O livro A máquina do ódio - Notas de uma repórter sobre fake news e violência digital, da jornalista Patrícia Campos Mello chegou em minhas mãos pela via do programa Roda Viva da TV Cultura de São Paulo, do dia 30 de janeiro de 2023. A entrevistada do dia era Maria Ressa, a jornalista filipina- estadunidense, Nobel da Paz de 2021, por sua defesa da liberdade de imprensa, prêmio dividido com o jornalista russo Dmitry Muratóv, pela mesma causa. Maria Ressa é também autora do livro Como enfrentar um ditador - A luta pelo nosso futuro. O ditador em questão é Rodrigo Duterte, das Filipinas.
A máquina do ódio. Patrícia Campos Mello. Companhia das Letras. 2020.Patrícia Campos Mello participou do programa, na qualidade de entrevistadora. Ela também prefaciou a edição brasileira do livro de Maria Ressa. Deixo aqui a resenha desse livro.
http://www.blogdopedroeloi.com.br/2023/03/como-enfrentar-um-ditador-maria-ressa.html
Patrícia Campos Mello é uma jornalista de renome que já trabalhou em quase todos os grandes meios de comunicação brasileiros, se notabilizando por coberturas internacionais. Hoje trabalha na Folha de S.Paulo e se tornou famosa ao longo do governo de Bolsonaro por combater suas mentiras com a verdade dos fatos. Por suas denúncias, ainda na campanha eleitoral de 2018, do uso de disparos em massa, pela via da mídia digital de fake news em favor da campanha de Bolsonaro, este lhe devotou um ódio profundo e passou a difamá-la, desmerecendo-a como jornalista e desrespeitado a sua condição de mulher, atingindo a sua reputação moral e pessoal. Coisa de cafajeste. O assassinato de reputações foi amplamente repercutida pelos filhos de Bolsonaro e por seus seguidores. Patrícia foi acusada sem nenhum escrúpulo por ter praticado atos inimagináveis.
Patrícia não se calou e muito menos se retirou do campo de batalha. Ela continuou o seu trabalho jornalístico e lançou o livro como denúncia e alerta por todos os perigos representados por Bolsonaro e pelo bolsonarismo. Além disso ela coloca esse fenômeno dentro do universo mundial, representado pelo avanço da extrema direita fascista, pelo uso do método da multiplicação das fake news e da violência digital, como lemos no subtítulo de seu livro: Notas de uma repórter sobre fake news e violência digital. É sob esse aspecto que o seu livro ganha em importância e se alinha com o da sua colega de profissão, Maria Ressa.
O seu livro foi editado pela Companhia das Letras, no ano de 2020. Ao longo de suas 294 páginas, encontramos uma introdução, quatro capítulos, uma conclusão, um epílogo, agradecimentos, notas e uma mini biografia da autora.
Na introdução, que tem por título Como as redes sociais me transformaram em uma "jornalistinha" comunista, ela relata o ódio que lhe foi devotado a partir das matérias que ela escreveu para a Folha de S.Paulo, denunciando o uso de fake news na campanha do então candidato Jair Bolsonaro. O corpo do livro tem quatro capítulos, com os seguintes títulos: 1. A eleição do WhatsApp no Brasil; 2. Assassinato de reputações, uma nova forma de censura; 3. Fatos alternativos e a ascensão de populistas no mundo; 4. Bolsonaro e o manual de Victor Orbán (Hungria) para acabar com a mídia crítica. A sua conclusão também mereceu um título: Será que uma pandemia pode salvar o jornalismo. Ele é uma referência à divulgação de fatos, vejam bem, de fatos e não de fatos alternativos, como os examinados no terceiro capítulo. Por fatos alternativos, leia-se, fatos do interesse de seus propagadores. Creio que conhecemos bem essa realidade.
Na contracapa temos duas apresentações de seu livro. A primeira é do renomado professor Jason Stanley, autor do livro Como funciona o fascismo - A política do "Nós e Eles". Vejamos: "Graças ao trabalho desbravador de jornalistas como Patrícia Campos Mello, nós pudemos descobrir e entender como a internet contribuiu para propagar movimentos contrários à democracia. Se você quer compreender os desafios atuais para a democracia no mundo, precisa ler este livro".
A segunda apresentação é da jornalista Míriam Leitão: "Para entender a natureza dos riscos que ameaçam a democracia brasileira hoje, é preciso seguir o rastro da conspiração digital que simula movimentos de apoio popular e fabrica ódio contra pessoas e instituições. Este livro desvenda esse mundo das sombras com um texto envolvente e esclarecedor". Outra apresentação do livro está nas orelhas do mesmo:
"Dias antes do segundo turno das eleições de 2018, Patrícia Campos Mello publicou a primeira de uma série de reportagens sobre o financiamento de disparos em massa no WhatsApp e em redes de disseminação de notícias falsas, na maior parte das vezes em benefício do então candidato Jair Bolsonaro. Depois disso, a repórter se tornou alvo de uma violenta campanha de difamação e intimidação estimulada pelo chamado "gabinete do ódio" e suas milícias digitais.
Em A máquina do ódio, a autora discute como as redes sociais vêm sendo manipuladas por líderes populistas e em que medida as campanhas de difamação funcionam qual uma censura, agora terceirizada para exércitos de trolls patrióticos repercutidos por robots no Twitter, no Facebook, no Instagram e no WhatsApp, que investem preferencialmente contra jornalistas mulheres. Os bastidores de reportagens que produziu e os ataques de que foi vítima servem de moldura para um quadro mais amplo sobre a liberdade de imprensa no Brasil e no mundo.
Patrícia Campos Mello acompanhou a utilização crescente das redes sociais nas eleições internacionais que cobriu: nos Estados Unidos, em 2008, 2012 e 2016; na Índia, em 2014 e 2019. À experiência de observadora do avanço dos tecnopopulistas e seu 'manual para acabar com a mídia crítica' somou-se a de protagonista involuntária no front de uma guerra contra a verdade.
Relato envolvente de um dos capítulos mais turbulentos de nossa história recente, A máquina do ódio é também um livro em defesa da informação. Em meio à ascensão de governos exímios em falsear os acontecimentos e no contexto da terrível pandemia causada pelo Coronavírus, a imprensa tem uma oportunidade única de renascer. Se ela não resistir aos governos populistas, à manipulação das redes sociais e à recessão econômica, vão sobrar somente os blogs e sites partidários que apenas corroboram crenças, sem nenhum compromisso com a verdade dos fatos".
Um livro imprescindível, especialmente para jornalistas, políticos, professores da área de política e para todos os que prezam o valor da democracia. É como lemos no subtítulo do livro de Maria Ressa: A LUTA PELO NOSSO FUTURO. Eu acrescento, de nossos filhos e netos.
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