Lendo A classe média no espelho, de Jessé Souza, encontro a referência ao livro História das lutas sociais no Brasil, de Everardo Dias. outra grande referência apontada pelo Jessé, neste mesmo livro foi Homens livres na ordem escravocrata, de Maria Sylvia de Carvalho Franco. Jessé Souza, além de ele próprio ser uma grande referência, sempre nos remete a outras. O livro de Everardo Dias foi publicado originalmente em 1962. Já o que eu li, é da Editora Alfa-Omega, de 1977. É óbvio, que o título me provocou a busca do livro.
Da Alfa-Omega, de 1977.
Da Alfa-Omega, de 1977.
O livro, escrito em 1961, é obra de um militante, um gráfico, que trabalhava no jornal Estado de S. Paulo. Esteve, assim, em contato com a mais alta intelectualidade deste país e com os comunistas, de modo particular, de acordo com as suas convicções, história de vida e de lutas. Everardo nasceu em Pontevedra na Espanha, em 1883 (1886 - no livro) e morreu em São Paulo, no ano de 1966. O foco maior de seu livro são os anos da virada do século XIX para o XX e as primeiras três décadas deste. Everardo é o narrador de seus sonhos, desejos e, especialmente, de suas lutas. Sempre protagonista.
Seu livro tem 330 páginas que estão divididas entre - Dados biográficos do autor, uma introdução e três partes, com os seguintes títulos: O Socialismo no Brasil; Organização Trabalhista e Lutas Sindicais e Primeiras Ideias Socialistas no Brasil. A primeira parte consta de 13 capítulos, a segunda, de três e a terceira, de apenas um. Nenhum dos capítulos leva título.
Na primeira parte temos a República e as primeiras frustrações com ela, o que só lhe fazia aumentar o desejo por justiça. São também tempos de forte imigração. Europeus vem, alguns com o sonho burguês do enriquecimento, e outros, com os ideais de justiça, de um socialismo já consolidado. Na organização sindical prevalece o anarco-sindicalismo. Embora as organizações ainda fossem fracas a repressão policial, ao contrário, já era extremamente forte e violenta. Em 1917 surge o grande alento, com a primeira greve geral. Acordos são celebrados. Mas bastou a volta ao trabalho para a violência ser redobrada. Os anos 1920 foram passados sob constante Estado de Sítio, mas também foram anos de muita movimentação. Alento enorme veio junto com a revolução bolchevique na Rússia, de 1917 e com a fundação do PCB no Brasil, em 1922. Chega também o trabalhismo, com a ascensão de Vargas. São estas as principais pinceladas da primeira parte.
Na segunda parte voltam as discussões em torno do marxismo, do socialismo reformista e, ainda, a doutrina dos anarquistas. Como novidade, chegam as ideias trabalhistas e a nomeação do primeiro ministro do trabalho do Brasil. Era Lindolfo Collor, que nada tinha a ver com os trabalhadores. O autor reconhece as conquistas da era Vargas, lembra de muitos aproveitadores e reconhece que a vida das lideranças dos movimentos teve melhoras, tudo se complicando, mais uma vez, com o Estado Novo. Também o cenário internacional merece suas análises. Aí seguem setenta páginas sob forma de enciclopédia, com a narrativa das principais lutas, desde 1798, quando da execução dos quatro líderes da revolta dos alfaiates na Bahia e chegando até 1934. São anotações que sobreviveram a todas as investigações a que o autor sempre esteve submetido. Uma bela narrativa.
Na terceira parte entram em cena os índios e os negros, até aqui ausentes em sua narrativa. Vejamos sobre o indígena: "O elemento proletário indígena, em sua imensa maioria analfabeto e inferiorizado, empregava-se em ocupações secundárias, não se lhe reconhecia valor mesmo que fosse um artista ou perito em algum mister. Podiam, quando muito, achar que era 'habilidoso'". E agora sobre o negro: "Quanto ao negro, saído poucos anos antes da escravidão, tinha apenas a missão de trabalho rude e pesado, tanto na lavoura como nas cidades, era um ser desprezível e humilhado" E arremata: "Esse o panorama do País, por essa década de 90 a 900". Ou seja, de 1890 a 1900.
Vejamos ainda a contra capa do livro: "Everardo Dias, é um dos raros sobreviventes daquela geração que, nas primeiras décadas do século, contribuiu para organizar e dar uma consciência de classe ao jovem proletariado brasileiro que então se formava no país.
