quinta-feira, 25 de agosto de 2016

Ética para Meu Filho. Fernando Savater.

Se o livro de Márcia Tiburi, Filosofia Prática - ética, vida cotidiana, vida virtual é extremamente sofisticado, o livro de Fernando Savater, Ética para meu filho é extremamente simples. A exemplo de Aristóteles com o seu Ética a Nicômaco, Savater também escreveu seu livro para o seu filho, para o Amador. Amador está na adolescência. Por isso, para que ele tenha a devida compreensão, a linguagem foi bem adequada à idade.
Ética para meu filho. Editora Martins Fontes. 1998.

Como vou fazer uma fala sobre o tema, retomei o livro de 1998. Muito o utilizei nas aulas de filosofia e ética. A linguagem é simples, mas não houve nenhuma simplificação nos conceitos trabalhados, todos essenciais para bem compreender o que é efetivamente a ética. Conceitos como indivíduo, liberdade, formação humana, relação com o outro e o conceito que dele tem, o respeito que deve fundamentar esta relação e os direitos que se originam a partir desta relação. Afinal de contas, o viver humano se estabelece na convivência. Viver é conviver.

Uma das ideias mais felizes do autor é que, ao final de cada capítulo, cita frases de autores que trabalharam o tema, para estabelecer com eles uma interação. Uma de suas preferências recai sobre Erich Fromm, ao retirar de seu livro Ética e psicanálise várias frases. Também é notável o uso de personagens conhecidas, a título de ilustração, como o bíblico Esaú que, por precipitação, vendeu a sua primogenitura por um prato de lentilhas para o seu irmão, bem esperto por sinal, o cidadão Kane, que com todo o seu poder e fortuna, vivia triste em seu palácio de espelhos, espelhos estes, que apenas refletiam a sua solidão e Ricardo III., que chega a uma triste conclusão sobre o seu estado clínico patológico: "Lançar-me-ei com sombrio desespero contra minha alma e acabarei transformado em inimigo de mim mesmo".

O livro começa, à guisa de introdução, com uma advertência antipedagógica do autor: "Não creio que a ética sirva para solucionar nenhum debate, embora seu ofício seja colaborar para iniciar todos eles..." e, ainda, que "a pobre ética não veio ao mundo para dedicar-se a escorar ou a substituir catecismos". E, junto com a nota antipedagógica, vem também uma advertência: Ela, a ética "é uma parte essencial de qualquer educação digna desse nome". O prólogo vai também, mais ou menos, na mesma direção, da necessidade de abrir a cabeça. O meio é a reflexão.
Para ter uma ideia dos temas, indico o título dos diferentes capítulos: I. O que é a ética?; II. Ordens, costumes e caprichos; III. Faça o que quiser; IV. Dê a si mesmo uma boa vida; V. Vamos, acorde!; VI. Surge o grilo sábio; VII. Ponha-se no lugar do outro; VIII. Muito prazer; IX. Eleições gerais. Com o epílogo vem a última recomendação: "Cabe a você pensar".

O livro é extremamente bem humorado, longe de ser chato, com recomendações, conselhos ou moralismos, bastante comuns, especialmente em livros com viés religioso. Também não há fórmulas para êxitos financeiros ou sucesso nos negócios, como tantos inescrupulosos, com muita falácia o fazem. Muitos autores também confundem a moral com a ética. Savater usa indistintamente os dois termos mas faz a advertência de que são bem distintos. Muitas vezes se situam em campos opostos. A ética jamais terá mandamentos e receituários. Ela sempre brotará da interação entre a reflexão, ação, reflexão.
Fernando Savater. Sempre preocupado com a ética e a educação.

Creio que seja fácil ver a abordagem temática nos capítulos: Fundamentos da ética no primeiro, moral e costumes no segundo, liberdade no terceiro, busca da felicidade e o seu significado, no quarto, a formação da consciência, no quinto e no sexto, alteridade no sétimo, os prazeres da vida, em oposição com o medo da morte, no oitavo, onde também a questão da sexualidade tem uma bela abordagem. No nono é vista a relação entre a ética e a política e no epílogo faz uma bela recomendação: "Escolha o que o abra: para os outros, para novas experiências, para diversas alegrias. Evite o que o feche e o enterre". O autor não esconde que o sétimo capítulo é o mais longo e o de maior importância.

Na orelha do livro encontramos algo sobre o autor e para quem a obra seria destinada: "Como falar de ética a adolescentes sem cair na simples crônica das ideias morais ou na doutrinação casuística sobre questões práticas? Este livro não pretende resolver este problema nem ser um manual escolar de moralidade. Procura contribuir, filosófica e literariamente, para colocar da melhor forma essa preocupação. Dirige-se especialmente aos leitores entre quatorze e dezesseis anos e nem tanto aos professores deles.  O autor é catedrático de ética do país basco (Espanha)". Da minha parte, porém, eu digo, deve ser  lido também pelos professores. Um livro para estes tempos em que se procura vender a ética e a felicidade como se fossem commoditys.




segunda-feira, 22 de agosto de 2016

"Escola sem Partido". Um golpe contra a educação, contra a autonomia e a liberdade.

Como na sexta feira, dia 19 de agosto de 2016, tivemos um debate sobre o Projeto "Escola sem Partido", julgo oportuno também entrar neste debate. O evento teve lugar no anfiteatro 100 da UFPR e foi patrocinado pelo grupo da APP-Sindicato - Independente, núcleos Curitiba Norte e Metropolitana Sul O palestrante foi o professor Dr. Fernando Penna da UFF. e o debatedor foi o professor Doutor Geraldo Balduíno Horn da UFPR.
 O professor Fernando Penna, uma referência nacional no combate a este projeto fascista.

A fala do professor Fernando Penna foi riquíssima. Ele já está bem traquejado no tema, uma vez que se transformou na grande referência nacional no combate ao projeto, participando de debates na mídia, nos parlamentos, nas audiências públicas, nos sindicatos e em todos os espaços possíveis, onde haja oportunidade para se contrapor a este amordaçador projeto, de inspiração claramente fascista. Por fascismo se entende, em primeiro lugar, a total interdição do diálogo. Também creio ser facilmente visível o grau de inibição e de autocensura que o projeto irá causar.

O professor relatou as origens do projeto. Um tal de Nagib, um advogado paulista, fundou o movimento após ouvir de sua filha, que o professor de história fizera, em sala de aula, uma comparação entre Che Guevara e São Francisco de Assis. Isso em 2004. Nagib é advogado e ganhou notoriedade pelas suas andanças em defesa do projeto. Ele participa de debates na mídia e se evidencia pela truculência de sua verborreia, sempre procurando a desqualificação de quem se contrapõe ao projeto. O principal mote do grupo é o mito da neutralidade e o de que professor não educa, apenas ensina. Um aplicador de aulas, sem identidade e sem consciência. Um robot. Tem raízes mais profundas, nos movimentos conservadores internacionais. A truculência pode ser vista nos sites do movimento.

O projeto ganhou adeptos nas instâncias parlamentares, desde as câmaras municipais, estaduais e federais, atingindo inclusive o Senado com um projeto de um conhecido senador de um emblemático sobrenome, Malta. Nas outras esferas a família Bolsonaro atua em todos os lugares por eles ocupados. O grupo encontrou forte apoio nas chamadas bancadas evangélicas, as da teologia da prosperidade, com o seu discurso de combate às ideologias de gênero. A sua linguagem é de uma falta absoluta de respeito aos seus interlocutores. É discurso ofensivo, xingamentos, humilhações e desqualificações. Os principais alvos que combatem, imaginem, são Paulo Freire e Gramsci.

