Sempre tive grande vontade de conhecer a cidade de São Borja. Dois fatos me davam maior motivação. A terra dos presidentes e os sete povos das missões. São Borja é uma cidade relativamente pequena para ter tanta importância histórica e ter fornecido ao país dois de seus presidentes, e, diga-se e registre-se, dois presidentes muito queridos. Getúlio Vargas e João Goulart (Jango). Considero Getúlio Vargas como o fundador do Estado/Nação e Jango como o presidente mais bondoso e generoso que este país já teve.
Entardecer em São Borja, tendo por fundo o rio Uruguai.
Entardecer em São Borja, tendo por fundo o rio Uruguai.
A cidade foi fundada pelos padres jesuítas, através de seu projeto de conquista espiritual, das reduções ou missões, no ano de 1682, sendo o primeiro dos chamados sete povos. Creio que o termo 'reduções merece uma explicitação. A busco em Eduardo Neumann, em seu livro O Trabalho Guarani Missioneiro no rio da Prata Colonial 1640 - 1750. Nas páginas 49 e 50 encontramos o seguinte: "A palavra redução cujos significados mais frequentes - reduzir, diminuir - ou ainda no sentido missionário de reconduzir a um local era facilmente compreendida de modo pejorativo. Sem dúvida o princípio geral da redução foi o de congregar em povoados várias parcialidades indígenas".
São Borja, em frente a casa de João Goulart.
São Borja, em frente a casa de João Goulart.
Além do projeto da Conquista Espiritual, título de um livro clássico sobre o tema, escrito pelo jesuíta peruano Antonio Ruiz de Montoya, a proteção aos índios guaranis para defendê-los das incursões dos bandeirantes eram a outra grande finalidade. O objetivo dos bandeirantes era o aprisionamento para fins de escravidão. Uma história de muita perversidade. As reduções foram um projeto utópico, entre os maiores que já existiu e era uma utopia religiosa socialista. É inimaginável a grandeza do alcance desse projeto. Em tempos em que Buenos Aires contava com cinco mil habitantes, cada redução contava entre três e sete mil guaranis aldeados.
São Borja. Em frente a casa de Getúlio Vargas.
São Borja. Em frente a casa de Getúlio Vargas.
São Borja é uma cidade da fronteira, situada no oeste do Rio Grande do Sul, na região do pampa. seu desenvolvimento econômico está ligado à agro pecuária explorada em latifúndios. O destaque todo especial vai para a cultura do arroz, responsável por cerca da metade do PIB do município. Turismo, comércio e indústria completam as atividades econômicas. Sua população é formada por cerca de 63.000 habitantes. No ensino superior destaca-se um campus da Universidade Federal do Pampa. Do outro lado da fronteira, na cidade de santo Tomé, existe uma faculdade de medicina destinada a estudantes brasileiros. O problema está na validação do diploma para ele ser legal no Brasil.
Junto ao mausoléu de Getúlio Vargas, na praça central de São Borja.
Junto ao mausoléu de Getúlio Vargas, na praça central de São Borja.
Chegamos à cidade ao final da tarde de sábado de carnaval. Depois de passar pelo porto, onde se preparava a noite de carnaval, nos hospedamos para proceder as visitas turísticas no domingo. Uma grande decepção. As casas de memória de Getúlio e de Jango estavam fechadas. Na porta de ambas havia o comunicado de um plantão com o número de telefone e o nome da pessoa a ser contactada, mas não tivemos retorno. Nós não fomos os únicos a querer fazer a visita. Era domingo de carnaval, está certo, mas também é o tempo em que existe a folga para viajar. Os presidentes merecem uma atenção maior. Menos mal, pois, os dois presidentes tem boas biografias. Destacaria os três volumes da biografia de Getúlio, escritos por Lira Neto e a da Jango, de Jorge Ferreira.
O jazigo da família do presidente Getúlio Vargas, no cemitério de São Borja.
O jazigo da família do presidente Getúlio Vargas, no cemitério de São Borja.
Fomos à igreja matriz. Em frente, na praça da cidade, está o mausoléu em homenagem a Getúlio Vargas, onde também estão os seus restos mortais. A carta testamento tem destaque todo especial. A última visita foi a cemitério da cidade. Lá estão os jazigos das famílias de Vargas e de Goulart. No jazigo da família de João Goulart também está enterrado o governador Leonel de Moura Brizola, uma vez que pertence à família. Foi casado com a irmã do presidente, Neusa Goulart Brizola. Chama a atenção a simplicidade destes jazigos.
Jazigo da família Goulart, onde estão enterrados Jango e Brizola.
Jazigo da família Goulart, onde estão enterrados Jango e Brizola.
Deixamos a cidade no rumo de São Miguel das Missões, a única missão dos setes povos que integra o Patrimônio da Humanidade. De São Borja levamos uma pequena decepção pelo fato de não termos tido a oportunidade de vermos as casas de memória dos dois grandes presidentes, que por sinal tem as suas casas na mesma rua, distantes uma da outra, por apenas duas quadras. Mas, valeu a visita de caráter cívico patriótico.
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