Continuando com os temas religiosos. O cristianismo e a moldagem da cultura Ocidental. É absolutamente inadmissível negar a importância desse tema. Acima de tudo, estamos estudando a nós mesmos. Agora foi a vez de uma releitura. Ufa! Mais de duas semanas. Falo do livro de Paul Johnson - História do cristianismo. A primeira edição do livro é de 1976. É portanto a data limite dos episódios narrados. São quase dois mil anos.
História do cristianismo. Paul Johnson. Imago. 2001.Da primeira leitura, lembro perfeitamente da importância dada a S. Paulo, tido como o verdadeiro fundador do cristianismo. Sem ele, provavelmente, os primeiros seguidores de Cristo teriam voltado ao judaísmo. É a presença de Paulo no Concílio de Jerusalém (Ano 49): "...o primeiro ato político na história do cristianismo e o ponto inicial a partir de que podemos procurar reconstruir a natureza da doutrina de Jesus, bem como as origens da religião e da igreja que ele trouxe à luz". Marca assim uma ruptura com o judaísmo. Paulo transformaria a religião particular do povo judeu, numa religião de caráter universal. Jesus, de acordo com Paulo, é o Salvador prometido e, a salvação que ele trouxe, seria para todos. Paulo, o apóstolo dos gentios.
No epílogo do livro Paul Johnson traça os caminhos percorridos em sua longa e austera pesquisa, onde já no primeiro capítulo destaca a importância devida a S. Paulo: "Deve estar evidente, com este relato de dois mil anos de história cristã, que a ascensão da fé e a transformação de seu relacionamento com a sociedade não foram fortuitos. Os cristãos surgiram em uma época em que havia grande e urgente necessidade, ainda que não formulada, de um culto monoteísta no mundo greco-romano. As divindades civis e nacionais haviam deixado de fornecer explicações satisfatórias para a cosmopolita sociedade mediterrânea, com seus padrões de vida em ascensão e suas crescentes pretensões intelectuais; e, sendo incapazes de explicar, não podiam proporcionar conforto nem proteção dos terrores da vida. O cristianismo oferecia não somente um Deus todo-poderoso mas também uma promessa absoluta de uma vida feliz por vir, além de uma explicação clara de como assegurá-la. Ademais, foi desligado de suas origens raciais e geográficas e dotado, por seu fundador, de uma resplandecente variedade de insights e diretrizes, calculados para evocar respostas de todas as naturezas. Foi, desde o princípio, universalista em seu escopo e objetivos. S. Paulo, ao muni-lo de uma estrutura de pensamento internacionalista, transformou-o em uma religião de todas as raças; Orígenes expandiu sua metafísica, convertendo-a em uma filosofia de vida que conquistou o respeito dos intelectuais sem perder o entusiasmo das massas, tornando o cristianismo, assim, não só independente de classes sociais, mas ubíquo" (Página 627).
Bem, depois desse dado inicial, vamos à estrutura do livro. Ele é longo e denso. Letras bem minúsculas e 677 páginas. Ele tem prólogo e epílogo curtos e oito partes bem longas. Vamos a elas, junto com alguns tópicos da abordagem e situação no espaço temporal: Parte Um - Ascensão e resgate da seita de Jesus (50 a. C. - 250 d. C.). (O Concílio de Jerusalém. S.Paulo é o personagem central na confluência de culturas sob o Império Romano. O sistema teológico de Paulo; suas epístolas. A libertação das amarras judaicas. Os Evangelhos). Parte Dois - De Mártires a inquisidores (250 - 450). (Edito de Milão- um casamento indecoroso entre Igreja e Estado. Em busca de alinhamento com o Império Romano. Os grandes nomes. Ambrósio - Agostinho. Os cerimoniais religiosos. Jerônimo e a Vulgata. Agostinho, a graça e os eleitos; a legitimação da inquisição no combate às heresias. A Cidade de Deus).
