Raramente trago textos que não sejam meus, neste blog. Hoje, lendo este belo texto no facebook, pedi para o seu autor, Acleilton Ganzert, autorização para publicá-lo. Quero cumprir assim duas finalidades. Deixar registros para a história, para futuros pesquisadores, sobre este peculiar processo eleitoral da APP-Sindicato de 2017, que a todos nós deixou atônitos. Cumpro assim uma finalidade acadêmica. A outra finalidade é a de proporcionar elementos para que sindicalizados e demais participantes possam fazer as suas reflexões e avaliações.
Me sinto feliz e honrado pelo consentimento que o professor Acleilton me deu para a publicação. É um texto de elevada qualidade acadêmica e faço votos de que sirva como base para muitas reflexões. Também fica aqui, num espaço permanente, como um registro desse processo eleitoral histórico. Acleilton é formado em ciências sociais pela UEL e pela mesma universidade também concluiu o seu mestrado. Acleilton é da base do Núcleo Sindical do METROSUL.
Também estou fazendo as minhas análises e em breve publicarei. Abro o espaço também para outras publicações referentes ao tema.
A gralha no símbolo da APP-Sindicato. Uma rica simbologia.
"Manhã
de reflexão após um período intenso de aprendizado. É, nesse momento,
assim que estou tentando avaliar tudo que passei e/ou tudo que passamos.
Conheci os sindicatos nos livros durante a graduação em
Ciências Sociais. Li sobre algumas experiências históricas de
trabalhadores organizados enquanto força política, do papel dos
movimentos sociais, de debates sobre paradigmas sob os quais podemos
analisá-los, da relação entre indivíduo e sociedade, da estrutura de
classes, de problemas de natureza epistemológica, ideológica,
ontológica, e tantas outras coisas. A respeito da licenciatura, isto é,
da formação para docente, confesso que a da UEL foi muito robusta.
Mas, tem um aspecto disso tudo que não está na sala de aula, nem nos
livros, que não cabe nas linhas, nos métodos, nem na etiqueta da
linguagem formal da academia. Que não passa na propaganda, sem
maquiagem. Há uma dimensão que você só tem noção dela agindo,
trabalhando, construindo, desconstruindo. Tanto na escola quanto nos
sindicatos de educadores, assim como em tantos outros espaços, a
correlação de forças e as disputas, na realidade, não são polidas e
educadas, embora também guardem esse aspecto por uma necessidade teatral
de parecerem formalmente respeitosas.
Nos momentos mais abertos, elas
se dão de forma vil e abjeta. Assim, nessa dimensão, experimentamos toda
a sorte de interesses e práticas em torno do poder político de dirigir,
de mandar e/ou comandar, de organizar, planejar, debater, instruir,
formar, avaliar, direcionar recursos, etc.
Nos sindicatos tive o
desprazer de ser mesário em uma eleição organizada por um sindicato de
base da UGT. Uma primeira experiência quando eu era, ainda, mais jovem.
Coisa medonha. Horas de trabalho seguidas, sem dormir, sem comer
direito, eu sem entender nada àquela época. Jovem, pobre, sem
qualificação, precisando de uma grana e tentando entender o que
significava aquela disputa antiética, cruel e violenta. Voltei meus
esforços para a formação acadêmica novamente. Nesse caminhar, li sobre
os limites da ação sindical, sobre a história do movimento sindical
brasileiro, francês, inglês, estadunidense, russo, e, de maneira geral,
sobre os processos de constituição da classe trabalhadora enquanto força
econômica e política no palco das disputas no interior das sociedades
modernas e contemporâneas do Ocidente capitalista.
Desde 2008
que eu guardava alguma relação com o sindicato dos educadores, mas ainda
de maneira muito fragmentada, haja vista que só pegava aula, enquanto
acadêmico, de uma parte do ano para frente e, muitas das vezes, estava
trabalhando com os "bicos", pois os horários para me dedicar a pesquisa
fragmentavam todo o meu dia. A partir de 2013, quando consegui terminar o
mestrado em Ciências Sociais, me afastei da academia para me dedicar a
docência na educação básica de maneira integral. Também pude me
aproximar com mais regularidade da atividade sindical. A conjuntura nos
colocou diante de lutas históricas, embora em um período curto de tempo.
Fiquei muito entusiasmado com pessoas que conheci e que em suas
práticas desencadeavam esperança e fé no futuro, retidão ética,
compromisso, responsabilidade, pouca ambição a partir de projetos
pessoais, e a crença de que precisamos construir uma saída.
Estive, também, umas tantas vezes nesses últimos anos, diante do que há
de pior no ser humano. A disputa vil e abjeta como um mostro autofágico.
A fé no futuro, os projetos, a formação, o companheirismo, a
camaradagem, a necessidade de construção e fortalecimento de um
movimento amplo de participação dos trabalhadores, de uma educação ampla
e democrática, voltada para a autonomia, tudo isso atacado por
interesses corporativos, mesquinhos e de grupos, aliados a práticas de
ataque físico e emocional, de má fé, de promiscuidade com o poder
econômico, de humilhação e aniquilamento de corações e almas.
Tive certeza do modo de agir de determinadas forças políticas no
interior do movimento sindical brasileiro, aquilo que nos livros aparece
de modo bastante polido como "sindicalismo burocrático", como
"aristocracia proletária", como "interesses imediatos", experimentei na
prática sob empurrões, gritos e xingamentos.
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