimos, ocorreu no ano de 79 e matou em torno de duas mil pessoas, especialmente as mais ricas, que se sentiam mais protegidas no interior de suas casas. Essas não procuraram fugir. A destruição de Pompéia ocorreu não pelas lavas vulcânicas, como ocorreu com a vizinha Herculano, mas com nuvens de cinzas e fuligens e as mortes foram provocadas por asfixia. Essas nuvens atingiam até seis metros, enquanto que o soterramento pelas lavas atingia até trinta metros, o que explica a maior facilidade de sua reconstituição.
Vista do que teria sido uma casa de comércio, com o local em que ficavam expostas as mercadorias.

As escavações da cidade começaram no século XVIII, mais precisamente em 1748. O estado de preservação e conservação das ruínas impressionam realmente a todos. As casas me chamaram particularmente a atenção, algumas verdadeiros palácios com pátios internos espetaculares. Muitas das pinturas estão conservadas quase em sua forma original.
Vista da parte interna de uma casa. A rica pintura em suas paredes e um fabuloso pátio interno.

O guia nos dava aulas impressionantes. Por exemplo: sobre o sentido das ruas. As grandes avenidas sempre seguiam a direção do sol, de leste a oeste, portanto. As ruas menores seguiam, em consequência, a direção norte/sul. Sem complicações. Creio que muitos urbanistas ou planejadores urbanos de hoje deveriam aprender algumas lições com os povos antigos. Outra questão que apontei: na frente das casas mais ricas existiam bancos, tipo aqueles das praças. Ali, de manhã cedo, se sentavam os clientes, a espera de ofertas de trabalho para aquele dia. Se não houvesse trabalho, uma esmola sempre seria bem recebida. E para quem a dava, também havia a sua recompensa. Eram vistos, tanto como uma pessoa rica, quanto generosa.
Veja o banco ao lado da porta de entrada de uma casa. Ali se sentavam os clientes a espera de trabalho.
 
Quando eu chegava em Umuarama nos idos de 1969, numa das primeiras conversas que tive, uma pessoa me contava o seguinte: (Umuarama, na época era uma cidade de pioneiros) o critério que eu uso para escolher uma cidade para me estabelecer, é fazer uma visita na igreja e outra no meretrício do local. Na igreja, para ver se havia princípios e no meretrício, para ver se circulava dinheiro, me explicava. Por esse critério Pompéia deveria atender a esses dois requisitos, pois havia templos maravilhosos e mais de 20 lupanários numa cidade que contava com 18.000 habitantes. E os lupanários eram frequentados apenas pela população mais pobre. Uma mulher valia menos do que uma garrafa de vinho nesses lugares, nos dizia o guia. Os mais ricos frequentavam outros ambientes.

Acima, pintura erótica no lupanário de Pompéia. Abaixo, uma original indicação do caminho para o mesmo.

Nos lupanários havia dois ambientes. Em baixo, mais rústicos e em cima, mais sofisticados. As paredes eram pintadas com quadros eróticos e pela exposição das tabelas de preços e de serviços. A forma original da indicação do caminho para o lupanário (local onde se encontravam as lobas), não sei se observaram bem na foto acima, tem a indicação para a sua direção através de um pênis ereto. Isso acontecia tanto nas paredes, quanto no chão das esquinas.
Será que essa cidade realmente merecera ter sido destruída? Será que isso provocava realmente a ira de Deus? Outra coisa que deveria ser fantástica na cidade eram as suas termas.
Creio que também não preciso dizer nada sobre os souvenirs em Pompéia. O erotismo está presente em quase todos eles, nas mais diferentes formas.
Este dia seguramente foi um dos dias mais fantásticos da minha vida. Essa visita a Pompéia é realmente coisa inesquecível.

Mas o dia ainda não terminara. Seguimos em direção a Roma e no caminho nos aguardava Cassino. Duas atrações bem próximas uma da outra. O cemitério Polaco e um mosteiro impressionante.
Como já vimos, (quando falamos de Salerno) as tropas aliadas desembarcaram em Salerno e avançaram sobre Roma. A caminho, passaram pelas planícies da região de Cassino, onde se encontra o Monte Cassino, de 530 mts. de altura. Portanto, uma posição estratégica ímpar. Ali ocorreu uma das mais sangrentas batalhas da guerra: a batalha de Monte Cassino. vinte mil alemães e cinquenta mil aliados ali morreram. Os alemães ocupavam o monte e estavam imunes aos bombardeios. Parece que a linha de frente dos aliados coube aos polacos.
Pois bem, ali visitamos o cemitério polaco, mas agora fico sabendo que existe também o cemitério alemão e o dos aliados. Creio que nos levaram a este, dos polacos, por sua proximidade com o mosteiro. O alemão se chama cemitério de Caira. 
O cemitério polaco em Monte Cassino.

O mosteiro tem toda uma história. As forças aliadas tentaram preservá-lo, mas acabaram bombardeando-o, pois acreditavam que os alemães tinham nele a sua fortaleza. Antes de seu bombardeio, negociaram com o papa a retirada do que era o principal do seu acervo. O mosteiro remonta ao século VI.

Vista do mosteiro no alto do Monte Cassino.

O museu, as estátuas e as pinturas que existem nesse mosteiro são impressionantes. Dizem que suas peças mais valiosas foram levadas ao Vaticano e as mais valiosas entre essas valiosas, jamais teriam sido devolvidas.
O interior da igreja do mosteiro de Monte Cassino.

Imagine então a beleza dessa igreja em todo o seu esplendor. Bem, ainda tínhamos que chegar em Roma. Estava encerrada a nossa excursão, num pacote chamado Itália Clássica. Dormiríamos em Roma e pela manhã iniciarímos o nosso segundo pacote italiano o Tutta Itália, começando por Florença e seguindo para o norte. Deste vez ficamos bem localizados em Roma, mas era só para dormir.