Eu tive a felicidade de conhecer e conviver por alguns momentos com Paulo Freire. Não se pode imaginar uma pessoa mais humana do que ele. Toda a sua pedagogia é voltada para a conscientização e para a emancipação do ser humano. Defende uma "Educação como Prática da Liberdade e uma Pedagogia do Oprimido, em favor dos oprimidos. Isso tudo porque vivemos em uma sociedade plena de contradições. A finalidade do movimento "Escola sem Partido"  é a de por viseiras e mordaças para que estas contradições não sejam percebidas por aqueles que são vítimas de suas consequências. Procuram evidenciar, com ares de truculência e alto grau de ameaças, que vivemos numa sociedade harmoniosa, isenta de conflitos, de uma suposta meritocracia dos vencedores. Nisso não há nenhuma ideologia.

O professor Penna mostrou a inconstitucionalidade do projeto, o seu confronto com os artigos 205 a 214 da Constituição e de todo o espírito da LDB, uma lei complementar à Constituição e, portanto, hierarquicamente superior à legislação ordinária. Assim considerando, o projeto não deveria  causar preocupações, mas não podemos ter confiança na judicialização da questão, pois nunca tivemos uma oportunidade tão clara para ver a atuação do Poder Judiciário, como o estamos vendo agora.

O professor Geraldo Balduíno, da UFPR, atuou como debatedor e usou o seu tempo para insistir na organização das instituições da sociedade civil para evitar o avanço do nefasto projeto. Quero ainda destacar duas intervenções do plenário no debate. Uma, de um cidadão que procurou se mostrar simpático, afirmando ser filho de professora da escola pública, de ter se formado em engenharia em uma universidade pública, mas que via com satisfação a chegada de um novo AI-5 para conter os abusos cometidos pelos professores. Depois saiu ameaçando, dizendo ter gravado tudo. Foi uma pequena demonstração do estado de ameaça permanente que pairará sobre a cabeça dos professores, caso aprovado o projeto. Eliminarão da docência a quem eles quiserem. Você consegue antever as primeiras vítimas? O projeto prevê inclusive cadeia para os professores.
O professor Fernando junto com o debatedor, Geraldo Balduíno e organizadores do evento.

A outra intervenção foi de um jovem que se confessou liberal. Disse que, apesar de todas as divergências que tinha com relação a concepções de educação e a sua forma de ofertá-la, se mostrava preocupado com o projeto, que não tem inspiração liberal, mas sim, inspiração fascista. Por que estou trazendo este dado? Se até os liberais estão preocupados, imaginem o quantos nós, de inspiração humanista e emancipatória não devemos estar?

Duas recomendações finais, para além da conclamação feita no evento, para a organização e luta contra a aprovação do projeto: a leitura do texto de Adorno Educação após Auschwitz, encontrado no livro Educação e Emancipação e assistir o filme de Ingmar Bergman, O Ovo da Serpente. É possível a volta de Auschwitz, com proporções ainda mais dramáticas, com a eliminação de um mundo de novos indesejados e, também a serpente já está bem visível através da fina membrana que cobre o seu ovo. No futuro é mais fácil vislumbrarmos distopias do que utopias. Lamentavelmente.

segunda-feira, 15 de agosto de 2016

Filosofia Prática. Márcia Tiburi.

Há tempos que acompanho Márcia Tiburi. Primeiramente pela revista Cult, depois pelo seu livro Como conversar com um fascista e ainda, por duas palestras suas aqui em Curitiba, uma na UFPR e outra na APP-Sindicato. Nesta fala, na APP-Sindicato, ela falou bastante de outro livro seu, Filosofia Prática. O livro versa, como consta no subtítulo, sobre ética, vida cotidiana, vida virtual. Como tenho pela frente uma fala sobre ética, optei pela leitura deste livro.
300 páginas que integram a ação - reflexão - ação. Incômodo, como olhar diretamente para a luz.

Saramago nos diz que o pensar que não incomoda não é verdadeiramente um pensar e, se este livro teve o objetivo de realmente fazer pensar, isto é, causar profundos incômodos, ele o cumpriu plenamente. Mas o que seria uma filosofia prática, anunciada no título do livro, e por que ela seria efetivamente necessária? Com o livro você terá 300 páginas pela frente para encontrar a resposta. A filosofia prática nada mais é do que a ética. A ética se traduz na ação humana oriunda da reflexão, uma potencialidade perdida pelas amarras produzidas por um mundo, em que o apocalipse já nos atropela. Somar a cada ação humana a riqueza do pensar, do refletir a ação, é a recuperação da ação ou da experiência efetivamente humana. A filosofia prática é uma busca permanente.

Neste sentido a ética não vai ao encontro da moral. pelo contrário, ela é o seu oposto. A moral é feita de códigos prontos que nos são passados pelo discurso, que é a verdadeira morte da linguagem, uma vez que esta se dá pelo diálogo.  A ética implica num encontro do eu consigo mesmo, no encontro deste eu com o outro, encontro que começa pela linguagem e que implica no conviver com o outro. Márcia Tiburi, ao falar da linguagem, lhe acrescenta um adjetivo, a linguagem poética. Num outro livro de ética li, que comer e procriar é muito pouco para uma vida. Seria a ausência do poético.
Márcia Tiburi na UFPR, no curso de direito.

O livro é estruturado em um prefácio, quatro capítulos e um posfácio. O prefácio tem uma espécie de título assim posto, da ética à etico-poética. O primeiro capítulo se ocupa da questão de como me torno quem sou? O segundo capítulo se volta para o outro O que estou fazendo com os outros? O terceiro capítulo versa sobre a interação entre o eu e o tu, do como viver junto? O quarto capítulo versa sobre uma questão extremamente atual, sobre ética e cotidiano virtual.

A própria Márcia fala da temática do livro, quando no quarto capítulo, fala dos problemas que a ética enfrenta no mundo da internet: "A questão de "como" resolver problemas éticos que surjam no mundo da internet depende do reconhecimento do "que" estamos falando e fazendo e, sobretudo, dos processos éticos como processos de recorrente questionamento sobre os modos de subjetivação (como nos tornamos o que somos?), dos modos de relação e ação (o que estamos fazendo uns com os outros?) e dos modos de estar e ser, de existir (como viver junto?). Isto é uma verdadeira pequena síntese do livro.
O mais recente livro de Márcia Tiburi. Lançado num momento muito oportuno.

Quais são os grandes temas apresentados? Norval Baitello Júnior, na orelha do livro, nos dá preciosas indicações: "...mas também apresenta as patologias do nosso tempo. E quantas patologias nos afetam a vida! Enumero apenas algumas, para que o caro futuro leitor tenha uma ideia do amplo espectro do pensamento que aqui se apresenta: 'a banalidade do mal', 'a produção social da ignorância e da burrice', 'o empobrecimento da experiência na comunicação de massa', 'o vazio do pensamento', 'o pseudo lazer do hobby e do consumo', 'o poder de matar o outro por desqualificação e apagamento', (este que motiva tanto a corrupção dos nossos políticos, com sua capacidade de apagar os cidadãos por considerá-los menos espertos, ou também o poder das máquinas de governo de sentenciar a morte de milhões por simples entrega nas mãos do chamado mercado)".

