Inicio este meu diário sobre a Grécia com algumas estatísticas. Faço isso, especialmente em função da crise, pela qual este país está passando. Nos jornais de hoje estão estampadas as notícias dos protestos de rua, ontem, em função da visita a Atenas, pela primeira ministra alemã, Angela Merkel. Vou estabelecer alguns dados comparativos com o Paraná.
O PIB da Grécia é de 294.339 bilhões de dólares. O total da dívida grega é de 1,52 vezes o seu PIB. O déficit orçamentário grego alcança entre 12 e 13% do seu PIB a cada ano. O PIB do Paraná é de 251.6 bilhões de dólares. A renda per capita grega é 26.293 dólares, enquanto a do Paraná é de 10.725 dólares. O IDH grego é de 0.855, isto é, muito alto. A extensão territorial da Grécia é de 131.990 Km², sendo que 80% de seu território é montanhoso e apenas 28% de suas terras são cultiváveis. A cadeia de montanhas da Grécia chama-se Pindo e tem a altitude média de 2.650 metros. É, portanto, uma região muito acidentada. O território paranaense é formado de 199.880 Km². A sua população gira em torno de 11 milhões de habitantes. Outros 10 milhões vivem fora do país, especialmente nos Estados Unidos e na Austrália.
A Grécia vive em crise, a maior de todas as crises da região do euro. Vislumbram-se saídas? Por enquanto não. Esses dias o primeiro ministro grego comparou a situação grega atual, com aquela vivida pela Alemanha, ao final da República de Weimar, que criou as possibilidades para o surgimento de Hitler e do nazismo. O campo está favorável para os extremismos.
A partir desses dados, uma primeira questão. A Grécia não é um país pobre. É um país desenvolvido e está em crise. Nos países ricos existe a crise, nos países pobres existe a miséria. Pelas informações colhidas, a crise se deve especialmente aos gastos públicos e mais especificamente ao grande número de funcionários públicos. Com isso, o estado proselitista mantinha os mesmos grupos políticos no poder. Nos disse o guia, que este número de funcionários chega quase ao mesmo número que existe na Alemanha. Todos os dados sociais gregos são invejáveis: saúde, educação, IDH. O nível educacional também é comparável aos padrões alemães. Em função disso seus emigrantes, facilmente arranjam empregos nos países para os quais se deslocam. Na Grécia de hoje dificilmente um jovem arruma, em primeiro lugar, um emprego e, em segundo, quase nunca na área em que se formou.
A crise é por corrupção, baixa competitividade de sua economia e o absoluto descontrole nos gastos públicos. Só mais um dado comparativo: há quantos anos o Brasil tem superávits orçamentários anuais, em torno de 4% de seu PIB (Para pagar juros). Li, a notícia de que a Grécia tem dificuldade em fazer privatizações, pela falta de compradores para as suas empresas. Existem inclusive sugestões despropositadas, por parte dos organismos financeiros mundiais, para que a Grécia venda algumas de suas ilhas para os tais dos bilionários globais.
O que significaria a saída da Grécia da zona do Euro e o que isso significaria, do outro lado, para o Euro? Deixo a interrogação para a resposta dos economistas. Para além da questão econômica, pesa fortemente, na questão grega, a sua questão simbólica. O mundo ocidental se formou a partir da Grécia. Numa rápida passada pela Wikipédia, encontramos ali o início da democracia, da filosofia, dos jogos olímpicos, da literatura, da historiografia, da ciência política, dos princípios matemáticos e do teatro, nos seus gêneros de drama, de tragédia e de comédia. Procurarei falar um pouco disso, ao longo da viagem.
Para entender também um pouco melhor a Grécia é interessante ver alguns dados de sua história, especialmente a partir de seu período arcaico. Anterior a isso, de famoso mesmo, temos a guerra de Tróia e os seus relatos através da Iliada e da Odisséia. O período arcaico teria se iniciado com a realização dos primeiros jogos olímpicos em 776 a. C., e continuado com Solon e o lançamento dos fundamentos da democracia, a realização da Confederação de Delos, as guerras contra os persas, as guerras do Peloponeso e a sua decadência com a conquista de Alexandre da Macedônia (323 a. C.) e o início da helenização. Depois vem o domínio Romano, o domínio Otomano e, finalmente, a recupreação de sua independência no início do século XIX. (1821).