Os Últimos Dias de Pompéia - Edward Bulwer Lytton.

As poucas vezes que eu tinha ouvido falarde Pompéia, sempre foi num sentido muito negativo. teria sido uma cidade destruída pela ação de um vulcão e que este teria sido acionado por Deus contra esta cidade, por ela levar uma vida absolutamente pecaminosa. A dissolução dos costumes teria sido total e como consequência teve o merecido castigo da justiça divina. Por pecado, a única coisa que a gente entendia por isso, eram aqueles relacionados ao sexo. teria sido uma nova Sodoma e Gomorra.
Como agora acabo de visitar esta maravilha - as ruínasda cidade de Pompéia - fiquei mais curioso ainda. A visita em Pompéia foi feita da melhor maneira possível, isto é, com um guia local fabuloso. Lá comprei também um livro e um DVD sobre a estrutura da antiga cidade. Tudo maravilhoso. Conto no Diário de uma viagem.
Já de volta, procurei comprar o livro Os Últimos Dias de Pompéia, do escritor inglês Edward Bulwer Lytton, pois suspeitava que esse livro teria sido a fonte para toda a difamação. E eu não estava errado. descobri que o autor era além de escritor, um político conservador e que viveu uma vida perturbada, em todos os sentidos. Viveu no século XIX, entrre 1803 e 1873. Está enterrado na abadia de Westminster, embora tenha a ver com a fundação da ordem rosacruz. Passou, inclusive, por internamentos de ordem psíquica. Escreveu basicamente para ganhar dinheiro. Capítulos diários eram publicados.
Foi difícil achar o livro. Sua última edição se encontra esgotada. Recorri a sebos. O encontrei. Não é lá grande coisa, mas a histórininha é bem contada. Não atende as expectativas com relação àquilo que efetivamente teria sido a destruição, a não ser alguns pequenos detalhes. Só a aproveita, para nela inserir a sua história.
A destruição de Pompéia, para lembrar, ocorreu no dia 24 de agosto do ano 79 da era cristã.
A história gira em torno de alguns personagens principais: Glauco, o grego; Nidia, a escrava cega da Tessália; os irmãos Ione e Apecides, que recebem a tutoria de Arbaces, o egípcio, que é o grande personagem do mal. No final quase tudo dá certo para os personagens principais. Glauco se casa com Ione, após vencerem o mau Arbaces e terem sobrevivido à erupção do Vesúvio. No final se convertem ao cristianismo.
Quanto a questão do livro contribuir com a fama de que a destruição de Pompéia foi um castigo divino, creio que não resta qualquer dúvida. Veja o que ele mesmo escreve sobre o Livro, numa espécie de pós fácio: "Foi então que um estrangeiro, oriundo daquela ilha distante e bárbara cuja simples menção fazia o romano imperial estremecer sempre que era mencionada, contemplou estas ruínas. Refletiu muito sobre aqueles homens poderosos e sobre os importantes fatos ocorridos na cidade de Poméia. Como tudo é passageiro... Imaginou que muitas pessoas gostariam de conhecer aqueles trágicos acontecimentos e então escreveu esta história".
Anotei algumas passagens em que está marcada a questão da ira divina. Todas na parte final. Vejamos:

"É a mão de Deus! - exclamou Olinto - Louvado seja"! (Olinto é o personagem cristão),
"Aquilo não o (Olinto) amedrontava, apenas representava uma prova imensa do poder de Deus"
"Deus apareceu para condenar a nova Gomorra!"
"Aproxima-se a hora em que o senhor virá julgar-nos! Ai do idólatra e do adorador do bezerro"!
"Chegou a hora! - repetiu Olinto. Os cristãos fizeram eco a suas palavras e, com eles, todo o povo -CHEGOU A HORA!"
Mas o mais importante encontra-se no pós fácio. Vejamos:

"Passaram-se dez anos. Eis a carta que Glauco escreveu a Salústio (seu amigo romano): Pede-me que vá visitá-lo em Roma, meu caro amigo Porém, eu respondo que é preferível você vir a Atenas. Abandonei para sempre a cidade imperial, sua confusão e seus fúteis prazeres. Doravante, desejo viver em minha Pátria. Prefiro mil vezes viver à sombra de nossa grandeza passada, à vida luxuosa que vocês desfrutam.
Segundo você, não devo ser feliz neste triste lugar, lembrando-me de uma glória já extinta e fala-me com arrebatamento da magnificência de Roma, do luxo de sua corte imperial. Salústio, meu amigo, não sou mais o que era. Os sofrimentos e tudo quanto passei acalmaram o sangue ardoroso da minha juventude. Minha saúde jamais recuperou seu antigo vigor e conservo ainda a memória de minha prisão no úmido calabouço dos criminosos, o horror do último dia de Pompéia. Pobre Nídia! Levantei um sepulcro em sua memória. Ione, minha doce e querida Ione, todos os dias deposita algumas flores nessa sepultura. Nídia com seu bondoso coração merecia um monumento, aqui em Atenas.
Você menciona a seita dos cristãos, que vai crescendo em Roma. Pois a você, Salústio posso confiar meu grande segredo: também eu pertenço a essa crença.
Após a destruição de Pompéia, tornei a encontrar Olinto... Abençoado seja! Com ele aprendi a crer na existência de um Deus único e verdadeiro, o mesmo que me livrou das garras do leão e dos perigos do Vesúvio. Ouvi, acreditei, adorei. Ione, a quem amo mais que nunca, também abraçou a nova fé"... E por aí vai.
Creio que assim satisfiz a minha curiosidade em torno da questão. O livro planta firmemente esta idéia de que a destruição de Pompéia não se deveu a nenhum fenômeno natural, mas que foi obra da ira e da justiça divina. Alguns dados sobre a destruição são bem interessantes. Vale a leitura.
Vista do Vesúvio, a partir da cidade de Pompéia.

terça-feira, 30 de outubro de 2012

Diário de uma viagem. Palermo e Monreale.

