quinta-feira, 28 de setembro de 2017

A Livraria Mágica de Paris. Nina George.

Não sei exatamente como cheguei a este livro. Certamente por alguma recomendação no facebook, ou por e-mail de editoras ou livrarias.  Tenho certa resistência na leitura de best-sellers, mas confesso que valeu muito a pena ler este livro. Trata-se de A Livraria mágica de Paris, da jornalista, professora e escritora alemã,  Nina George. O livro figurou entre os mais vendidos na Alemanha, Itália, Polônia e Holanda. O lançamento do livro foi em 2013 e no Brasil em 2016. O exemplar que eu li, já é de sua oitava edição. Isso no Brasil é fato raro. Na capa da edição está a informação: mais de um milhão de exemplares vendidos no mundo.
O best seller de Nina George. Da Record.


Passo primeiramente a apresentação do livro contida em sua contracapa: "O livreiro parisiense Jean Perdu sabe exatamente que livro cada cliente deve ler para amenizar os sofrimentos da alma. Em seu barco-livraria, ele vende romances como se fossem remédios. Infelizmente, o único sofrimento que não consegue curar é o seu: a desilusão amorosa que o atormenta há 21 anos, desde que a bela Manon partiu enquanto ele dormia. Tudo o que ela deixou foi uma carta - que Perdu não teve coragem de ler.  Até um determinado verão - o verão que muda tudo  e que leva Monsieur Perdu a abandonar a casa na estreita rue Montagnard e a embarcar numa jornada que o levará ao coração da Provence e de volta ao mundo dos vivos".

Esta é a síntese. Jean Perdu amava Manon, que vivia um duplo amor. Manon abandona Perdu e lhe deixa a carta, voltando para casa. Perdu não tem coragem para ler a carta. Vive no seu interessante ofício de livreiro, num barco livraria, ancorado no rio Sena. Mais uma atração destinada aos turistas. O seu mundo se limita aos vizinhos da rua Montagnard e aos dois gatos que mantém no barco. Em seu barco conhece um jovem escritor de sucesso, Max Jordan, acometido da doença dos escritores, qual seja, o entrave ou os bloqueios na criação.

Um dia Perdu avança nos carinhos com a vizinha Catherine mas logo se contém. A memória o remete há vinte e um anos atrás, ao ocorrido com Manon. Lê a carta e toma uma decisão. Navegar para o sul da França, atrás dos vestígios da amada, embora a soubesse morta. Quando desamarra o barco, o jovem escritor Max se lança ao barco para acompanhá-lo, em busca de inspiração. Ao longo do trajeto, um italiano, Cuneo, que sofre de semelhantes males aos de Perdu, também lhes faz companhia. Em meio a viagem, encontros diálogos e memória. E um livro. O livro de memórias de Manon.
O mapa da viagem. A linha contínua com o barco e a pontilhada de carro.


A viagem segue para o sul da França, pelo Sena e seus rios formadores até a cidade papal de Avignon, seguindo daí, de carro para a Provence, a região de origem de Manon.  Muito mais interessante do que a história propriamente dita é maneira de contar da escritora e o encontro dos personagens. Isto leva aos temas que certamente foram os responsáveis pelo grande êxito do livro. O amor, o medo, o medo de amar, os desencontros, a morte e, obviamente os livros. E uma cidadezinha, Sanary, da resistência e abrigo de escritores.

Com exceção da morte de Manon, vítima de câncer, e dos longos anos de desencontros de Perdu, todo o resto da história tem final feliz. O medo de amar passa a ser amplamente superado e a vida, a criação literária e a propensão para o trabalho criativo renascem com todo o esplendor. Max Jordan se dedica à literatura infantil, Perdu a livros especializados e Catherine, a nova companheira de Perdu, a um ateliê de escultura. E Max Jordan se casa com a menina do trator vermelho. Aí tem história.

O livro é dividido em 44 pequenos capítulos, todos eles cheios de romantismo e de belas construções literárias, que podem perfeitamente ser lidos em doses diárias. Com certeza que farão bem para a auto-estima. Certamente você se encontrará em muitas das situações ali narradas. Mas eu não quero encerrar sem fazer uma referência especial ao grande tema abordado que são os livros. Selecionei duas passagens, a primeira diz respeito ao livreiro e a segunda sobre o efeito dos livros:

1. "Quando a avó, a mãe e a menina se despediram e foram embora, Perdu refletiu sobre a concepção equivocada de que livreiros cuidam de livros. - Eles cuidam de pessoas".

2. "A todos abaixo de quatorze anos ele vendia livros por peso: dois quilos por dez euros.
- Não ficamos no prejuízo desse jeito? - perguntou Max.
- Financeiramente falando sim. Mas todo mundo sabe que a leitura deixa as pessoas insolentes, e o mundo de amanhã com certeza vai precisar de algumas pessoas que se rebelem, não acha? 

