quarta-feira, 27 de maio de 2015

Frei Betto. Sua entrevista na revista CULT.

Já faz alguns anos que sou assinante da revista Cult. Ela me aproxima do ambiente cultural que vivi nos dois anos de mestrado na PUC de São Paulo. Sempre tínhamos personalidades do mundo intelectual, presentes  em palestras e debates acadêmicos. Aprecio as entrevistas, geralmente de personalidades do mundo cultural que passam pela cidade ou de estudiosos e especialistas nos grandes intelectuais da humanidade, com destaque para a filosofia. Dá gosto em ser assinante.
Capa da revista Cult do mês de maio, número 201. Destaque para a psicanálise e a entrevista de frei Betto.

A revista do mês de maio, a de número 201, traz uma entrevista com o frei Betto com a seguinte chamada de capa: "Não é fácil ser de esquerda em um mundo tão sedutor quanto o do capitalismo neoliberal". Parece que o mundo do desejo, do imaginário, dos sonhos sempre se sobrepõe ao mundo da realidade. A entrevista tem a apresentação de Manuel da Costa Pinto e as perguntas são dirigidas ao literato, ao religioso e ao político, que são exatamente os seus campos de atuação.
O chamado de capa para a entrevista com frei Betto.

Tenho a felicidade de conhecer o Frei Betto, pessoalmente. Ele fez parte de minha formação nos cursos do Instituto Cajamar e o ouvi em várias palestras aqui em Curitiba e também em suas participações no Fórum Social Mundial, em Porto Alegre. Não o vejo faz um bom tempo. Não conheço o ficcionista, mas conheço bem o memorialista de Batismo de Sangue, A Mosca Azul  e Calendário do Poder. A sua presença sempre é iluminadora. Ele está atualmente com 71 anos de idade.

A entrevista se compõe de 14 perguntas. As primeiras se dirigem ao escritor, sobre as origens de sua vocação literária, de como concilia a atividade literária com a política e sobre a influência das ideologias em sua literatura. Frei Betto vem de um lar letrado, pai advogado e cronista e mãe escritora, livros de culinária. Na escola se distinguia pela qualidade do texto de suas redações, nas quais antecipava o futuro escritor. Este emergiu dos cárceres da ditadura militar, onde esteve preso por duas vezes. As cartas da prisão marcam a sua estreia como escritor.
Frei Betto, 71. O escritor, o religioso e o político.

Na entrevista afirma que procura afastar por completo as ideologias de sua literatura e que o seu campo preferido é o da ficção, o mundo dos mistérios. Dedica 120 dias do ano exclusivamente à escrita. Em tempos de aridez, diz, lê Machado de Assis. Isso me lembrou uma outra afirmação sua, de sua devoção por Santa Tereza d'Avila, nas crises de fé. Confessa que foi leitor voraz de Jorge Amado e de Érico Veríssimo, como mais tarde de Sartre e de Camus.

Depois dessas perguntas o tema se centra na política. Sobre o ser esquerda hoje, sobre o PT e o seu projeto e sobre os desvios deste seu projeto original. As perguntas finais estão relacionadas com os temas ligados a moral e aos dogmas religiosos, ou não, como o aborto e às relações homoafetivas, terminando com a redução da maioridade penal e, ainda, sobre o impeachment  da presidente Dilma.

O tema da política é introduzido com o final da resposta sobre a questão de ser esquerda hoje. Vejam "Não é fácil ser de esquerda  em um mundo tão sedutor quanto o do capitalismo neoliberal. Daí o problema do PT, que foi perdendo o horizonte  histórico de um projeto Brasil e trocando-o pelo horizonte imediato de um projeto de poder". Daí seguem as seguintes perguntas: "Quando percebeu que o PT abandonou seu projeto inicial"? "Se você já havia se decepcionado desde a "Carta aos Brasileiros", por que participou do programa Fome Zero, do governo Lula"? "Você chegou a escrever que o PT faz "populismo cosmético" e "Os católicos de esquerda foram preteridos pelo PT por conta dos compromissos com os evangélicos"? Vamos ver algo das respostas.
Certamente o livro de maior repercussão do escritor. Também foi levado ao cinema.

A primeira resposta já está evidenciada na pergunta seguinte. A decepção começou com a "Carta aos Brasileiros" e com a opção de fazer um governo tradicional, com o mercado e com o Congresso e não com os movimentos populares e que por isso, "agora está refém dos dois e pagando um preço muito alto. Tanto que chamou um homem do mercado para ver se melhora a economia e entregou a parte política para o PMDB". Para a segunda questão respondeu que entrou por entusiasmo e por ver no Fome Zero um programa emancipador, mas assim que viu que ele foi substituído por um programa compensatório, caiu fora.  Creio que o cerne da entrevista está na questão seguinte, a do populismo cosmético.

Afirma que o erro de Lula foi o de ter facilitado o acesso aos bens de consumo pessoais e não aos bens sociais, como fez a Europa no início do século XX. Primeiro se assegurou o acesso à educação, moradia, transporte e saúde e depois, aos bens pessoais. "Aqui não", afirma. "Você vai a uma favela e as pessoas têm TV a cores, fogão, geladeira, microondas (graças à desoneração da linha branca), celular, computador e até um carrinho no pé do morro, mas estão morando na favela, não têm saneamento, educação de qualidade. É um governo que fez a inclusão econômica na base do consumismo e não fez inclusão política". O resultado é o que estamos vendo.
Os livros do memorialista frei Betto.

Quanto a questão dos católicos de esquerda e os evangélicos evoca a importância das Comunidades Eclesiais de Base na formação do PT. Afirma que essas constituíram o núcleo ético do PT. Que essas comunidades enfraqueceram sob o papado de João Paulo II e que elas continham o avanço das religiões pentecostais. O catolicismo se tornou assim uma religião de classe média e está perdendo o povo mais pobre. E, como são voto certo, isso favorece um projeto de poder, razão pela qual os católicos de esquerda ficaram relegados a uma posição secundária.

