segunda-feira, 13 de março de 2023

Como enfrentar um ditador. Maria Ressa. Nobel da Paz. 2021.

Entrei em contato com Maria Ressa, pela primeira vez, através do programa Roda Viva, da TV Cultura de São Paulo, do dia 30 de janeiro de 2023. Inexplicavelmente me passara despercebido o fato de ela ter sido agraciada com o Prêmio Nobel da Paz do ano de 2021. O prêmio foi por sua luta incansável em favor da liberdade de imprensa, única forma de preservar as democracia no mundo, segundo ela, ante a ameaça da ascensão fascista, representada pelas novas tecnologias, que permitiram o avanço das redes sociais. Essas, pela possibilidade de sua manipulação pela via da multiplicação algorítmica, se constituem hoje na maior ameaça aos regimes democráticos, nunca tão ameaçados como no presente momento da história da humanidade. O prêmio foi dividido com outro jornalista, o russo Dmitry Muratov. Por óbvio, Maria Ressa também exerce a profissão de jornalista.

Como enfrentar um ditador. Maria Ressa. Companhia das Letras. 2022.

O programa me levou à compra do livro. Ele relata sua vida e, especialmente, sua luta e compromisso jornalístico com os fatos, no combate à mentira que, cada vez mais ganha espaços, em função de interesses econômicos, que se aliam aos interesses políticos mais escusos, que corroem as democracias. O seu livro se apresenta com o sugestivo título que enfatiza essa realidade. Como enfrentar um ditador - a luta pelo nosso futuro. O ditador em referência é Rodrigo Duterte, das Filpinas, país tristemente conhecido por um ditador terrível e que figura na lista do Guiness, como o campeão em corrupção, Ferdinand Marcos. Quem não lembra do casal Ferdinand e Imelda Marcos, ela mundialmente conhecida por sua coleção de mais de mil sapatos. Pois é. Depois de Rodrigo Duterte, a família Marcos voltou ao poder através do filho Bongbong Marcos, tendo como vice, Sara Duterte Caprio, filha de Rodrigo Duterte. Questões em família. Simples assim. Triste realidade. Pobre democracia.

 Mas o livro de Maria Ressa vai para muito além de sua terra natal. Assim como ela, que dividiu seus anos de formação entre as Filipinas e os Estados Unidos e, por suas atividades profissionais, se tornou uma cidadã do mundo, assim também seu livro vai para muito além, digamos, de suas duas pátrias, Ele analisa as democracias em risco do mundo inteiro. Esta é também a dimensão do seu reconhecimento, pelo título recebido em 2021, de Prêmio Nobel da Paz. Então, a grande pergunta que nos cabe fazer é a de como essa realidade concreta da ameaça às democracias se tronou possível, simultaneamente e em âmbito mundial. Esse é o teor do instigante livro de Maria Ressa. 

Vou fazer uma pequena apresentação da estruturação do livro para depois deixar os leitores com os indicativos do próprio livro em suas orelhas e contracapa. O livro de 367 páginas, tem prefácio de Amal Clooney, uma ativista dos Direitos Humanos, um prefácio à edição brasileira, assinado por Patrícia Campos Mello, autora do livro A máquina do ódio - notas de uma repórter sobre fake news e violência digital e uma introdução da própria autora.

O corpo do livro está dividido em três partes: Parte I. A volta para casa: o poder, a imprensa e as Filipinas, 1963-2004. Nesta primeira parte temos os seguintes capítulos: 1. A regra de ouro - Escolha aprender; 2. O código de honra - Trace a linha; 3. A velocidade da confiança - Seja vulnerável; 4. A missão do jornalismo; - Sejamos honestos.

Parte II. A ascensão do Facebook, o Rappler (do qual ela é cofundadora) e o buraco negro da Internet, 2005-2017. Nesta parte encontramos os seguintes capítulos: 5. Os efeitos da rede - Passo a passo até o ponto da virada; 6. Criando ondas de mudança - Forme uma equipe; 7. Como os amigos dos amigos derrubaram a democracia - Pense devagar, não pense rápido; 8. Como o estado de direito desmoronou por dentro - Calar é ser cúmplice.

Parte III. Medidas enérgicas: prisões, eleições e a luta pelo nosso futuro, 2018- presente. Nesta parte temos mais os seguintes capítulos: 9. Sobrevivendo a milhares de feridas - Acredite no bem; 10. Não vire um monstro para lutar contra um monstro - Aceite seu medo; 11. Defenda a linha - O que não mata fortalece; 12. Por que o fascismo está vencendo - Colaboração. Colaboração. Colaboração. Epílogo, agradecimentos e notas complementam o livro.