Que ideias maravilhosas. O livreiros cuidam de pessoas e que no mundo de amanhã precisaremos de pessoas que se dediquem à rebeldia. Depois da leitura me deu uma enorme vontade de viajar pela Provence e desfrutar de sua história, de sua culinária e de seus temperos de alecrim e de tomilho e, especialmente, de seus vinhos.

Ainda em tempo, o livro contém uma série de receitas de comidas que aparecem no livro e um lista dos principais livros recomendados e suas respectivas propriedades terapêuticas.


segunda-feira, 25 de setembro de 2017

Estudos da Oxfam apontam: Brasil aprofunda a desigualdade.

A Oxfam é uma organização não governamental criada em 1942, em Oxford, com a finalidade de arrecadar alimentos e assim aliviar as dores causadas pela Segunda Guerra Mundial. Ela atua no Brasil desde os anos 1950. Ela se dedica para termos "um futuro sem pobreza, desigualdades e injustiças", diz o seu site. Ela realiza estudos sobre a desigualdade social que ocorre nos diferentes países do mundo.

Oxfam Brasil. Uma organização no combate às desigualdades.


Em 25.09.2017 o jornal El Pais publicou reportagem sobre o Brasil. A matéria é assinada por Marina Rossi e os dados foram fornecidos por Katia Maia, diretora executiva da Oxfam - Brasil. Os dados são estarrecedores. Dela constam os dados apresentados em Manchete: 5% dos ricos no Brasil ganham o mesmo que os outros 95%. As mulheres ganharão igual aos homens apenas a partir de 2035 e os negros igual aos brancos apenas no distante ano de 2089.

A reportagem mostra que os seis brasileiros mais ricos concentram o mesmo dinheiro que os cem milhões mais pobres, ou seja, praticamente a metade da população brasileira, que alcança 207,7 milhões. Os seis homens mais ricos do Brasil são: Jorge Paulo Leman (AB Inbev), Joseph Safra (Banco Safra), Marcel Hermmann Telles (AB Inbev), Carlos Alberto Sicupira (AB Inbev), Eduardo Saverin (Facebook) e Ermírio Pereira de Moraes (Grupo Votorantim). Se eles juntos gastassem um milhão de reais por dia, levariam 36 anos para esgotarem suas fortunas.

Os estudos da Oxfam - Brasil apontam que houve melhoras com a instituição do Bolsa Família, assim como aponta também, que para minorar a desigualdade, não basta apenas mexer na base da pirâmide. É necessário mexer em seu topo. Combater a desigualdade no Brasil de hoje não constitui uma prioridade. Neste ano ela despencou 19 posições no ranking mundial. Na América Latina ficamos atrás apenas da Colômbia e de Honduras. Para atingir os níveis de igualdade com relação a outros países latinos, levaríamos 31 anos para nos igualar com a Argentina, 11 com o México, 35 com o Uruguai e 3 com o tão louvado Chile.

A principal medida para amenizar esta situação seria instituir uma reforma tributária que efetivamente tributasse os mais ricos, acabar com os paraísos fiscais e cobrar tributos sobre os dividendos e não apenas arrecadar em cima das classes pobres e médias. A reforma tributária não pode mais ser considerada apenas como uma discussão entre tecnocratas. A diretora executiva aponta ainda para a reversão da PEC dos gastos públicos, se efetivamente quisermos combater as desigualdades.

Aponta ainda para tempos de grandes riscos e retrocessos. Este é lamentavelmente o país do golpe. O mundo inteiro está sentindo os seus efeitos. Apenas os brasileiros, anestesiados e atônitos, estão em ruidoso e ensurdecedor silêncio. Algo precisa ser feito urgentemente para conter o golpe e os avanços que este promove na destruição da Nação brasileira e da cidadania de seus filhos. Colhi estes dados de um e-mail recebido pelo Instituto Humanitas, da UNISINOS.
 




domingo, 24 de setembro de 2017

O processo eleitoral de 2017 na APP-Sindicato.

Eu chegava ao Paraná em 1969, após me formar em filosofia no emblemático ano de 1968. Me estabeleci em Umuarama como professor suplementarista e em janeiro de 1971 me efetivei, em concurso público, na disciplina de História. Realizei a prova no Colégio Estadual do Paraná. Na entrada do colégio havia uma banquinha para a filiação na APLP. Não tive dúvidas e, além de me filiar, convidei o pessoal para fundar a entidade também em Umuarama. Conheci assim pessoas como Dino Zambenedetti, Adir de Lima, Elisiário Cattoni, Rubem de Oliveira, entre outros. Posteriormente participei ativamente da fusão das três entidades então existentes, em torno da APP.
A gralha. Alto valor simbólico. Ela planta.

