domingo, 7 de maio de 2023

Um enigma chamado Brasil. 29 intérpretes e um país. 16. Caio Prado Júnior.

Continuo hoje mais um trabalho referente aos intérpretes do Brasil. Desta vez o livro referência é Um enigma chamado Brasil - 29 intérpretes e um país. O livro é organizado por André Botelho e Lilia Moritz Schwarcz. É um lançamento da Companhia das Letras do ano de 2009. A edição que usarei é de 2013. Quem são os personagem trabalhados? Os organizadores respondem: "Os teóricos do racismo científico e seus críticos na Primeira República; modernistas de 1920 e ensaístas clássicos dos anos 1930; a geração pioneira dos cientistas sociais profissionais e seus primeiros discípulos". A abordagem sempre será feita por algum especialista. O livro tem uma frase em epígrafe/advertência. O Brasil não é para principiantes, de Antônio Carlos Jobim.

Um enigma chamado Brasil - 29 intérpretes e um país.

A décima sexta resenha do presente trabalho versa sobre o pensamento de Caio Prado Júnior. A resenha é assinada por Bernardo Ricúpero, professor de Ciência Política na USP. A sua resenha leva por título - Caio Prado Júnior e o lugar do Brasil no mundo. Vejamos inicialmente alguns dados biográficos seus:

"Nasce em 1907 na cidade de São Paulo. Titula-se bacharel em ciências jurídicas e sociais pela Faculdade de Direito de São Paulo em 1928. Milita no Partido Democrático (1928-31) e ingressa no Partido Comunista do Brasil em 1931, permanecendo até sua morte.  É membro fundador da União Democrática Nacional (1945) e, como deputado estadual eleito em 1947, integra os trabalhos da Assembleia Constituinte. A Editora Brasiliense (1943) e a Associação dos Geógrafos Brasileiros (1934) são por ele fundadas. Cria e colabora com diversos periódicos. Em 1954 obtém a livre docência na cátedra de Economia Política da Faculdade de Direito da USP. Publica, dentre outros, Evolução política do Brasil (1933), Formação do Brasil contemporâneo (1942) e História econômica do Brasil (1945). Morre em sua cidade natal em 1990".

Caio Prado nasce em meio a uma família da mais alta oligarquia cafeeira paulista e irá ser educado como tal. Em casa, será educado por governanta estrangeira. Forma-se em Direito pela Faculdade do Largo de São Francisco, em 1928, ano em que inicia também a sua longa militância política. Primeiramente no Partido Democrático, um partido liberal e moralizante, em torno do qual se organizava parte da burguesia paulista. O entusiasmo com a Revolução de 1930 dura pouco e a decepção o leva à radicalização, filiando-se ao Partido Comunista Brasileiro, o Partidão. Os seus estudos de concentram na perspectiva de estudar o Brasil para a sua transformação. Conheceu prisões e exílios.

Como foi um marxista original, sempre esteve à margem das teses oficiais do Partido, sob orientação da Internacional Comunista. Sua principal discordância era relativa ao pretenso passado feudal brasileiro, que segundo ele, não existiu, embora o Partido o pregasse.  Ele relativizava o materialismo histórico universal de Marx, que, segundo ele, não se aplicava ao Brasil. Rompeu assim com a tese do "etapismo", da evolução pelo feudalismo - capitalismo - socialismo. Aqui não foi como na Europa.

Sobre a colonização brasileira, sempre a colocou dentro do plano da expansão europeia e atendendo a seus interesses. Esses interesses desconsideravam, por absoluto, quem aqui permanecesse e aqui trabalhasse. Três eram as características principais dessa colonização, tida por ele como - a grande exploração -, assim sintetizada pelo resenhista: "1. a produção de bens de alto valor no mercado externo; 2. em grandes unidades produtivas (latifúndio); 3. trabalhadas pelo braço escravo". 

Ele considerava haver dois tipos de colonização. A de regiões temperadas, de povoamento e a de regiões tropicais, colônias de exploração. As primeiras simplesmente copiaram os modelos europeus, como aconteceu na parte norte dos EUA. Nas de exploração é que ocorreriam fenômenos novos. Só a exploração tinha sentido, só ela tinha vida. Havia apenas senhores e escravos. Mas houve também os que não eram nem senhores nem escravos. Estava aí o foco para a transformação. Como um país nessa situação poderia sair da sua condição de colônia para se transformar numa nação? Essa seria a grande questão.

No caso brasileiro, a passagem de colônia à nação não acarretou nenhuma transformação, apenas continuidade. E houve uma grande contradição: Havia uma estrutura jurídica e política nacional, enquanto que a organização econômica e social permanecia dependente do exterior. A economia não se voltou para atender as necessidades do povo. Continuou dependente do exterior. A produção era estranha às necessidades do povo. Economia e sociedade não convergiam, diz o resenhista. A ruptura seria fundamental para a constituição efetiva da nação. Houve a cópia das instituições liberais existentes em outros países, sem romper com a dependência e a exploração. 

O resenhista critica a abordagem do autor, quanto a industrialização. Ele a teria subestimado, colocando-a na perspectiva da continuidade do colonialismo. Sobre essa subestimação, vejamos Ricúpero, o resenhista: "O mais importante deles é a industrialização, que não é suficientemente valorizada pelo historiador. Em razão de boa parte da produção industrial estar destinada à satisfação da demanda por bens de luxo de setores reduzidos da população, de a indústria depender de saldos positivos da balança comercial, garantidos pela exportação dos mesmos produtos primários de sempre, além da parcela significativa das firmas instaladas no Brasil serem subsidiárias de empresas transnacionais, não vê maior importância no fenômeno. Em outras palavras, avalia que a industrialização não muda o que é mais significativo da vida brasileira, que continuaria a ser plasmada pelo sentimento da colonização". Ele continua a sua análise:

"É verdade que as recentes dificuldades enfrentadas pela indústria brasileira sugeririam que as reticências do autor são menos descabidas do que já foi imaginado. No entanto, é também inegável que o Brasil se transformou profundamente com a industrialização, mudança à qual Caio Prado Júnior não confere a devida importância". O resenhista, nas suas considerações finais, assim se refere a Caio Prado:

"Em poucas palavras, se, desde a independência, a questão fundamental para o Brasil e as demais nações latino-americanas era afirmar sua individualidade, a partir da crise de 1929 e do segundo pós-guerra não se pode mais subestimar a importância da relação dos países da região com o resto do mundo".

Deixo ainda a resenha de uma biografia sua, escrita por Bernardo Pericás, uma biografia política.

http://www.blogdopedroeloi.com.br/2018/03/caio-prado-junior-uma-biografia-politica.html

Também deixo uma resenha - com foco no seu maior livro.

http://www.blogdopedroeloi.com.br/2022/07/um-banquete-no-tropico-12-formacao-do.html

E, como de hábito, o trabalho anterior do presente projeto. Sérgio Buarque de Holanda.

http://www.blogdopedroeloi.com.br/2023/05/um-enigma-chamado-brasil-29-interpretes_5.html


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