Em meio a tanta história, mitologia e primeiras pitadas de razão, saímos da região de Delfos e do Parnaso, e - em meio ao vale de Olivos - uma imensa plantação de oliveiras com mais de três milhões de pés, rumo a Atenas. Imaginem a emoção. Quem viveu falando de Atenas, agora ter um encontro real com esta cidade.
Pelo fato de ter tido um contato tão rico com esta região, imaginei que este seria um belo momento de retomar a leitura dos clássicos que deram origem a literatura ocidental, como a Teogonia de Hesíodo e a Ilíada e a Odisséia de Homero. Para quem, pelas mais diferentes razões, não estiver em condições destas leituras, deixo uma sugestão um pouco mais fácil e talvez um tanto simplificadora. Existe uma versão popular de tudo isso, de um autor grego, Menelaos Stephanides (Ed. Odisseus), em oito volumes e que tem, inclusive, recomendação do Ministério da Cultura da Grécia. É uma leitura que flui com mais facilidade.
O vale de Olivos também nos detém, ao menos um pouco, na oliveira, no seu fruto e no seu produto, o azeite. É outra história cheia de mitos, tradições e simbologia. Na Grécia ela está relacionada com a deusa Palas Atenea, ou simplesmente Atena, filha de Zeus, que ensinou aos humanos o seu cultivo e a sua utilização. A oliveira é considerada a árvore da eternidade e simboliza a paz e a prosperidade.
Foto de uma oliveira, a "árvore da eternidade". Observe a diferença entre o tronco e os galhos e as folhas. Elas são podadas para facilitar o seu manejo.
Foto de uma oliveira, a "árvore da eternidade". Observe a diferença entre o tronco e os galhos e as folhas. Elas são podadas para facilitar o seu manejo.
Por ser uma árvore encontrada em todas as regiões em que o início da história se desenvolveu, encontramos também em todos esses povos, histórias e mitos ligados a esta árvore.
Assim, na mitologia romana, Remo e Rômulo, teriam sido encontrados à sombra de uma oliveira e no cristianismo talvez encontremos o maior número de significados. Assim o raminho de oliveira, que anunciou a Noé o fim do dilúvio, o monte das oliveiras, a unção dos óleos, a cruz da crucificação, entre outros. Também o uso do óleo abrange as mais diferentes formas.
A oliveira já dá flores no seu primeiro ano e os frutos começam a aparecer apenas no quarto ano. Segundo o guia, a colheita normal da fruta, dá de dois em dois anos, mas hoje as colheitas são anuais. Pesquisei um pouco e acredito que encontrei uma resposta plausível para tal: toda a azeitona é preta ao final de seu processo de maturação, mas elas podem ser colhidas antecipadamente, ainda verdes. As árvores são centenárias e enormes, mas na sua cultura para fins comerciais elas são podadas. O serviço de colheita obedece a várias formas que vão da colheita manual até o uso de maquinário.
Imagino que o processo seja bastante semelhante ao do nosso café. O método mais tradicional é, no entanto, o uso de redes, para que o fruto caia nelas espontaneamente. O uso desse processo também dá os azeites mais puros, com apenas 0,2% de acidez. Os azeites gregos são considerados como os de melhor qualidade do mundo. Ainda com relação à pureza, contam os antigos mitos, que o seu teor de pureza, estava ligado a quem executava o trabalho na sua produção: virgens ou celibatários.
Imagino que o processo seja bastante semelhante ao do nosso café. O método mais tradicional é, no entanto, o uso de redes, para que o fruto caia nelas espontaneamente. O uso desse processo também dá os azeites mais puros, com apenas 0,2% de acidez. Os azeites gregos são considerados como os de melhor qualidade do mundo. Ainda com relação à pureza, contam os antigos mitos, que o seu teor de pureza, estava ligado a quem executava o trabalho na sua produção: virgens ou celibatários.
A oliveira carregada de azeitonas.
O grau de acidez do azeite está relacionado com o grau de maturação da azeitona e, ao contrário do vinho, o seu melhor consumo é o imediato. A ele não se aplica o conceito de "quanto mais velho, melhor".
Bem, ao final da tarde chegamos a Atenas. Nos instalamos no hotel e, de imediato, saímos para o tour panorâmico. Iniciamos na Acrópole. O sol e o calor era insuportável, mesmo já sendo 19:00 hs. Fomos com guia local de excelente qualidade. De maneira geral os guias são excelentes e possuem boa formação. O conhecimento ia do mito, para a história e da história para a arquitetura com a mesma desenvoltura. Evidentemente que a visita à Acrópole é o ponto alto de Atenas. A cidade, como Roma, está construída sobre sete colinas. Só que as colinas de Atenas são bem elevadas, ao contrário das de Roma. A cidade de Atenas teve o seu apogeu entre os anos 500 e 300 a.C. e o seu esplendor maior, está ligado ao governo de Péricles. A Acrópole foi construída em apenas nove anos e como quase tudo na Grécia, está cheia de simbolizações.
No alto da Acrópole eram guardados o ouro e o marfim, as grandes riquezas da época e nela se situava a parte administrativa, financeira e religiosa da cidade. Ali ficava a sede do Banco Central, brincava a nossa guia. De novo a altitude como símbolo de poder.