Com boas equipes de trabalho, dirigi por três vezes o Núcleo de Umuarama e vim para a direção estadual em 1993, com o grupo OPA, trazendo de Umuarama mais de 95% dos votos. Antes de qualquer análise quero aqui fazer três afirmações: A APP já me beneficiou antes mesmo de ser professor e da minha chegada ao Paraná. Em uma histórica assembleia realizada em 1968 na cidade de Ponta Grossa, o então governador Paulo Pimentel praticamente dobrou o salário dos professores; que a APP nunca trouxe prejuízos a nenhum professor. Podemos ter tido descontos de faltas e algum problema de ascensão na carreira, mas por suas lutas garantimos estrutura de carreira e pisos salariais. Nos anos 1980 chegamos ao piso de 3,2 salários mínimos. O seu não cumprimento, pelo então governador Álvaro Dias, motivou o 30 de agosto de 1988; que a APP foi decisiva na minha formação e na minha conscientização política.

Na gestão OPA, 1993-1996, participei ativamente do processo de filiação da APP-Sindicato à Central Única dos Trabalhadores. Foi um dos mais importantes movimentos de conscientização política que houve no Paraná. Antes, a pregação era a de que os professores não eram trabalhadores, pois não usavam macacão e não tinham as mãos sujas de graxa. Junto com o meu amigo Elson Pereira de Campos fizemos os trabalhos de preparação para a filiação nas regiões que eram tidas como as mais conservadoras. A CUT sofria as acusações de promoção da desordem e da baderna. Lembro de uma fala de um padre polonês, em Palmas, afirmando que a CUT era um resto de comunismo.

Em 1995 houve a histórica assembleia de filiação na cidade de Ponta Grossa. Por questões internas e não de convicção me recusei a fazer a fala que encaminharia a filiação. Aceitei, no entanto, fazer a primeira fala após a filiação. Foi uma emoção rara. Muito choro e lágrimas de alegria. Os votos contrários não somaram uma dúzia. E eu lembrava que a estes deveríamos conquistar, não com as nossas palavras, mas sim com os nossos exemplos,com a nossa convivência solidária.

Na gestão 1996-1999 as lutas fratricidas das correntes políticas se tornaram mais agudas. Uma das correntes do PT queria se tornar majoritária. Houve interferências nacionais, via CNTE e CUT e uma composição e não uma unidade foi feita. Foram tempos difíceis. Contra a sindicalização em massa, sempre defenderam os mecanismos de controle. O mais belo trabalho foi a união dos sindicatos dos professores e o dos funcionários. Este foi o mais belo trabalho do qual eu participei. A luta pela superação dos preconceitos gerados pela divisão social do trabalho. No Congresso que propôs a unidade houve muitas tramoias e quase perdemos a nossa marca, que hoje ultrapassa os setenta anos; APP-Sindicato. O hoje professor deputado era então um dos mais ativos combatentes do grupo ao qual hoje está aliado. Depois deste evento eu me afastei da direção para retomar a minha vida acadêmica. Dois fatos me levaram a isso. A necessidade de formar meus filhos e os desgostos provocados pelas divisões internas. Sempre a divisão entre as tendências. Elas provocaram um adoecimento, do qual escapei com a volta à atividade acadêmica. A PUC/SP e a Universidade Positivo me acolheram.

Deste período, quando se instalaram os primeiros governos neoliberais no Brasil e no Paraná, quero destacar os trabalhos de formação. Por eles sabíamos o que era o neoliberalismo e compreendíamos a atuação dos economistas do Banco Mundial que se transformaram em pretensos intelectuais orgânicos da educação. Com alegria constatamos que houve vida e vida intensa, após os governos de Fernando Henrique e de Jaime Lerner. Em Adorno, em Educação após Auschwitz,  li com profunda tristeza que as raízes do fascismo estão no fato de indivíduos se submeterem cegamente a coletivos, abrindo mão do pensar. Contra sujeitos coletivos passei a defender sujeitos que abraçam causas coletivas. Formação contra a doutrinação.

Os meus anos de Positivo foram de alta densidade intelectual. Lá permaneci por 13 anos. Quando resolvi exercer a minha última profissão, a de administrador de tempo livre, recebi o convite para exercer outras funções, às quais recusei, por compromissos históricos comigo mesmo, com a minha história de vida. Comecei a receber convites para fazer falas na APP-Sindicato e me reaproximei. A minha aproximação se deu devido a afinidades ou a ausência delas. Ela se deu com o grupo APP- Independente, assumindo a coordenação de alguns trabalhos de formação.

Para dar sequência a estes trabalhos de formação me envolvi no processo eleitoral de 2017. Participei ativamente, viajando pelo estado, tanto na montagem de chapas nos núcleos, quanto na divulgação das propostas do grupo da chapa 2. Foram momentos lindos, de reencontros, de avivamento da memória, de verdadeiras celebrações de amizade e também do estabelecimento de novas. Conheci pessoas maravilhosas, que certamente reenergizariam as atividades do sindicato. Tudo isso fez um bem extraordinário para a minha auto estima. Eu estava sendo útil.