Bem, voltamos a nossa viagem. Desembarcamos em Igoumenitsa, um pequeno porto a noroeste da Grécia e, 670 km. distante de Atenas. As cidades são interligadas por uma moderna auto estrada. Não a seguimos. A nossa direção era outra, rumo ao nordeste, para a cidade de Ioanina.
Vista de uma igreja em Ioanina. Nota-se a presença da bandeira azul e branca, da Grécia e a bandeira amarela, símbolo da igreja ortodoxa grega.
Ioanina é a capital da região do Épiro e possui uma população em torno de cem mil habitantes. É um centro comercial e de produção, com destaque para a pecuária leiteira, para a avicultura e a de ovinos. Possui inúmeros mosteiros da igreja ortodoxa e é toda cercada de muralhas. A sua história passa por constantes conquistas e dominações: normandos, bizantinos, venezianos, albaneses, sérvios. A cidade situa-se junto as fronteiras da Albânia. Junto a cidade está um belo lago, que possui uma ilha, onde almoçamos. Pela primeira vez o carneiro entrou em nosso cardápio. Ele é muito presente nas refeições gregas. A Grécia é conhecida pela sua culinária, muito boa e barata.
Vista do lago que banha a cidade de Ioanina.
Vista das muralhas que cercam e protegem Ioanina.
Após o almoço seguimos para Kalambaca. Neste dia estamos fazendo um percurso de 260 km. em rodovias e é sobre elas que eu quero fazer uma observação toda especial. Irei escrever mais sobre isso. Estrada para eles é uma concepção. O que efetivamente me chamou atenção foi a sua conservação e a sua forma. Estou falando das auto estradas. Elas são feitas para que nelas não ocorram acidentes. Isso passa por duas questões: uma é técnica, de engenharia, a outra é financeira, os seus custos. Elas são retas e planas, em praticamente todo o seu percurso e nada atrapalha o seu fluxo. Quando não são enormes túneis, ela passa sobre elevados, também enormes. E olha que só passamos por regiões montanhosas acidentadas. A vida humana precisa ser preservada. Nos meus apontamentos anotei o seguinte: se for pelas estradas e a sua manutenção, a Grécia não está passando por nenhuma crise.
Mas, enfim chegamos a Kalambaca.
Vista de uma das meteoras de Kalambaca.
Kalambaca ou Kalabaka provocou o primeiro grande Oh! desta viagem. As meteoras são enormes rochas montanhosas, que segundo os mitos locais, teriam sido jogadas ai pelos deuses, quando então adquiriram as suas formas. Elas tem uma enorme simbologia. O lugar ficou muito conhecido durante a segunda guerra mundial e aí gregos e italianos guerrearam, com a vitória dos gregos. Hitler socorreu os italianos bombardeando o local, atingindo inclusive os seus mosteiros. Voltando a simbologia. Altitude ou altura sempre foi símbolo de poder. No alto destas meteoras estão encravados mosteiros, em que os seus monges se comunicavam diretamente com Deus. Os mosteiros são de dificílimo acesso e os materiais para a sua construção e depois para a alimentação, aí só chegavam por cordas e roldanas. Visitamos dois deles e num deles havia um monge. Fomos acompanhados por uma guia local. Nas capelas dos mosteiros existem quadros famosos, inclusive afrescos de um dos mestres de El Greco. Só há pinturas, nunca esculturas. O local de tão bonito que é, foi declarado patrimônio cultural da humanidade. Hoje os monges apreciam menos este local, em função do grande movimento existente. Na região também existe muito turismo de inverno.
Vista de um mosteiro entre as frestas das meteoras.
Na rua a cerveja já estava bem mais em conta. 2,50 euros. Aproveitamos. De noite, tivemos o primeiro jantar incluso no pacote. Jantar em restaurante de hotel de quatro estrelas. Amanhã vamos contar mais sobre a Grécia e sobre Delfos.