 As outras respostas, que envolvem os temas religiosos e morais, são brilhantes e em contradição com a tradição do catolicismo oficial. Cito apenas a questão relativa ao aborto, na certeza de que você procurará a revista para a leitura da entrevista por completo. "Se o homem parisse, aborto seria um sacramento". Na questão das relações homoafetivas, afirma que todo o fundamento de uma relação é o amor. Vale a pena conferir.

domingo, 24 de maio de 2015

O Cinema no Século. Paulo Emílio Sales Gomes.

A parceria que tenho com a Companhia das Letras me leva a leituras que dificilmente eu faria sem ela. Muitas delas certamente estariam fora do meu foco de interesse. Assim recebo uma lista e faço escolhas. Confesso que algumas são bem arrojadas, como foi o caso de Roth Libertado - O escritor e seus livros, um misto de biografia e ensaio, extremamente erudito. Isso aconteceu novamente com o livro O Cinema no século, de Paulo Emílio Sales Gomes, recente livro da Companhia das Letras.
O Cinema no século. Carlos Augusto Calil organiza os comentários de Paulo Emílio Sales Gomes em livro. Um lançamento da Companhia das Letras.

A minha formação em cinema é praticamente nula. Coisas da vida. Nos tempos de minha faculdade de filosofia, em Viamão, íamos ao cinema em Porto Alegre. O domínio era para a Nouvelle Vague do cinema francês e alguma coisa do neorrealismo italiano. Lia a coluna de cinema do Goidanich, não me lembro se na Zero Hora ou no Correio do Povo. A minha visão religiosa, em seu pior foco, o foco moralista, fez com que não apreciasse o colunista e quanto aos filmes, entendia muito pouco. Confesso que se tivesse ficado em Porto Alegre e tivesse tido condições mínimas de sustentação, talvez teria me dedicado mais a esse importante campo da cultura.

Formado, vim para o Paraná como professor em três períodos. Fui para Umuarama, uma cidade pioneira, distante da capital e, mais ainda, do cinema. Morando depois em Curitiba, a situação melhorou um pouco. Algumas leituras, idas mais frequentes ao cinema, conversas com os amigos, com os professores e algumas compras de coleções, com folhetos explicativos.
Paulo Emílio Sales Gomes. Grande cineasta e notável intelectual.

Nunca tinha ouvido falar de Paulo Emílio Sales Gomes. Primeiro procurei situá-lo e datá-lo. O localizei em São Paulo, nascido em 1916, vivendo pelo mundo até o ano de 1977. Em sua juventude foi um ardoroso comunista, na sua vertente trotskista, extremamente radical, portanto. É lógico que foi importunado pelo Estado Novo, sendo preso como tantos, nesse período. A sua fuga foi para Paris. A sua iniciação na cultura se deu, segundo suas próprias palavras, no cinema por Chaplin e Renoir e na literatura com a obra de Eça de Queirós. Entre seus amigos estava Antônio Cândido, o que me dispensa citar outros.
A iniciação de um intelectual. Chaplin e Eça de Queirós.

Em São Paulo foi o fundador da Cinemateca Brasileira, sendo também colunista do suplemento literário dominical de O Estado de São Paulo. Também foi responsável pela organização de semanas de cinema, ocupando-se, portanto, do cinema no século. Ocupou-se assim dos primórdios do cinema, ainda mudo, até chegar nos anos de 1970, passando pelo cinema americano, inglês, alemão, italiano, francês e japonês e diretores como Chaplin, Griffith, Orson Welles, Renoir, Eisenstein, Fellini, de Sicca, Rosselini e tantos outros. Passou também pelas escolas de cinema.

O livro se concentra na coluna que escrevia semanalmente para O Estado de São Paulo, entre 1956 e 1965. Comentava os principais lançamentos, bem como as promoções temáticas de semanas cinematográficas que eram realizadas em São e no Rio de Janeiro, pelas cinematecas e pelo Museu de Arte Contemporânea. A sua erudição é algo notável. Bernard Eisenschitz escreve no posfácio do livro sobre a abrangência de seus comentários: "Ele abraça, em suma, todo o leque de questões com que se depara um historiador, um crítico, um programador e um cinematógrafo. Compreende-se que os quatro tenham sido, para ele, um só".
Eisenstein e Rosselini também fazem parte dos comentários de Paulo Emílio.

Os comentários de Paulo Emílio Sales Gomes foram organizados em livro de uma forma brilhante, obedecendo uma ordem cronológica e temática, entremeando diretores, atores, escolas e nacionalidades. Este trabalho foi organizado por Carlos Augusto Calil, e não deve ter sido nada fácil. Só alguém muito familiarizado com o autor e com o tema poderia realizar tão bem esta tarefa. Calil é do ramo. É professor de cinema e foi secretário de cultura do município de São Paulo.
Carlos Augusto Calil é o organizador e prefaciador do livro O cinema no século.

O livro tem 615 páginas. Não é difícil de ler, pois os textos não são longos. São os seus comentários para o popular Estadão. Normalmente os temas abordados ocupam de cinco a seis páginas. Ele pode ser lido também por etapas, servindo os títulos dos comentários como uma espécie de verbetes que deverão ser largamente utilizados em salas de aulas, nas turmas e nas disciplinas de cinema. O livro também nos mostra a intensidade do intelectual brasileiro dos anos que beiraram a metade do século XX. Eram verdadeiros intelectuais e não meros especialistas.

O livro tem um destino certo e um público alvo que são, de um modo todo especial, os professores e alunos dos cursos de cinema, para todos os que gostam desta arte e para todos aqueles que se lançam na bela aventura  de se apoderar daquilo que de melhor a humanidade já produziu. Importante notar que o cinema no século, especialmente o de sua primeira metade, foi o de um século letalmente ferido por duas guerras, pelo uso de bombas atômicas e seguido por uma louca corrida armamentista.
Metrópolis e  Hiroshima mon amour são comentados no livro.


