Estamos às vésperas do dia do índio. Datas, muito mais do que dias de comemoração, são datas para a reflexão. O 19 de abril é um belo momento que nos propicia esta oportunidade. E ninguém melhor, para falar de índio, é Darcy Ribeiro. Para fazer a reflexão recorro ao seu livro Confissões, onde ele relata a criação do Serviço de Proteção ao Índio, em 1910, pelo Marechal Cândido Rondon, fato que ele compara com a data da abolição da escravidão, só que para os índios. Vou apenas transcrever algo do escrito por Darcy.
Eis o magnífico livro de Darcy. O que está entre as páginas 132 e 201 é dedicado aos povos indígenas.
"Em 1910, Rondon criou o Serviço de Proteção aos Índios e Localização de Trabalhadores Nacionais nas fronteiras da civilização. Esse acontecimento representa para os índios o que representou a Abolição para os escravos. Rondon não só afirmava o direito de os índios serem e continuarem sendo índios, mas criava todo um serviço, integrado por jovens oficiais, dedicado à localização e pacificação das tribos arredias e à proteção dos antigos grupos indígenas dispersos por todo o país.
Esses povos indígenas haviam enfrentado quatro séculos de opressão, ao longo dos quais sofreram chacinas, tiveram suas mulheres violentadas, seus filhos roubados, e ninguém levantava uma mão contra essa violência, porque eles eram vistos como selvagens que não mereciam outro destino.
A única proteção que conheciam era a das missões religiosas, cujo programa concreto consistia em prosseguir no processo de cristianização e europeização, sem nenhum respeito pelas culturas indígenas, desmoralizando suas crenças e cultos, inviabilizando seus costumes, tudo para convertê-los ao cristianismo. Não converteram tribo alguma. Nem mesmo aquelas que assistiram e evangelizaram por mais de um século, como os Bororo. Esse fracasso, reconhecido já por Nóbrega nos primeiros anos da ação missionária, não impedia que continuassem na sua tarefa furiosa de desindianizar os índios. Não o faziam em benefício dos índios, mas de si próprios, com vista à santificação
Darcy Ribeiro, uma vida dedicada a entender o povo brasileiro e integrá-lo numa grande Nação.
Foi nessa arena ideológica que entrei. Eu, que só estava armado para ver os índios como objeto de estudos antropológicos, cuja mitologia, religião e arte tentaria compreender e reconstituir criteriosamente, no mesmo esforço observava e registrava etnograficamente seus costumes, seus artesanatos, todo seu modo de ser, de encarar o mundo e de viver".
Esse é o primeiro contato que Darcy teve com os índios. Estes seus estudos o levaram a uma convivência de dez anos e, os seus escritos a respeito, se tornaram uma referência mundial. Como são interessantes os caminhos dos grandes homens. Darcy estava destinado a ser um grande fazendeiro, daqueles grandes mesmo. As propriedades de sua família, por parte dos Ribeiro, abrangiam municípios inteiros da região mineira de Montes Claros. Mas o menino queria estudar. Atendeu primeiramente a vontade da família e foi estudar medicina. Mas a sua grande vocação mesmo, foi o estudo da antropologia, que o tornou personalidade mundial.
A criação do Serviço de Proteção ao Índio equivale ao dia da Abolição, para os povos indígenas.
A narrativa de Darcy, sobre a sua convivência com os índios é emocionante. Vale muito a pena ser lida e está contida na primeira parte das Confissões. Ali também se lê sobre a concepção ideológica do marechal Cândido Rondon, que foi o positivismo. Darcy e Rondon ficaram muito amigos. A sua aproximação se deu em função dos índios. A história dos irmãos Vilas Boas também é muito interessante. O filme Xingu é uma boa mostra de seus pensamentos e trabalho. Por falar em Xingu, Darcy também relata detalhes em torno da criação desta primeira grande reserva de terras indígenas, criada ainda nos tempos do governo Vargas. Também recomendo o livro de Darcy sobre o Povo Brasileiro, quando ele fala da matriz índia, no nosso processo de formação histórica.
No Brasil de hoje o índio é, seguramente, um dos maiores problemas, no sentido de sua integração à Nação. Políticas públicas que deram certo em outros setores da sociedade, não tem tido os mesmos resultados, quando aplicadas aos povos indígenas. Talvez o melhor projeto para com os povos das florestas seja o de mantê-los na floresta, e para isso a criação das reservas indígenas é fundamental. Mesmo do ponto de vista econômico, isto vem dando certo, tanto pela questão de novas viabilidades para as chamadas drogas do sertão, quanto pela preservação da rica biodiversidade encontrada nestas áreas. E como diz Darcy Ribeiro, o Brasil precisa ser constantemente inventado. Para isso se torna necessário o uso da imaginação e não apenas a eterna repetição do cotidiano.
No Brasil de hoje o índio é, seguramente, um dos maiores problemas, no sentido de sua integração à Nação. Políticas públicas que deram certo em outros setores da sociedade, não tem tido os mesmos resultados, quando aplicadas aos povos indígenas. Talvez o melhor projeto para com os povos das florestas seja o de mantê-los na floresta, e para isso a criação das reservas indígenas é fundamental. Mesmo do ponto de vista econômico, isto vem dando certo, tanto pela questão de novas viabilidades para as chamadas drogas do sertão, quanto pela preservação da rica biodiversidade encontrada nestas áreas. E como diz Darcy Ribeiro, o Brasil precisa ser constantemente inventado. Para isso se torna necessário o uso da imaginação e não apenas a eterna repetição do cotidiano.
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