Para mim, particularmente me tocaram alguns conceitos como o da banalidade do mal, analisado sob a luz de Hannah Arendt, em seu Eichmann em Jerusalém. Ali se vê que a prática do mal não está apenas reservado a monstros, mas embutido em todos aqueles que ocupam cargos com mandos burocráticos. Portanto, a prática do mal está bem próxima, está às mãos. Também o conceito de vazio do pensamento me tocou. Ele é analisado sob a luz de Adorno e Horkheimer, mostrado essencialmente a partir das nefastas mágicas produzidas pela indústria cultural, como também pela chamada sociedade do espetáculo.
Um autógrafo e um beijo.

Também são notáveis as incursões no mundo da literatura para a ilustração de muitos dos conceitos trabalhados. Ganham notoriedade Graciliano Ramos e o seu Vidas Secas e Kafka com Metamorfose. Homens esvaziados de linguagem.

Os grandes interlocutores do campo da filosofia são os pensadores da Escola de Frankfurt, Adorno, Horkheimer e Benjamin, além de Hannah Arendt, Wittgenstein, Foucault, Vilém Flusser, entre outros. Um livro fundamental para a recuperação do humano e para dar um significado real a uma vida, em tempos tão tristes e plenos de dessignificação, ou de ausência de significado. Um mundo dominado pelas coisas e pelas mercadorias  e voltado para o consumo. Uma vida pobre e destituída de significado busca saídas desesperadas, todas habilmente exploradas no mercado, como as igrejas e a própria psiquiatrização da vida. Um livro para leitores exigentes. Um livro que seguramente não faz parte dos livros da chamada indústria cultural do livro.

quinta-feira, 11 de agosto de 2016

Na cidade do Panamá. Por causa de um overbooking.

A nossa viagem para Cuba foi pela Copa Airlines, com conexão na cidade do Panamá. Não existem voos entre cidades brasileiras e Havana. A Copa é uma empresa panamenha. Quando fizemos o check in em Havana, a nossa passagem não estava com assento numerado. Veio com a sigla do stand by. O embarque seria às 12h30. Não embarcamos. Aí nos comunicaram o fato do overbooking. Embarcaríamos no voo das 18h30 e como compensação receberíamos $10,00 de lanche e $400,00 em voos. Um cala boca, para evitar discussões maiores no aeroporto. Os $10,00 dólares pagariam apenas dois cafezinhos. E os voos ofertados ficariam para as calendas gregas. O Valdemar que é advogado tomará as providências.
O altar dourado da bela igreja na cidade do Panamá.

Muito li sobre as conexões no Panamá. Muitos voos tem conexões com esperas mais longas e as pessoas aproveitam para um tour pela cidade e pelo seu famoso canal. Mas havia também muitas advertências sobre os problemas de trânsito na cidade, especialmente na região do canal. Valdemar é corajoso e a Regina nos garantiu que com o Valdemar tudo dá certo. E lá fomos nós.

Na imigração nos alertaram para o problema. Teríamos que ter no mínimo seis horas à disposição, mas não impediram a nossa saída. Por cem dólares alugamos um táxi e já lhe colocamos o nosso problema, do horário da volta. Começamos a visita pela cidade moderna e pelo seu centro histórico, com uma parada na igreja que tem o seu altar todo revestido em ouro. O Panamá é um país relativamente novo e, em consequência, não tem tantas atrações históricas, embora a presença dos colonizadores, já no século XVI.
Marco Aurélio, eu Valdemar e Regina no Canal do Panamá, a parte do Atlântico.

O taxista nos contava um pouco da história de seu país, nos falava da nova e moderna cidade, que contemplávamos, até entrarmos no seu centro histórico. Foi a primeira vez que entrei em contato com uma cidade às margens do Oceano Pacífico. A maré estava bem baixa e, na volta, a paisagem já estava alterada, com a maré em alta. Também nos contava alguma coisa sobre o canal, agora totalmente administrado pelo governo panamenho.  Também houve uma ligeira abordagem do caso Panamá Papers. Não iríamos ali abrir uma empresa.

O Panamá se tornou independente em 1903, da Colômbia. A causa foi a abertura do canal, que já estava em construção, mas a obra fora abandonada. O canal começou a ser construído em 1880, com capital majoritariamente francês. A concepção do projeto foi de Ferdinand Lesseps, o mesmo do Canal de Suez. As obras foram interrompidas em 1889 e abandonadas em 1898 por falência da empresa de Lesseps e pelas inúmeras mortes causadas pela febre amarela e pela malária.
Uma vista que dá a entender o mecanismo do Canal do Panamá.

No início de 1903 os Estados Unidos entram no cenário. Assinam com o governo da Colômbia o Tratado de Hay Harran, mas o Senado colombiano não o ratifica. Já em novembro o processo da independência do Panamá estava concluído, com o reconhecimento imediato dos Estados Unidos. A Colômbia o fará apenas em 1921. Em 1904 recomeça a construção do canal e a inauguração ocorrerá em agosto de 1914. Pelas cláusulas o domínio dos Estados Unidos seria perpétuo. Para isso pagariam aos panamenhos dez milhões de dólares e uma contribuição anual de mais duzentos e cinquenta mil. Junto com o canal veio uma base militar. Por que será? Mais tarde, também a Colômbia recebeu uma pequena compensação.
Navios fazendo a travessia.


O sistema que permite a travessia, de algo em torno de 77 quilômetros, é feito através de três eclusas, pelas quais a água é elevada a abaixada em cerca de 26 metros, que é o desnível entre as águas do Atlântico e do Pacífico, sendo este o mais baixo. O maior custo da obra foi o de vítimas humanas, em torno de 25.000, mortas pelos acidentes de trabalho, por malária e por febre amarela. Em dezembro de 1999 o governo do Panamá tomou conta total da administração do canal. O taxista nos contava, com orgulho, este detalhe.

O canal movimenta algo em torno de 5% do tráfego mundial e, em média, de doze a quinze mil navios fazem o translado anualmente. O custo varia de acordo com o peso da carga, e oscila entre os  quinhentos mil a um milhão de reais. O canal figura entre as sete maiores maravilhas do mundo. A população do Panamá é de quase quatro milhões de habitantes espalhados por um território de 75.517 Km². A cidade do Panamá tem em torno de um milhão de habitantes. Os brasileiros frequentam muito a cidade, por ser um grande centro de compras. O país é uma espécie de imensa cidade paraguaia de Leste.
Por falta de tempo não conseguimos fotos pelo lado do Pacífico. Aí tem uma visita ao museu do canal por $15,00.


É, como podem ver, o overbooking não foi tão ruim assim. E como nos disse a Regina, com o Valdemar sempre tudo dá certo. Não enfrentamos filas na imigração e tivemos poucos problemas de trânsito. Não tivemos nenhum problema por causa da escassez do tempo e o conhecimento da cidade e do canal valeu muito a pena. E... compartilho esta experiência com vocês.

 

terça-feira, 9 de agosto de 2016

Crônicas da Resistência. Narrativas de uma democracia ameaçada.

No dia 28 de julho de 2016, no teatro da reitoria da Universidade Federal do Paraná, foi lançado o livro Crônicas da Resistência - Narrativas de uma democracia ameaçada. O livro é uma coletânea de textos organizada pela jornalista Cleusa Slaviero e se constitui de reflexões e vivências de autores que fazem parte de um grupo de resistentes. É o que pode ser visto e lido na capa do livro, da Editora Compactos.
Acima de tudo o livro é um manifesto de indignação contra a democracia ameaçada.