Palermo, como já vimos é a maior cidade da Sicília e a quinta cidade italiana e tida como a mais caótica de todas. A pobreza, o desemprego, a criminiladade e o seu trânsito caótico a marcam.. Possui em torno de um milhão de habitantes. Todos esses fatores negativos, no entanto, não conseguem diminuir a sua beleza e o seu encanto. Talvez ela seja também a mais eclética de todas as cidades italianas. Praticamente todos os povos ali estiveram e deixaram as suas marcas. Por ali passaram gregos, fenícios, cartagineses, romanos, bizantinos, árabes, normandos, franceses, espanhóis, austríacos e ingleses.
O nosso dia se iniciou em Monreale, uma cidade próxima, com uma população de 40.000 habitantes. A maior atração da cidade é a sua catedral - o Duomo Santa Maria la Nuova - cuja construção foi iniciada em 1174, por Guilherme II, o Bom, rei da Sicília, que a teria construído com o ouro acumulado por seu pai, Guilherme I, o Mau. A sua construção seria um pedido da própria Santa Maria.
Uma cena interna da catedral de Monreale.

A beleza deste Duomo está especialmente na sua parte interna. Sofre influências árabes, normandas e bizantinas e se destacam os seus maravilhosos mosaicos. O seu tamanho é gigantesco. Para ter uma idéia, a largura do olho do quadro acima, possui 30 centímetros. Fomos acompanhados por guia local. Só que a gente se perde no volume de informações. Não dá para acompanhar tudo.
 O Duomo de Santa Maria la Nuova, em Monreale. A sua riqueza é interior, mas já na sua fachada dá para ver a presença de diferentes estilos.

A riqueza da igreja está em seus mosaicos e pelos mais de mil e quinhentos quilos de ouro que a enfeitam. Conforme a guia, é a terceira maior igreja com mosaicos do mundo, perdendo para Santa Sofia, em Istambul e para a catedral de Milão. A guia também fez interessantes observações políticas. Falando das riquezas da Sicília, ela as contrastou com o abandono político da região, a partir da Unificação Italiana (1860). Todos os recursos são desviados para o norte rico e industrializado, nos dizia ela. Isso me fez lembrar Gramsci e "A Questão Meridional". Sobre a Itália faremos observações mais adiante. Mas os noticiários da TV são totalmente dominados pela crise.
Mais uma das vistas da catedral de Monreale.

Em Monreale pegamos a nossa primeira chuva na viagem. Chuva forte. Na volta a Palermo a cidade estava simplesmente alagada. Nos falaram que fora a primeira chuva desde maio (era 31 de agosto). Isso é normal por lá. E nós por aqui aprendendo que existe pobreza no nordeste por causa da seca. Eles convivem com ela. No entanto a sua agricultura é muito rica, com a presença da irrigação. A chuva foi rápida e não nos atrapalhou. Os masaicos não estão presentes apenas no interior da igreja. São também o principal produto das lojas de souvenir.
De volta a Palermo fomos a outra catedral, o Duomo, construído em 1184. Como dá para notar, construída quase simultaneamente com a de Monreale e obviamente em caráter de competição. Se a catedral de Monreale se destaca pela riqueza interior, a de Palermo ostenta a sua grandeza em sua parte exterior.
O Duomo de Palermo. A sua imponência maior é externa, enquanto a de Monreale é interna.

As nossas visitas em Palermo passaram, além da catedral, pelo Palácio Real, pela Piazza Pretória e pelo seu famoso mercado. A Piazza Pretória possui belíssimas estátuas da mitologia greco romana e todas estão totalmente nuas, para grande escândalo na época de sua construção. Comenta-se que houve grandes protestos organizados pela Liga das Senhoras Católicas.
A Piazza Pretória em Palermo.

O mercado também é um ponto interessante. Vi também que Palermo é a cidade onde nasceu Tomasi di Lampedusa, aquele do famoso princípio do "mudar para não mudar", encontrado em seu O Gatopardo, que deu origem ao inigualável filme do mesmo nome, ou O Leopardo, já na tradução, de Luchino Visconti e estrelado por Cláudia Cardinale, no auge de seu esplendor.
Cena do mercado de Palermo. Beringela diferente da nossa.

A mexicana, aquela do banho igual aos dos mais pobres de seu país, continuava dando o seu show diário, com as suas malas, exigindo carregadores. Hoje ela foi além. Reclamou com Nikos sobre os roteiros. Como existe gente mal humorada nesse mundo. Parece que são temperadas permanentemente em um barril de vinagre.
Os ferrys que fazem o transporte entre Palermo e Nápoles.

Ouvindo fortes rumores de que a máfia estaria querendo acertar contas conosco tomamos providências para deixar a Sicília. Fizemos isso tomando mais uma vez um ferry, que nos deixaria, no amanhecer do dia seguinte, em Nápoles. A EuropaMundo procura oferecer os mais variados tipos de atrações em suas excursões. Se alguém me perguntar sobre a realização da viagem  dos sonhos de sua vida, não terei dúvida nenhuma em afirmar: vá para a Sicília.

segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Diário de uma viagem. Érice - Trápani - Palermo.

Depois da visita com guia local pelo Vale dos Templos em Agrigento, seguimos viagem até Érice. Viajávamos pela planície, quando de repente estávamos à frente de uma montanha de 750 metros de altura, com uma cidade em cima. Com uma bela cidade em cima. A montanha se chama Eryx, donde lhe advém o nome de Érice. É uma cidade de origem fenícia, posteriormente dominada por Cartago e disputada por gregos e romanos.  O historiador grego Tucídides conta que ela teria sido fundada pelos troianos, após a perda da guerra de Tróia. Já Virgilio, em sua Eneida, aponta que Anquises, o pai do herói troiano Eneas, teria morrido na cidade de Trápani, que se situa no sopé do monte.
Vista da porta Trápani, uma das portas de entrada da cidade de Érice.