Ao longo de toda a campanha não proferi nenhuma ofensa pessoal ou fiz qualquer fala da qual eu tenha que me arrepender. Mas também disse tudo o que precisava ser dito. Mostramos divergências com relação a concepção sindical e a condução de direção. Direção que perde assembleia precisa fazer forte autocrítica. Quando isso acontece e, efetivamente aconteceu, ocorre a cisão da direção com a sua base. A base deixou de ser ouvida. Perdemos a eleição mas ganhamos no processo. Este foi extremamente rico.

Quanto ao pós eleição, temo uma vitória de Pirro. Ao longo da caminhada pelas escolas percebemos muito desânimo e desalento. A dessindicalização foi uma das tônicas encontradas nas escolas. Creio que esta foi uma das causas de termos perdido. Os nossos possíveis eleitores já não eram mais sindicalizados. Os custos da campanha provavelmente serão muito elevados. Eles deverão se refletir sobre o ânimo da categoria. As piores práticas da conturbada vida política brasileira estiveram presentes na campanha, na eleição e na apuração. Existe a sensação generalizada de uma dissintonia entre o sentimento da categoria e o resultado das urnas.

Algumas questões precisam ser submetidas à crítica, já que a autocrítica dificilmente será feita. Algumas perguntas precisarão ser respondidas: Qual foi a função de uma quarta chapa no processo? A que interesses ela atendeu? Por que houve a adoção de um processo de votação eletrônica sem a comprovação de sua viabilidade e eficiência? Como foi conduzido o processo de apuração dos votos? A exaustão física atingiu os seus limites ao longo da apuração. Também a atuação da Central Única dos Trabalhadores, que por sinal não é tão única, precisa ser profundamente questionada. Temo que muitos recursos financeiros e energias humanas, que deveriam ser direcionadas para o combate aos governos Temer e Richa, foram direcionados para um mero aparelhamento burocrático das facções ou correntes que se digladiam no interior do sindicato. Da mesma forma a atuação do Partido dos Trabalhadores, especialmente, no processo de formação das chapas precisa de questionamento. Lembro ainda, para os que não entendem, que partidarização e politização não combinam. Doutrinação versus formação.

E nós que pensávamos, lá em 1995, em conquistar mais companheiros com a nossa prática...!Termino com um convite à unidade. Para uma unidade possível, que não ultrapasse os limites éticos. Que práticas abomináveis não sejam normalizadas. E vamos em frente. Estou imune aos fluidos líquidos da pós-modernidade. Haverá vida após Temer e após Beto Richa. E haverá vida também após o processo eleitoral da APP-Sindicato -2017. Um registro para a história das minhas percepções.

sábado, 23 de setembro de 2017

Acleilton Ganzert reflete sobre o processo eleitoral da APP-Sindicato 2017.




Raramente trago textos que não sejam meus, neste blog. Hoje, lendo este belo texto no facebook, pedi para o seu autor, Acleilton Ganzert, autorização para publicá-lo. Quero cumprir assim duas finalidades. Deixar registros para a história, para futuros pesquisadores, sobre este peculiar processo eleitoral da APP-Sindicato de 2017, que a todos nós deixou atônitos. Cumpro assim uma finalidade acadêmica. A outra finalidade é a de proporcionar elementos para que sindicalizados e demais participantes possam fazer as suas reflexões e avaliações.

Me sinto feliz e honrado pelo consentimento que o professor Acleilton me deu para a publicação. É um texto de elevada qualidade acadêmica e faço votos de que sirva como base para muitas reflexões. Também fica aqui, num espaço permanente, como um registro desse processo eleitoral histórico. Acleilton é formado em ciências sociais pela UEL e pela mesma universidade também concluiu o seu mestrado. Acleilton é da base do Núcleo Sindical do METROSUL.

Também estou fazendo as minhas análises e em breve publicarei. Abro o espaço também para outras publicações referentes ao tema.
A gralha no símbolo da APP-Sindicato. Uma rica simbologia.

"Manhã de reflexão após um período intenso de aprendizado. É, nesse momento, assim que estou tentando avaliar tudo que passei e/ou tudo que passamos. 

Conheci os sindicatos nos livros durante a graduação em Ciências Sociais. Li sobre algumas experiências históricas de trabalhadores organizados enquanto força política, do papel dos movimentos sociais, de debates sobre paradigmas sob os quais podemos analisá-los, da relação entre indivíduo e sociedade, da estrutura de classes, de problemas de natureza epistemológica, ideológica, ontológica, e tantas outras coisas. A respeito da licenciatura, isto é, da formação para docente, confesso que a da UEL foi muito robusta. 

