sexta-feira, 22 de maio de 2015

As Cidades Históricas de São Cristóvão e Laranjeiras.

Quando nos anos 1990 estive em Aracaju participando de um congresso ouvi falar muito das cidades históricas do estado, as cidades de São Cristóvão e de Laranjeiras.  O desejo de conhecê-las, na oportunidade, ficou apenas na vontade. Por isso agora, nessa viagem, elas se constituíram numa das minhas prioridades. São Cristóvão é a quarta cidade mais antiga do Brasil e foi a primeira capital do estado e, em torno do porto de Laranjeiras, às margens do rio Cotinguiba se desenvolveu a economia açucareira e o comércio dos escravos.
Uma das igrejas históricas da cidade de Laranjeiras. Bem no alto.

As visitas dos receptivos são programadas para se conhecer uma pela manhã e outra pela tarde. São Cristóvão dista a 25 quilômetros da capital, integrando a área da grande Aracaju e Laranjeiras está um pouco mais distante, 30 quilômetros. Devo confessar que não tive muita sorte nesse passeio, por causa do receptivo. A primeira coisa que o motorista falou foi de que esse passeio seria muito cansativo, com muitas paradas e entradas e saídas da Van. Se autointitulou de guia, pois os guias locais se estendiam demais em suas explicações. Saímos de Aracaju as 9:00 horas e as 13:00 já estávamos almoçando, de volta, em Aracaju. O órgão estadual de turismo deveria ser mais rigoroso com estes receptivos.
A igreja de Laranjeiras que não fomos visitar. Segundo o motorista/guia, teria que atravessar uma perigosa favela. Pode isso?


Começamos por Laranjeiras. A sua população é de 27.000 habitantes. A origem da povoação remonta aos primórdios do século XVII e está ligada à defesa e a ocupação econômica do território sergipano, pela sua excelente localização junto ao rio Cotinguiba e, no seu porto circulavam as primeiras riquezas da região, com grande destaque para o açúcar. Foi ali que se instalaram os primeiros engenhos e, por isso, no porto também se praticava o abominável tráfico negreiro e aí também foi instalada uma alfândega. A cidade também foi palco para a luta pela liberdade e vários quilombos se formaram nos seus arredores.
Marco histórico, junto ao porto, onde existia um pé de laranjeira, que deu origem ao nome da cidade.


A construção de um futuro melhor sempre esteve presente no horizonte da cidade. Ela tinha vários teatros, jornais e uma forte tradição cultural. Foi também pioneira na luta pela proclamação da República. Ostenta o pomposo título de "Atenas sergipana" e "Capital da cultura popular". São concorridas as festas populares, contando para isso com a riqueza de vários grupos folclóricos, que mantém a tradição. A cidade teve, inclusive, em João Ribeiro (1860 - 1934) o seu representante na Academia Brasileira de Letras. A cidade é tombada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. Tem dois museus importantes, o de arte sacra e o afro-brasileiro, além, é óbvio, de muitas igrejas.
A igreja matriz de Laranjeiras.


Tomo de um folheto promocional de Laranjeiras o espírito que sintetiza a cidade: "Laranjeiras é para nós, que trabalhamos com a cultura, um micro-universo brasileiro que resume na sua vida cotidiana tudo aquilo que inspira a pesquisa, o estudo e a promoção dessa cultura. É aqui que achamos, que podemos vir buscar, no berço da nossa formação, os elementos fundadores da nossa identidade. É aqui que nós queremos construir, pela identificação e pela reflexão, os traços da nossa sergipanidade. É aqui que nós apuramos o senso daquilo que somos e buscamos saber porque somos o que somos".
A praça de São Francisco, em São Cristóvão. Patrimônio Cultural da Humanidade.


Depois de Laranjeiras fomos a São Cristóvão. A cidade, fundada em 1590, integra a grande Aracaju e tem uma população de 84.000 habitantes. Foi fundada no tempo da união da Península Ibérica, nos tempos do poderoso rei Felipe II. Na emancipação do estado, em 1820, foi a sua capital, assim permanecendo até 1855, quando Aracaju passou a ser a capital. Não sem protestos, como nos atesta a história de João Bebe Água.  João Bebe Água (1823- 1890 ou 1896), o rebelde de São Cristóvão, chegou a arregimentar forças para que a cidade permanecesse como capital e não conseguindo o seu intento, prometeu que nunca poria os pés na nova capital e que tomaria cachaça até a data de sua morte, como mostra de sua indignação. Daí o apelido de João Bebe Água
Igreja matriz de Santo Antonio, em São Cristóvão e as suas falsas portas nas duas laterais.

Ocupação e defesa do território marcam a origem da cidade. Ali houve ataques, tanto de franceses, quanto de holandeses. Igrejas, museus e casarões são o seu patrimônio histórico, declarado Patrimônio Cultural da Humanidade, pela UNESCO em 2010. A praça de São Francisco e o seu entorno formam este grande patrimônio. Visitamos o Museu de Arte Sacra e, pela pressa do motorista e guia não visitamos o Museu Histórico de Sergipe, no mínimo, tão interessante quanto o de Arte Sacra, que tem um acervo de mais de 500 peças. A catedral de Nossa Senhora da Vitória e a igreja do Rosário dos Pretos também são importantes monumentos que integram o patrimônio da cidade.
Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos em São Cristóvão.


Foi também nesta cidade que irmã Dulce começou com os seus trabalhos junto aos pobres. Visitamos também o atelier de Nivaldo Oliveira, artista plástico, escultor sacro, entalhador e restaurador. Ele faz um trabalho monumental. Em seu atelier recebe jovens com problemas e lhes ensina o seu ofício. Os trabalhos são muito compensadores, nos contou ele.
A sede do belo trabalho do artista e a homenagem ao João Bebe Água.


As duas cidades tem Campus da Universidade Federal de Sergipe. Eu tenho a lamentar profundamente a atitude do motorista/guia, que não contribuiu com a grandeza desse nosso passeio e em muito ajudou para que o turismo brasileiro, já tão carente de atrações culturais e pouco propenso a cultivá-las, colaborou para que isso se evidenciasse ainda mais. Foi o grande destaque negativo dessa viagem ao belo estado de Sergipe e a maravilha que é Aracaju, seu centro histórico e a sua orla. 









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