"A ditadura não me deixava escrever aquilo que penso. O pensamento único não me deixa pensar o que escrevo". Frase encontrada na sede do Sindicato dos Jornalistas, em Buenos Aires.
Uma cena marcante em minha vida. Participar do Fórum Social Mundial, que por várias vezes se reuniu na cidade de Porto Alegre. O Fórum surgiu em contraposição ao Fórum Econômico Mundial, realizado anualmente, em Davos na Suíça. Davos reúne políticos, economistas e os homens do Capital. Já Porto Alegre reunia a intelectualidade humanista do mundo. Enquanto Davos se centrava no econômico, Porto Alegre se centrava no social. Depois de eleito presidente, Lula mal terminou de discursar em Porto Alegre, no Por do Sol, para mais de cem mil pessoas e depois - rumar diretamente para Davos. O Slogan que congregava o mundo de Porto Alegre era "Um outro Mundo é Possível".
Certificado de participação do primeiro Fórum Social Mundial. "Um outro mundo é possível".
Uma cena marcante em minha vida. Participar do Fórum Social Mundial, que por várias vezes se reuniu na cidade de Porto Alegre. O Fórum surgiu em contraposição ao Fórum Econômico Mundial, realizado anualmente, em Davos na Suíça. Davos reúne políticos, economistas e os homens do Capital. Já Porto Alegre reunia a intelectualidade humanista do mundo. Enquanto Davos se centrava no econômico, Porto Alegre se centrava no social. Depois de eleito presidente, Lula mal terminou de discursar em Porto Alegre, no Por do Sol, para mais de cem mil pessoas e depois - rumar diretamente para Davos. O Slogan que congregava o mundo de Porto Alegre era "Um outro Mundo é Possível".
Certificado de participação do primeiro Fórum Social Mundial. "Um outro mundo é possível".
A primeira sessão do Fórum aconteceu no ano de 2001, quando o neoliberalismo estava no auge de sua construção ideológica, mas já dando sinais de que estava fazendo água. Fernando Henrique Cardoso exibia no Brasil o desastre de seu governo com os dolorosos dados de violentíssima exclusão social. O clamor destes excluídos se fazia cada mais forte e multi-sonante. O mundo vivia o estágio do capitalismo em sua versão neoliberal, de capitalismo financeiro e parasitário, de pensamento único e de fim da história
Saí de lá conhecendo muitas pessoas, vendo e idolatrando ídolos, ouvindo muitas falas, trocando experiências, revendo amigos do velho mundo, estabelecendo novos relacionamentos e comprando livros mas, acima de tudo, renovando e reafirmando convicções, e porque não, tendo também algumas decepções. Com certeza, o mundo sob o meu olhar se tornou maior e mais plural. Humano. Um fato eu gostaria de destacar. Comprei uma revista, Cadernos Diplô do Le Monde Diplomatique, do qual um artigo, em especial, chamou minha atenção. Do discurso da ditadura à ditadura do discurso, de Bernardo Kucinski. Depois encontrei este texto num livro seu. Abaixo dou a referência. Usei-o bastante em minhas aulas, no curso de jornalismo.
A revista onde se encontra, entre outros, o artigo do Bernardo Kucinski.
Em 2002 Lula se elegeu presidente. As diretrizes macroeconômicas continuaram sendo ditadas pela ordem dominante, mas junto com ela também foram incrementadas políticas sociais e de distribuição de renda. Em suma, no dizer do próprio Lula, foi implementada uma política de crescimento econômico, mas junto com o crescimento a distribuição de seus resultados, modesta porém, com resultados visíveis e que incomodam as velhas classes dominantes. O Brasil ganhou nova fisionomia e o mercado interno se expandiu. Muitos melhoraram de vida e de horizontes. Mas uma coisa não mudou. O governo não teve coragem de fazer qualquer mudança neste campo. O mundo da mídia, ou melhor, o mundo dos meios de comunicação. Feita esta constatação quero ir ao texto do Kucinski, para anunciar os dez paradoxos da mídia brasileira e sublinhar os destaques dados à matéria. Quem quiser mais, terá que ir ao texto. Apresentarei apenas uma espécie de enunciado destes paradoxos.
Do discurso da ditadura à ditadura do discurso. O que é pior? Aqui estão enunciados os 10 paradoxos.
Primeiro paradoxo: Não há mercado de ideias no neoliberalismo brasileiro. Não há mais laicos ou católicos. Existe a mesmice jornalística. Não há jornais de esquerda, nem mais os jornais alternativos.