Todo o mérito do livro é da jornalista, que incansavelmente trabalhou para que ele se tornasse realidade. Ele é, no entanto, uma construção coletiva graças a obstinação de Cleusa, que via facebook, in box, Whatsapp, e-mails e alguns telefonemas conseguiu juntar em torno de 80 pessoas que puseram no papel os sentimentos que os envolveram nos episódios do atentado que está sendo perpetrado contra a jovem democracia brasileira. Ação de estupradores profissionais e contumazes. O primeiro momento deste atentado foi o impedimento da presidente, ocorrido naquele fatídico e nojento dia 17 de abril, quando ocorreu a votação na Câmara dos Deputados.

O livro deu voz, uma voz profundamente indignada, a muitos anônimos batalhadores da causa da democracia e das políticas públicas em favor da construção da cidadania do povo brasileiro. O livro lhes deu oportunidade para registrarem, junto ao mundo que lhes é próximo e perante a história, o seu apreço pela democracia. Nem mesmo os autores se conheciam entre si. A edição do livro se deu através de auto financiamento, isto é, cada autor contribuiu para que o livro se tornasse realidade. O retorno veio sob a forma de livro.
A comandante Cleusa Slaviero, organizadora do livro. Feliz às vésperas do lançamento.

Não obstante o caráter praticamente anônimo de seus autores, alguns dos nomes são de pessoas muito conhecidas e respeitadas por suas histórias de vida. Assim Adolfo Pérez Esquivel, militante dos direitos políticos fundamentais na Argentina e na América Latina, o Nobel da Paz do ano de 1980 prefaciou o livro e o conhecido escritor e teólogo da libertação Leonardo Boff escreveu o seu posfácio. Ainda, João Alexandre Goulart, neto do querido ex presidente João Goulart contribuiu com uma das crônicas, Transição democrática ou Transação democrática? Que democracia é esta? É um relato em que estabelece uma relação entre o golpe de 1964, que derrubou o seu avô e o de 2016, que está derrubando a presidente Dilma. Existe alguma dúvida de que não tenha sido uma transação?

Por dificuldades de contatos, apenas a região do norte brasileiro ficou ausente no livro. Das outras regiões, todas estão presente e, praticamente, todos os estados estão representados. Os relatos são percepções do momento vivido, mas são também textos de valor pelo seu conteúdo e capacidade de análise do presente momento histórico. O que aproxima todos os textos é o seu caráter de indignação e de denúncia contra um Golpe de Estado que está se perpetrando, mesmo que ele venha travestido com o nome de impeachment. É golpe mesmo!
Um prefácio de um Nobel da Paz, em muito enriquece o livro. Um golpe sem armas, blando.


O jornalista Josias de Souza, da Folha de S.Paulo, recentemente escreveu que falta pouco para que o interino perca a pecha de ser considerado como presidente interino do Brasil. Pode ser verdade. Ainda no mês de agosto ficaremos sabendo disso. Mas Michel Temer jamais se livrará da pecha de traidor, usurpador e de golpista e, certamente, os seus dias de ilegitimidade na presidência serão dias muito amargos. Terá meia dúzia de lacaios ao seu lado, uma malta de réus e denunciados que encontraram no golpe a forma de se manterem na política e no poder, mas que será profundamente odiado e repudiado por todo o cidadão brasileiro, minimamente consciente e sabedor de que a construção da igualdade e da cidadania passa necessariamente pela existência de políticas públicas que promovam a inclusão social.
Por isso mesmo o projeto do livro não para no seu primeiro volume. Já estão anunciados os números 2 e 3, que darão continuidade, ocupando-se da consumação (ou não) do golpe e do que acontecerá no período pós golpe. O livro pode ser encomendado junto à Editora que disponibiliza os seguintes endereços que aqui estão anexos. A presidente Dilma mandou mensagem por ocasião do lançamento.
Para quem tiver interesse, eis o contato.


segunda-feira, 8 de agosto de 2016

Visita a Cuba. 10. Considerações Gerais e dados finais.

Muito li sobre Cuba, planejando a viagem. Mas mantive os ouvidos e os olhares atentos, em estado de observação permanente. As primeiras observações indicaram que o aeroporto tem um esquema de trabalho muito bom. Os serviços de imigração são rápidos e as pessoas muito atenciosas. Adelante, ouvi imediatamente. Muita simpatia para com os brasileiros.
O mais charmoso dos táxis que pegamos, Um Ford 1928, com motor Volkswagen.

Realmente existem muitos carros velhos. Muitos Lada, importados da antiga União Soviética. Mas existem os carros antigos que são um charme só. Chegamos a andar num FORD, ano 1928, mas os mais comuns são os carros americanos da década de 1950. Ah se Cuba deixasse exportá-los! Valeriam uma fortuna para os colecionadores e prestadores de serviços especiais como levar noivas para o casamento. Seriam, como o são em Cuba, táxis de luxo. O trânsito flui, a cidade é muito limpa e se observa a existência de outdoors com temas revolucionários por toda parte.
A defesa da Revolução está onipresente. Existe uma estrutura para a sua defesa.

Ninguém fala em questões de segurança, de assaltos, de trombadinhas nas ruas. De dia e de noite você anda sem um mínimo de preocupação. A questão está resolvida. Você consegue imaginar o quanto vale isso? Também não existem moradores de rua. A segurança, assim como a educação e a saúde são as grandes vitrines do regime e que refletem em todos os indicadores sociais do país. O país cresce em torno de 5% ao ano, sendo também este o número para a inflação. O desemprego é inferior a 3%. A expectativa de vida atinge 78,5 anos e o nosso ministro da saúde, o cacique da família Barros, lá não teria audiência. A assistência é universal e absolutamente gratuita. Lá nem se fala em planos privados populares.
Venda de produtos básicos, apenas para cubanos.

Uma primeira conversa mais séria foi com Conchita, a dona da primeira casa em que nos alojamos. Ela é assessora parlamentar. Mora num antigo casarão e dispõe de dois quartos para turistas. Quando eu perguntei sobre as rendas auferidas pelas profissões ligadas ao turismo, se elas não corroíam a lógica salarial praticada no país, que possibilitaria ao taxista ter renda superior ao do médico, ela desqualificou a minha pergunta. A visão é menos monetária, voltando-se mais para a natureza da função e da satisfação pessoal com o exercício profissional. A questão que eu levantei é que, os que trabalham com o turismo ganham em CUC e os salários são pagos em CUP, a moeda local. Não penetramos neste mundo da relação do poder aquisitivo da moeda local. Os salários são relativamente baixos nos falava Conchita. Médicos, professores e profissionais ligados a informatização recebem as melhores remunerações.
Nas ruas de Havana, um símbolo de paz. A boca do canhão está enterrada.

Conchita também nos falou da questão imobiliária. Com a Revolução todas as propriedades foram desapropriadas. As casas foram distribuídas para que cada um tivesse a sua casa para morar. Já falei dos casarões do bairro do Vedado. A compra e a venda pode ser feita livremente, desde que obedecido o princípio da moradia. Posso comprar casa maior ou trocar por uma de menor valor. Para comprar casa tem que ser residente em Cuba. Conchita, apesar de um olhar um tanto triste, dizia se sentir muito segura, por não ter preocupação com a assistência à saúde. Alegou que aluga os quartos por causa de duas netas pequenas.