Mas, tem um aspecto disso tudo que não está na sala de aula, nem nos livros, que não cabe nas linhas, nos métodos, nem na etiqueta da linguagem formal da academia. Que não passa na propaganda, sem maquiagem. Há uma dimensão que você só tem noção dela agindo, trabalhando, construindo, desconstruindo. Tanto na escola quanto nos sindicatos de educadores, assim como em tantos outros espaços, a correlação de forças e as disputas, na realidade, não são polidas e educadas, embora também guardem esse aspecto por uma necessidade teatral de parecerem formalmente respeitosas. 

Nos momentos mais abertos, elas se dão de forma vil e abjeta. Assim, nessa dimensão, experimentamos toda a sorte de interesses e práticas em torno do poder político de dirigir, de mandar e/ou comandar, de organizar, planejar, debater, instruir, formar, avaliar, direcionar recursos, etc.

Nos sindicatos tive o desprazer de ser mesário em uma eleição organizada por um sindicato de base da UGT. Uma primeira experiência quando eu era, ainda, mais jovem. Coisa medonha. Horas de trabalho seguidas, sem dormir, sem comer direito, eu sem entender nada àquela época. Jovem, pobre, sem qualificação, precisando de uma grana e tentando entender o que significava aquela disputa antiética, cruel e violenta. Voltei meus esforços para a formação acadêmica novamente. Nesse caminhar, li sobre os limites da ação sindical, sobre a história do movimento sindical brasileiro, francês, inglês, estadunidense, russo, e, de maneira geral, sobre os processos de constituição da classe trabalhadora enquanto força econômica e política no palco das disputas no interior das sociedades modernas e contemporâneas do Ocidente capitalista. 

Desde 2008 que eu guardava alguma relação com o sindicato dos educadores, mas ainda de maneira muito fragmentada, haja vista que só pegava aula, enquanto acadêmico, de uma parte do ano para frente e, muitas das vezes, estava trabalhando com os "bicos", pois os horários para me dedicar a pesquisa fragmentavam todo o meu dia. A partir de 2013, quando consegui terminar o mestrado em Ciências Sociais, me afastei da academia para me dedicar a docência na educação básica de maneira integral. Também pude me aproximar com mais regularidade da atividade sindical. A conjuntura nos colocou diante de lutas históricas, embora em um período curto de tempo. Fiquei muito entusiasmado com pessoas que conheci e que em suas práticas desencadeavam esperança e fé no futuro, retidão ética, compromisso, responsabilidade, pouca ambição a partir de projetos pessoais, e a crença de que precisamos construir uma saída. 

Estive, também, umas tantas vezes nesses últimos anos, diante do que há de pior no ser humano. A disputa vil e abjeta como um mostro autofágico. A fé no futuro, os projetos, a formação, o companheirismo, a camaradagem, a necessidade de construção e fortalecimento de um movimento amplo de participação dos trabalhadores, de uma educação ampla e democrática, voltada para a autonomia, tudo isso atacado por interesses corporativos, mesquinhos e de grupos, aliados a práticas de ataque físico e emocional, de má fé, de promiscuidade com o poder econômico, de humilhação e aniquilamento de corações e almas. 

Tive certeza do modo de agir de determinadas forças políticas no interior do movimento sindical brasileiro, aquilo que nos livros aparece de modo bastante polido como "sindicalismo burocrático", como "aristocracia proletária", como "interesses imediatos", experimentei na prática sob empurrões, gritos e xingamentos. 

Nosso adoecimento está na moderação. Vamos cada vez mais pela raiz!"

sexta-feira, 22 de setembro de 2017

1917 - 2017. Cem anos da Revolução Russa.

Com a chegada do mês de outubro, um tema se impõe. A Revolução comunista de 1917, na Rússia. Ela foi a mais importante tentativa histórica de superação do sistema capitalista. Por questão de espaço não vou falar de suas causas. Mas não poderia deixar de mencionar que houve uma relação direta entre as análises que Marx fizera sobre as contradições e mazelas do sistema capitalista para que o processo revolucionário se desencadeasse. Foram elas que forneceram o estofo teórico para deflagrar e dar rumo e direção para a Revolução.

A Rússia vivia uma situação peculiar de opressão e, sob ela, foram criadas as chamadas condições objetivas para o início de um processo revolucionário. Sobre o tema recomendo muito o clássico de Sergei Eisentein O Encouraçado Potemkim, que nos dá uma ideia da situação opressiva sob o regime absolutista dos czares. Quanto ao processo revolucionário em si a recomendação de leitura vai para Dez dias que abalaram o mundo, de John Reed. Recomendo ainda a leitura de um livro que sempre me acompanhou em minhas aulas de história. Trata-se de História da Riqueza do Homem, de Leo Huberman, um livro dividido em duas partes: a primeira se ocupa da transição do feudalismo ao capitalismo e a segunda, do capitalismo ao? Uma verdadeira profissão de fé.

