quarta-feira, 10 de abril de 2013

O Povo Brasileiro 8. - O Brasil Sulino.

O Brasil sulino é uma região muito diferente, como é diferente entre as suas próprias regiões.A sua povoação teve quatro origens básicas, culturas que resistiram, mas acabaram se mesclando. São elas: os missioneiros, os provenientes da gadaria, portugueses e açorianos e , num termo genérico, os gringos. Isso nos é contado por Darcy e Chico, por Eduardo Giannetti e Judith Cortesão e com riquíssimas ilustrações e visuais.
Até eu entrei nesta história do Brasil Sulino, o meu espaço para ser um brasileiro, de origem alemã, mas cosmopolitizado. Somado este espaço, ao meu tempo, e, eis eu aí.

As Missões são algo impressionante. Se formaram pelo encontro dos jesuítas espanhóis, com um projeto bem definido, com os índios guaranis e, com este encontro, uma utopia se fez realidade. Os jesuítas transformaram índios  guerreiros e de ritos antropofágicos em índios seráficos e piedosos, que confessavam diariamente as suas mais recônditas vontades e os mais profundos desejos, que por sua vez recebiam a censura e a repressão dos padres, com a triste ideia do pecado. Centenas de milhares de pessoas entraram neste projeto. O projeto de Deus estava realizado! Além de um projeto político, era também, um projeto espiritual, de conquista de almas. Judith Cortesão nos relata que este foi um dos projetos de lavagem cerebral mais bem sucedidos. Porém, um dos mais abomináveis, ao se desfazer uma visão de mundo e promover o desenraizamento cultural. O índio já não era mais índio.
As Missões, um dos maiores transplantes culturais. Índios passaram a não ser mais índios.

Mas quem apanhou com este projeto espiritual, foi o corpo. Eles perderam a capacidade de lutar, de se defender. Os mamelucos bandeirantes viram estes índios e o seu trabalho disciplinado e os transformaram em presas. Formaram bandeiras, verdadeiras cidades ambulantes, com até duas mil pessoas e mais de trezentos mil catecúmenos missioneiros se transformaram em mercadoria, que ainda por cima se auto transportava, para os canaviais e os engenhos açucareiros.

A outra matriz gaúcha veio da gadaria, do gado trazido pelos espanhóis e que ficou meio largado, meio sem dono, pelos pantanais e pelos charcos. Do cuidado com este gado surge o gaúcho típico, bem característico e orgulhoso de sua condição. Estes gaúchos já não eram índios, nem espanhóis, foram formando uma etnia nascente, unificada em torno do pastoreio, da gadaria, e de usos e costumes comuns. Judith Cortesão os qualifica como heroicos e líricos  e que nas noites de galpão celebram em tertúlias, os seus feitos grandiosos, insistindo na permanência de um tempo passado. E a gauchada foi se espalhando, junto com o gado, semeando as fronteiras no sul, entre brigas e entreveros.
Tertúlia é o eco das vozes, tribuna de injustiçados. Assim canta Leonardo, famoso cantor gaúcho.Carne no fogo, chimarrão rodando, gaita tocando, causos e cantos, desafios e trovas. Eis as ricas tertúlias.

Mas os portugueses também estavam presentes. Eles já estavam em Laguna, o extremo sul português de então. Vendo as fronteiras de hoje, entendemos os êxitos do empreendimento expansionista. Durante as falas, lindas cenas da presença portuguesa, são mostradas. Duas foram as raízes portuguesas, vai contando Judith Cortesão, a dos açorianos e a dos poveiros, navegadores e pescadores de Póvoa de Varzim, do norte de Portugal. Quem quiser conhecer a presença portuguesa no sul, sugiro uma visita ao bairro de Santo Antônio de Lisboa, em Florianópolis. Não tem como não se encantar. Cortesão ainda nos fala das festas do Divino, que como vimos no capítulo da matriz lusa, são festas simbolizando fartura e fraternidade.

Açorianos e portugueses transformaram as invernadas em estâncias e a espontaneidade cedeu para a racionalidade e, o gaúcho campeiro cede espaço para o escravo negro. Dos negros foi herdada a festa de Navegantes, uma das maiores festas do sul, e os candomblés, numerosos em Porto Alegre e na cidade de Rio Grande. A presença negra também nos legou Lupicínio Rodrigues. Inigualável. Entre as suas músicas está um dos hinos mais cantados, Brasil afora e, conhecido de todos "Até a pé nós iremos", o hino do único imortal no futebol, o imortal tricolor. Esta menção eu estou inserindo, em vingança ao vídeo, que mostra um escudo daquele outro time de Porto Alegre, em uma casa de imigrantes.
Olhem aí os rostinhos lindos do brasil imigrante.

A quarta presença no sul é a dos imigrantes. Alemães, italianos e poloneses foram trazidos pelo governo, para povoar as áreas vazias entre a fronteira e as cidades. Formaram núcleos culturais bastante fechados, fechados até hoje. Assim temos os alemães dos vales dos rios dos Sinos e Itajaí e os italianos da região da serra gaúcha, tendo em Caxias do Sul, o seu maior núcleo. Em menor número vieram os poloneses e os ucranianos. A urbanização e a industrialização se encarregou das fusões e unificações. Cortesão ainda nos conta da herança portuguesa dos faxinais, um legado para o futuro. Terras coletivas, em meio a propriedades individuais, sob o cuidado e uso coletivo.

Já no encerramento Chico lê Darcy, sobre os problemas da região. As famílias se multiplicando e as terras se tornando pequenas e poucas, formando uma população excedente. E o antigo gaúcho se transforma em peão, carrapato, xanga, reserva de mão de obra. Mas no sul se forma um dos mais fortes conceitos de Nação. Nação, formada de território e de instituições soberanas, mas acima de tudo por um sentimento de pertencimento, alicerçado na memória que transforma o sul no mais vasto e rico, plástico e vital laboratório de aculturação. E este sentimento, que cultiva o regional, sem jamais abandonar o nacional.

E, uma pitada de música, na qual o sul é riquíssimo. Considero Pedro Ortaça o grande representante da música missioneira e Adelar Bertussi, do canto imigrante serrano e Dante Ramon Ledesma, do canto da fronteira, que inclusive as ultrapassa, formando o canto brasileiro/argentino.









11 comentários:

  1. Muito obrigado Rebeca. O Brasil é realmente maravilhoso e como é bom conhecê-lo através de pessoas que muito o amaram, como foi o caso do Darcy Ribeiro.

    ResponderExcluir
  2. Adorei seu texto Pedro e estou adorando seu blog e a forma como você escreve. Parabéns por este trabalho maravilhoso, fico feliz por existir pessoas como você que compartilham seu conhecimento! abraço!

    ResponderExcluir
  3. Oi Alana. Muito obrigado pelo seu elogio. Fiquei muito contente. Obrigado e um abraço.

    ResponderExcluir
  4. pedro me explica pq eu ainda nao entendi mt bem

    ResponderExcluir
  5. Meu estimado anônimo. Então eu lhe indico e recomendo a leitura original do Darcy Ribeiro. Também no google você encontrará fartas explicações a mais. Abraço.

    ResponderExcluir
  6. opaa isso eeeeee mtooooo booooommmm

    ResponderExcluir
  7. me ajudou muito para elaborar um relatório, obrigado!

    ResponderExcluir
  8. Vá em frente, à obra de Darcy. Que bom que ajudou.

    ResponderExcluir

Obrigado pelo comentário. Depois de moderado ele será liberado.