Os salários atendem as necessidades básicas das pessoas. Existe uma circulação de mercadorias e serviços que são adquiridos através de tarjetas. Quando a Regina, uma componente do nosso grupo, quis comprar bananas num posto de venda de produtos agropecuários, estas não lhe foram vendidas. Estes locais vendem exclusivamente para os cubanos.
Um palacete restaurado no Vedado.


Pouco conversamos com Mercedes, a dona da segunda casa em que nos hospedamos. Ela tem três quartos para aluguel e está promovendo reformas significativas em sua casa. Ela parece estar muito bem de situação. Ela é médica e tem filha estudando medicina em Miami. Ela não foi de muita conversa, mas ela já trabalhou em Vigo e tem cidadania espanhola. Prefere morar em Cuba.

Outro casal com que tivemos grande afinidade foi o Pedro e a Marta. Muita empatia. Eles são donos do restaurante Brasileiríssimo, no Vedado, onde jantamos duas vezes. Eles já trabalharam no Brasil, ele como fisioterapeuta da Desportiva de Vitória e ela como vendedora em loja de departamentos. Se dividem entre o Brasil e Cuba. Estão muito satisfeitos e também já dispõe de um quarto para alugar. Com toda a satisfação Marta nos mostrou este seu alojamento. Iriam passar o final de semana em Varadero, um sinal de prosperidade, certamente.
Varadero. O turismo é a segunda fonte de divisas do país, superado pela prestação de serviços de biomedicina.


No Museo de la Revolución comprei o livrinho Breve História de Cuba. Ali pude ver que as maiores dificuldades econômicas foram decorrentes do bloqueio econômico decretado pelos Estados Unidos e seus países aliados, ainda em 1962 e que estas, chegaram ao máximo nos anos 1990, com a implosão do socialismo real, quando então a Rússia, gradativamente, foi retirando as suas ajudas financeiras sob forma de subsídios. Tudo isso foi também agravado por um violento furacão que causou um prejuízo de mais de 9 bilhões de dólares, com mais de 500 mil casas danificadas.

Hoje a situação está aparentemente boa. Economia sob controle. O crescimento econômico está em constante expansão. O crescimento industrial é promissor e a agricultura tem enorme potencial de crescimento. Suas terras são extremamente férteis.  A sua maior renda provem dos serviços, especialmente os ligados a biomedicina. Nesta área detém mais de 1.200 patentes. A segunda maior fonte de renda, ainda ligada aos servições, é o turismo. Também esta atividade está em grande expansão. O país inteiro é um convite para os turistas, tantas as atrações. Recebe quase quatro milhões de turistas por ano.
Comparado no interior do Museo de la Revolución. Lido em Cuba mesmo.


Seus principais produtos agrícolas são a cana de açúcar e o tabaco, além do café, do arroz e das frutas cítricas. Na pecuária o destaque é para animais de menor tamanho, como aves, porcos e carneiros. Ao menos em nossas refeições sentimos muito a presença dos frutos do mar. Na indústria o destaque vai para os alimentos, o petróleo e para as máquinas. Os seus grandes parceiros compradores são a China, o Canadá, a Espanha e a Holanda e os fornecedores são a Venezuela, a China e a Espanha. Recentemente Cuba e Estados Unidos se aproximaram, reatando relações diplomáticas. Obama visitou o país, mas não teve forças para levantar o embargo econômico, travado pelo Congresso. O fim deste embargo certamente será um novo marco no progresso material e social deste maravilhoso país.
No Museo de la Revolución a grande homenagem.


O que isso pode significar em termos  de desestruturação do sistema é uma questão complicada. Sinais de desigualdade já são bem visíveis. Vimos a festa de uma menina de 15 anos no hotel Meliã Cohiba de raro fausto. Lembro de uma fala de frei  Betto, ainda nos anos 1990. Entre ter as necessidades básicas atendidas e o não sonhar e entre não ter estas necessidades atendidas e poder sonhar, o povo prefere os sonhos. Para isso existem, no sistema capitalista, em grande profusão as farmácias, as lotéricas e as igrejas da teologia da prosperidade. Em Cuba as farmácias são basicamente de manipulação, as igrejas da teologia da prosperidade são invisíveis e as lotéricas, simplesmente não vimos nenhuma.

E segundo o Che: Hasta la vitória siempre. Patria o muerte.

domingo, 7 de agosto de 2016

Viagem a Cuba. 9. Também há coxinhas em Cuba.

Em Cuba procuramos conversar com muita gente. Perguntamos muito. A pergunta sempre é o grande método para aprender. Conversamos com as pessoas da hospedagem, com os taxistas, com estudantes, enfim com quem cruzou conosco em nossa viagem. Encontramos as mais diferentes opiniões com relação ao sistema político, econômico e social de Cuba. A maioria se mostra favorável ao sistema, outros são bem moderados em suas falas e, um taxista, de modo todo particular, nos chamou muito a atenção. Era absolutamente um coxinha.
Conversamos com muitos taxistas. Não fotografei o coxinha. Os táxis são um espetáculo muito particular em Cuba.


Foi logo falando que ele odeia o governo cubano e que ama os Estados Unidos e que, na primeira oportunidade que tiver, se manda para Miami, onde já moram muitos de seus familiares. Ele é engenheiro mecânico por formação, formado pelo gratuito sistema de educação cubano. Quais eram os seus argumentos? Fiquei estarrecido. Parecia um coxinha brasileiro falando. Existe uma total uniformidade nos argumentos e nas acusações. Cito os principais.

Em primeiro lugar vem a acusação de que o governo é corrupto, que a placa na entrada de Varadero, que diz que todo o dinheiro ali arrecadado é investido em favor do povo cubano, é mentirosa. Que os Castro são os donos de todas as grandes indústrias do país, como a fábrica de charutos da Cohiba e a do Ron Havana Club. Só faltava dizer que também era da Friboi, da Havan e outras mais, como ocorre com o Lula aqui no Brasil.
Não é este o taxista coxinha. Este é o companheiro Marco Aurélio de São João do Triunfo. Um Ford 1928, com motor Volkswagen.
Outra acusação, feita com muita expressão de ódio, foi contra a situação da moral sexual no país. Afirmou que o governo cubano emporcalhou a moral do país ao permitir o casamento entre pessoas do mesmo sexo e que por isso sente profunda vergonha em ser cubano. Por fim, levantou a sua camiseta mostrando o corpo tatuado com a bandeira dos Estados Unidos e reafirmando que ama os Estados Unidos. O que mais impressionou, volto a frisar, é uniformidade do discurso. Ele é universal.

Fiquei pensando. Será que existe um intelectual orgânico que padroniza este discurso ou seria o reflexo da personalidade autoritária embutido na cultura ocidental, cristã e capitalista, estudada por Adorno? Eu particularmente acredito mais nesta segunda versão. Tenho esta convicção em função de tantos acontecimentos recentes, mundo afora, que apontam todos nesta mesma direção. Estão por acontecer coisas no mundo, em que talvez chamarão o ocorrido em Auschwitz de um nazismo brando, pegando carona da ditabranda, referência que a Folha de S.Paulo fez com relação a ditadura civil militar brasileira. A serpente está bem delineada dentro do ovo.
O táxi mais bonito que pegamos.