Com a tomada do poder, implantar o socialismo na Rússia se tornou uma tarefa extremamente complexa, pois ali o capitalismo mal e mal chegara com a sua modernização da economia. A Rússia ainda era um país rural. Também a morte prematura de Lênin e a sua sucessão trouxeram dificuldades. Mas a Revolução transformou a Rússia na União Soviética e esta, em grande potência mundial. Ocasionou a chamada bipolaridade, dividindo o mundo em duas grandes potências. Esta potência também exerceu papel decisivo na Segunda Guerra Mundial, determinante para a derrota do regime nazista, em sua expansão em busca do espaço vital. Mas havia a ditadura do proletariado. E havia também o grande problema da construção da igualdade sob um regime de liberdade. Diante desta questão sobra um pergunta de difícil resposta: Existe compatibilidade entre a liberdade e a igualdade?

Quanto as influências de 1917 sobre as mentes e corações dos trabalhadores também teríamos muito a dizer, mas vou me ater ao Brasil. Mas antes recomendo mais uma leitura. Navegação de cabotagem de Jorge Amado. Nele o escritor relata as suas andanças, o seu encontro com os grandes intelectuais do mundo. A leitura deste livro dá uma sensação de que todos os que se ocupavam com a mente, com a poesia, com o cinema e com a literatura em geral, professavam o ideário tornado concreto com a Revolução de 1917. As decepções começam com o XX Congresso do PCUS, quando Khrushchev denuncia as atrocidades cometidas sob o regime de Stálin.

No Brasil, pelas peculiaridades da imigração, os ideais igualitários vieram com os anarquistas italianos, ao final do século XIX. As influências da Revolução de 1917 chegam mais tarde, em 1922, quando se funda, em Niteroi, o Partido Comunista do Brasil, o PCB, que ao longo da história ficaria mais conhecido como o Partidão. Ele obedeceu aos ditames da Terceira Internacional, criada em Moscou em 1919 para, em torno dela, aglutinar os trabalhadores do mundo inteiro. Ao longo da história do Partidão, o líder mais conhecido foi Luís Carlos Prestes, que aderiu ao partido depois da épica Coluna Prestes.

Contar a história do Partidão também não é tarefa fácil, especialmente em função do fracionamento das esquerdas, derivadas tanto das quatro Internacionais, quanto aos movimentos posteriores a elas. A construção da unidade sempre foi tarefa praticamente impossível, tal o número de divergências, especialmente com relação aos meios de se chegar ao poder, ou mesmo o relacionamento com ele, enquanto não se deflagrava a Revolução. Recomendaria a leitura de biografias de Prestes, em especial a de Daniel Aarão Reis - Luís Carlos PRESTES - Um revolucionário entre dois mundos. Esta biografia recebeu pronta contestação da filha de Prestes, Anita Leocádia. Daniel Aarão Reis também ajudou a organizar os seis volumes da História do marxismo no Brasil, possivelmente o estudo mais completo sobre o tema.

A atuação do Partidão foi extremamente confusa no período da ditadura militar, quando se envolveu na luta armada, na guerrilha do Araguaia. Sofreu também várias dissidências, como a do PCdoB. Com a redemocratização perdeu a hegemonia das esquerdas, para o moderno socialismo pós soviético, do socialismo com democracia, que no Brasil se construiu em torno do Partido dos Trabalhadores. Quanto ao Partidão, ele proclamou a sua autodissolução, em Congresso realizado na Câmara Municipal de São Paulo, em 1992. Este Congresso foi capitaneado por Roberto Freire. Sobraram alguns remanescentes, que continuam sob a sigla do PCB.

Com os adventos da queda do muro de Berlim (1989) e do fim da URSS (1991) o mundo da bipolaridade acabou. Triunfalmente o mundo liberal anunciou o fim da história e o advento do pensamento único, como se as contradições do sistema capitalista tivessem acabado. Sob o neoliberalismo e a globalização dos mercados e a ascensão do chamado capitalismo financeiro, as crises só fizeram por crescer e as desigualdades por aumentar, especialmente, após a crise global de 2008, que longe está de terminar. Aliás, com o neoliberalismo e a globalização dos mercados, as crises antes cíclicas, se tornam agora permanentes.

Às lutas históricas dos trabalhadores somam-se hoje as novas dificuldades como as do avanço tecnológico e das ideologias do individualismo que se reinventam com significativas e sedutoras formas como as professadas pelas religiões ou seitas ligadas à teologia da prosperidade, do empreendedorismo e da meritocracia, que culpam o indivíduo pelos seus fracassos. O antídoto sempre será o apelo à formação da consciência e para a necessidade da organização coletiva. E, enquanto houver exploração capitalista, as análises de Marx, que continuam sendo um apelo à Revolução, não estarão superadas. E a convocação final do Manifesto continua absolutamente necessária. Trabalhadores do mundo inteiro, uni-vos, ou Proletarier aller Länder, Vereinigt euch!, no original.



sexta-feira, 8 de setembro de 2017

Nossa senhora do Nilo. Scholastique Mukasonga.