Não resisto em publicar um trecho, recitado no filme Hiroshima mon amour, por Emmanuelle Riva e escrito por Marguerite Duras e dirigido por Alain Resnais: "As mulheres correm o risco de parir monstros mas isso continua. Os homens correm o risco de serem vítimas da esterilidade mas isso continua. A chuva dá medo. Chuvas de cinzas sobre as águas do Pacífico. As águas do Pacífico matam. Pescadores do Pacífico são mortos. A comida dá medo. Descarta-se a comida de uma cidade inteira. Enterra-se a comida de cidades inteiras... Uma cidade inteira se revolta, cidades inteiras se revoltam. Contra quem a cólera dessas cidades inteiras? A cólera das cidades inteiras, queiram elas ou não, contra a desigualdade posta em princípios por certas raças contra outras raças, contra a desigualdade posta em princípios por certas classes  contra outras classes". Só para situar o clima.

sexta-feira, 22 de maio de 2015

As Cidades Históricas de São Cristóvão e Laranjeiras.

Quando nos anos 1990 estive em Aracaju participando de um congresso ouvi falar muito das cidades históricas do estado, as cidades de São Cristóvão e de Laranjeiras.  O desejo de conhecê-las, na oportunidade, ficou apenas na vontade. Por isso agora, nessa viagem, elas se constituíram numa das minhas prioridades. São Cristóvão é a quarta cidade mais antiga do Brasil e foi a primeira capital do estado e, em torno do porto de Laranjeiras, às margens do rio Cotinguiba se desenvolveu a economia açucareira e o comércio dos escravos.
Uma das igrejas históricas da cidade de Laranjeiras. Bem no alto.

As visitas dos receptivos são programadas para se conhecer uma pela manhã e outra pela tarde. São Cristóvão dista a 25 quilômetros da capital, integrando a área da grande Aracaju e Laranjeiras está um pouco mais distante, 30 quilômetros. Devo confessar que não tive muita sorte nesse passeio, por causa do receptivo. A primeira coisa que o motorista falou foi de que esse passeio seria muito cansativo, com muitas paradas e entradas e saídas da Van. Se autointitulou de guia, pois os guias locais se estendiam demais em suas explicações. Saímos de Aracaju as 9:00 horas e as 13:00 já estávamos almoçando, de volta, em Aracaju. O órgão estadual de turismo deveria ser mais rigoroso com estes receptivos.
A igreja de Laranjeiras que não fomos visitar. Segundo o motorista/guia, teria que atravessar uma perigosa favela. Pode isso?


Começamos por Laranjeiras. A sua população é de 27.000 habitantes. A origem da povoação remonta aos primórdios do século XVII e está ligada à defesa e a ocupação econômica do território sergipano, pela sua excelente localização junto ao rio Cotinguiba e, no seu porto circulavam as primeiras riquezas da região, com grande destaque para o açúcar. Foi ali que se instalaram os primeiros engenhos e, por isso, no porto também se praticava o abominável tráfico negreiro e aí também foi instalada uma alfândega. A cidade também foi palco para a luta pela liberdade e vários quilombos se formaram nos seus arredores.
Marco histórico, junto ao porto, onde existia um pé de laranjeira, que deu origem ao nome da cidade.


A construção de um futuro melhor sempre esteve presente no horizonte da cidade. Ela tinha vários teatros, jornais e uma forte tradição cultural. Foi também pioneira na luta pela proclamação da República. Ostenta o pomposo título de "Atenas sergipana" e "Capital da cultura popular". São concorridas as festas populares, contando para isso com a riqueza de vários grupos folclóricos, que mantém a tradição. A cidade teve, inclusive, em João Ribeiro (1860 - 1934) o seu representante na Academia Brasileira de Letras. A cidade é tombada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. Tem dois museus importantes, o de arte sacra e o afro-brasileiro, além, é óbvio, de muitas igrejas.
A igreja matriz de Laranjeiras.


Tomo de um folheto promocional de Laranjeiras o espírito que sintetiza a cidade: "Laranjeiras é para nós, que trabalhamos com a cultura, um micro-universo brasileiro que resume na sua vida cotidiana tudo aquilo que inspira a pesquisa, o estudo e a promoção dessa cultura. É aqui que achamos, que podemos vir buscar, no berço da nossa formação, os elementos fundadores da nossa identidade. É aqui que nós queremos construir, pela identificação e pela reflexão, os traços da nossa sergipanidade. É aqui que nós apuramos o senso daquilo que somos e buscamos saber porque somos o que somos".
A praça de São Francisco, em São Cristóvão. Patrimônio Cultural da Humanidade.


Depois de Laranjeiras fomos a São Cristóvão. A cidade, fundada em 1590, integra a grande Aracaju e tem uma população de 84.000 habitantes. Foi fundada no tempo da união da Península Ibérica, nos tempos do poderoso rei Felipe II. Na emancipação do estado, em 1820, foi a sua capital, assim permanecendo até 1855, quando Aracaju passou a ser a capital. Não sem protestos, como nos atesta a história de João Bebe Água.  João Bebe Água (1823- 1890 ou 1896), o rebelde de São Cristóvão, chegou a arregimentar forças para que a cidade permanecesse como capital e não conseguindo o seu intento, prometeu que nunca poria os pés na nova capital e que tomaria cachaça até a data de sua morte, como mostra de sua indignação. Daí o apelido de João Bebe Água
Igreja matriz de Santo Antonio, em São Cristóvão e as suas falsas portas nas duas laterais.

Ocupação e defesa do território marcam a origem da cidade. Ali houve ataques, tanto de franceses, quanto de holandeses. Igrejas, museus e casarões são o seu patrimônio histórico, declarado Patrimônio Cultural da Humanidade, pela UNESCO em 2010. A praça de São Francisco e o seu entorno formam este grande patrimônio. Visitamos o Museu de Arte Sacra e, pela pressa do motorista e guia não visitamos o Museu Histórico de Sergipe, no mínimo, tão interessante quanto o de Arte Sacra, que tem um acervo de mais de 500 peças. A catedral de Nossa Senhora da Vitória e a igreja do Rosário dos Pretos também são importantes monumentos que integram o patrimônio da cidade.
Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos em São Cristóvão.


