segunda-feira, 8 de agosto de 2016

Visita a Cuba. 10. Considerações Gerais e dados finais.

Muito li sobre Cuba, planejando a viagem. Mas mantive os ouvidos e os olhares atentos, em estado de observação permanente. As primeiras observações indicaram que o aeroporto tem um esquema de trabalho muito bom. Os serviços de imigração são rápidos e as pessoas muito atenciosas. Adelante, ouvi imediatamente. Muita simpatia para com os brasileiros.
O mais charmoso dos táxis que pegamos, Um Ford 1928, com motor Volkswagen.

Realmente existem muitos carros velhos. Muitos Lada, importados da antiga União Soviética. Mas existem os carros antigos que são um charme só. Chegamos a andar num FORD, ano 1928, mas os mais comuns são os carros americanos da década de 1950. Ah se Cuba deixasse exportá-los! Valeriam uma fortuna para os colecionadores e prestadores de serviços especiais como levar noivas para o casamento. Seriam, como o são em Cuba, táxis de luxo. O trânsito flui, a cidade é muito limpa e se observa a existência de outdoors com temas revolucionários por toda parte.
A defesa da Revolução está onipresente. Existe uma estrutura para a sua defesa.

Ninguém fala em questões de segurança, de assaltos, de trombadinhas nas ruas. De dia e de noite você anda sem um mínimo de preocupação. A questão está resolvida. Você consegue imaginar o quanto vale isso? Também não existem moradores de rua. A segurança, assim como a educação e a saúde são as grandes vitrines do regime e que refletem em todos os indicadores sociais do país. O país cresce em torno de 5% ao ano, sendo também este o número para a inflação. O desemprego é inferior a 3%. A expectativa de vida atinge 78,5 anos e o nosso ministro da saúde, o cacique da família Barros, lá não teria audiência. A assistência é universal e absolutamente gratuita. Lá nem se fala em planos privados populares.
Venda de produtos básicos, apenas para cubanos.

Uma primeira conversa mais séria foi com Conchita, a dona da primeira casa em que nos alojamos. Ela é assessora parlamentar. Mora num antigo casarão e dispõe de dois quartos para turistas. Quando eu perguntei sobre as rendas auferidas pelas profissões ligadas ao turismo, se elas não corroíam a lógica salarial praticada no país, que possibilitaria ao taxista ter renda superior ao do médico, ela desqualificou a minha pergunta. A visão é menos monetária, voltando-se mais para a natureza da função e da satisfação pessoal com o exercício profissional. A questão que eu levantei é que, os que trabalham com o turismo ganham em CUC e os salários são pagos em CUP, a moeda local. Não penetramos neste mundo da relação do poder aquisitivo da moeda local. Os salários são relativamente baixos nos falava Conchita. Médicos, professores e profissionais ligados a informatização recebem as melhores remunerações.
Nas ruas de Havana, um símbolo de paz. A boca do canhão está enterrada.

Conchita também nos falou da questão imobiliária. Com a Revolução todas as propriedades foram desapropriadas. As casas foram distribuídas para que cada um tivesse a sua casa para morar. Já falei dos casarões do bairro do Vedado. A compra e a venda pode ser feita livremente, desde que obedecido o princípio da moradia. Posso comprar casa maior ou trocar por uma de menor valor. Para comprar casa tem que ser residente em Cuba. Conchita, apesar de um olhar um tanto triste, dizia se sentir muito segura, por não ter preocupação com a assistência à saúde. Alegou que aluga os quartos por causa de duas netas pequenas.

Os salários atendem as necessidades básicas das pessoas. Existe uma circulação de mercadorias e serviços que são adquiridos através de tarjetas. Quando a Regina, uma componente do nosso grupo, quis comprar bananas num posto de venda de produtos agropecuários, estas não lhe foram vendidas. Estes locais vendem exclusivamente para os cubanos.
Um palacete restaurado no Vedado.


Pouco conversamos com Mercedes, a dona da segunda casa em que nos hospedamos. Ela tem três quartos para aluguel e está promovendo reformas significativas em sua casa. Ela parece estar muito bem de situação. Ela é médica e tem filha estudando medicina em Miami. Ela não foi de muita conversa, mas ela já trabalhou em Vigo e tem cidadania espanhola. Prefere morar em Cuba.

