segunda-feira, 27 de julho de 2015

Em Diamantina - A casa de JK.

Juscelino Kubitschek de Oliveira, um dos nomes mais memoráveis e queridos da história do Brasil, manifestou desejo expresso em cultivar a sua memória, deixando com um amigo o pedido para que a casa onde nasceu fosse comprada. Esse seu desejo foi realizado e, hoje em Diamantina, a visita à casa é algo imperdível. É antes de tudo uma viagem sentimental, um mergulho na infância simples e humilde do grande presidente e um desfilar em meio a suas predileções, como o gosto pela comida simples e a participação nas serestas, junto com os amigos, sempre presentes em sua vida. Deveria ser uma pessoa de muito agradável convivência.
Monumento em homenagem ao presidente.


A visita à casa segue mais ou menos o roteiro de sua vida. Fotos da infância, suas vestimentas do tempo do seminário, as suas notas escolares, o seu quarto muito simples, os amigos de copo e de bar e o seu grupo de seresteiros, mostrando a sua inclinação para as alegrias da vida. Um largo sorriso aberto é a sua marca registrada. Você encontra ainda o seu consultório médico em Belo Horizonte, mas também encontra a sua profunda tristeza, quando rememora momentos de seu exílio. Dá nó na garganta e lágrimas nos olhos, ao mesmo tempo que surge no coração um ódio saudável contra os regimes de exceção. Ou seria de amor à democracia, mesmo com todas as suas imperfeições.
A casa de JK, onde hoje se encontra o memorial em sua homenagem

A rua São Francisco é uma íngreme ladeira. Na parte baixa dela se encontra a estátua com que a cidade homenageou o presidente e muito próximo está a igreja de São Francisco de Assis. Subindo a ladeira você encontra a casa. Ela está muito bem conservada. É cobrado um ingresso para a visita. Continuando a subida, você encontra a estação ferroviária e a igreja do Sagrado Coração de Jesus e ao lado da igreja, o seminário onde ele estudou. Consta que ele não tinha vocação religiosa. O seminário foi a única forma que ele encontrou para poder estudar. Os seminários foram grandes responsáveis pela formação de muita gente. Olha eu aí.
Próximo ao monumento, a bela igreja de São Francisco. Subindo a ladeira você encontra a casa de JK.


As notas escolares do menino Juscelino não eram muito boas, aluno mediano, poderíamos dizer. Como os sistemas educacionais normalmente privilegiam a memória e não a inteligência, isso não é grave. Gostei muito de uma frase em que ele diz que, como tinha tempo sobrando, o tal do tempo livre, para além das matérias, "prossegui lendo tudo o que me caía em mãos".  A leitura, a avidez pela leitura, essa sim é que tem importância. É ela que faz penetrar no mundo das curiosidades. A saída do seminário levou Juscelino ao estudo da medicina, profissão que exerceu por um bom tempo, já em Belo Horizonte.
Neste seminário, ao lado da igreja do Sagrado Coração de Jesus, JK iniciou seus estudos.


Numa das salas está o seu quarto de dormir, que também era o seu quarto de estudos. Tudo muito simples. Pouco além do necessário, como uma cama, uma mesa e uma cadeira. Em outra sala se fala de comidas. Seu pai era comerciante de joias e levava uma vida modesta. Havia até preocupação com a alimentação, para que ela não faltasse. Você encontra até a receita de seu prato preferido, o Xico Angú com a tal da galinha com quiabo. A receita, fornecida pela mãe do frei Betto, se encontra nesta sala. A sua vida simples contrastava, porém, com a fartura, a fartura da alegria e dos muitos amigos e pelo gosto pela seresta, adquirido junto com a musicalidade da cidade. Fotos o mostram participando delas, bem como outras, em rodas de cerveja nos bares da cidade.  Na pacata cidade, não se deslumbrava ainda o seu futuro de grande presidente.
O quarto simples do menino, que viria a ser o grande presidente.


Continuando a visita, você é levado a Belo Horizonte, ao seu consultório da clínica médica, já que exercia a profissão. O casamento o levou a altas rodas sociais e aí inicia a sua carreira política. Mas não enveredaremos por aí. Isso pode ser encontrado no seu acervo no Memorial JK em Brasília, ou na memorável biografia - JK O artista do impossível, de autoria de Cláudio Bojunga. Uma biografia em que seus feitos e realizações, são contados em 1.062 páginas muito bem escritas.

A cena que muito me emocionou está num quadro, em que ele, no exílio, passa um final de ano com amigos brasileiros, a convite destes. Se sente feliz por estar entre brasileiros e se sente infeliz por não estar pisando em solo brasileiro, donde fora banido pelo arbítrio. Logo ele, que por sua obra, tanto fez por essa Nação. Qual fora o seu erro? Ser querido e popular. Por isso teria que ser apagado da memória para não servir de referência para insubordinações e insubmissões, das quais a sua terra era pródiga em exemplos. Era um líder e isso era insuportável aos militares golpistas da democracia.
Receita do prato preferido de JK. Xico Angu.


Em conversas com o povo, soube que o ódio contra JK se estendeu para a sua cidade natal. O apagar da memória do presidente deveria ser completado com o apagar da memória da histórica cidade. Como se faria isso? Relegando-a ao abandono, ao desamparo da Nação/Pátria. Triste memória. Por outro lado também fiquei muito satisfeito em saber que um antigo curso federal de odontologia foi transformado na Universidade Federal dos Vales do Jequetinhonha e do Mucuri, ao longo do governo Lula. O braço paterno da Nação/Pátria novamente se estendia para o amparo desta querida cidade e de seu querido povo. Uma universidade federal, inclusive com curso de medicina, numa cidade de menos de 50.000 habitantes. Quando programar uma visita a Diamantina, reserve no mínimo umas três horas para uma bela e mística visita à casa de JK.
JK, o artista do impossível - A bela biografia de JK.


E se quiser mais, recomendo a biografia do Cláudio Bojunga, JK - O artista do Impossível. Nesta biografia existe uma bela frase em epígrafe - "Não existem precursores, só existem retardatários". Mas JK foi sempre um precursor! E para dar um gostinho, vamos ao início da leitura, com a evocação de Guimarães Rosa: "Minas é uma montanha, montanhas, o espaço erguido, a constante emergência, a verticalidade esconsa, o esforço estático; a suspensa região - que se escala". E continua: "vales escorregados e andantes belos rios, nas linhas das cumeeiras, na aeroplanície e nos cimos profundamente altos, azuis que já estão nos sonhos - a teoria dessa paisagem". E arremata, Minas é "Brasil em ponto de dentro, Brasil conteúdo, a raiz do assunto". Este é o cenário das andanças do grande presidente, o artista do impossível.

2 comentários:

  1. Esse livro é espetacular! Grata pela indicação.

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  2. Regina, duas dicas para bem aproveitar Diamantina. Ir em dia de vesperata. Basta consultar o calendário das apresentações no Google. E ir no bar e restaurante do Toninho e apreciar o repertório musical do Nilson. Eu tenho outros posts que dão dicas interessantes. Boa viagem e muita diversão.

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