sexta-feira, 26 de abril de 2013

A Fábula-mito do Cuidado.

Na semana passada meu filho, o Alexis, fez uma cirurgia de hérnia de hiato, coisas do estômago, do esôfago e, mereceu alguns cuidados especiais. Aproveitei o momento para retomar o livro do Leonardo Boff, do qual já falei ontem, Saber Cuidar. Ética do humano - Compaixão pela terra.  Todo o livro é construído em cima desta maravilhosa fábula-mito do Cuidado. Usei muito esta fábula ao longo de minha vida de professor, durante as minhas aulas.
Saber cuidar. Neste livro encontramos a fábula-mito do Cuidado.

O livro tem na sua capa uma imagem do que seria o cuidado. Apresenta a terra, ou o globo terrestre, sendo segurado por duas mãos, remetendo para um dos subtítulos do livro: compaixão pela terra. Mas quero ficar com a primeira parte do subtítulo: ética do humano. Vamos misturar as coisas. O cuidado e a ética do humano. Se sempre incorporássemos o cuidado em nossas ações do cotidiano, precisaríamos falar da ética do humano ou da compaixão pela terra? Em aula, pedia para os alunos construírem outras imagens do cuidado e apareciam belíssimas criações.

Pois bem, a cirurgia transcorreu maravilhosamente bem, confirmando as maravilhas da técnica a serviço do humano. Mas mereceu alguns cuidados, no pós. Afinal, por dentro se mexeu em muitas coisas. Uma alimentação que foi gradativamente passando do líquido para o pastoso e, ao menos por enquanto, ainda está por aí. Ele já foi embora, mas os cuidados continuam. Mas refletindo sobre a palavra e exercitando o cuidado na prática, descobrimos os seus encantos. Igualdade entre os seres humanos e respeito nas relações  são derivativos fundamentais. A palavra igualdade é de uma radicalidade sem tamanho.As doutrinas morais se tornam até desnecessárias, quando incorporamos a prática do cuidado em nossas vidas.

Mas vamos a história. É o mito da criação. Sua base é romana, com inspiração grega. Leonardo Boff nos dá uma tradução livre para o português. Vejamos:
Leonardo nos conta a fábula-mito da criação do homem.

"Certo dia, ao atravessar um rio, Cuidado viu um pedaço de barro. Logo teve uma ideia inspirada. Tomou um pouco do barro e começou a dar-lhe forma. Enquanto contemplava o que havia feito, apareceu Júpiter.

Cuidado pediu-lhe que soprasse espírito nele. O que Júpiter fez de bom grado.

Quando, porém, Cuidado quis dar nome à criatura que havia moldado, Júpiter o proibiu. Exigiu que fosse imposto o seu nome.

Enquanto Júpiter e o Cuidado discutiam, surgiu, de repente, a Terra. Quis também ela conferir o seu nome à criatura, pois fora feita de barro, material do corpo da Terra. Originou-se então uma discussão generalizada.

De comum acordo pediram a Saturno que funcionasse como árbitro. Este tomou a seguinte decisão que pareceu justa:

Você, Júpiter, deu-lhe o espírito; receberá, pois, de volta este espírito por ocasião da morte dessa criatura.

Você, Terra, deu-lhe o corpo; receberá, portanto, também de volta o seu corpo quando essa criatura morrer.

Mas como você, Cuidado, foi quem, por primeiro moldou a criatura, ficará sob seus cuidados enquanto ela viver.

E uma vez que entre vocês há acalora discussão acerca do nome, decido eu: esta criatura será chamada Homem, isto é, feita de húmus, que significa terra fértil".
Que o Cuidado faça florescer entre nós o gosto pelo belo e que nos desperte para a sensibilidade do humano.


Bela reflexão para a  nossa vida. Quanto cuidado devemos ter com ela, na nossa formação, na nossa lapidação e  na construção da nossa areté, . Precisa dizer mais! E que ao longo de nossas vidas possamos dar e receber muitos cuidados para que, neste húmus, ou campo fértil que somos, as sementes do humano germinem com todo esplendor, e que seus frutos sejam visíveis, pelos laços da boa convivência entre nós. Um muito bom dia e que nas nossas relações tenhamos um espaço todo especial para o Cuidado.

4 comentários:

  1. Maravilhoso texto, amigo! Cuidado é do que as pessoas ao nosso redor precisam para se sentirem mais plenas, humanas, calorosas, capazes de mudanças neste mundo tão embrutecido em que estamos vivendo hoje em dia.

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  2. O mundo seria outro, de muito maior sensibilidade. Muito obrigado, Cláudia, pelo seu comentário.

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