Operário ele mesmo, participou da criação de muitas organizações sindicais e políticas do operariado, dirigiu greves, editou jornais e revistas de caráter classista e esteve integrado em todas as lutas políticas e sociais que se verificaram no Brasil, principalmente entre os agitados anos de 1910 e 1930.
Seu nome está hoje profundamente ligado à história das lutas sociais em nosso país. E este livro é a rememoração, aliás, bem documentada, dessas lutas, de que foi testemunha e quase sempre ator de primeira linha.
Preso inúmeras vezes, sempre ligado às massas operárias e consciente de sua posição social e seus deveres de membro da classe operária, ele acumulou um experiência valiosa para as novas gerações.
Autor de vários livros, e dono de um estilo claro e conciso, este seu último trabalho confirma suas qualidades de escritor popular que possui uma vivência e uma mensagem que deve ser acolhida com especial atenção, como valiosa contribuição para o conhecimento da história pátria".
Na primeira parte temos a República e as primeiras frustrações com ela, o que só lhe fazia aumentar o desejo por justiça. São também tempos de forte imigração. Europeus vem, alguns com o sonho burguês do enriquecimento, e outros, com os ideais de justiça, de um socialismo já consolidado. Na organização sindical prevalece o anarco-sindicalismo. Embora as organizações ainda fossem fracas a repressão policial, ao contrário, já era extremamente forte e violenta. Em 1917 surge o grande alento, com a primeira greve geral. Acordos são celebrados. Mas bastou a volta ao trabalho para a violência ser redobrada. Os anos 1920 foram passados sob constante Estado de Sítio, mas também foram anos de muita movimentação. Alento enorme veio junto com a revolução bolchevique na Rússia, de 1917 e com a fundação do PCB no Brasil, em 1922. Chega também o trabalhismo, com a ascensão de Vargas. São estas as principais pinceladas da primeira parte.
Na segunda parte voltam as discussões em torno do marxismo, do socialismo reformista e, ainda, a doutrina dos anarquistas. Como novidade, chegam as ideias trabalhistas e a nomeação do primeiro ministro do trabalho do Brasil. Era Lindolfo Collor, que nada tinha a ver com os trabalhadores. O autor reconhece as conquistas da era Vargas, lembra de muitos aproveitadores e reconhece que a vida das lideranças dos movimentos teve melhoras, tudo se complicando, mais uma vez, com o Estado Novo. Também o cenário internacional merece suas análises. Aí seguem setenta páginas sob forma de enciclopédia, com a narrativa das principais lutas, desde 1798, quando da execução dos quatro líderes da revolta dos alfaiates na Bahia e chegando até 1934. São anotações que sobreviveram a todas as investigações a que o autor sempre esteve submetido. Uma bela narrativa.
Na terceira parte entram em cena os índios e os negros, até aqui ausentes em sua narrativa. Vejamos sobre o indígena: "O elemento proletário indígena, em sua imensa maioria analfabeto e inferiorizado, empregava-se em ocupações secundárias, não se lhe reconhecia valor mesmo que fosse um artista ou perito em algum mister. Podiam, quando muito, achar que era 'habilidoso'". E agora sobre o negro: "Quanto ao negro, saído poucos anos antes da escravidão, tinha apenas a missão de trabalho rude e pesado, tanto na lavoura como nas cidades, era um ser desprezível e humilhado" E arremata: "Esse o panorama do País, por essa década de 90 a 900". Ou seja, de 1890 a 1900.
Vejamos ainda a contra capa do livro: "Everardo Dias, é um dos raros sobreviventes daquela geração que, nas primeiras décadas do século, contribuiu para organizar e dar uma consciência de classe ao jovem proletariado brasileiro que então se formava no país.
Operário ele mesmo, participou da criação de muitas organizações sindicais e políticas do operariado, dirigiu greves, editou jornais e revistas de caráter classista e esteve integrado em todas as lutas políticas e sociais que se verificaram no Brasil, principalmente entre os agitados anos de 1910 e 1930.
Seu nome está hoje profundamente ligado à história das lutas sociais em nosso país. E este livro é a rememoração, aliás, bem documentada, dessas lutas, de que foi testemunha e quase sempre ator de primeira linha.
Preso inúmeras vezes, sempre ligado às massas operárias e consciente de sua posição social e seus deveres de membro da classe operária, ele acumulou um experiência valiosa para as novas gerações.
Autor de vários livros, e dono de um estilo claro e conciso, este seu último trabalho confirma suas qualidades de escritor popular que possui uma vivência e uma mensagem que deve ser acolhida com especial atenção, como valiosa contribuição para o conhecimento da história pátria".