sexta-feira, 25 de novembro de 2022

Rosa Luxemburgo. 1871 - 1919. Por Elzbieta Ettinger.

 Ao ler algumas informações sobre Rosa Luxemburgo, sobre as quais eu tive sérias dúvidas, resolvi retomar a leitura de uma biografia sua. Reli o livro de Elzbieta Ettinger (judia-polonesa-americana) cuja primeira edição data do ano de 1986. Adquiri o livro no ano 2000 e o li na mesma época. Me lembrava apenas de algumas coisas mais marcantes. Valeu muito a pena a releitura. Rosa é uma pessoa muito singular dentro das teorias e revoluções socialistas.

Rosa Luxemburgo. Elzbieta Ettinger. Zahar. 1996.

O fato de ser singular obedece a diversos fatores, entre os quais eu destacaria, junto com a biógrafa, o fato de ela ser descendente de judeus, sem seguir o judaísmo, de ser polonesa, um país que viveu sob dominação estrangeira em seu período de vida, uma tripla dominação, uma parte russa, outra austríaca e ainda uma terceira parte, alemã. Além disso, tinha um defeito físico, que lhe tolhia a altivez do andar. Sob um casamento de fachada, tornou-se cidadã alemã, mesmo sempre sendo considerada como uma estrangeira. Viveu, junto com as turbulências revolucionárias, também as suas turbulências pessoais, encontrando dificuldades em conciliar a sua vida familiar, afetiva e de liderança revolucionária.

Nasceu no interior da Polônia, mas a família logo mudou-se para Varsóvia, onde ela fez os seus estudos iniciais, destacando-se desde cedo como uma mente extremamente brilhante. Apesar das  dificuldades financeiras da família, foi estudar na Suíça (Zurique), onde concluiu o seu doutoramento, que versou sobre o processo de industrialização da Polônia. A saída da Polônia foi motivada para fugir de uma ordem de prisão. Revolucionária desde muito cedo.

Em Zurique se encontra com Jogiches, um revolucionário da Lituânia, com quem manterá relações por toda uma vida. Relações afetivas e revolucionárias. Essas relações foram extremamente complicadas, que fizeram bem e mal a Rosa. Seria possível conciliar uma vida amorosa com os ideais revolucionários? Ela acreditava que sim. Depois da Suíça, Rosa foi para a Alemanha, para Berlim, mais precisamente. A sua militância foi dentro do poderoso partido da Social Democracia, o SPD, onde teve ascensão fulminante. A sua voz juntava milhares de trabalhadores e a sua pena ocupava espaços nas grandes publicações operárias, especialmente na Alemanha, Polônia e na Rússia.

Rosa nunca foi de repetir teorias. Ela sempre criava as suas. Isso lhe causou muitos problemas, tanto junto aos governos, quanto em meio às próprias organizações operárias. A sua ascendência na social democracia alemã começou a incomodar a direção partidária. Ela era tida como a melhor professora na escola do Partido, sendo considerada uma professora extremamente criativa, que somava às questões teóricas da economia e da política  os grandes personagens da literatura universal.

Encontramos uma forma da expressão do seu pensar bastante significativa na seguinte passagem, quando ela militava, já morando em Berlim. "O conceito de socialismo de Luxemburgo brotou de suas divergências com Marx, o SPD e Lenin. Seus princípios fundamentais foram elaborados, ainda que de maneira muito fragmentária, em sua avaliação de 1918 da Revolução Russa, e perpassaram todo o seu trabalho. O denominador comum no conceito de socialismo de Rosa era a liberdade de 'pensar de maneira diferente'. Seu compromisso com a revolução era, fundamentalmente, uma questão moral. A Realpolitik, fosse ela concebida por Marx, Kautsky ou Lenin, era imoral e, portanto, sem valor. Luxemburgo frisava uma dimensão ética e o idealismo dos trabalhadores, enquanto Marx sublinhou as leis inexoráveis da história, Kautsky, o bem-estar dos trabalhadores, e Lenin a ditadura do proletariado. Por não ter criado uma obra abrangente sobre a mudança social, ela foi basicamente descartada como sendo uma teorizadora ou uma pensadora política inovadora. No entanto, sua contribuição nacional não foi menos válida, do ponto de vista teórico, do que a de Lenin, e foi, por certo, uma dedução coerente dos ensinamentos de Marx".

Uma das ênfases maiores de seu pensamento foi o da necessidade da internacionalização da luta dos trabalhadores, questão que deveria ser superior a dos nacionalismos, que só contribuiriam para desunir. A irrupção da primeira guerra foi terrível para a luta revolucionária, quando as lutas nacionalistas inverteram as prioridades. A nação foi posta acima dos interesses da classe trabalhadora. Esse foi o principal erro da social democracia alemã, além de priorizarem a luta parlamentar, sobre as lutas revolucionárias. Rosa ficou em diferentes prisões, praticamente ao longo de toda a primeira guerra. 