Na contracapa lemos uma frase do livro, em destaque: "O mundo que conhecíamos foi dizimado. Agora cabe a nós decidir o que queremos". E logo a seguir, uma pequena resenha: "Vencedora do Nobel da Paz em 2021 por sua luta pelo direito à liberdade de expressão, Maria Ressa  é uma das mais renomadas jornalistas do século XXI. Em 2012, fundou o Rappler, um portal de notícias independente que logo virou alvo do Estado filipino e fez de Ressa inimiga do homem mais poderoso de seu país: Duterte, o então presidente. Mas  ele não é o seu único adversário.

Nestas memórias, Maria Ressa compartilha sua trajetória contra a opressão e a censura e tenta mapear o fenômeno da desinformação que assola o mundo todo. Da invasão do Capitólio dos Estados Unidos ao Brexit da Grã-Bretanha, passando pela influência do facebook nas eleições, Ressa revela como grandes empresas de comunicação incentivaram e disseminaram um vírus de ódio que infecta toda a sociedade, em uma pandemia de raiva e medo.

Contando nas trincheiras da guerra digital, Como enfrentar um ditador é o grito urgente para que lutemos por nossa liberdade - antes que seja tarde demais. O que você está disposto a sacrificar em prol da verdade?". Já na orelha, lemos, primeiramente em destaque: "Fake news e manipulação política assolam o mundo todo. Combatê-las é uma luta árdua, e é necessário coragem. Da vencedora do Nobel da Paz, Como enfrentar um ditador é um relato impressionante sobre os muitos golpes que os Estados democráticos têm sofrido nos últimos anos". Depois segue:

"Por décadas, Maria Ressa desafiou a corrupção em seu país, as Filipinas, na passagem de um Estado autoritário para uma democracia. Ela transformou a cobertura de notícias em sua região, tanto como correspondente da CNN na Ásia quanto como fundadora do Rappler, um portal que rapidamente se popularizou entre os filipinos - o povo que, dentre todos os outros, mais usa a internet.

As Filipinas são o marco zero dos efeitos tenebrosos que as redes sociais podem produzir em uma nação. Nesse âmbito, tudo o que ocorre lá acaba repercutindo no resto do mundo. Um exemplo são as fazendas de cliques, que se tornaram famosas no Ocidente durante as eleições de Donald Trump, nos Estados Unidos, e de Jair Bolsonaro, no Brasil, mas que anos antes já eram utilizadas por outro líder da extrema direita, Rodrigo Duterte, presidente filipino que perseguiu Ressa e outros jornalistas por revelarem a verdade por trás de sua gestão.

Para Maria Ressa, o verdadeiro inimigo é a desinformação. Notícias falsas, bots no Twitter e no Facebook, manipulação de dados - tudo isso é sintoma de uma doença que tem acometido as democracias. E este livro é uma tentativa de mostrar que a ausência do Estado de direito no mundo virtual é devastadora.

'Atualmente, nos encontramos em meio aos escombros de um mundo que se foi, e precisamos de uma visão que antecipe o futuro e de coragem para imaginar e recriar o mundo como ele deveria ser: mais compassivo, mais igualitário, mais sustentável. Um mundo livre de fascistas e de tiranos. Estas páginas resumem minha jornada em busca desse objetivo'".

E sobre a autora lemos: "Maria Ressa nasceu em Pasay, nas Filipinas, em 1963. É CEO, cofundadora e presidente do Rappler, o principal portal  de notícias de seu país. Estudou na Universidade de Princeton e, por anos, investigou o terrorismo no Sudeste asiático, abrindo e administrando a sucursal da CNN em Manila e Jacarta. [...]. Em 2018, foi eleita a Personalidade do Ano pela revista Time e, em 2021, ganhou o Prêmio Mundial de Liberdade de Imprensa da Unesco e o Prêmio Nobel da Paz, ao lado de Dmitry Muratov. Como enfrentar um ditador é seu primeiro livro pela Companhia das Letras. 

Um livro poderoso. Um livro absolutamente necessário para jornalistas, para a classe política, senão para todos os que tem interesses em preservar a democracia. E lembrando ainda uma importante observação: o Facebook não é nada inocente. 


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