Segundo paradoxo: Temos menos pluralismo na democracia do que tínhamos na ditadura. Caímos na ditadura do discurso único. Na ditadura havia, especialmente, os semanários alternativos.
Terceiro paradoxo: Na era neoliberal não é necessária a manu militari, porque nenhum jornal adota linha crítica. O jornalismo se tornou mais superficial e denuncista, que faz a denúncia da corrupção a partir de uma posição moralista, mas não estabelece os vínculos entre a corrupção e o modo de implementação do neoliberalismo.
Quarto paradoxo: O de uma mídia uniformemente conservadora numa sociedade claramente polarizada, com o aumento da exclusão social e o crescimento da sociedade organizada, dos movimentos sociais. A mídia se conserva monoliticamente neoliberal.
Quinto paradoxo: Os jovens jornalistas sofrem com a censura interna, da restrição à liberdade de crítica e de criação. Ameaças de demissões, a grande rotatividade e o abandono da profissão atestam os novos métodos. A ética jornalística desapareceu das redações e a supressão da liberdade de informar se banalizou como condição natural.
Sexto paradoxo: O da concentração do monopólio, violando as leis antimonopólio. Um único grupo controla mais de 70% da audiência, com capacidade de configurar o imaginário popular. Este poder aparece espacialmente em tempos de eleição presidencial.
Sétimo paradoxo: No jornalismo neoliberal a mídia fala em nome do interesse público mas serve ao interesse privado. À privatização do Estado, correspondeu a privatização das concessões de rádio e TV.
Oitavo paradoxo: Como se explica que empresas de comunicação de massa,, que prosperam quando a renda aumenta e entram em crise quando a miséria toma conta, apoiem o projeto neoliberal? A indústria da comunicação está em profunda crise no Brasil, mas ainda assim, apoia entusiasticamente o projeto neoliberal.
Nono paradoxo: as empresas brasileiras de comunicação de massa planejam sua própria absorção pelos grupos globais da comunicação. É o suicídio empresarial de uma burguesia congenitamente entreguista e subserviente. É também o suicídio cultural da comunicação de massa brasileira.
Décimo paradoxo: A mídia celebra o advento da era pós-moderna como a da morte nas meta narrativas e o fim da história. Celebra a ausência de padrões dominantes nas artes, nos hábitos, na religião, na constituição da família e na sexualidade. Propõe a era da convivência dos contrários, da tolerância étnica, enfim do pluralismo em todas as suas formas. Menos no modelo econômico: nesse, o neoliberalismo se coloca como a derradeira meta narrativa. Não tolera a divergência, não admite valores que não sejam os seus.
Bravo Bernanrdo Kucinski. Não procurei interferir no texto. Apenas pinçar as ideias principais, no espírito da síntese. Tudo gera debate e aprofundamento. É necessário lembrar que o texto é datado. Edição nº 3 do Diplô, de janeiro de 2002. O texto em sua íntegra pode ser encontrado no livro: KUCINSKI, Bernardo. Jornalismo na era virtual. Ensaios sobre o colapso da razão cínica. São Paulo: UNESP & Fundação Perseu Abramo. 2005.
O texto sobre os dez paradoxos também pode ser encontrado neste livro. Jornalismo na era virtual.
Vi com muita satisfação, na revista Cult nº 187, de fevereiro de 2014, Bernardo Kucinski se lançando às "memórias de um tempo que não deve ser esquecido", inaugurando um período de escrever contos "baseados em histórias da ditadura militar" em que "transforma a dor em arte". Lançou pela Kosac Naify, Você vai voltar para mim e outros contos.
A revista onde se encontra, entre outros, o artigo do Bernardo Kucinski.
Em 2002 Lula se elegeu presidente. As diretrizes macroeconômicas continuaram sendo ditadas pela ordem dominante, mas junto com ela também foram incrementadas políticas sociais e de distribuição de renda. Em suma, no dizer do próprio Lula, foi implementada uma política de crescimento econômico, mas junto com o crescimento a distribuição de seus resultados, modesta porém, com resultados visíveis e que incomodam as velhas classes dominantes. O Brasil ganhou nova fisionomia e o mercado interno se expandiu. Muitos melhoraram de vida e de horizontes. Mas uma coisa não mudou. O governo não teve coragem de fazer qualquer mudança neste campo. O mundo da mídia, ou melhor, o mundo dos meios de comunicação. Feita esta constatação quero ir ao texto do Kucinski, para anunciar os dez paradoxos da mídia brasileira e sublinhar os destaques dados à matéria. Quem quiser mais, terá que ir ao texto. Apresentarei apenas uma espécie de enunciado destes paradoxos.