A Eneida é uma obra de Virgílio, encomendada pelo imperador para fomentar o espírito patriótico em Roma. E o fez com maestria. Nela Eneas vai ao encontro de Anquises, nos ínferos, para lhe pedir conselhos sobre o bom funcionamento de uma cidade. Visa assim dar consistência sobrenatural a leis humanas. Por causa dessa viagem que Virgílio faz ao mundo do além, com o seu personagem Enéas é que Dante Alighieri toma a Virgílio como o seu guia na viagem pelo inferno, em sua Divina Comédia. Espetacular! Sempre falei para os meus alunos do curso de publicidade e propaganda que a obra de Virgílio era a primeira grande peça publicitária do mundo.
Por ali também teria passado Pirro, o rei grego do Épiro, que a teria conquistado e libertado do domínio cartaginês, ao menos por um ano. Teria sido essa uma das vitórias de Pirro?
Olha o maravilhoso colorido dessa lojinha de souvenir em Érice. Veja a Trináchia, no lado direito da foto.

As vistas lá de cima são maravilhosas e as paisagens sempre estão envolvidas em névoa. Não consegui nenhuma foto de paisagem que me agradasse. As belezas de Érice são quase todas medievais, com a forte presença da religião, por suas igrejas, castelos e mosteiros. Tem castelos, fenícios, mouros e normandos. As suas ruas são muito estreitas e as lojas são revestidas de um colorido maravilhoso. Louças, doces e tapetes constituem a festa dos turistas. Suas muralhas são conservadíssimas.

Vista de uma das muitas igrejas e um castelo da cidade de Érice.

A cidade possui hoje em torno de 25.000 habitantes. Ela não foi poupada pelos aliados, sendo intensamente bomabardeada na segunda guerra mundial. Também vimos os famosos vinhos de Marsala. A cidade de Marsala fica muito próxima. A Sicília produz o dobro de vinhos do que a famosa região da Toscana.
A descida do morro nos levou à cidade de Trápani, uma cidade histórica, sempre ligada à história de Cartago. É cidade portuária e é conhecida como a cidade do sal. Ela tem um desenvolvimento mais recente, especialmente em função das atividades turísticas. Os seus muitos templos integram o barroco siciliano.
Uma das praças da cidade de Palermo, a famosa praça dos Pelados.

A viagem prosseguiu até Palermo. A cidade, com o seu entorno, possui mais de um milhão de habitantes. É a principal cidade da Sicília e a quinta da Itália. Aí ainda tivemos um belo jantar incluso no pacote. sentimos também o peso do trânsito, é algo caótico, mas nada comparável com Curitiba. A visita a Palermo e a vizinha Monreale nos aguardaria para o dia seguinte.



Diário de uma viagem. Siracusa - Noto e Agrigento

Siracusa foi uma das mais importantes cidades do mundo antigo. Foi rival de Atenas e de Roma em poder político e econômico. Sua existência data de quinze séculos antes de Cristo e se tornou colônia grega desde 734 a. C.. Foi tomada pelos romanos no ano de 211. A parte antiga da cidade se localiza numa ilha chamada Ortígia, cheia de encantos e de mitos, como o da fonte Arthemisa. Hoje a cidade possui 125.000 habitantes.
A cidade possui dois teatros históricos: O teatro romano e o teatro grego.
Vista do teatro romano de Siracusa.

O teatro grego foi construído no século V a. C. e está bastante bem conservado. Desta vez fomos contemplados por uma acordo entre Brasil e Itália, com o ingresso gratuito nos sítios dos teatros, para quem tem mais de 65 anos. Em Taormina os beneficiados haviam sido os argentinos. No teatro grego existe a famosa orelha de Dionísio.
A orelha de Dionísio, no magnífico cenário natural onde se encontra o teatro grego de Siracusa.

É impressionante o gosto que os gregos tinham pelo teatro. Eles eram enormes e estão presentes em todas as cidades em que os gregos se fizeram presentes.
Vista do teatro grego de Siracusa.

Na ilha de Ortígia estão as outras atrações históricas da cidade. A sua catedral, construída no século XVIII sobre as ruínas de um templo para a deusa Atena - que datava do século V a. C., em comemoração da vitória sobre os cartagineses - e a famosa e lendária fonte Arthemisa, envolvendo um dos mais belos mitos gregos: o amor de Alfeu não correspondido por Arthemisa. O caso é o seguinte: Existe em Ortígia, a menos de dez metros do mar, uma fonte de água doce. Qual seria a sua origem? A história chegou a ser narrada, inclusive, por Pausânias. Arthemisa, para não corresponder ao amor de Alfeu ( um dos rios de Olímpia), mergulhou no mar e foi sair exatamente nessa fonte, na ilha. Alfeu, enlouquecido, se transforma em rio, no Peloponeso e atravessa o mar subterraneamente atrás da amada e a encontra nessa fonte. Que maravilha! Quanta imaginação.
A fonte Arthemisa, na ilha de Ortígia, em Siracusa.

Outra atração turística da cidade é a catedral de santa Luzia, padroeira da cidade. Nela se encontra um quadro da santa, pintado por ninguém menos do que o artista Caravaggio. Siracusa ambém é a cidade natal do matemático e físico Arquimedes, um dos maiores cientistas do mundo antigo.
A catedral de Siracusa, na ilha de Ortígia.

Antes de seguirmos para Noto almoçamos em Siracusa, já na parte continental. Foi talvez o pior almoço da viagem. Não consegui comer um bife, de tão duro que ele estava. Mas enfim, seguimos para Noto, uma cidade que, injustamente, também não figura nos grandes roteiros turísticos. Ela se notabiliza pelos seus templos barrocos, construídos ao longo do século XVIII, sobre os escombros dos vários terremotos, frequentes na região.
Uma das igrejas do barroco siciliano, na cidade de Noto.