Parte Três - Senhores Mitrados e Ícones Coroados (450 - 1054). (Em Constantinopla, tudo bem. No Ocidente, os francos: Carlos Magno. A expansão por toda a Europa. Bonifácio). Parte Quatro - A Sociedade Total e seus inimigos (1054 - 1500). (O Império carolíngio, a ascensão do clero. Uma Teocracia mundial. Prestar contas somente a Deus. Conflitos entre Igreja e Estado. A organização jurídica da Igreja - Gregório VII. Avignon - Protetorado e cativeiro. Confissão e penitências. Indulgências. As ordens religiosas. As universidades. As Cruzadas. A Inquisição. Santo Agostinho, a Cidade de Deus e a sociedade cristã total. Revoltas camponesas).
Parte Cinco - A Terceira Força (1500 -1648) (Surgimento das gráficas. Erasmo. Rabelais, Calvino, Inácio de Loyola, um cristianismo mecânico. Lutero e os avanços da Reforma. Contra-Reforma, Concílio de Trento, Companhia de Jesus. Caça às bruxas. Giordano Bruno). Parte Seis - Fé, Razão e Desrazão (1648-1870) (O Iluminismo inglês e francês. Fora dos parâmetros da razão. Seitas protestantes, novas ordens católicas. 1870 e a decretação da infalibilidade do papa).
Parte Sete - Povos Quase escolhidos (1500-1910) (As atividades missionárias com o surgimento das colônias. As ordens religiosas e os instrumentos de controle. Seitas protestantes nos Estados Unidos. Religião e insurreições. Guerras de Independência. Religião, escravidão e democracia. Religião, abolição e a Guerra da Secessão. Evangelismo e colonialismo na África). Parte Oito - O Nadir do Triunfalismo (1870-1975). (As guerras e o cristianismo. Uma análise dos papas sob a infalibilidade. Autocracia. Adesões ao nazismo e fascismo, contra o comunismo. Pio XII, João XXIII e Paulo VI. O Concílio Vaticano. Paulo VI, a contracepção e o celibato).
No epílogo, o autor nos apresente as perspectivas. Primeiramente faz uma retrospectiva: "Sem dúvida, a humanidade, sem o cristianismo, inspira perspectivas lúgubres. A história dos homens com o cristianismo já é, como vimos assustadora o suficiente". Daí parte para a projeção, constatando um grave encolhimento do cristianismo ao longo dos últimos anos:
"Na última geração, com o cristianismo em um recolhimento rápido ao extremo, tivemos nossa primeira visão distante de um mundo descristianizado, que nada teve de empolgante. Sabemos que a insistência cristã na potencialidade humana para o bem geralmente é desenganada; estamos descobrindo também, contudo que a capacidade humana para o mal é quase ilimitada - sendo limitada, de fato, somente por seu próprio alcance em expansão. O homem é imperfeito com Deus. Sem Deus, o que ele é? Nas palavras de Francis Bacon: 'aqueles que negam a Deus destroem a nobreza do homem; pois decerto o homem é semelhante às feras em seu corpo; e, caso não seja semelhante a Deus em seu espírito, será uma criatura vil e ignóbil'. Somos menos vis e ignóbeis em virtude do exemplo divino e do desejo pela forma de apoteose oferecida pelo cristianismo. Na personalidade dupla de Cristo, é-nos oferecida uma imagem aperfeiçoada de nós mesmos, eterno marca-passo para nossos esforços. Por esses meios, nossa história, ao longo dos últimos dois milênios, vem refletindo a busca de se erguer acima das fragilidades humanas. E, nessa medida, a crônica do cristianismo é uma história edificante " (Página 629-30).
Edificante foi também a leitura e releitura desse livro. Muita erudição e um domínio extraordinário do processo da evolução histórica. Anos e anos de pesquisa. Quero também destacar a última parte do livro. Esta eu vivi. Frequentei os seminários de Bom Princípio, Gravataí e Viamão (RS) ao final da década de 1950 e ao longo da de 1960. Vivi, neste período, sob os pontificados de Pio XII, João XXIII e Paulo VI. João XXII promoveu o grande aggiornamento da Igreja e marcou profundamente a minha maneira de ver o mundo. Depois disso iniciei a minha carreira de professor. Super recomendo este livro, com uma recomendação: não é um livro para iniciantes. Deixo também o link de outro livro, com o mesmo tema. Domínio.
http://www.blogdopedroeloi.com.br/2025/10/dominio-o-cristianismo-e-criacao-da.html

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