Foi também nesta cidade que irmã Dulce começou com os seus trabalhos junto aos pobres. Visitamos também o atelier de Nivaldo Oliveira, artista plástico, escultor sacro, entalhador e restaurador. Ele faz um trabalho monumental. Em seu atelier recebe jovens com problemas e lhes ensina o seu ofício. Os trabalhos são muito compensadores, nos contou ele.
A sede do belo trabalho do artista e a homenagem ao João Bebe Água.


As duas cidades tem Campus da Universidade Federal de Sergipe. Eu tenho a lamentar profundamente a atitude do motorista/guia, que não contribuiu com a grandeza desse nosso passeio e em muito ajudou para que o turismo brasileiro, já tão carente de atrações culturais e pouco propenso a cultivá-las, colaborou para que isso se evidenciasse ainda mais. Foi o grande destaque negativo dessa viagem ao belo estado de Sergipe e a maravilha que é Aracaju, seu centro histórico e a sua orla. 









quarta-feira, 20 de maio de 2015

A Mística Foz do Rio São Francisco.

Numa estada em Maceió eu aproveitei a oportunidade para conhecer a maravilhosa foz do rio São Francisco. Gostei tanto, que estando agora em Aracaju, resolvi repetir o passeio. E, asseguro, foi ainda mais maravilhoso do que na primeira vez. O rio São Francisco, muito mais do que o rio da "integração nacional", é o grande rio da generosidade nacional, isso pela sua água, numa região em que ela tanto falta, quanto pelas belezas que ele patrocina. O Velho Chico.
O local em que iniciamos o nosso passeio. A primeira imagem.

O Velho Chico desagua no oceano depois de percorrer 2.800 quilômetros e dar vida a  510 cidades localizadas às suas margens, em cinco estados diferentes. Destas cidades, 13 se situam no lado sergipano e 11, no alagoano. Nasce em Minas Gerais, alcançando depois a Bahia, Pernambuco, Sergipe e Alagoas. Tem grande importância histórica na ocupação do solo brasileiro e, maior ainda, é a sua importância econômica por sua água, cada dia mais utilizada em projetos de irrigação e como fonte para a produção de energia. Uma transposição, não isenta de polêmicas, amplia a sua influência benfazeja.
O nosso grupo. Observem uma senhora em cadeira de rodas. O filho realizou o seu desejo de conhecer a foz do rio, depois de ter conhecido as suas nascentes.

O rio e a sua foz divide os estados de Alagoas e Sergipe. A cidade próxima, pelo lado alagoano é Piaçabuçu, com 18.000 habitantes e a 130 quilômetros de distância da capital. Pelo lado sergipano encontramos Brejo Grande, bem menor, com 8.000 habitantes e um dos menores IDHs. do Brasil. Dista a 112 quilômetros de Aracaju. A economia dessas cidades é bastante primária e se origina basicamente da pesca e da exploração do turismo. Os camarões estão rapidamente entrando no cardápio, por culturas artificiais.
Quando as dunas aparecem - já estamos muito próximos da foz.

Quando se chega às margens do rio é feito o embarque para se chegar até a sua foz. Dependendo da agência de turismo você embarca em catamarã ou em barcos menores. Quando da primeira vez, eu embarquei em um catamarã e, dessa vez, o passeio foi de barco. O catamarã transporta umas 250 pessoas, enquanto que os barcos tem a sua capacidade limitada a 45 pessoas. A minha experiência diz que o passeio é muito mais bonito quando é feito de barco. Para essa afirmação eu me baseio em dois dados. O barco realmente chega até a foz e não apenas nas suas proximidades e dá voltas em torno das ilhas que o rio forma em sua foz, dando assim a oportunidade de conhecer os mangues. O nosso passeio também teve um atrativo muito particular, a simpatia do popular perereca, um misto de guia e animador.
Pena que não saiu a voz. "Esse é o lugar". Ali se dá o encontro.


O passeio é deslumbrante e acompanhado de forte mística. Você é embalado pelas mansas águas do rio e, ao mesmo tempo, sente o balanço das ondas, num encontro bastante amistoso e sem provocar o fenômeno da pororoca. O dia estava calmo. Mas esse encontro nem sempre deve ser tão tranquilo. Às margens você vê areias claras e finas, formando belas dunas, onde as tartarugas desovam tranquilamente, protegidas pelo Projeto Tamar.
A imagem mais próxima. As ondas do mar e as águas do "Velho Chico".


Tanto o catamarã, quanto os barcos menores atracam às margens para duas atividades à sua escolha. Você pode optar por um banho ou fazer compras num shopping. Foi assim que o guia qualificou a feirinha de artesanato e venda de cocadas nas proximidades do local do atracadouro. O artesanato se ocupa com imagens do santo, de peixes e de pescadores e as cocadas recebem os sabores de frutos típicos da região. Com muito gosto comprei imagens do santo, peixes e um pescador. Depois comecei a me preocupar com o seu transporte. Do santo, nenhuma imagem se quebrou.
O artesanato no shopping. A produção e a venda é obra do mesmo artista.


A compra da imagem do santo é acompanhada de um cerimonioso ritual. Você o mergulha nas águas e faz três agradecimentos e três pedidos. Como não pertenço a crença da teologia da prosperidade fiz primeiro os agradecimentos e depois os pedidos. Para quem eu trouxe como lembrança, pedi permissão ao santo, para deixar em aberto, tanto os agradecimentos, quanto os pedidos, para que eles possam ser feitos pelos contemplados, por ocasião de seu recebimento.

Conversando com os, simultaneamente, artífices e vendedores dos produtos de seu trabalho, o que por si só, já lhes confere um peculiaridade toda especial, eles demonstram a sua alegria de viver, dedicando as horas em que os barcos chegam para a venda de seus produtos, para daí voltarem para as suas casas e se ocuparem da criação e produção de sua arte. Também me contaram das dificuldades dos dias em que Velho Chico, com as suas tempestades protesta contra os maus tratos recebidos. Apesar de se darem bem e conhecerem as manhas e as intimidades do Velho, ele não deixa de, de vez em quando, lhes pregar algumas peças de surpresa, com tempestades imprevistas.
Entre as ilhas, a vegetação do mangue. Um processo de purificação das águas.