Noto é hoje uma cidade pequena, algo em torno de 25.000 habitantes. Na tarde em que aí passamos também havia uma bela feira de produtos agrícolas. A região se destaca pela produção de amêndoas. As amendoeiras formam um belo espetáculo na época de sua floradas. Revestem tudo de branco, com as suas flores. Algo comparável à florada dos nossos pessegueiros, só que em outro tom. Mas a tarde ainda nos proporcionaria outra das grandes surpresas da viagem. A beleza do Vale dos Templos, em Agrigento.
Quando se fala que se conhece melhor a arquitetura grega visitando a Sicília do que a própria Grécia, certamente se tem em mento a cidade de Agrigento e o seu famoso Vale dos Templos, onde se encontram os conservadíssimos templos de Hera, Concórdia e de Zeus. A noite os templos recebem uma iluminação especial. Como chegamos a noite, foi feito um tour panorâmico para vê-los mais de perto. Na manhã seguinte os visitaríamos, com acompanhamento de guia local.
Vista do templo de Hera em Agrigento.

A guia mais uma vez proporcionou um show de conhecimento. Os templos estão interligados e fizemos uma longa caminhada, facilitada pelo declive do terreno. Hera é a divindade ligada à fertilidade e as suas festas eram orgiásticas, nos contava a guia, que também nos contava da adaptação desses templos aos interesses cristãos, quando não os destruíam. Isso acontecia especialmente com as esculturas.
Templo da Concórdia em Agrigento.

Todos os templos são do estilo dórico. O período de maior espelendor dessa cidade remonta aos séculos VI e V a. C., chegando a ter mais de 300.000 habitantes. Hoje possui 55.000. Chegou a ser administrada pelo modelo da democracia grega, sendo famoso o episódio em que Empédocles se recusou a ser um de seus governantes.
O templo de Zeus, em Agrigento. Foi considerado o maior de todos os templos da antiguidade.

Seguramente que Agrigento foi uma das maiores maravilhas da viagem. Ainda não falei, mas o guia dessa excursão pela Sicília, era um cidadão grego de nome Nikos. Gente boa, finíssima. Agrigento também notabilizou-se na literatura, por ser a cidade natal de um de seus Nobéis, Luigi Pirandello. Amanhã tem mais: Érice Trápani e Palermo.

domingo, 28 de outubro de 2012

Diário de uma viagem. - Taormina.

A Sicília foi seguramente um dos pontos altos de nossa viagem. A sua posição geográfica fez com que ela sempre tivesse uma importância geopolítica sem par. Ela primeiramente foi a Trinachia grega e depois a Sicília romana. Normandos, bizantinos, espanhóis e franceses também estiveram por aí. Foi uma das últimas regiões a integrar a Itália no seu processo de unificação em 1860.
Olha a maravilha dessas flores de cactus na portaria do hotel em Taormina.

A Trinachia é um símbolos mais famosos do mundo, usada por muitas instituições, e lembra a forma triangular que essa ilha tem. A agricultura e as atividades ligadas ao mar, portos e pesca, formam a sua riqueza. Os seus vinhos figuram entre os melhores do mundo. As lavas vulcânicas são responsáveis pela fertilidade de seus solos. Em torno de seis milhões de pessoas a habitam.
Os gregos foram os primeiros a estarem aí. A Sicília integrava a Magna Grécia. O mais famoso tirano grego na Sicília foi Dionísio, que inclusive trouxe para a ilha o famoso filósofo Platão, para educar o seu filho. É evidente que isso não deu certo. Platão teve que fugir. Dionísio foi o tirano de Siracusa e em seu tempo a sua grande cidade rival foi Cartago. Existe um livro muito bom sobre Dionísio, chama-se O Tirano, de autoria de Valério Massimo Manfredi, editado pelo Rocco.
A presença grega é constante na Sicília. Na foto o teatro greco-romano de Taormina.

A Sicília também é famosa pela sua máfia. Lá está a "Cosa Nostra". As outras duas máfias são a Camorra de Nápoles e a Ndrangheta, da Calábria. Muitos buscam as origens da máfia já a partir da Idade Média, mas a sua presença se faz sentir mesmo a partir do século XIX. Ela se caracteriza pela sua extrema violência e também pela sua integração com o povo, meio inspirada em Robin Hood. Cumpriam ou cumprem a função de "responsabilidade social", atundo nas omissões do Estado.
Em Taormina foram filmadas as cenas italianas do filme O Poderoso Chefão, de Coppola, com a atuação espetacular de Marlon Brando e Al Pacino. As filmagens foram feitas nos arredores de Taormina e existe inclusive um pacote especial para visitar esses locais: a igrejinha, o bar... A máfia está sendo combatida especialmente a partir dos anos 80, pela operação "mãos limpas".
Taormina foi fundada pelos gregos, a Naxos. Pelo fato de ali existir um morro chamado Taurus, os romanos a chamaram de Taormina.
A bela cidade de Taormina.

A cidade é a de maior charme da Sicília e também é considerada a mais cara. É o balneário preferido das pessoas famosas de toda a Europa, especialmente as ligadas ao mundo do cinema. A cultura é um de seus traços mais fortes. Foi só entrar numa loja de CDs e DVDs que os filmes de Fellini, de Pasolini apareceram todos, bem como as músicas de Ênio Morriconi. A procura pela cidade por parte de gente famosa não é de hoje. Estiveram ali Goethe, Nietzsche, Wagner e Oscar Wilde.
Iniciamos a nossa visita a partir do teatro greco-romano de Dionísio e visitamos a vila passando pela porta Messina, até a porta Catânia. Ali também almoçamos. Os preços não foram aqueles com os quais nos assustaram, pelo contrário, estvam bem módicos. Só para comparar: pagamos por um chopp de 400ml, a importância de 2,50 euros, enquanto uma médica de Porto Alegre, que estava conosco, pagou 4 euros por uma coca cola.
 