Devo dizer que este episódio foi isolado, mas não deixa de ser uma constatação. O taxista também evidencia que ele pode falar. Certamente não fomos nós os únicos a quem ele falou. O esquema de fuga para Miami continua a existir. Se a pessoa consegue por os pés na terra dos Estados Unidos, ele é acolhido. Deixo ainda com vocês uma definição de coxinha, que eu recebi de um ex aluno meu. Ela é bem humorada e profundamente irônica. Fiz um Ctrl C e um Ctrl V, para mostrar aqui. Não interferi na definição.
E... para os coxinhas, uma homenagem.

"Me perguntaram o que é um Coxinha. Fui no dicionário e lá estava:
Coxinha : Pessoa nascida no Brasil,altamente influenciável, anti-PT, anti-tudo,odeia tudo que se faz no seu país,apartidário,odeia Cuba ou qualquer outro país latino-americano, ama os EUA (principalmente Miami), leitor de Veja(?),acredita na Globo(?),odeia a Rússia (ou qualquer outro país que conteste os EUA),odeia muçulmanos, acredita em um golpe comunista iminente. Acha que todas as ditaduras assassinas do mundo foram comunistas, desconhece a existência de ditaduras capitalistas (inclusive é simpático à ditadura brasileira, de 1964 a 1985). Defende o Estado mínimo na hora de cobrar impostos e Estado máximo na hora que precisa de seus serviços, é fã de Jair Messias Bolsonaro, odeia Lula, acredita em super-heróis (Joaquim Barbosa de capa) e não em partidos, simpatiza com o PSDB(?) e no DEM(?). Agora vai votar na Marina Silva porque a revista Veja está fazendo propaganda para ela. Não tem ideologia , não confia em nenhum político(principalmente no Lula) , não gosta de direitos iguais,gosta do Status Quo, acredita somente no dinheiro e na meritocracia(?), odeia o comunismo,socialismo ou qualquer coisa parecida, desconhece que os países com maior IDH no mundo tem a carga tributária próxima a 50% do PIB (Suécia, Suíça, Dinamarca), o que é muito superior à brasileira (36% do PIB). Apesar disso, sempre fala que "o Brasil tem a maior carga tributária do mundo". Também desconhece o fato de que os países com menor IDH no mundo tem a cargas tributárias baixas, por volta de 10% do PIB (Somália, Uganda, Índia). Acredita cegamente que o capitalismo é o sistema mais justo do mundo, ignora a Crise de 2008 (em que o Estado socorreu o "livre mercado" com dinheiro público e evitou uma tragédia), idolatra as grandes empresas que aparece na Exame, seus ídolos são George Soros e Warren Buffet, odeia o Bolsa Família,as Cotas em universidades,o Minha Casa,Minha Vida,o Pronatec,o Enem,o Mais Médicos ou qualquer outra coisa petista.
Se você se identificou com algumas características do Coxinha,não se preocupe......tem cura!"

O fato em comum é que detestam políticas públicas de inclusão social e defendem abertamente as políticas que promovem a exclusão social. Como pode? E atualizando no tempo. Sérgio Moro substitui Joaquim Barbosa como o novo ídolo.

sexta-feira, 5 de agosto de 2016

Viagem a Cuba. 8. Na paradisíaca Varadero.

Não tínhamos uma grande obsessão para ir a Varadero, a mais famosa praia de Cuba e uma das mais bonitas do mundo. É uma praia. Ela ocupa uma estreita faixa de terras de 19 km de extensão na baía de Cárdenas, na chamada península de Hicacos. Esta estreita faixa de terras está ligada ao continente por uma ponte levadiça, o que lhe conferia privacidade. Antes da Revolução era um lugar exclusivo de ricos, sendo frequentada até por Al Capone que tinha também grandes investimentos em Havana. Após a Revolução ela foi franqueada para o povo.
Uma ideia da estreita e longa faixa de terras que forma Varadero.

A opção turística mais comum para chegar a Varadero é pelos hotéis. Eles funcionam pelo sistema all inclusive. Chegamos a ver pacote de um dia, sem pernoite, apenas café, almoço e transporte, a um custo de algo em torno de 70 CUC, ou euros. Como estávamos em quatro fomos de táxi com o custo de 200 CUC, com o táxi nos trazendo de volta e esperando pelo tempo que quiséssemos. Foi uma escolha. Os ônibus da VíaAzul também fazem o percurso. Estes ônibus, que correspondem aos nossos interestaduais ou estaduais, ligam todas as cidades maiores do interior com a cidade de Havana. Todos são novos, modernos e confortáveis.

O táxi nos deixou num determinado ponto da praia e, em meio a uma margem com árvores, tivemos a primeira visão deste verdadeiro paraíso. Já devem ter estranhado eu falar de árvores. Sim, elas estão bem junto à água e oferecem uma sombra extremamente generosa. Aí é o espaço dos cubanos e dos turistas que, como nós, não utilizam os serviços dos hotéis. Bem em frente já se toma contato com a água. Aí as surpresas. A água é calma como um lago, sem ondas e a areia é muito branca. A cor da água, entre um tom verde e azul, é cada vez mais azul, à medida que adentra mais para o mar. Está nisso toda a sua fama. A sua beleza não é pouca coisa.
Vista da vegetação bem em frente à praia. Bem diferente das praias brasileiras.

Fizemos uma primeira caminhada nas areias, com direito a molhar os pés. A paisagem só é alterada pela presença dos resorts. A maioria de seus restaurantes atendem apenas aos seus hóspedes. Os grandes frequentadores são os turistas europeus e canadenses. Não conheço praias canadenses, mas conheci algumas da Europa, entre elas a famosa praia de Taormina, na Sicília, onde nem sequer areia tem. Tem é pedregulho. Os europeus tem toda a razão de adorarem este balneário.

O que existe de diferente com relação as praias brasileiras? Não existem as chamadas barracas de praia como no nordeste brasileiro nem os calçadões de nossas praias no sul. É vegetação, areia e água. Como são 19 quilômetros de extensão os hotéis tem à sua frente, quase que praias exclusivas. Mas o que eu já disse, existem espaços livres com muita sombra que o povo ocupa e como pudemos constatar, ocupa mesmo. Varadero é muito frequentada pelo povo cubano, fato que não ocorria antes da Revolução.
Mais uma vista focando a água. Bela combinação com o azul do céu.

O guia da Folha assim se refere à famosa praia: "A península - que pode ser percorrida alugando uma lambreta, um carro de passeio ou uma charrete de um cavalo - é uma sucessão de hotéis, restaurantes, colônias de férias, bares, discotecas, lojas e centros esportivos, todos instalados em meio a vegetação exuberante, que inclui primaveras, flamboyants, coqueiros e uvas de praia". Também há muitos campos de golfe. Também fizemos uma pequena incursão pelo seu centro histórico.
Sem ondas e a beleza da cor da água, bem como a sua temperatura formam o charme de Varadero.


Quando fomos ao estacionamento onde o táxi nos esperava tivemos oportunidade de conversar com um funcionário, que fora revolucionário de 1959 e que inclusive lutou ao lado do MPLA na guerra da independência de Angola. Foi um dos mais convictos revolucionários que encontramos. Bem informado do que vinha acontecendo no Brasil e em toda a América Latina nos dizia com todo o fervor: "Os Estados Unidos podem tomar conta de toda a América, mas jamais tomarão conta de Cuba novamente".
Mais uma imagem que nos confere uma ideia sobre esta praia.