Na Feira Literária Internacional de Paraty - 2017, a escritora tutsi de Ruanda, Scholastique Mukasonga, além de comparecer pessoalmente no evento, também compareceu duas vezes entre os dez livros mais vendidos na tradicional feira. Ela ocupou o segundo lugar, com A mulher de pés descalços e o quarto com Nossa Senhora do Nilo. Os livros foram lançados pela editora Nós.
Mapa do pequeno país africano, tristemente conhecido por causa de seu genocídio.


Ruanda é um pequeno país africano que tem em torno de dez milhões de habitantes. O país é ainda dominantemente rural e convive com muita pobreza. Ele teve colonização alemã mas depois da Primeira Guerra o domínio passou para a Bélgica. A independência ocorreu em 1962. O país ficou mundialmente e tristemente conhecido em função de seus conflitos étnicos. Sua população se divide entre os tutsis (9%) e os hutus (90%). Os belgas celebraram um acordo com os tutsis e os mantiveram no poder. Em 1959 houve uma rebelião dos hutus, que ascenderam ao poder. Em 1994 ocorre um dos maiores genocídios do mundo, com a morte entre 800 mil a 1 milhão de pessoas, sendo 90% pertencentes a etnia tutsi.

Um belo livro que relata os horrores deste genocídio é o livro de Philiph Gourevitch, Gostaríamos de informá-lo de que amanhã seremos mortos com nossas famílias, da Companhia De Bolso. Lembro que ganhei este livro de presente da professora e amiga Simone Meucci, quando ainda trabalhávamos na Universidade Positivo. O livro é um relato impressionante. Os colonizadores foram os grandes responsáveis por instigarem estes conflitos étnicos, tirando proveito da situação. Também é interessante lembrar o filme Hotel Ruanda.

Não conhecia a escritora, que atualmente vive na França. No livro senti falta de uma maior contextualização, através de uma apresentação ou prefácio para os leitores brasileiros. Na orelha do livro tem algumas informações sobre o Liceu Nossa Senhora do Nilo e a trama do romance que descreve "o ambiente sociopolítico dos anos que precederam o golpe de Estado de 1973. Como em seu precedente romance (A mulher de pés descalços), ela relata as tensões que marcaram a história da sociedade ruandesa, nomeadamente o período do regime autoritário e etnicista da Primeira República hutu, às vésperas do genocídio ruandês".
O livro lançado na FLIP 2017.


Na contracapa do livro temos mais a seguinte informação: "Uma escola para meninas, situada no alto das montanhas da bacia do Congo e do Nilo, em Ruanda, aplica rigorosamente um sistema de cotas étnicas que limita a 10% o número de alunas da etnia tutsi.  Quando os líderes do poder hutu tomam conta do local, o universo fechado em que têm que viver as alunas torna-se o teatro de lutas políticas e de incitações ao crime racial. Os conflitos são um prelúdio ao massacre ruandês que aconteceria tempos depois. Em Nossa Senhora do Nilo, Scholastique Mukasonga, sobrevivente do massacre, conta as experiências-limites pelas quais passaram as jovens do colégio, numa narrativa pungente que encantou o mundo".

O romance está envolvido nos belos mistérios africanos. O Liceu se situava nas nascentes do rio Nilo e Nossa Senhora do Nilo é uma Nossa Senhora negra, protetora de Ruanda. O Liceu abrigava as meninas da alta elite, onde as prendadas meninas aprendiam os valores da democracia e do cristianismo. O padre Hermenegilde é um dos perversos personagens do romance. Entre os objetivos do Liceu constavam a preservação da virgindade e o arranjar de bons casamentos.

A trama do romance ocorre especialmente quando Gloriosa começa a envenenar o Liceu com as suas pretensões políticas, disseminando a ideologia dominante e inventando fantasmas sobre os ataques tutsis que estariam por ocorrer. Verônica e Virgínia eram as suas vítimas preferidas. Quase ao final do romance encontramos, por uma de suas personagens, uma síntese quase perfeita sobre tudo o que aconteceu em Ruanda: "Agora não tenho dúvidas, dentro de cada homem há um monstro adormecido: não sei quem foi que o acordou em Ruanda". Com certeza, uma leitura muito interessante.

quinta-feira, 7 de setembro de 2017

A subversividade em Paulo Freire.

Na minha condição de administrador de tempo livre, dei uma pausa nas leituras, para me dedicar um pouco à militância sindical em virtude das eleições na APP-Sindicato. Esse fato me levou a cidade de Francisco Beltrão para ajudar na divulgação das propostas da chapa 2, do grupo APP independente, democrática, de base e de luta, liderada pelo professor Paixão.