Já de volta ao barco, uma visita ao cenário da liturgia da purificação das águas, antes de se lançarem ao mar. Um passeio pelos mangues, entre as diversas ilhas da foz. A vegetação é belíssima e,como disse, é um ritual de purificação pelos maus tratos recebidos ao longo de seu percurso. O almoço aconteceu num restaurante muito simples, abençoado pelo santo e com uma comida caseira, com uma carne de sol acebolada que ganhou grau de excelência por unanimidade dos comensais. Despedidas e volta para Aracaju foram os próximos passos. Seguramente um lugar que vale muito a pena conhecer e voltar por diversas vezes. Quanto aos meus pedidos para o santo..., deixa para lá.
Uma imagem muito bela, muito simbólica. O transporte escolar.


Uma observação final sobre os receptivos. Eu tive problemas com a Nativa, o agente que opera e representa a CVC. Eles remarcaram o meu city tour por três vezes e só pude realizá-lo no última dia de minha estada, quando não havia mais jeito de transferi-lo. Ainda bem. Providenciei os meus pacotes com uma outra agência localizada na Feira do Turista, na orla de Atalaia, a Sollar - Viagens e Turismo. Poucas vezes fui recebido com tanta atenção. Por seu intermédio fiz a compra dos meus passeios. O passeio para a foz eu fiz com a Farol, que eu recomendo muito. Assim que cheguei de volta ao hotel, já me ligaram mostrando preocupação se tinha ocorrido tudo bem.

A foz do rio também foi o cenário para o filme "Deus é Brasileiro", que também pretendo assistir proximamente. Imagens incríveis continuam povoando a mente.





segunda-feira, 18 de maio de 2015

O Cânion de Xingó - No Rio São Francisco.

O passeio mais esperado e a razão maior de minha viagem ao Sergipe foi para ver as maravilhas da natureza proporcionadas pelo Cânion de Xingó, no rio São Francisco. Há uns anos atrás, estando em Maceió, já tentei fazer esse passeio, mas na época, ele não estava incluído nas rotas. Hoje isso é possível, tanto assim que encontrei com muita gente, no catamarã, que veio pelo estado alagoano. O passeio, incluindo o trânsito de Aracaju e o recolhimento do pessoal nos diferentes hotéis, faz a viagem de 213 quilômetros, durar quatro horas. De Maceió é ainda mais longe, são 290 quilômetros a serem percorridos.
A Gruta do Talhado. Entre os belos cenários, o mais belo de todos.

Saímos de Aracaju as 6:40 e, na primeira parte da viagem, a maioria do pessoal continuou dormindo. Eu, da minha parte, fiquei observando a natureza e a sua mudança de cenário, pois estávamos saindo de uma paisagem litorânea e adentrando ao sertão e a sua vegetação de caatinga. A guia começou a falar a partir de Nossa Senhora da Glória, já no sertão e na metade do caminho. Começou a falar da vegetação do sertão, sobre os diferentes tipos de cactos, suas propriedades alimentares e medicinais e sobre a produção agrícola da região. A maior parte das frutas, como a goiaba, a mangaba e o jenipapo se destinam majoritariamente à exportação.
Uma fruta típica do nordeste, o jenipapo. Sergipe é também grande produtor de goiabas.

Falou também das cidades pelas quais passávamos e também das próximas, com destaque para Porto da Folha e a sua população indígena. Lá moram os índios Xokós, na ilha de São Pedro. Eles  preservam os antigos hábitos e 280 deles permanecem em estado de pureza racial, isso é, não se misturaram. Fiquei muito interessado com as suas histórias, sua vida natural, sobre a sua produção de artesanato, única e totalmente destinada à exportação e a sua negação aos remédios da indústria química.

Depois, à medida que chegávamos a Poço Redondo, a história contada foi a de Lampião. Ali o grande conhecedor e estrategista do sertão foi morto, provavelmente, numa tocaia. O que me chamou mais atenção foi sobre a sua entrada no cangaço e o fato de que este movimento é considerado como um movimento político e, nesse sentido, Lampião foi muito mais um revolucionário, admiradíssimo pelo povo, e não o criminoso, imagem que se tentou construir. Injustiça, violência policial (os volantes) e a ausência do Estado foram as causas do cangaço, assim como também do movimento de Canudos, de Antônio Conselheiro. Ah se todos esses movimentos tivessem tido um Euclides da Cunha para descrevê-los. Já anotei na minha agenda, ler uma biografia de Lampião. Uma filha sua escreveu uma.

A primeiras da vistas do lago formado pela hidrelétrica de Xingó. Depois de um belo passeio chegaríamos ao cânion.

E em meio a essas conversas chegamos a Canindé de São Francisco. Compramos o almoço, que só aconteceria na volta e embarcamos no catamarã, para três horas de passeio, de deslumbrantes paisagens e de banho nas águas místicas do rio São Francisco. O cânion é o quinto maior do mundo e, entre os navegáveis, é o maior. Ele se tornou navegável a partir da construção da hidrelétrica de Xingó, responsável pela formação de um enorme lago, pelo qual se navega. A profundidade chega a alcançar 190 metros. Isso nos dá uma ideia de como o cânion deveria ter sido antes do represamento das águas.
O primeiro dos entalhes que prenuncia as belezas das quais estávamos nos aproximando.


A usina, a terceira maior do país produz 3.162.000 KW de energia, através de seis turbinas. Mais quatro estão previstas. Por ser de construção relativamente recente é considerada a mais moderna do país. As obras foram iniciadas em 1986  e a sua inauguração se deu em 1994. O lago ocupa uma área de 65 quilômetros de extensão, divididos entre os estados de Sergipe e Alagoas, com maior rendimento de royalties para Sergipe e para a cidade de Canindé de São Francisco. Piranhas, a sua vizinha alagoana, recebe menos.
Foi terrível. Sofri um ataque de Lampião e de Maria Bonita. Consegui sair ileso.