Não tivemos muita interação com o taxista. Punha música numa altura intolerável e quando pedimos para abaixar, ele abaixava e, devagarinho a subia novamente, até pedirmos para desligar. Aí ele pôs fone de ouvido e cantarolava e assobiava a música. Como puderam perceber tratava-se de um cara muito chato. Um fato que nos chamou muito a atenção foi o extremo cuidado que os motoristas tem no trânsito. Tomam precauções que nós consideraríamos absolutamente desnecessárias. Varadero está distante de Havana 150 quilômetros. Hoje já disputa com alguns Cayos (pequenas ilhas rasas arenosas, formadas na superfície de um arrecife de coral), a condição de praia mais famosa e concorrida.

quinta-feira, 4 de agosto de 2016

Viagem a Cuba. 7. Santa Clara, Cienfuegos e Trinidad.

Na nossa ida à agência de turismo do governo cubano no interior do hotel Meliã Cohiba, não hesitamos em comprar um pacote de dois dias, com um pernoite, para as cidades de Santa Clara, Cienfuegos e Trinidad. As motivações foram múltiplas, mas em primeiro lugar estava a visita a Santa Clara, onde está o memorial que homenageia Che Guevara e os mortos de La Higuera, na Bolívia, em 1967. Quanto a Cienfuegos e Trinidad, as duas cidades são Patrimônio Cultural da Humanidade. O custo do passeio foi de cento e trinta CUC, ou euros.
Mausoléu e monumento em homenagem a Che, em Santa Clara.

Às 7h00 em ponto o ônibus encostou no hotel. A viagem seria longa. O primeiro destino seria Santa Clara, distante de Havana, quase 300 quilômetros. Ali visitamos o que se chama de Conjunto Escultório Comandante Ernesto Che Guevara. Muita emoção nos aguardava. A praça é enorme e cheia de significados. Ali existe o monumento inaugurado no dia 28 de dezembro de 1988. Nele o Che aparece com o braço enfaixado, lembrando o fato ocorrido no mesmo 28 de dezembro de 1958, 30 anos antes, quando toma a cidade, mesmo com o braço ferido, junto com 300 homens que enfrentaram cerca de 3.000 soldados de Batista. Além do monumento existe outro, o Trem Blindado, lembrando o episódio em que Che descarrilou o trem que conduzia soldados e armas para Santiago de Cuba, para fortalecer a defesa do ditador Batista. Lembrando que a data da vitória da Revolução foi no dia primeiro de janeiro de 1959, às vésperas, portanto.
Uma vista mais panorâmica do monumento do Che.

No museu está o relato da vida de Che, pertences seus e muitas fotografias históricas. As fotos são do tempo da guerrilha e do depois da Revolução, com destaques para o seu pronunciamento na ONU, a sua participação da Conferência de Punta del Este e para nós brasileiros a sua condecoração pelo presidente Jânio Quadros. Mas a emoção maior está reservada para, ao final do museu, visitar os túmulos de Che e dos companheiros mortos em La Higuera, a mando da Cia.. Chamas e flores dão um significado profundo ao místico local.

Depois da visita ao museu e ao túmulo fomos ver o monumento, já apressados pelos demais passageiros do ônibus. Vou pedir licença para cometer um pleonasmo: o monumento é monumental. Enorme e digno da grande pessoa homenageada. Apenas tivemos tempo para algumas fotos. Esta é a grande desvantagem dos pacotes fechados, que delimitam demais o tempo. Teríamos necessidade de, no mínimo, mais uma hora para contemplar e metabolizar todo o significado deste lugar. Também não chegamos nem sequer a entrar na cidade. Uma lástima. Santa Clara tem em torno de 220.000 habitantes.
 Fachada do teatro, construído pelo escravocrata Tomas Terry, em Cienfuegos.


O destino agora seria Cienfuegos. O nome se deve a um governador geral de Cuba, no período colonial. O fato de ser Patrimônio Cultural da Humanidade se deve ao bom estado de conservação de seus prédios históricos, com destaque especial para o Teatro Tomás Terry, construído nos anos de 1886/89, atendendo ao ultimo desejo do homem que dá nome ao teatro, um homem enriquecido com a produção do açúcar e pelo comércio de escravos. Um pouco de diversão para o povo como compensação pelo sofrimento de uma vida toda. Também a catedral e o prédio da administração pública ganham destaque. Na praça tem até um pequeno arco do triunfo.

Almoçamos num clube da cidade. Um almoço irretocável, com direito a caranguejo e camarão ao bafo. Cienfuegos é importante centro regional e conta com uma população em torno de 150.000 habitantes. Tem mar por todos os lados. O nosso caminho seguia até a bela cidade de Trinidad, que tem todo o seu centro histórico como Patrimônio Cultural da Humanidade. É uma cidade bem antiga, fundada em 1514,  que em tudo lembra a cidade de Paraty (R.J.). Assim como Paraty, ela ficou isolada por mais de cem anos.  Ali se toma um drink muito especial, chamado de Canchánchara.
Só para ver a semelhança com Paraty. Uma rua em Trinidad.

Fizemos uma parada na casa de um oleiro ou ceramista que valeu muito a pena. Um senhor nos mostrou toda a sua arte, na qual ele trabalha já por 70 anos. Começou o seu ofício aos quatro anos de idade. Nos mostrou toda a sua habilidade. Aproveitei para comprar algumas lembrancinhas básicas. Daí, a pé, nos aventuramos pela ruas estreitas da cidade, chegando até as escadarias em frente a catedral e passando pelas muitas lojas de artesanato, até tomarmos o famoso drink, incluído no pacote.
Da Canchánchara dou até a receita.

De Trinidad seguimos para uma região montanhosa, onde antigamente havia muitos sanatórios onde as pessoas vinham para se curar da tuberculose. Nos hospedamos num hotel bem antigo mas em ótimo estado. Um clima de montanha maravilhoso. Mas o dia reservava grandes surpresas. As 9h00 um caminhão de campanha já estava a nossa espera. Com ele andamos por meia hora para, a seguir, fazer uma trilha por umas três horas, em meio a floresta na montanha. Pela trilha, uma guia nos falava das plantas, das árvores, das aves e de seus símbolos.
Na trilha pelo parque Guayanara encontramos esta bela cachoeira.

Assim nos falou do café, que é exportado para o Japão e adubado com as vagens dos ingazeiros, nos falava das pequenas plantas e de suas propriedades medicinais, como a dormideira, da goiabeira e de muitas outras. Nos falava da mariposa, da palmeira e do Tocorero, respectivamente a flor, a árvore e o pássaro, símbolos nacionais de Cuba. Consegui até fotografar um belo Tocorero. A flor da mariposa era usada como esconderijo para mensagens pelos herois da independência. Belas cachoeiras e piscinas naturais também estavam em nosso caminho. Ao final nos aguardava um drink e até uma bucanero (uma ótima cerveja) que estava incluída no preço da refeição. Foram dois dias que jamais eu imaginara e que se tornaram absolutamente inesquecíveis.
A vista de um Tucurero, a ave nacional de Cuba.

A partir daí nos restava o caminho da volta. Este pacote deixo para os que forem a Cuba, com a recomendação de atração imperdível e impagável. Como natureza Cuba também é mais do que bela. Que paisagens! E ir a Cuba e não homenagear o Che, certamente deixará  na sua viagem uma lacuna imperdoável.





quarta-feira, 3 de agosto de 2016

Visita a Cuba. 6. Vedado e Plaza.

