sexta-feira, 26 de outubro de 2012

Diário de uma viagem. - Padula e Paola. Rumo à Sicília.

Em Salerno, o guia nos havia alertado sobre a moderna tecnologia do hotel em seus apartamentos. Não deu outra. Pela manhã, em frente ao restaurante onde seria servido o café, uma senhora ao lado de três malas, estava fazendo alvoroço. "Tive que tomar banho, como o povo mais pobre do meu país, de canequinha", bradava ela, exalando os seus preconceitos e, também, a sua ignorância. Ela não soube lidar com os avanços tecnológicos do hotel. Uma das coisas que mais bem funcionou nessa viagem foi o serviço de malas. Praticamente só entrávamos em contato com elas, na frente dos apartamentos ou então para pô-las no corredor. Mas ela não confiava em ninguém e não se desfazia delas em momento nenhum. Sofreu bastante e também incomodou outro tanto o nosso guia. Descobrimos ser ela, mexicana.
O dia seria longo. Teríamos que percorrer mais de 500 quilômetros. A primeira cidade em nosso roteiro foi Padula, que significa pântano. É uma cidadezinha de cinco mil habitantes. Tem duas atrações especiais. A cartuxa de São Lourenço e o museu de Joe Petrosino.
Cartuxa de São Lourenço, em Padula. É considerado o segundo maior mosteiro do mundo.

Cartuxo é o nome de uma ordem religiosa e a cartuxa é simplesmente o mosteiro ou o convento desta ordem. O de Padula data de 1306 e para lá foram apenas monges muito ricos, para se dedicarem a uma vida puramente contemplativa. Os cartuxos vivem em celas individuais e nesta cartuxa de Padula, a menor delas tinha setenta metros quadrados. O mosteiro é enorme e conta-se que Napoleão ali hospedou, de uma só vez, vinte mil soldados. Também é famosa a história de um omelete feito ali, com mais de mil ovos. A cartuxa, ou ainda a certosa de São Lourenço também se tornou conhecida, por ter servido de campo para prisioneiros, durante a segunda guerra mundial.
A cidade ainda fica na região da Campânia e integra o "Parque Nacional do Cilento", que é patrimônio da humanidade. Consta que no Brasil existe uma cartuxa, ou seja, um mosteiro da ordem dos cartuxos, na cidade de Ivorá, no Rio Grande do Sul.
Vista da cartuxa de São Lourenço e dos campos de Padula, do alto desta pequena cidade.

O pequeno povoado, em torno de cinco mil habitantes, se situa numa parte elevada, em torno de setecentos metros. Ali a grande atração é o museu de Giuseppe Petrosino, um policial famoso, nascido na cidade em 1860 e morto em Palermo em 1909. O museu é muito bem conservado e fomos recebidos por um de seus herdeiros, que nos contou a história deste famoso policial. A sua família migrou para os Estados Unidos e ele, Joe, como ficou conhecido nos Estados Unidos, seguiu a carreira policial e ganhou a fama combatendo a máfia.
A entrada da casa museu de Giuseppe Petrosino, em Padula.
Joe era o que se poderia chamar de um policial nato, efetivamente com vocação, tino e faro para ser policial. Entre os seus muitos feitos, que nos foram narrados por um de seus herdeiros, está o fato de ter salvo a vida de Enrico Caruso, numa tournê do cantor pelos Estados Unidos. Morreu vítimado por quatro tiros, em uma praça na cidade de  Palermo, na Sicília.
Junto ao busto em homenagem a Giuseppe Petrosino e com um de seus herdeiros que nos ciceroneou em Padula.
Continuando na estrada, chegamos a um restaurante familiar, uma trattoria, onde mais uma vez comemos o tal do prato turístico, acompanhado de um belo vinho, por um preço muito em conta. Já estávamos em Paola, que se situa na Calábria. Possui quase vinte mil habitantes. Nem padula e nem Paola integram os grandes roteiros turísticos italianos, embora Paola integre as cidades do chamado turismo religioso. Quem seria então o grande santo da cidade. Nasceu em Paola, São Francisco, não o de Assis ou o de Lisboa (que é o mesmo), mas o de Paola, o nosso conhecido São Francisco de Paula. O santo nasceu ali. Em sua homenagem existe uma igreja antiga mas belíssima e, uma basílica nova, enorme. Próximo também existe um colégio de padres jesuítas.
O santuário de São Francisco, em Paola.

A viagem continuou e chegamos ao ponto em que deixaríamos a parte continental da Itália para entrar no território da Sicília. É tudo muito enigmático. A travessia ainda é feita por Ferry. A distância entre a Villa de San Giovanni, no continente, até Messina, na ilha, é de apenas 3,3 quilômetros. A construção de uma ponte sempre é anunciada, porém nunca executada. Terá que ser uma ponte em arco. Os projetos anunciam dois arcos de 383 metros. A questão é a seguinte: existe a tecnologia para a construção dessa ponte? O desnível entre as duas cidades é muito grande e, ainda uma outra questão que não pode ser menosprezada. Ela resistirá aos abalos sísmicos, que são constantes na região. Em 1908 Messina foi praticamente destruída por um terremoto. Na ocasião morreram 81.000 pessoas. Na noite passada houve tremor de terra na Calábria. A outra questão é a seguinte: A máfia deixará construir essa ponte?
Em todos os casos fizemos a travessia em Ferry e continuamos até chegar em Taormina. Nesta cidade tínhamos um encontro marcado com o Poderoso Chefão, bem em frente a igrejinha da cidade, aquela que aparece no filme, no primeiro deles. Nos hospedamos, naquele que foi o melhor hotel de toda a excursão.
A igrejinha de Taormina, aquela que aparece no filme O Poderoso Chefão.
  

Um comentário:

  1. Cabra macho,na Sicília,morre assim: de tiro. Ah,só lembrando, lhe odeio por ter ido aí.

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