Uma vista clássica da Acrópole.
Da acrópole andamos pela cidade, passando pelo estádio panatenaico, um local umbilicalmente ligado aos jogos olímpicos. A sua origem remonta ao ano de 566 a. C., quando foi construído e a 329 a. C. quando foi reconstruído. Já nos tempos modernos as ruínas foram restauradas em 1870 e o estádio foi totalmente reformado para receber as primeiras olimpíadas dos tempos modernos em 1896. A sua história também está relacionada ao ano de 2004, quando Atenas foi sede das olimpíadas. Ali, além de se realizaram alguns jogos, o local foi o marco de chegada, para a mais simbólica de todas as atividades olímpicas, qual seja a maratona, tanto a masculina, quanto a feminina.
Vista do estádio panatenaico. O local remonta ao ano de 566 a. C. e aos jogos olímpicos. Ali foi a chegada da prova da maratona em 2004.
Passamos ainda pelo Palácio Real, onde acontece, de hora em hora, uma das atrações turísticas mais famosas, a troca da guarda. O traje e o andar destes guardas são realmente uma bela atração.
Cena da troca da guarda, em frente ao Palácio Real, em Atenas.
Passamos ainda pelas praças Omônia e Syntagma, a praça das grandes manifestações, como as recentes, em função da crise grega. A noite jantamos no bairro de Plaka, um dos bairros em que se centraliza a cultura e o folclore do país. Um carneiro foi saboreado. Conhecemos também a cachaça dos gregos, isto é, o ouzo, a sua bebida mais tradicional, algo parecido como o nosso aniz, uma bebida em torno de 40º de teor alcólico.
No nosso dia livre visitamos o Museu Nacional da Acrópole, um museu realmente extraordinário. Em torno dos museus e das ruínas gregas se ouve um lamento muito comum. Muitas das estátuas e ruínas antigas estão hoje nos museus ingleses. Isso remonta aos tempos do romantismo, em que os ingleses, com belos discursos humanitários e de ajuda, levaram ruínas gregas para a Inglaterra, para serem melhor estudadas e, nunca mais as devolveram.
Do museu fomos ao sítio arqueológico de Adriano, onde se encontra o seu arco e o templo de Zeus olímpico. Adriano foi imperador entre os anos de 117 e 138 e era grande admirador da cultura grega e fez de Atenas a capital cultural do Império Romano.
Vista do templo de Zeus Olímpico e do Arco de Adriano, no sítio arqueológico de Adriano.
Depois fomos a um dos locais que para mim mais gerou expectativas. A Ágora Antiga. Daí dá para ter uma noção do que realmente deveria ser a cidade de Atenas, nos tempos de seu esplendor. A praça da Ágora embaixo, e a Acrópole em cima. A cidade do povo e o mercado em baixo, no plano e a cidade do poder, a Acrópole, em cima. Aí sim a memória começa a trabalhar: o início da democracia, os passeios e as provocações de Sócrates, os embates entre Sócrates e os sofistas, tendo diante de si mas, lá no alto, os palácios ligados ao poder.
Vista do palácio de Hefesto, na Ágora antiga. É um dos templos mais bem conservados de Atenas. Quantas histórias estão ligadas a Hefesto, o deus do fogo.
Depois dessa visita à Ágora e já bem cansados, pois andamos a pé o tempo inteiro, resolvemos experimentar um dos pratos gregos mais tradicionais, a moussaka. É uma espécie de lasanha nossa. É feita a base de creme de bechamel, de carne moída (também de outras carnes) e berinjela. É muito saborosa. A berinjela é onipresente na cozinha grega.
Vista da moussaka e as suas camadas de creme bechamel, carne moída e berinjela.
Empregamos o resto da tarde para fazer a compra de lembranças de Atenas. Entramos numa loja, em que a dona nos garantiu que todos os produtos eram fabricados na Grécia, nada portanto, da China e, garantiu ainda mais, que tudo era fabricado pelo seu marido. Ela disse-nos que as suas estátuas eram de alabastro, algo local, e que os chineses usavam basicamente terracota. Compramos estatuetas de Sócrates, Platão e Aristóteles e outras ligadas a mitologia, como a Vênus, Zeus e outras. É óbvio que Dionísio novamente recebeu uma deferência toda especial. As estatuetas vieram bem embaladas com papel bolha.
Voltamos ao hotel, pela rua Éolo, onde se situam as lojas mais finas e confesso que não dá para ver sintomas de uma economia em crise. Vimos alguns pedintes, mas obtivemos a informação de que não são gregos. São especialmente ciganos, que são encontrados em toda a Europa. Também nos chamou muito a atenção o estado de conservação das casas gregas. Não há indícios de crise. Também não saímos do centro histórico de Atenas.
Assim nos despedimos desta magnífica cidade, cidade dos grandes filósofos e de suas grandes escolas. Eu particularmente senti falta de que alguém falasse de Epicuro, outro dos "santos" de minha preferência. De manhã cedo rumamos para a região do Peloponeso, onde as grandes atrações seriam o canal de Corinto e o teatro de Epidauro.