De Kalambaca seguimos rumo a Defos, no caminho para Atenas. Delfos é mitologia e história pura. Situa-se no golfo de Corinto e a região foi o cenário para muitas lutas das chamadas guerras médicas, entre os gregos e os persas, talvez a segunda das muitas guerras entre o ocidente e o oriente, isso se a guerra de Tróia puder ser considerada como a primeira.
Na região se desenvolveram as batalhas de Maratona, a batalha heróica do desfiladeiro das Termópilas, a batalha de Salamina e a decisiva de Platéia, em 479 a. C., quando os gregos venceram os persas. Quanta história! E os relatos destes fatos narrados por Heródoto nos remetem às origens, do que hoje se chama de historiografia. As guerras entre gregos e persas visavam o domínio do Mar Egeu e de toda a Ásia Manor. O mar Egeu banha a parte leste da Grécia, entre a Grécia e a Turquia. Do outro lado se situa o Mar Jônico. Delfos é especialmente famosa, pelo monte Parnaso, aos pés do qual se localiza o sítio arqueológico de Delfos. Delfos também é patrimônio cultural da humanidade.
Vista de um dos templos do sítio arqueológico de Delfos.
Delfos era considerada pelos gregos como o centro do mundo (Cusco também o era para os incas). Conta o mito, que a região era habitada por uma enorme serpente de nome Pítias. Apolo, por uma série motivos, havia matado esta serpente, que por sua vez era filha de Géia, ou Gaia, a terra. Um dos templos de Delfos foi dedicado a Apolo. A lenda ainda conta que em Delfos havia uma fonte que emitia vapores. Além disso havia ventos constantes na região. A associação entre estes ventos e vapores fez com que eles fossem considerados como sinais que Gaia mandava para os homens. Os intérpretes destes sinais da terra deram origem ao oráculo e estes recebiam o nome de Sibila. Os oráculos interpretavam e transmitiam aos humanos os desejos de Gaia.
A serpente é um dos animais mais sagrados de toda a cultura clássica e que, exatamente por rastejar e estar em constante contato com a terra, é que ela estabelece a relação entre a mesma e os homens. Não é por nada que a serpente é o animal símbolo da farmácia e da medicina. Dos oráculos são famosos os princípios do "conhece-te a ti mesmo" e o do "nada em excesso", que seguramente também são fortes princípios da medicina psicosomática. Que bela relação é esta esta entre a serpente, a terra e os homens e também este reverenciamento à Gaia, à natureza, de quem afinal, tudo recebemos. Creio que é lícito estabelecer uma relação com a Pachamama inca, em que esta relação também é muito forte. Depois o cristinismo calou a voz dos oráculos e, dele (cristianismo) recebemos, pela via do judaísmo, a satanaização da serpente e o significado humilhante do verbo rastejar. As alturas é que são divinizadas e é de lá, dos céus, que vem todas as dádivas, as chamadas dádivas divinas. Elas não vem de Géia, da terra. Belas reflexões para fundamentar a ecologia!
Vista do teatro de Delfos.
O sítio arqueológico é muito bem conservado. Aí são encontrados templos, ginásios, o teatro, e o estádio.
Talvez tenha sido uma das cidades mais sagradas da Grécia, especialmente pelo fato de ali se lidar com o futuro. E lidar bem com o futuro é o componente fundamental de qualquer ideologia ou doutrina que queira se afirmar e ter seguidores.
Vista do estádio de Delfos, mais precisamente, a curva dos fundos desse estádio.
Do oráculo também ficou famosa a profecia de que Sócrates seria o mais sábio entre os gregos. Os ciúmes dos sofistas levaram então Sócrates ao julgamento e a narrativa desse julgamento, feita por Platão, na Apologia de Sócrates, legou para a humanidade o seu primeiro grande tratado de ética. Em função desse grande valor sagrado, religioso e mítico, Delfos foi também uma das mais ricas das cidades gregas e, ali eram acumulados muitos de seus tesouros e riquezas. Em Delfos encontra-se ainda um grande museu, com as principais peças do antigo sítio, o Museu Arquelógico de Delfos. O ingresso, válido tanto para o sítio, como para o museu, salvo engano, custa oito euros.
Mais uma vista do sítio arqueológico de Delfos.
Para sentir os ares de Delfos e ter boas premonições para o futuro, mas sem consultar nenhuma pitonisa, almoçamos sob as sombras de uma árvore, em local muito próximo ao sítio arqueológico.
Delfos - a sua história e os seus mitos - certamente merece este brinde. E que o futuro seja radiante!
Após o almoço seguimos em direção a Atenas, onde ainda nos aguardaria um tour panomâmico pela cidade, com guia local. Nos instalamos no hotel espetacular e, espetacularmente situado e iniciamos o tour. Adivinhem por onde ele começou? Pela Acrópole, evidentemente. Mas por hoje, apenas uma foto. Amanhã eu conto. Além do tour, teríamos ainda um dia inteiramente livre em Atenas.
Uma foto clássica da Acrópole, em Atenas.