sexta-feira, 5 de outubro de 2012

Tomilho

Hoje comprei uma mudinha de tomilho para plantar na minha horta de temperos em vasos. Sabem por que?

 Tomilho.
Por causa deste texto:

"Acho que se todos nós entrássemos na cozinha o mundo seria um pouquinho melhor. Claro que para isso teria que haver cozinhas no mundo todo, o que não há... Mas, enfim... Uma amiga minha, uma grande amiga minha, Dulce Chacón, estava com câncer e o marido, nos últimos dias da vida dela, da escassa vida que teve, porque morreu muito moça, nos mandava mensagens dizendo como estava Dulce, uma escritora traduzida para o português, e todo dia Miguel Angel nos dizia como ia Dulce. Um dia recebi uma mensagem, nós os amigos, recebemos. Evidentemente era um SMS, desses mandados a todos os contatos, que dizia: 'A cozinha cheira a tomilho, algo está acontecendo nesta cozinha, talvez seja a vida', assinado por Dulce. Morreu no dia seguinte. Ela saiu do hospital para morrer em casa. E na noite que passou em casa, como que reviveu, e foi para a cozinha. E da cozinha nos mandou a última mensagem, que era sua despedida: 'A cozinha cheira a tomilho, algo está acontecendo nesta cozinha, talvez seja a vida'. E desde então eu sempre digo que a cozinha... que o cheiro de tomilho é o cheiro da vida, e que se o mundo cheirasse a tomilho, vai ver que estaríamos em outra situação. Mas não, empenharam-se no sentido de que tem de cheirar a petróleo e a prédios de vidro e a perversão e mentira, e a G8 e a dinheiro e plutocracia. E os poderosos do mundo rolam de rir, porque eles rolam de rir... Se agora falarmos de tomilho aos que estão reunidos no G8, incluindo o presidente da Comissão Européia, terão um ataque de riso. Porque não entendem nada. Diriam que são conversas de mulheres, seres ociosos que jamais ganharam uma guerra. Mas se eles tivessem feito algum dia um prato com tomilho, provavelmente não estariam tomando as decisões que estão tomando, que tomaram hoje, incluindo, insisto, Durão Barroso. Todos nessa reunião de abutres, G8, plutocracia, governo do mundo, merda".
Esta preciosidade é uma fala de Pilar, a Pilar del Río, a companheira de Saramago, no livro José e Pilar, de Miguel Gonçalves Mendes, nas páginas 51-2 (Companhia das Letras).
Imaginem quanto cuidado terei com esta planta e então... quando eu a usar para fazer temperos... Em que tempos vivemos. Já mencionei o artigo do Paul Krugman sobre a austeridade. Esta é hoje um das palavras mais terríveis, quando os governos de Estados são submetidos pelos agentes financeiros mundiais, a planos de austeridade, com a contenção dos gastos sociais. A isso simplesmente chamamos de crises.