Outro casal com que tivemos grande afinidade foi o Pedro e a Marta. Muita empatia. Eles são donos do restaurante Brasileiríssimo, no Vedado, onde jantamos duas vezes. Eles já trabalharam no Brasil, ele como fisioterapeuta da Desportiva de Vitória e ela como vendedora em loja de departamentos. Se dividem entre o Brasil e Cuba. Estão muito satisfeitos e também já dispõe de um quarto para alugar. Com toda a satisfação Marta nos mostrou este seu alojamento. Iriam passar o final de semana em Varadero, um sinal de prosperidade, certamente.
Varadero. O turismo é a segunda fonte de divisas do país, superado pela prestação de serviços de biomedicina.


No Museo de la Revolución comprei o livrinho Breve História de Cuba. Ali pude ver que as maiores dificuldades econômicas foram decorrentes do bloqueio econômico decretado pelos Estados Unidos e seus países aliados, ainda em 1962 e que estas, chegaram ao máximo nos anos 1990, com a implosão do socialismo real, quando então a Rússia, gradativamente, foi retirando as suas ajudas financeiras sob forma de subsídios. Tudo isso foi também agravado por um violento furacão que causou um prejuízo de mais de 9 bilhões de dólares, com mais de 500 mil casas danificadas.

Hoje a situação está aparentemente boa. Economia sob controle. O crescimento econômico está em constante expansão. O crescimento industrial é promissor e a agricultura tem enorme potencial de crescimento. Suas terras são extremamente férteis.  A sua maior renda provem dos serviços, especialmente os ligados a biomedicina. Nesta área detém mais de 1.200 patentes. A segunda maior fonte de renda, ainda ligada aos servições, é o turismo. Também esta atividade está em grande expansão. O país inteiro é um convite para os turistas, tantas as atrações. Recebe quase quatro milhões de turistas por ano.
Comparado no interior do Museo de la Revolución. Lido em Cuba mesmo.


Seus principais produtos agrícolas são a cana de açúcar e o tabaco, além do café, do arroz e das frutas cítricas. Na pecuária o destaque é para animais de menor tamanho, como aves, porcos e carneiros. Ao menos em nossas refeições sentimos muito a presença dos frutos do mar. Na indústria o destaque vai para os alimentos, o petróleo e para as máquinas. Os seus grandes parceiros compradores são a China, o Canadá, a Espanha e a Holanda e os fornecedores são a Venezuela, a China e a Espanha. Recentemente Cuba e Estados Unidos se aproximaram, reatando relações diplomáticas. Obama visitou o país, mas não teve forças para levantar o embargo econômico, travado pelo Congresso. O fim deste embargo certamente será um novo marco no progresso material e social deste maravilhoso país.
No Museo de la Revolución a grande homenagem.


O que isso pode significar em termos  de desestruturação do sistema é uma questão complicada. Sinais de desigualdade já são bem visíveis. Vimos a festa de uma menina de 15 anos no hotel Meliã Cohiba de raro fausto. Lembro de uma fala de frei  Betto, ainda nos anos 1990. Entre ter as necessidades básicas atendidas e o não sonhar e entre não ter estas necessidades atendidas e poder sonhar, o povo prefere os sonhos. Para isso existem, no sistema capitalista, em grande profusão as farmácias, as lotéricas e as igrejas da teologia da prosperidade. Em Cuba as farmácias são basicamente de manipulação, as igrejas da teologia da prosperidade são invisíveis e as lotéricas, simplesmente não vimos nenhuma.

E segundo o Che: Hasta la vitória siempre. Patria o muerte.

4 comentários:

  1. Obrigada Ileizi pelo seu comentário. São as minhas percepções. Ter as questões de educação, saúde e segurança resolvidos é bom demais.

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  2. Uma Revolução vitoriosa que deixou o capitalismo em silêncio por muito tempo, Pedro Eloi. Penso na fala do Frei Beto sobre o sonho. Imagino os sonhadores de Cuba. Tomar uma coca cola e jogar na mega sena. Lotérica você disse que não viu. A coca cola persiste. Mas, a ambição continua para o triunfo final da Revolução: Uma Geração Diferenciada pela Educação. Parabéns pelo seu texto e por dividir conosco suas impressões.

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  3. Oi José Marcelino. Agradeço o seu belo comentário. Esta viagem foi um grande aprendizado. Os ideais socialistas permanecerão perenemente vivos. Hasta la vitoria, siempre. Patria o muerte.

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