Mas assim que o catamarã saiu, tive um sério contratempo. Sofri um ataque violento de Lampião e de Maria Bonita. Esta estava armada com um enorme facão e ameaçou cortar certas coisas, que não tive outro jeito, senão, de joelhos pedir por clemência, no que fui atendido, certamente por intercessão de São Francisco e pela simpatia de Lampião pelo time do Grêmio, time do qual eu estava vestindo a camiseta. Depois desse incidente, a atenção e, especialmente o olhar, se volta totalmente para a paisagem. As rochas começam a aparecer, num crescendo, até chegar à Gruta do Talhado, o lugar mais bonito. O nome de Talhado remete ao fato de serem tão bem trabalhadas, à semelhança do trabalho do entalhador. É um lugar magnífico, onde o catamarã para por uma hora para banho e deleite dos olhos com as magnificas águas esverdeadas e os paredões ricamente talhados pela natureza.
A fé popular e a grande veneração por São Francisco. O santo foi colocado num dos entalhes.

Pelo caminho vimos uma grande demonstração de fé popular. Em meio a um dos rochedos, numa das grutas esculpidas ou talhadas pela natureza, foi colocada uma imagem de São Francisco. A imaginação humana também consegue enxergar outras figuras, em muitas das esculturas naturais nos diferentes paredões. Com um misto de tristeza e de alegria pelo almoço (quase 15:00 horas) estávamos de volta ao ancoradouro. O almoço nos esperava no restaurante Karrankas, um almoço apressado em função da viagem de retorno. Dessa vez até eu dormi. Só acordei numa parada, onde se vendiam doces, que são famosos na região.
Esta é a Gruta do Talhado. Cena de rara beleza para guardar na memória e que vale a viagem.

O cânion de Xingó serviu de cenário para uma novela da Globo, das 18: 00 horas. Cordel Encantado. Todo mundo fala disso na região. Seguramente esta é a maior atração turística do Sergipe, senão a maior de toda a região do vasto nordeste brasileiro. Uma imagem a ser conservada permanentemente na lembrança. Uma das mais belas cenas que já vi ao longo de toda a minha vida.

sexta-feira, 15 de maio de 2015

Aracaju. Um pouco de história e beleza.

Nos anos 1990, estando no mercado municipal de Aracaju, observando o enorme movimento de compras, manifestei para uma das vendedoras, a minha ótima impressão sobre a cidade e o seu povo. A resposta foi imediata: "então, porque o moço não muda para cá". Essa imagem calou fundo em minha mente, tanto assim que a preservo até hoje. Em outras conversas apenas confirmei esta grande amabilidade do povo dessa cidade. Hoje, praticamente 20 anos depois, muito dessa cordialidade, apesar das modernidades, ainda se preserva.
O mercado de hortifrutigranjeiros, carnes e pescados. Algo bem sergipano.

Aracaju é uma cidade moderna e planejada. Foi fundada em 1885 para ser a capital do estado, que seria transferida da histórica cidade de São Cristóvão, não sem polêmicas, como nos atesta a história do João Bebe-Água, que contaremos em outro post. Assim como o nome Sergipe está ligada ao siri, abundante nos dois rios que banham a cidade, o Sergipe e o Poxim, assim também o nome de Aracaju está ligado a dois fatores ligados à cidade, a arara e o caju, ficando assim a cidade conhecida como o cajueiro das araras.
O jenipapo, no mercado de Aracaju. Dessa fruta se extrai o famoso licor.

Aracaju faz propaganda de sua qualidade de vida. O seu IDH, de 0,770 é o mais elevado de uma cidade nordestina. Esse IDH provém da riqueza do estado, riquezas de sua agricultura, de seus recursos naturais (petróleo e potássio) e de seu potencial turístico, além da preocupação com os seus parques para caminhadas e jogos. A cidade se movimenta. Chama atenção a orla de Atalaia, toda entremeada de quadras poliesportivas. Esse elevado IDH deve vir em detrimento do interior, uma vez que o estado de Sergipe ocupa apenas a vigésima posição entre os estados brasileiros, perdendo para outros estados do nordeste, como Pernambuco, Ceará e o Rio Grande do Norte.
Um dos símbolos da Orla de Atalaia. Quadras poliesportivas e a qualidade de vida.

Do ponto de vista turístico a cidade pode ser dividida em duas partes, a parte histórica em torno de seu centro e da colina de Santo Antônio e a parte nova, da orla de Atalaia. Especificamente o seu centro gravita em torno dos poderes estabelecidos. A começar pela ponte do imperador, um ancoradouro construído em 1860, para receber a visita de D. Pedro II ao estado. Nas proximidades encontram-se as sedes dos três poderes, o executivo, o legislativo e o judiciário. Todos eles se afunilam diante de um outro poder, que é o poder religioso, expresso por uma bela catedral, dedicada a Nossa Senhora da Conceição. Ainda nas proximidades se encontra outro poder, o mais cruel e opressor de todos, que é o poder financeiro, representado pelos bancos.
A ponte do imperador. O ancoradouro construído em 1860 para receber D. Pedro II.


Próximo ao centro se localizam os famosos mercados da cidade. O mais importante é o de hortifrutigranjeiros, carnes e peixes. É impressionante a variedade de produtos. Me chamou a atenção para a grande quantidade de quiabo, do inhame e da macaxeira, esses dois últimos, presentes até no café da manhã. Das frutas, eu não conhecia a mangaba e o jenipapo. Impressiona a forma da comercialização das carnes e dos peixes. O mercado é o grande local de abastecimento da cidade.
O centro de informações turísticas, dentro do mercado de artesanato e ervas medicinais.


Os outros mercados são destinados ao artesanato, às ervas medicinais e à alimentação. O artesanato é variado, retratando o cotidiano do nordeste. Muito caranguejo e caju. Já na parte das ervas, não existem males que não sejam por elas curados. Já a parte dos restaurantes, no meu modo de ver, deixam bastante a desejar. Os bons restaurantes estão na orla de Atalaia. O mesmo pode ser dito com relação ao artesanato. Eu preferi as lojinhas da orla, especialmente as da Feira do Turista, onde inclusive, adquiri duas cachaças sergipanas para a minha coleção. Uma Xingó e outra Engenho Lyra. Mas as compras maiores, eu fiz mesmo, no shopping da foz do rio São Francisco. Lá você compra a imagem do santo, a mergulha nas suas águas místicas e faz três agradecimentos e três pedidos.
Fantástico. O encontro das águas do rio São Francisco com o mar.