Uma das paisagens entre a porta Messina e porta Catânia.

A tarde ficou inteira a nossa disposição. As praias que constituem a maior fama de Taormina, não se comparam com as nossas. Elas não tem areia. Todo o solo é pedregoso. Não é bom. Machuca os pés. Tomamos uma cerveja e voltamos para o hotel, um show à parte.
Na praia em Taormina. Observem que o solo não é de areia, mas de pedrinhas.

No hotel funciona de tudo. A única bronca nossa foi com relação a horários. Eles fecham mesmo. O jantar tem duas horas de duração. Depois existem outros ambientes. Na primeira noite havia música italiana, com gaiteiro e pandeiros e dançarinas. Estavam vestidos de garibaldinos e garibaldinas. Muita interação com o público. Na segunda noite havia um músico de boa qualidade, mas esse apenas cumpria uma função. Não interagia com o público e nem sequer agradecia as palmas.
Dois cenários do Hotel Antares. A piscina com a vista de fundo para o mar e uma cena noturna com as luzes e os maravilhosos jardins.

os souvenirs do poderoso chefão estão em toda a parte da cidade. Outra presença em Taormina é o Etna, o vulcão mais ativo nos tempos atuais. Perguntado sobre o lugar mais lindo em passamos nessa viagem, respondi de imediato: Taormina. Depois me lembrei que, em falando da Itália, não se deve fazer comparações. Tudo é maravilhoso. O próximo passo: Siracusa, Noto e Agrigento.

sexta-feira, 26 de outubro de 2012

Paulo Freire e um colunista da Gazeta do Povo.

Um jornal precisa de sustentação financeira e de credibilidade. Esses dois fatores jamais podem ser dissociados. A parte financeira, ele a busca com os seus anunciantes e com a venda do seu produto. A credibilidade é conquistada pelo seu número de leitores e especialmente pelos seus assinantes. Creio não errar, ao afirmar que hoje em dia, cada assinante de um jornal de um certo porte, é um formador de opinião. É para cumprir esses dois fatores que o jornal monta uma estrutura que, convenhamos, não é pequena.
O mais importante livro do grande educador brasileiro.

Há um bom tempo sou assinante da Gazeta do Povo e, embora muitas vezes discordando, especialmente de artigos de colunistas, nada havia no sentido de me desfazer de sua assinatura. Aprecio muitos de seus colunistas, como o Cristóvão Tezza, o Veríssimo, o Élio Gaspari, o José Carlos Fernandes, o Belmiro, entre outros. Reconheço igualmente o mérito de muitos de seus editores e repórteres.

Inclusive, me senti muito honrado, quando numa certa oportunidade, compus uma mesa com os premiados repórteres dos "Diários Secretos". Também no jornal trabalham vários dos meus ex alunos, que sempre se situaram entre os melhores. Inúmeras vezes usei a Gazeta na abertura de minhas aulas para pautar os temas em evidência e, a partir deles, fazer análises de conjuntura.

No entanto, na semana passada, mais precisamente numa quinta feira, dia 18, havia uma chamada de primeira página para o artigo de um de seus colunistas, sobre o mais renomado educador brasileiro, Paulo Freire. O artigo desmerece o educador e o culpa como o grande responsável pelo atual fracasso da educação brasileira.

Aí o jornal mexeu com um dos "meus santos". Paulo Freire é um monumento vivo da emancipação humana. E isso está evidenciado já no título de suas principais obras: Educação como Prática da Liberdade; Pedagogia do Oprimido; Conscientização; Pedagogia da Autonomia e Pedagogia da Esperança. Paulo Freire era muito querido mundo afora. Talvez até mais por lá do que por aqui, uma vez que a ditadura não suportou o seu trabalho de alfabetização, vinculado ao projeto de emancipação e conscientização e o baniu do país. "A leitura de mundo precede a leitura da palavra".     

Paulo Freire tem reconhecimento universal. Possui 41 títulos de Doutor honoris causa. Entre as universidades que lhe concederam tal laurel, está simplesmente aquela que é considerada a melhor do mundo: a universidade de Harvard. O reconhecimento de seu trabalho emancipatório através da alfabetização, o levou, inclusive, a ser indicado por inúmeras instituições para o Prêmio Nobel da Paz.

E quem o ataca? Um desconhecido. Ao menos ao longo dos meus 43 anos de carreira acadêmica, nunca vi - uma citação sequer - do tal achacador. Melhor fariam certas pessoas se ficassem recolhidas em sua insignificância, ou então lessem, se dedicassem, que estudassem, para também se referenciarem e aí sim, poderem participar de debates em alto nível.

Recordo uma frase de Romário. Sim, o nosso jogador e hoje deputado, quando ele falava de um certo jogador de futebol. "Quando ele cala, ele é um poeta"!

Quando eu vi o "meu santo" achincalhado, imediatamente liguei para a Gazeta do Povo para fazer o cancelamento da minha assinatura. Finalmente, no dia de ontem, consegui o meu intento. Com Paulo Freire aprendi a ser radical (de raiz - pensamento enraizado, fundamentado) para combater os sectários que procuram com a sua intransitividade, impedir os passos de uma sociedade que, apesar de tudo, ainda está em trânsito.  O tempo é tridimensional! Quem leu Paulo Freire sabe do que estou falando.

Sinto por todos os bons profissionais que a Gazeta tem em seus quadros, mas me sinto no sagrado dever de não contribuir para dar sustentação e voz, àqueles que profundamente contrariam as minhas convicções.

A indignação me levou a tomar essa atitude.

Diário de uma viagem. - Padula e Paola. Rumo à Sicília.

