Antes de sair da região do Peloponeso e da Grécia, de se despedir de seus mitos e de suas histórias quero deixar uma dica de leitura fundamental. Para entender a cultura grega creio que nenhum livro é tão significativo, quanto o Paidéia - A Formação do Homem Grego, do alemão Werner Jaeger. No Brasil o livro é editado pela Martins Fontes. E falando de livros e da Grécia em particular, mais uma dica sobre mitologia. O livro As mais belas histórias da antiguidade e da cultura clássica - Os mitos da Grécia e de Roma de Gustav Schwab, em três volumes e editado pela Paz e Terra.
Bem, falamos no texto anterior, que neste momento da viagem entramos em contato real com a crise grega. O nosso pacote original previa não sairmos da região do Peloponeso. Daí mesmo pegaríamos um barco na cidade de Patras e faríamos a travessia, até a cidade Bríndisi, já na Itália, numa distância de aproximadamente 200 quilômetros, a menor entre os dois países pela via marítima e, por isso mesmo, muito utilizada. Acontece que com a crise, os barcos gregos estão em situações lamentáveis, nos informou Antônio, o guia que nos acompanhou por toda a Grécia. Especialmente os barcos com cabines para os passageiros. Para evitar esses barcos, voltamos para a parte continental e fomos novamente a Igoumenitsa e fazer a travessia a partir dessa cidade.
Vista da ponte estaiada da cidade de Patras.
Mesmo assim tivemos que passar pela cidade de Patras. Ela é a terceira maior cidade grega e tem, segundo o guia, em torno de 400.000 habitantes. É o maior porto da região e é o grande centro comercial, universitário e cultural da região. Por ela volatmos a parte continental. Ainda em Atenas ouvimos falar da ponte estaiada da cidade, recebendo a informação de que seria a maior ponte do gênero no mundo, fato que não consegui confirmar pelas pesquisas no Google. Aí ela, as vezes aparece como a segunda maior do mundo e, outras não aparece nem entre as dez maiores. Ela possui 2,8 quilômetros de extensão e um vão de 27 metros de largura. Foi inaugurada em 2004.
Acho interessante, dar esses dados uma vez que nessas eleições municipais de Curitiba, a construção de uma ponte estaiada deu muito que falar, em função de seus altos custos. Na Grécia, no entanto, não ouvi e não vi ninguém fazer uma relação entre o seu custo e a atual crise grega. Também seria demais.
De Patras fomos a Anfiloquia. Pesquisando sobre a cidade quase nada encontrei, a não ser a sua efetiva participação nos protestos contra a crise grega na semana passada. Por isso fico com as informações do guia, que nos contou que a parte histórica desse lugar se deve à vitória que Otávio obteve sobre Marco Antônio nas guerras romanas, aquelas que vocês devem vagamente se lembrar, que ocorreram com a formação dos triumviratos.
Uma bela igreja nesta região de Anfiloquia.
Em Anfiloquia paramos para tomar uma cerveja, já que, com as alterações de horário e de rota, tínhamos tempo sobrando. Paramos num restaurante e fomos muito bem atendidos pelo seu proprietário, o senhor Constantino. Ele nos contou a sua história. Era um estudante de ciência política na Itália, quando seu pai faleceu. Tendo que retornar e não encontrando trabalho, teve que tocar o restaurante, herdado da família. "Foi a única alternativa que me sobrou, nos contou ele, com uma profunda tristeza".
Tomando cerveja com Constantino, um anarquista grego. Gente boa.
Como o meu colega domina o italiano conseguimos um bom entendimento com ele. Quando nos deu um cartão do seu restaurante, solicitei o seu e-mail. Que surpresa. A resitência ao mundo virtual fez com que ele ainda tenha entrado no mundo do computador e da internet. Nos contou bastante coisa do sentimento do povo com relação a crise.
Jantamos em Igoumenitsa e tivemos uma espera quase infinita. A travessia só foi acontecer às 3,30 da madrugada. A espera não foi nada agradável.
O nosso último por do sol na Grécia, em Igoumenitsa.
Os barcos são muito usados para fazer estas travessias. É uma questão econômica. Se fosse para chegar à Itália por via terrestre, a distância seria enorme, via antigos países da Iuguslávia. O tempo também coincidiu com o período de férias, o que fez o movimento aumentar em muito. Os italianos estão adorando os preços gregos e a grécia recebe então os italianos em suas praias. Como essa travessia é feita raras vezes, eles se submetem a todo o desconforto de uma noite. Na espera dormem ao lado dos carros e na travessia não usam cabines, dormindo amontoados pelo chão. Foi a única vez que nos exigiram a apresentação do passaporte. Parece um campo de refugiados. Nunca senti tão violentamente a questão social de quem usa uma cabine e de quem não a usa. Praticamente você passa por cima das pessoas. Mas, afinal de contas, por volta do meio dia chegamos ao porto de Bríndisi, de volta ao território italiano para uma bela semana no sul da Itália, especialmente na ilha de Sicília, a Trináchia grega.
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