Não muito distante está a colina de Santo Antônio. Ela se destaca por sua história e por ser um ponto elevado em uma cidade absolutamente plana. Do alto, a visão panorâmica da cidade. Nas proximidades você vê a ponte estaiada, que liga a cidade à Barra dos Coqueiros, cidade ainda pequena (27.000 habitantes) mas em franca expansão. nela fica o porto do Sergipe e está sendo implantado o condomínio de luxo do Alphaville. Na Barra dos Coqueiros também se localiza a Atalaia Nova. Imperdível mesmo, também não tão distante do centro, é o Museu da Gente Sergipana. Ele é totalmente interativo e reproduz a cultura do estado. O curador do museu é o mesmo do Museu da Língua Portuguesa de São Paulo.
Uma vista da Orla de Atalaia. O caju onipresente e que deu o nome para a cidade.


Mas o charme mesmo de Aracaju está na orla de Atalaia. Ali está a praia e o grande complexo turístico. Ali estão os hotéis e restaurantes, as feiras de artesanato e a pouca vida noturna da cidade, como também as agências de turismo. A orla também tem as quadras poliesportivas e duas belíssimas homenagens em esculturas de bronze. Num local são escolhidos 10 construtores da pátria brasileira e, em outra, são homenageados vultos do estado.  São escolhas e, como tal, são passíveis de contestação.

Entre os vultos da pátria os escolhidos foram: JK, Getúlio Vargas, José Bonifácio, Duque de Caxias, Princesa Isabel, Joaquim Nabuco, D. Pedro II, Zumbi e Tiradentes. Já entre os vultos do estado figuram as estátuas que representam Tobias Barreto de Menezes, Horácio Hora, José Calazans Brandão da Silva, Manoel José Bonfin (o autor de América Latina - Males de Origem, escrito em 1905), Gilberto Amado, Maurício Gracho Cardoso, Sílvio Vasconcelos da Silveira Ramos Romero, Jackson de Figueiredo Martins, João Batista Ribeiro de Andrade Fernandes e Gumercindo de Araújo Pessoa.
Entre os homenageados sergipanos na orla de Atalaia, Manoel Bonfim, o meu preferido.


Ainda na orla de Atalaia está o oceanário, do projeto Tamar. E para os turistas que se hospedam na orla, uma dica importante. Para ir ao centro da cidade e aos mercados públicos se pega o ônibus da linha 08. E por falar em transporte público, existe a passagem integrada para os ônibus de Aracaju e da grande Aracaju a um custo de R$ 2,70. A integração ocorre em terminais (Lá não tem um governador que a desintegrou, como aqui no Paraná). Também existem pontos para bicicletas públicas. Como a cidade é plana este modal de transporte tem grandes possibilidades. O trânsito é pesado e carece de viadutos que o desafoguem. A população é de 614 mil habitantes, acrescidos de 170 mil de Nossa Senhora do Socorro, de 84 mil de São Cristóvão e de quase 30 mil da Barra dos Coqueiros, cidades que formam a grande Aracaju.




quarta-feira, 13 de maio de 2015

Sergipe. O menor dos estados brasileiros.

Na qualidade de administrador de tempo livre resolvi dedicar oito dias desse tempo para o estado de Sergipe e para a sua capital, a bela cidade de Aracaju. Eu já estive uma vez em Aracaju, ainda na década de 1990 e, tanto a cidade, quanto o seu povo me agradaram muito. Na ocasião eu participei de um congresso. O motivo maior da escolha pelo Sergipe foi o cânion de Xingó, no rio São Francisco, que está localizado na cidade de Canindé do São Francisco, no sertão sergipano. Com o represamento das águas do rio, em função da hidrelétrica de Xingó, o cânion pode ser apreciado por um passeio em um catamarã.
O estado de Sergipe. O mapa encontra-se no Museu da Gente Sergipana. Um primor de museu interativo.

Como anunciei no título, Sergipe é o menor dos estados brasileiros. Ele possui exatos 21. 915.116 Km²., um pouco mais do que 10% do território do Paraná. É dividido em três diferentes regiões, o leste, ou o litoral, o agreste e o sertão. A sua população, segundo estimativa do IBGE, para o ano de 2014 é de dois milhões e duzentos mil habitantes. Aracaju, a capital, possui 614.000 habitantes, seguida por Nossa Senhora do Socorro, na grande Aracaju, com 172 mil. O estado é cortado por duas rodovias federais, a BR 101, no sentido norte sul e pela BR 235, no sentido leste oeste. As estradas estaduais se interligam com estas rodovias que alcançam todos os 75 municípios do estado.

O estado tem muita história. Tem, inclusive, uma cidade que é Patrimônio Cultural da Humanidade, assim declarada pela UNESCO. É a cidade de São Cristóvão, a quarta mais antiga do Brasil e a primeira capital do estado, fundada em 1590, naqueles tempos da União Ibérica. Sobre ela eu vou contar mais coisas, num post especial. A sua posição é estratégica na passagem entre Pernambuco e a Bahia, ou mais precisamente, entre Salvador e Olinda. A emancipação sergipana se deu em 1820, quando se separou da Bahia.
São Cristóvão, a quarta cidade mais antiga do Brasil. Patrimônio Cultural da Humanidade. UNESCO.

O estado também é rico, o que para nós, do sul, soa estranho, um estado do nordeste ser rico. A cana de açúcar foi a sua riqueza histórica e é, ainda hoje, a sua maior riqueza. Segue-se o cultivo da mandioca, do coco e da laranja. Até o quiabo do caruru baiano é produzido nas irrigações do rio São Francisco, na cidade de Canindé de São Francisco. O estado é rico também em recursos naturais, como o petróleo e o gás natural, o calcário e o potássio. Em Carmópolis está sendo implantada uma mini refinaria de petróleo, por um grupo privado do Rio de Janeiro e em Rosário do Catete opera a Vale do Rio Doce, na extração de potássio, da enorme mina desse importante componente para a produção de adubos. Na parte de energia elétrica tem a hidrelétrica de Xingó e uma usina de energia eólica, no município de Barra dos Coqueiros.
Uma ponte estaiada liga Aracaju a Barra dos Coqueiros. A presença do moderno.