Em Francisco Beltrão encontramos uma equipe maravilhosa e cheia de brios. Muito compromisso, acima de tudo, com os filhos da classe trabalhadora, os alunos da escola pública.  O grupo da chapa 2 está sob a liderança do professor Rogério Rech, o nosso candidato a presidente. Rogério é professor de matemática no C.E. Leo Flach e é doutor em educação, mestre em matemática e em desenvolvimento regional e docente do ensino superior na FAMPER. Mas o que mais impressiona é a sua dedicação ao ensino público. Nos levou à sua escola, bem como à comunidade em que ela está inserida.
Rogério, calmo e tranquilo, apresentando o seu trabalho.

Uma característica interessante de todo o grupo é a sua dedicação à formação. O interesse pelos estudos acadêmicos se destaca em seus currículos, mas isso, de maneira alguma, inibe suas atividades sindicais e a dedicação às causas coletivas. Em Francisco Beltrão me chamou particular atenção uma instituição chamada Assessoar, fundada por padres belgas e que, conforme me contou o professor Rogério, é a mãe de todo o espírito cooperativo em Francisco Beltrão e em toda a região.

Entre as atividades desenvolvidas como as visitas às escolas, tive também o privilégio de assistir o momento da qualificação de mais um mestrado do professor Rogério. Desta vez o tema é Paulo Freire. O título provisório de sua dissertação é "A subversividade em Paulo Freire: um espectro nos ronda, o fantasma das ditaduras no Brasil e na Argentina". Me senti imensamente privilegiado em ouvir falas qualificadas sobre Paulo Freire. Pessoalmente eu tive a enorme satisfação de conviver com o grande mestre em algumas oportunidades.

O trabalho do professor Rogério está sob a orientação do professor Dr. André Castanha e na banca se fizeram presentes a professora Dra. Cecília Guedini, especialista na educação do campo. Tanto os Dr. André, quanto a Dra. Cecília pertencem ao quadro de professores da Unioeste do Campus de Francisco Beltrão. O professor Dr. Ivo Dickmann, da Universidade de Chapecó completou a banca. O Dr. Ivo estuda Paulo Freire há mais de 20 anos.
Rogério junto com os membros da banca de qualificação.

Não vou entrar em detalhes da orientação da qualificação, vou destacar apenas alguns aspectos que mais me chamaram a atenção. Em primeiro lugar o conceito de subversão, no sentido positivo da palavra, no seu sentido revolucionário emancipatório. Nas orientações foi lembrado o texto de Kant que fala do significado do esclarecimento, o famoso texto do sapere aude, o ouse saber. É óbvio que a dissertação passa pela leitura dos clássicos de Paulo Freire e houve também a recomendação dos livros de memória do autor de Educação como prática da liberdade, um título que por si só, já revela todo um caráter de subversão. Outra orientação foi a de ver as influências de Marx no pensamento de Paulo Freire.

Quanto a questão das ditaduras, houve o debate em torno da delimitação do tema. Rogério apresentou interessantes dados de fatos ocorridos na cidade de Córdoba, onde os livros de Paulo Freire chegaram a ser queimados publicamente. Enquanto eu participava desta apresentação, da qual ainda quero destacar o grande comprometimento da banca, eu evocava as imagens do meu convívio com o autor da Pedagogia do Oprimido, a sua imagem profética de extrema generosidade, afetividade e amorosidade. É inacreditável que uma figura humana desta qualidade receba tanto ódio por parte da elite brasileira, "de longe a mais perversa do mundo", conforme ouvi de suas próprias palavras.

Obviamente que o trabalho de qualificação foi aprovado e tenho a certeza absoluta que com a seriedade e o comprometimento peculiar ao professor Rogério, em breve disporemos de mais um belo trabalho sobre o educador brasileiro mais citado no mundo e elevado à condição de Patrono da Educação Brasileira.

Retomo este post, pois, participei do momento da defesa da dissertação (02 de abril de 2018) aprovada com louvor e recomendação de publicação. A banca foi enriquecida com a presença da Dra. Mariana Tosolini, da Universidade de Córdoba, a histórica Universidade fundada pelos padres jesuítas, ainda no início do século XVII, em 1613. É a mais antiga da Argentina. A dra. Cecília e o Dr. Ivo, que já haviam participado da qualificação, integraram também a banca da defesa. E que banca, que observações!
O - mais uma vez - mestre Rogério Rech, com a banca, após a aprovação de seu trabalho.


A noite houve a Aula Magna, de abertura dos trabalhos de pós-graduação da Unioeste referente ao ano de 2018, campus Francisco Beltrão, do qual deixo o cartaz. Foi uma noite memorável. E, claro, ao final de tudo, uma cervejinha para comemorar.
O cartaz de convocação para a aula inaugural.