Em Salerno, o guia nos havia alertado sobre a moderna tecnologia do hotel em seus apartamentos. Não deu outra. Pela manhã, em frente ao restaurante onde seria servido o café, uma senhora ao lado de três malas, estava fazendo alvoroço. "Tive que tomar banho, como o povo mais pobre do meu país, de canequinha", bradava ela, exalando os seus preconceitos e, também, a sua ignorância. Ela não soube lidar com os avanços tecnológicos do hotel. Uma das coisas que mais bem funcionou nessa viagem foi o serviço de malas. Praticamente só entrávamos em contato com elas, na frente dos apartamentos ou então para pô-las no corredor. Mas ela não confiava em ninguém e não se desfazia delas em momento nenhum. Sofreu bastante e também incomodou outro tanto o nosso guia. Descobrimos ser ela, mexicana.
O dia seria longo. Teríamos que percorrer mais de 500 quilômetros. A primeira cidade em nosso roteiro foi Padula, que significa pântano. É uma cidadezinha de cinco mil habitantes. Tem duas atrações especiais. A cartuxa de São Lourenço e o museu de Joe Petrosino.
Cartuxa de São Lourenço, em Padula. É considerado o segundo maior mosteiro do mundo.

Cartuxo é o nome de uma ordem religiosa e a cartuxa é simplesmente o mosteiro ou o convento desta ordem. O de Padula data de 1306 e para lá foram apenas monges muito ricos, para se dedicarem a uma vida puramente contemplativa. Os cartuxos vivem em celas individuais e nesta cartuxa de Padula, a menor delas tinha setenta metros quadrados. O mosteiro é enorme e conta-se que Napoleão ali hospedou, de uma só vez, vinte mil soldados. Também é famosa a história de um omelete feito ali, com mais de mil ovos. A cartuxa, ou ainda a certosa de São Lourenço também se tornou conhecida, por ter servido de campo para prisioneiros, durante a segunda guerra mundial.
A cidade ainda fica na região da Campânia e integra o "Parque Nacional do Cilento", que é patrimônio da humanidade. Consta que no Brasil existe uma cartuxa, ou seja, um mosteiro da ordem dos cartuxos, na cidade de Ivorá, no Rio Grande do Sul.
Vista da cartuxa de São Lourenço e dos campos de Padula, do alto desta pequena cidade.

O pequeno povoado, em torno de cinco mil habitantes, se situa numa parte elevada, em torno de setecentos metros. Ali a grande atração é o museu de Giuseppe Petrosino, um policial famoso, nascido na cidade em 1860 e morto em Palermo em 1909. O museu é muito bem conservado e fomos recebidos por um de seus herdeiros, que nos contou a história deste famoso policial. A sua família migrou para os Estados Unidos e ele, Joe, como ficou conhecido nos Estados Unidos, seguiu a carreira policial e ganhou a fama combatendo a máfia.
A entrada da casa museu de Giuseppe Petrosino, em Padula.
Joe era o que se poderia chamar de um policial nato, efetivamente com vocação, tino e faro para ser policial. Entre os seus muitos feitos, que nos foram narrados por um de seus herdeiros, está o fato de ter salvo a vida de Enrico Caruso, numa tournê do cantor pelos Estados Unidos. Morreu vítimado por quatro tiros, em uma praça na cidade de  Palermo, na Sicília.
Junto ao busto em homenagem a Giuseppe Petrosino e com um de seus herdeiros que nos ciceroneou em Padula.
Continuando na estrada, chegamos a um restaurante familiar, uma trattoria, onde mais uma vez comemos o tal do prato turístico, acompanhado de um belo vinho, por um preço muito em conta. Já estávamos em Paola, que se situa na Calábria. Possui quase vinte mil habitantes. Nem padula e nem Paola integram os grandes roteiros turísticos italianos, embora Paola integre as cidades do chamado turismo religioso. Quem seria então o grande santo da cidade. Nasceu em Paola, São Francisco, não o de Assis ou o de Lisboa (que é o mesmo), mas o de Paola, o nosso conhecido São Francisco de Paula. O santo nasceu ali. Em sua homenagem existe uma igreja antiga mas belíssima e, uma basílica nova, enorme. Próximo também existe um colégio de padres jesuítas.
O santuário de São Francisco, em Paola.

A viagem continuou e chegamos ao ponto em que deixaríamos a parte continental da Itália para entrar no território da Sicília. É tudo muito enigmático. A travessia ainda é feita por Ferry. A distância entre a Villa de San Giovanni, no continente, até Messina, na ilha, é de apenas 3,3 quilômetros. A construção de uma ponte sempre é anunciada, porém nunca executada. Terá que ser uma ponte em arco. Os projetos anunciam dois arcos de 383 metros. A questão é a seguinte: existe a tecnologia para a construção dessa ponte? O desnível entre as duas cidades é muito grande e, ainda uma outra questão que não pode ser menosprezada. Ela resistirá aos abalos sísmicos, que são constantes na região. Em 1908 Messina foi praticamente destruída por um terremoto. Na ocasião morreram 81.000 pessoas. Na noite passada houve tremor de terra na Calábria. A outra questão é a seguinte: A máfia deixará construir essa ponte?
Em todos os casos fizemos a travessia em Ferry e continuamos até chegar em Taormina. Nesta cidade tínhamos um encontro marcado com o Poderoso Chefão, bem em frente a igrejinha da cidade, aquela que aparece no filme, no primeiro deles. Nos hospedamos, naquele que foi o melhor hotel de toda a excursão.
A igrejinha de Taormina, aquela que aparece no filme O Poderoso Chefão.
  

quinta-feira, 25 de outubro de 2012

Diário de uma viagem. - Capri - Sorrento - Salerno.

A ilha de Capri é um luxo só. Situa-se no Golfo de Nápoles, na costa amalfitana. É muito pequena, metade da ilha de Fernando de Noronha. Seis quilômetros de extensão por dois de largura. Moradia das sereias, onde cada pedra e cada gruta tem uma história. É formada por dois vilarejos: Capri, em baixo e Anacapri, no alto e tem uma população de doze mil habitantes. É um dos locias mais luxuosos do mundo. Anacapri, no alto, é uma boutique só. As grandes marcas mundiais estão ali presentes.
Vista da ilha de Capri, para quem nela chega de barco.

