segunda-feira, 18 de maio de 2015

O Cânion de Xingó - No Rio São Francisco.

O passeio mais esperado e a razão maior de minha viagem ao Sergipe foi para ver as maravilhas da natureza proporcionadas pelo Cânion de Xingó, no rio São Francisco. Há uns anos atrás, estando em Maceió, já tentei fazer esse passeio, mas na época, ele não estava incluído nas rotas. Hoje isso é possível, tanto assim que encontrei com muita gente, no catamarã, que veio pelo estado alagoano. O passeio, incluindo o trânsito de Aracaju e o recolhimento do pessoal nos diferentes hotéis, faz a viagem de 213 quilômetros, durar quatro horas. De Maceió é ainda mais longe, são 290 quilômetros a serem percorridos.
A Gruta do Talhado. Entre os belos cenários, o mais belo de todos.

Saímos de Aracaju as 6:40 e, na primeira parte da viagem, a maioria do pessoal continuou dormindo. Eu, da minha parte, fiquei observando a natureza e a sua mudança de cenário, pois estávamos saindo de uma paisagem litorânea e adentrando ao sertão e a sua vegetação de caatinga. A guia começou a falar a partir de Nossa Senhora da Glória, já no sertão e na metade do caminho. Começou a falar da vegetação do sertão, sobre os diferentes tipos de cactos, suas propriedades alimentares e medicinais e sobre a produção agrícola da região. A maior parte das frutas, como a goiaba, a mangaba e o jenipapo se destinam majoritariamente à exportação.
Uma fruta típica do nordeste, o jenipapo. Sergipe é também grande produtor de goiabas.

Falou também das cidades pelas quais passávamos e também das próximas, com destaque para Porto da Folha e a sua população indígena. Lá moram os índios Xokós, na ilha de São Pedro. Eles  preservam os antigos hábitos e 280 deles permanecem em estado de pureza racial, isso é, não se misturaram. Fiquei muito interessado com as suas histórias, sua vida natural, sobre a sua produção de artesanato, única e totalmente destinada à exportação e a sua negação aos remédios da indústria química.

Depois, à medida que chegávamos a Poço Redondo, a história contada foi a de Lampião. Ali o grande conhecedor e estrategista do sertão foi morto, provavelmente, numa tocaia. O que me chamou mais atenção foi sobre a sua entrada no cangaço e o fato de que este movimento é considerado como um movimento político e, nesse sentido, Lampião foi muito mais um revolucionário, admiradíssimo pelo povo, e não o criminoso, imagem que se tentou construir. Injustiça, violência policial (os volantes) e a ausência do Estado foram as causas do cangaço, assim como também do movimento de Canudos, de Antônio Conselheiro. Ah se todos esses movimentos tivessem tido um Euclides da Cunha para descrevê-los. Já anotei na minha agenda, ler uma biografia de Lampião. Uma filha sua escreveu uma.

A primeiras da vistas do lago formado pela hidrelétrica de Xingó. Depois de um belo passeio chegaríamos ao cânion.

E em meio a essas conversas chegamos a Canindé de São Francisco. Compramos o almoço, que só aconteceria na volta e embarcamos no catamarã, para três horas de passeio, de deslumbrantes paisagens e de banho nas águas místicas do rio São Francisco. O cânion é o quinto maior do mundo e, entre os navegáveis, é o maior. Ele se tornou navegável a partir da construção da hidrelétrica de Xingó, responsável pela formação de um enorme lago, pelo qual se navega. A profundidade chega a alcançar 190 metros. Isso nos dá uma ideia de como o cânion deveria ter sido antes do represamento das águas.
O primeiro dos entalhes que prenuncia as belezas das quais estávamos nos aproximando.


A usina, a terceira maior do país produz 3.162.000 KW de energia, através de seis turbinas. Mais quatro estão previstas. Por ser de construção relativamente recente é considerada a mais moderna do país. As obras foram iniciadas em 1986  e a sua inauguração se deu em 1994. O lago ocupa uma área de 65 quilômetros de extensão, divididos entre os estados de Sergipe e Alagoas, com maior rendimento de royalties para Sergipe e para a cidade de Canindé de São Francisco. Piranhas, a sua vizinha alagoana, recebe menos.
Foi terrível. Sofri um ataque de Lampião e de Maria Bonita. Consegui sair ileso.

Mas assim que o catamarã saiu, tive um sério contratempo. Sofri um ataque violento de Lampião e de Maria Bonita. Esta estava armada com um enorme facão e ameaçou cortar certas coisas, que não tive outro jeito, senão, de joelhos pedir por clemência, no que fui atendido, certamente por intercessão de São Francisco e pela simpatia de Lampião pelo time do Grêmio, time do qual eu estava vestindo a camiseta. Depois desse incidente, a atenção e, especialmente o olhar, se volta totalmente para a paisagem. As rochas começam a aparecer, num crescendo, até chegar à Gruta do Talhado, o lugar mais bonito. O nome de Talhado remete ao fato de serem tão bem trabalhadas, à semelhança do trabalho do entalhador. É um lugar magnífico, onde o catamarã para por uma hora para banho e deleite dos olhos com as magnificas águas esverdeadas e os paredões ricamente talhados pela natureza.
A fé popular e a grande veneração por São Francisco. O santo foi colocado num dos entalhes.

Pelo caminho vimos uma grande demonstração de fé popular. Em meio a um dos rochedos, numa das grutas esculpidas ou talhadas pela natureza, foi colocada uma imagem de São Francisco. A imaginação humana também consegue enxergar outras figuras, em muitas das esculturas naturais nos diferentes paredões. Com um misto de tristeza e de alegria pelo almoço (quase 15:00 horas) estávamos de volta ao ancoradouro. O almoço nos esperava no restaurante Karrankas, um almoço apressado em função da viagem de retorno. Dessa vez até eu dormi. Só acordei numa parada, onde se vendiam doces, que são famosos na região.
Esta é a Gruta do Talhado. Cena de rara beleza para guardar na memória e que vale a viagem.

O cânion de Xingó serviu de cenário para uma novela da Globo, das 18: 00 horas. Cordel Encantado. Todo mundo fala disso na região. Seguramente esta é a maior atração turística do Sergipe, senão a maior de toda a região do vasto nordeste brasileiro. Uma imagem a ser conservada permanentemente na lembrança. Uma das mais belas cenas que já vi ao longo de toda a minha vida.

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