O Vedado é o terceiro grande bairro central da cidade de Havana. Por este bairro começamos a conhecer a cidade, pois foi nele que ficamos hospedados. O nome Vedado se origina da proibição que havia no século XVI, de ali se morar, por razões de segurança. O problema era a chegada dos piratas. Desta proibição ficou apenas o nome. A partir do século XX, se transformou no mais importante bairro da região central.
 Hotel Nacional. Um lugar frequentado por artistas e gente de bens.

A região devia ser a mais nobre da cidade. Só há palacetes. Muitos deles já estão totalmente restaurados mas muitos permanecem em ruína. Com a Revolução todos foram desapropriados e distribuídos entre a população. Eles, em sua maioria, eram propriedades de americanos. Em Cuba, hoje se pode ter apenas uma casa, a que é para morar. Este bairro, se houver uma abertura maior para o capital, certamente será a primeira grande vítima da especulação imobiliária. Os palacetes são belíssimos e as avenidas são bem amplas.
A mostra de um dos belos palacetes do Vedado.

Em Vedado também estão concentrados os hotéis, desde os anteriores à Revolução, como o Hotel Nacional, que deve ser meio equivalente ao nosso Copacabana Palace do Rio de Janeiro, até os mais modernos como o Meliã Cohiba. Também é grande o número de casas que oferecem hospedagem junto às famílias, que hoje hospedam turistas em número cada vez maior. É a melhor forma de se hospedar para quem tiver um interesse efetivamente maior para conhecer a cidade e o país. Foi o que fizemos. Para os padrões cubanos deve ser uma fonte extraordinária de recursos, já que a via dos salários é bastante limitada, embora garanta as necessidades básicas. Cuba recebe em torno de quatro milhões de turistas estrangeiros por ano, com destaque para os canadenses. Os americanos ainda estão oficialmente proibidos de visitarem Cuba. Quanta liberdade! O turismo é a segunda fonte de renda de Cuba, superada pela venda de serviços, especialmente os de medicina.
Homenagem a Che e a José Martí na Praça da Revolução.

O Vedado concentra a vida política e social do país. Nele está a Praça da Revolução, com o Memorial José  Martí, o Teatro e a Biblioteca Nacional e os prédios de alguns ministérios que homenageiam Che e Camilo Cienfuegos, em enormes esculturas em bronze. Nesta praça ocorrem os grande eventos políticos e o local onde Fidel pronunciava os seus longos discursos. O espaço é enorme. Junto ao mar está o Malecon, a grande avenida beira mar, que alcança também o centro Habana e a Habana Vieja. Aí ocorre muito da vida social da cidade. Nas noites, sempre com temperaturas agradáveis e a brisa do mar, o povo se concentra ao seu longo, sempre com grande presença de cantores.
A sorveteria é muito mais do que uma sorveteria. É um espaço de recreação do trabalhador.

O guia da Folha lista para este bairro as seguintes grandes atrações: O Memorial José Martí e a Plaza de la Revolución, o museu napoleônico e o de artes decorativas, o cemitério Colón, o Hotel Nacional, a Universidade de Havana e a Avenida 23, cuja parte de subida é conhecida como a Rampa onde, ao seu final, se situa o famoso espaço de lazer da Sorveteria Coppellia, concebido pela revolucionária Célia Sanches e que serviu de cenário para o filme Morango e Chocolate. A Avenida 23 deve ser uma espécie de Avenida Paulista cubana.

Talvez tenha sido este o espaço com o qual mais nos ocupamos. Visitamos o Memorial José Martí, o mais alto monumento de Havana. Neste memorial arde a chama da Pátria que nunca se apaga e, em que todos os dias, as flores são trocadas por uma entidade de trabalhadores. O culto de sua memória está onipresente. Além do grande e brioso homem da independência era também um ilustre pensador. Sua vida e frases famosas de suas obras estão no seu Memorial.
Fazer sempre o que é necessário. Lições de José Martí.

Visitamos também a Biblioteca e o Teatro Nacional de Cuba. Neste, num ambiente menor, a Sala Covarrubias, tipo um Guairinha nosso aqui de Curitiba, assistimos um concerto, com La Orquestra Sinfónica Juvenil de Oakland, que se apresentou junto com a Schola Cantorum Coralina de Cuba. No programa constavam Tchaikovsky, Mozart e Prokofiev. Para irmos ao teatro caprichamos. Fomos numa táxi, um FORD 1928, com um motor Volkswagen. Vejam, convênios com os Estados Unidos, ligados a cultura são possíveis, mas a restrição a visita ao país continua. Coisas do embargo.
Teatro Nacional de Cuba. Aí assistimos um concerto. Turistas chiques.

Visitamos também o Hotel Nacional, uma construção majestosa do ano de 1930. Ali se hospedaram os famosos do mundo, entre personalidades políticas, artistas de cinema, da música e da literatura. Lula merece grande destaque. É hoje um hotel em pleno funcionamento e aberto para a visitação. Dá para imaginar o que ocorreu e não ocorreu neste hotel. Na sorveteria Coppellia tivemos que tomar sorvete, da minha parte, apenas para a fotografia. Ali tem exposição de camisas de futebol de times do mundo inteiro. Entre elas, obviamente, uma do glorioso e imortal tricolor dos pampas gaúchos.

 Em frente a Universidade de Havana, a Alma Mater.

Da visita à Universidade pouco aproveitamos. Estavam em suas férias de verão. Apareceram dois estudantes, com os quais muito conversamos. Nos recomendaram muito um livro com o título, Sobre Máscaras e Sombras, que não conseguimos encontrar. Nos levaram para espaços fora da Universidade, para a casa onde Fidel se hospedava enquanto estudante de direito e a um local sagrado onde um estudante fora morto pela ditadura de Batista. Na casa onde Fidel se hospedava, hoje os 25 melhores alunos do curso de Direito tem o privilégio de ali se hospedarem. Ali também tomamos um drink pleno de significado. Ele simboliza a unidade racial. Antes da revolução o acesso dos negros à Universidade era absolutamente proibida, assim como também a frequência às praias. Coisas da ditadura de Batista.
A Universidade de Havana é a única do mundo que tem um tanque em seu interior. A marca da Revolução.

Outra visita impressionante que fizemos foi ao cemitério Colón. Ele ocupa uma área de 56 hectares e tem em torno de 52 mil túmulos e mais de dois milhões de mortos enterrados. Pelas inúmeras obras de arte que contem, ele foi proclamado Monumento Nacional. Ali se encontra uma particularidade do espírito cubano. O mais alto monumento é o que homenageia 25 bombeiros mortos num incêndio em Habana Vieja no ano de 1890. São reverenciados pelo zelo no cumprimento do dever. As esculturas, com mármores dos mais nobres, são obras de arte grandiosas. O túmulo mais visitado e sempre com flores renovadas é o a da La milagrosa, uma jovem mãe de 24 anos que morreu no parto junto com o seu bebê. Ninguém lhe pode virar as costas. Os serviços funerários são gratuitos. Ninguém explora ninguém no seu momento de dor.
Monumento que homenageia os 25 bombeiros mortos em Habana Vieja.

Ali ainda fica um restaurante que logo ganhou nossa preferência, o La Rocca. Comida farta, saborosa e de preço bem em conta. Como puderam perceber o bairro oferece muito para os seus turistas. Ali fomos agraciados com música brasileira por um pianista, na soberba de seus 86 anos de vida.