Esperando o voo para voltar, observei a movimentação de vários helicópteros no aeroporto de Aracaju. Apenas achei estranho e guardei a curiosidade, o que não é bom, para ser desvendada em outro momento. O Google me forneceu a resposta. Eles transportam os petroleiros que trabalham em 26 plataformas de extração do produto, no mar sergipano. O porto de Sergipe fica no município de Barra dos Coqueiros, na grande Aracaju.

Outra grande riqueza está no turismo. A praia de Atalaia e a infraestrutura aí montada é um verdadeiro cartão postal. Uma ampla avenida, com inúmeros hotéis, restaurantes, feiras de artesanato, receptivos de turismo e quadras poliesportivas compõem o belo cenário. A segurança é item que merece destaque especial. Tem delegacia para turista, câmeras e policiamento ostensivo. Você se sente absolutamente seguro. O rio São Francisco oferece duas atrações que são únicas, o cânion de Xingó e a sua foz. Além disso tem as cidades históricas de São Cristóvão e de Laranjeiras, uma cidade que se originou a partir dos escravos.
O Cânion de Xingó. A maior e a mais bela atração turística do estado.

Conversando com o motorista do receptivo que me levava ao aeroporto, mostrei a ele a minha impressão de que Sergipe era um estado diferenciado, para melhor, dentro do quadro do nordeste e ele manifestou toda a sua indignação e inconformismo com a situação política de seu estado e me desautorizou dizendo qua a minha impressão era a de um turista e não a de um morador do estado. Cá comigo, prefiro ficar com a boa impressão que eu tive desse belo e rico estado.
A mais mística das atrações turísticas. A foz do rio São Francisco.


Lembrando ainda que Sergipe deriva de siri e rio. Não é por nada que o caranguejo, que seria um siri maior, é onipresente e o prato mais característico da culinária sergipana. E mais, o estado de Sergipe preservou o seu banco estadual, o BANESE.

domingo, 3 de maio de 2015

Sob massacre, os deputados aprovam as mudanças na Paranaprevidência.

Pode ser meio repetitivo passar a lista de deputados. Mas, como essa votação ocorreu sob massacre e como votaram a reforma da Paranaprevidência, mesmo sob as maiores cenas de violência já praticadas no Paraná, em tempos de regime democrático, com mais de duzentos feridos e naquele momento, com suspeita de dois óbitos, esta lista é definitiva. Praticamente são os mesmos da famosa e fedorenta bancada do camburão. Aliás, o ato deve ter estado impregnado de um ato de vingança pelo vexatório episódio do camburão.

O episódio também merece profundas reflexões sobre o ato de obedecer. Para essas reflexões, nada melhor do que os livros de Primo Levy É isso um homem e Os afogados e os sobreviventes.  Os obedientes soldados nazistas eram promovidos, à medida que obedeciam, isto é, enquanto praticavam o maior massacre já perpetrado ao longo da história da humanidade. Nenhuma ordem que fira os direitos humanos deve ser obedecida. Minha homenagem aos bravos soldados que desobedeceram e foram presos.

Quanto ao governador Beto Richa, que se auto intitula democrata e cristão, ele nem sequer atingiu ainda, o primeiro estágio da democracia que é o respeito aos direitos humanos, que são a sua essência. Este primeiro estágio compreende os chamados direitos civis construídos ao final dos regimes absolutistas. Os direitos civis são aqueles que defendem a integridade física das pessoas, a igualdade perante a lei e as liberdades individuais. É vergonhoso o estado do Paraná ser governado por um antidemocrata, por alguém que ainda não chegou nem aos alvores da democracia. Mas vamos à lista.

Os submissos e genuflexos deputados que aprovaram a reforma da Paranaprevidência: (31)

Alexandre Curi - PMDB;
Alexandre Guimarães - PSC;
André Bueno - PDT;
Artagão Jr. - PMDB;
Bernardo Ribas Carli - PSDB;
Cláudia Pereira - PSC;
Cobra Repórter - PSC;
Cristina Silvestri - PPS;
Dr. Batista - PMN;
Elio Rusch - DEM;
Evandro Jr. - PSDB;
Felipe Francischini - SD;
Fernando Scanavaca - PDT;
Francisco Bührer - PSDB;
Guto Silva - PSC;
Hussein Bakri - PSC;
Jonas Guimarães - PMDB;
Luiz Carlos Martins - PSD;
Luiz Cláudio Romanelli - PMDB;
Márcio Nunes - PSC;
Maria Victória - PP;
Mauro Moraes - PSDB;
Mis. Ricardo Arruda - PSC;
Nelson Justus - DEM;
Paulo Litro - PSDB;
Pedro Lupion - DEM;
Plauto Miró - DEM;
Schiavinato - PP;
Tiago Amaral - PSB;
Tião Medeiros - PTB;
Wilmar Reichenbach - PSC.

Os que votaram contra a apropriação do dinheiro do Paranaprevidência: (20)

Adelino Ribeiro - PSL;
Ademir Bier - PMDB;
Anibelli Neto - PMDB;
Chico Brasileiro - PSD;
Evandro Araújo - PSC;
Gilberto Ribeiro - PSB;
Gilson de Souza - PSC;
Márcio Pacheco - PPL;
Márcio Pauliki - PDT;
Nelson Luersen - PDT;
Nereu Moura - PMDB;
Ney Leprevost - PSD;
Palozi - PSC;
Pastor Edson Praczyk - PRB;
Péricles de Mello - PT;
Professor Lemos - PT;
Rasca Rodrigues - PV;
Requião Filho - PMDB;
Tadeu Veneri - PT;
Tercílio Turini PPS.

Não compareceram:

Mara Lima - PSDB;
Paranhos - PSC.

Não votou:

Ademar Traiano - PSDB. Este não votou na qualidade de presidente e comandante do triste episódio. Fonte: Gazeta do Povo de 30.04.2015.