Do discurso da ditadura à ditadura do discurso. O que é pior? Aqui estão enunciados os 10 paradoxos.
Primeiro paradoxo: Não há mercado de ideias no neoliberalismo brasileiro. Não há mais laicos ou católicos. Existe a mesmice jornalística. Não há jornais de esquerda, nem mais os jornais alternativos.
Segundo paradoxo: Temos menos pluralismo na democracia do que tínhamos na ditadura. Caímos na ditadura do discurso único. Na ditadura havia, especialmente, os semanários alternativos.
Terceiro paradoxo: Na era neoliberal não é necessária a manu militari, porque nenhum jornal adota linha crítica. O jornalismo se tornou mais superficial e denuncista, que faz a denúncia da corrupção a partir de uma posição moralista, mas não estabelece os vínculos entre a corrupção e o modo de implementação do neoliberalismo.
Quarto paradoxo: O de uma mídia uniformemente conservadora numa sociedade claramente polarizada, com o aumento da exclusão social e o crescimento da sociedade organizada, dos movimentos sociais. A mídia se conserva monoliticamente neoliberal.
Quinto paradoxo: Os jovens jornalistas sofrem com a censura interna, da restrição à liberdade de crítica e de criação. Ameaças de demissões, a grande rotatividade e o abandono da profissão atestam os novos métodos. A ética jornalística desapareceu das redações e a supressão da liberdade de informar se banalizou como condição natural.
Sexto paradoxo: O da concentração do monopólio, violando as leis antimonopólio. Um único grupo controla mais de 70% da audiência, com capacidade de configurar o imaginário popular. Este poder aparece espacialmente em tempos de eleição presidencial.
Sétimo paradoxo: No jornalismo neoliberal a mídia fala em nome do interesse público mas serve ao interesse privado. À privatização do Estado, correspondeu a privatização das concessões de rádio e TV.
Oitavo paradoxo: Como se explica que empresas de comunicação de massa,, que prosperam quando a renda aumenta e entram em crise quando a miséria toma conta, apoiem o projeto neoliberal? A indústria da comunicação está em profunda crise no Brasil, mas ainda assim, apoia entusiasticamente o projeto neoliberal.
Nono paradoxo: as empresas brasileiras de comunicação de massa planejam sua própria absorção pelos grupos globais da comunicação. É o suicídio empresarial de uma burguesia congenitamente entreguista e subserviente. É também o suicídio cultural da comunicação de massa brasileira.
Décimo paradoxo: A mídia celebra o advento da era pós-moderna como a da morte nas meta narrativas e o fim da história. Celebra a ausência de padrões dominantes nas artes, nos hábitos, na religião, na constituição da família e na sexualidade. Propõe a era da convivência dos contrários, da tolerância étnica, enfim do pluralismo em todas as suas formas. Menos no modelo econômico: nesse, o neoliberalismo se coloca como a derradeira meta narrativa. Não tolera a divergência, não admite valores que não sejam os seus.
Bravo Bernanrdo Kucinski. Não procurei interferir no texto. Apenas pinçar as ideias principais, no espírito da síntese. Tudo gera debate e aprofundamento. É necessário lembrar que o texto é datado. Edição nº 3 do Diplô, de janeiro de 2002. O texto em sua íntegra pode ser encontrado no livro: KUCINSKI, Bernardo. Jornalismo na era virtual. Ensaios sobre o colapso da razão cínica. São Paulo: UNESP & Fundação Perseu Abramo. 2005.
O texto sobre os dez paradoxos também pode ser encontrado neste livro. Jornalismo na era virtual.
Vi com muita satisfação, na revista Cult nº 187, de fevereiro de 2014, Bernardo Kucinski se lançando às "memórias de um tempo que não deve ser esquecido", inaugurando um período de escrever contos "baseados em histórias da ditadura militar" em que "transforma a dor em arte". Lançou pela Kosac Naify, Você vai voltar para mim e outros contos.
excelente Pedro. Sinto sua falta nos corredores da UP.
ResponderExcluirOi Zaclis. Confesso que me sinto bem como administrador de tempo livre, mas também devo confessar que sinto falta de todo este clima do ambiente universitário.
ResponderExcluirAbraço.