Saímos de Nápoles pela manhã em um barco, numa travessia belíssima. De um lado você vai avistando a ilha e do outro o majestoso Vesúvio. Os barcos são semelhantes aos do Rio de janeiro, aqueles que te levam para Niterói, ou para a ilha de Paquetá. O nosso guia nos falava que Capri não é a mais bela das ilhas italianas, mas é de longe a mais famosa. As suas origens remetem ao imperador Augusto, mas ela ganhou efetivamente a sua fama com Tibério, que ali construiu uma vila com doze mansões.
 Chegando à ilha, uma das opções é a de fazer o seu contorno. Foi o que a maioria do nosso grupo fez. O dono do barco era, ao mesmo tempo o barqueiro e o animador da turma e, este papel ele cumpriu muito bem, com um belo toque entre o humor e a ironia.
Ele nos mostrava a casa do escritor Malaparte, pintada de vermelho, obviamente. Ele era comunista. Nos mostrava a vila de Tibério, a casa do dono da Armani, do da Ferrari, a gruta tal e tal, a passagem tal. Nos mostrava ainda os hotéis de luxo de diárias a partir de mil euros e restaurantes, onde segundo ele, "se come por um e se paga por dez".
Pelo formato dessas rochas e pela proximidade com a vila de Tibério, esta paisagem ganhou o nome de "os cornos de Tibério", segundo o dono do barco responsável pelo nosso passeio.

Uma das coisas mais maravilhosas em Capri é a cor das águas e a mudança de seu colorido. Ora são muito verdes, ou muito azuis, em outras partes. O contorno da ilha é um desses passeios inesquecíveis. Sua paisagem muda em questão de minutos e sempre é muito agradável.
Segundo o dono do barco, ao cruzar esta passagem e dando um beijo na boca da pessoa com quem você está, você ficará com ela, por no mínimo, mais 25 anos.

Um dos encantos maiores da ilha, a sua paisagem efetivamente cartão postal, é a Grotta Azzurra. O local nem sempre é acessível em função das marés. O seu interior só pode ser atingido por pequenas embarcações. No nosso caso, o acesso não foi possível.  Apenas nos aproximamos. O passeio dura em torno de duas horas e custa dezesseis euros.
A Grotta Azzurra, o cartão postal por excelência da ilha de Capri.

Como já afirmei, a ilha é formada por dois vilarejos: Capri e Anacapri. O acesso a Anacapri é feito por um funiculari, um bonde, seguro por cabos que anda sobre trilhos. Creio que é semelhante àqueles que dão acesso ao cristo Redentor, no Rio de janeiro. Recebemos do guia a orientação para fazer a refeição em Capri e não em Anacapri, uma vez que os preços sobem na mesma proporção da elevação do terreno. Mesmo assim, paga-se em Capri, sete euros por um chopp de 400mls.
Vista a partir de Anacapri.

Os funiculari são muito comuns na Itália, uma vez que a sua geografia é muito acidentada. Fazem parte também do imaginário popular. É muito conhecida no Brasil a canção "funiculi - funiculá", uma canção composta em 1879 em homenagem ao primeiro funiculari no Vesúvio, nas proximidades de Nápoles. Cuidado para não confundir a canção com o folclore italiano. Isso pode custar direitos autorais, como ocorreu com Straus, que a incluiu na sua sinfonia Aus Italien.
A nossa volta não se deu novamente por Nápoles, mas para Sorrento, já um poco mais ao sul. Sorrento é uma pequena cidade, de uns vinte mil habitantes, totalmente voltada para a cultura. Ela está construída sobre uma enorme falésia e só é acessível, a partir da região em que se situa o seu porto, por um elevador.
Sorrento, uma cidade construída em cima de uma falésia.

A economia da cidade está voltada para a agricultura, especialmente frutas. O seu produto mais característico é o famoso licor de limoncello, feito a partir do limão siciliano, a bebida de Sorrento e muito apreciada em toda a Itália.
Uma das particularidades da cidade é a de ser a cidade natal do poeta do renascimento italiano do século XVI, Torquato de Tasso, autor de Jerusalém Libertada. Nela são cantados os feitos dos cristãos contra os muçulmanos por ocasião da primeira cruzada. Sorrento sempre foi considerada como a cidade que servia de guarda de entrada para o Golfo de Nápoles.

Monumento em homanagem a Torquato de Tasso, na cidade de Sorrento.

De Sorrento partimos para Salerno, agora morro abaixo. A descida lembra a da Serra do rio do Rastro em Santa Catarina. Salerno possui mais de um milhão de habitantes e é o terceiro maior porto italiano. As referências a ela sempre estão associadas a sua riqueza: a opulenta Salerno. Sua história acompanha a de toda a região. Domínio Grego, Romano, Ostrogodos, Bizantinos, Sacro Império... Unificação italiana, a grosso modo. Foi uma das cidades mais castigadas na Segunda Guerra Mundial, pois foi por seu porto que as forças aliadas penetraram na Itália em 1943.
O guia ainda nos falou que a cidade é famosa pelo seu macarrão, ou ali teria começado o seu processo de industrialização. De fato. Procurando a respeito, percebi que Salerno, junto com Palermo, disputam o início de um processo de secagem não natural, não ao sol, do macarrão e que isso está vinculado com o processo de sua indsutrialização.
Salerno não possui a marca de ser uma cidade turística, embora isso seja meio impossível em qualquer cidade italiana. Nos hospedamos num moderníssimo hotel, para no dia seguinte chegarmos a Sicília, mas passando antes por Padula e Paola.
Um por do sol na cidade portuária de Salerno.