O seu fim veio em janeiro de 1919. O dela e o de seu companheiro de lutas Karl Liebknecht. Morreu assassinada pelos militares do governo social democrata alemão. Ela, primeiramente, foi vítima de uma coronhada e depois de um tiro fatal. O seu corpo foi jogado no rio Spree. Jogiches conseguiu recompor a verdade dos fatos sobre a sua morte. Antes de seu assassinato ela rompera com a social democracia alemã, fundando a Liga de Spartacus, que originou o Partido Comunista alemão. Já a Alemanha enveredou pela República de Weimar e posteriormente para a vergonhosa e desastrosa ascensão de Hitler e do regime nazista.

A biografia escrita por Elzbieta Ettinger tem 15 capítulos, um epílogo e a sua correspondência com o pai e os irmãos. A biografia foca mais a vida pessoal do que a obra teórica da revolucionária. Ela só não teve uma repercussão maior, como teórica, porque ela foi, numa linguagem dos nossos dias, cancelada por Stalin, que em 1931, a acusou de fazer do conceito de revolução de Marx uma mera caricatura. Além disso, nos conta a biógrafa, no prefácio de seu livro "Além da revolucionária renomada, porém há uma outra Rosa Luxemburgo, uma pessoa basicamente desconhecida e triplamente estigmatizada: como mulher, como judia e como aleijada. Esta biografia é primordialmente dedicada a retratar essa pessoa". 

quinta-feira, 17 de novembro de 2022

Números de esperança. O Brasil ainda tem jeito.

 Dei uma folga relativamente grande às atividades do blog, por estar inteiramente absorvido em uma outra atividade ao longo dos últimos meses. Terminada essa tarefa, cá estamos. Sinto falta das leituras e das resenhas dos livros, às quais retomarei em breve.

Rosas brancas. Símbolos de paz.

O post de hoje tem uma finalidade clara e precisa. Mostrar um número que, ao menos para mim, serviu de um grande alento. Também creio ser desnecessário dizer que acompanhei atentamente o último processo eleitoral, bem como o processo de transição que está em curso.

O período eleitoral foi horroroso e acompanhado de muitas preocupações. Não conseguia imaginar mais quatro anos de políticas absolutamente destrutivas para o país. E, morando em reduto nada favorável ao espírito democrático, na dita "República de Curitiba", passei momentos angustiantes, mitigados em encontros com amigos, para mutuamente nos reconfortarmos. O que seriam mais quatro anos com o poder nas mãos desses....deixo os qualificativos para o preenchimento de vocês. E eu não conseguia antever apenas quatro anos, se eles vencessem. O passado projetava mais um longo período de autocracia pela frente. 

Felizmente vencemos. O que estamos vendo é inimaginável e inacreditável. As instituições brasileiras são frágeis demais para acreditar num estabilidade democrática em bases sólidas. O golpe paira no ar permanentemente. A tênue e frágil membrana que ainda mantém a serpente dentro do ovo, está por ser rompida com o auxílio de irados insanos, que não poupam trabalho e recursos para fins inomináveis. As lições anti civilizatórias do passado não servem de lição. Que Auschwitz se repita, parece não importar.

Felizmente vencemos. Os blefes nas ruas, em breve, silenciarão. Lula já está agindo como presidente e, encantando o mundo. O Brasil está retomando protagonismo. Sei que os números finais do processo eleitoral não foram dos melhores, mas quero apresentar alguns que me fizeram muito bem. Eles são um bom e animador indicativo.

Eis os números. Eles são um comparativo entre os anos de 2018 e 2022, das eleições para presidente da República.. Em 2018, o inominável se elegeu presidente com 57.797.847 votos. Já em 2022 ele foi derrotado com 58.206.354 votos. Teve, assim, 408.507 votos a mais do que em 2018. Vamos agora ver o outro lado.

Haddad em 2018, no segundo e decisivo turno, perdeu as eleições com a soma de 47.040.906 votos. Já o presidente Lula, venceu agora, em 2022, com 60.345.999 votos. Vejamos a diferença, o crescimento entre 2018 para 2022. 13.305.093 votos. É muito animador e muito mais animador ainda, quando lembramos de todas as dificuldades enfrentadas ao longo desse terrível processo eleitoral.

Entre 2018 e 2022, um crescimento de 13.305.093 votos. Números de esperança.

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Um adendo. Em 04.01.2023. Do Blog do Noblat.

"O Partido dos Trabalhadores é o maior vencedor de eleições presidenciais do Brasil. Ganhou cinco das oito eleições da Nova República. Ficou em segundo lugar em todas as que perdeu. Esteve em todos os segundos turnos (Folha).